1 – Jakobsen uns furos acima da concorrência

Duas chegadas ao sprint nesta Volta ao Algarve e duas vitórias autoritárias de Fabio Jakobsen. O sprinter neerlandês vinha com o estatuto de ciclista mais rápido (tinha ganho duas vezes na Comunidade Valenciana) e confirmou o favoritismo. Quer seja num sprint mais tradicional, como em Lagos, quer num sprint em subida, o de Faro, o corredor da Quick-Step-Alpha Vinyl não teve rivais à altura.





Como sempre o seu comboio voltou a ser fundamental, principalmente … Remco Evenepoel. Na primeira etapa, o belga partiu por completo o pelotão e na 3ª voltou a esticar o grupo. Bert van Lerberghe assumiu o papel de lançador e cumpriu na perfeição, fazendo esquecer Michael Morkov. Tudo isto contra forte concorrência como Alexander Kristoff e Bryan Coquard, ciclistas que também já ganharam em 2022. A história de Fabio Jakobsen com a “Algarvia” deverá continuar, em 3 edições já soma 5 triunfos. Resta saber como se portará face a um pelotão de sprinters mais forte, nomeadamente Sam Bennett, Dylan Groenewegen, Caleb Ewan e Jasper Philipsen.

 

2 – Remco calculista aprende com os erros

Depois de praticamente arrumar a prova no Sábado, havia muita expectativa sobre o que Remco Evenepoel faria no Malhão, é uma subida inclinada, mas não muito longa, como o belga gosta. A estratégia foi perfeita ao integrar Yves Lampaert na escapada, o especialista de clássicas foi crucial para controlar as operações entre as passagens do Malhão e no início da subida final, Vervaeke também esteve bem e o prodígio belga não foi com demasiada sede ao pote nos últimos 3 quilómetros.

É que certamente todos se lembram do que aconteceu na Andaluzia, Vlasov atacou, Evenepoel quis acompanhar num ritmo que não era o seu e o motor rebentou, custando a geral. Desta vez Remco fez grande parte da subida na frente, ao seu ritmo, passando a mensagem de controlo e tranquilidade, deixando os seus adversários com a única possibilidade de lutarem pela etapa. Foi 5º na tirada, mas vencedor da Volta ao Algarve, o grande objectivo final. É muito jovem, ele e a equipa aprenderam com o erro e é bem possível que vejamos um Evenepoel mais calculista e resultadista em certas ocasiões por causa disso.



3 – Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados em grande destaque

Na estreia internacional de Gustavo Veloso como director-desportivo, a formação de Mortágua foi a equipa portuguesa com mais visibilidade global, muito através de João Matias e da conquista da camisola da montanha. Foi a equipa nacional com mais subidas ao pódio, das que teve em mais fugas e mostrou-se sempre muito atenta e muito pragmática em relação aos seus objectivos, mesmo não tendo um plantel com tantos nomes sonantes comparando com outras estruturas.

João Matias teve de lutar muito por esta camisola, foi para a fuga logo no primeiro dia e conseguiu 6 pontos contra 5 de Hugo Nunes, um dos seus maiores rivais aqui. Na etapa da Fóia suou para conquistar 3 pontos e mesmo assim perder a camisola para David Gaudu, que recuperou na jornada seguinte. Na última tirada após uma primeira hora louca logrou integrar uma fuga de 20 elementos, com a ajuda da equipa, e somou 3 decisivos pontos, beneficiando do facto de Gaudu não ter ganho no Malhão. Há outro aspecto a destacar, a evolução paulatina e as boas exibições do jovem Pedro Pinto, de apenas 21 anos, que terminou a “Algarvia” na 33ª posição, como 6º melhor português e 6º melhor elemento de equipas portuguesas.

 

4 – INEOS-Grenadiers à deriva

Com o conjunto mais forte no papel, mas sem um líder fixo, saíram do Algarve com 3 elementos no top 10, mas sem vitórias em etapa e sem grande coesão. É verdade que a aposta é sempre as grandes provas internacionais, mas em outras ocasiões vimos grandes exibições da estrutura da Ineos em corridas como a Volta ao Algarve. Dylan van Baarle tem óbvias limitações na montanha e a estratégia da equipa na Fóia foi no mínimo questionável, com superioridade numérica a rebocar os restantes com vento frontal.



Thomas Pidcock nem parecia em má forma, só que decidiu fazer o contra-relógio a passear, ainda atacou na jornada final, acabando por arriscar demais e abandonar. Ethan Hayter esteve longe do que mostrou no ano passado, tanto no Algarve como em outras corridas, com clara falta de explosão. O fiel da balança foi Daniel Martinez, que possivelmente pode aproveitar a ausência de Egan Bernal para se afirmar internamente. Acabou em 3º da geral, mas se a estratégia fosse desde cedo adequada a uma liderança do colombiano, talvez tivesse terminado bem mais perto do vencedor e em 2º.

 

5 – 20 quilómetros já é muito, 32 é demais

Obviamente falamos do contra-relógio. É verdade que existiram 2 etapas de montanha, mas objectivamente se na Fóia estiver vento frontal, essa subida não passa de uma selecção de valores que culmina com um sprint a subir. Só no Malhão os especialistas em contra-relógio sentiram verdadeiras dificuldades e veja-se, acabamos com Kung, van Baarle e Bystrom no top 10, ciclistas que estão longe de ser trepadores.

Um “alien” no contra-relógio como é Remco Evenepoel, sentenciou a corrida na ligação entre Vila Real de Santo António e Tavira, para infelicidade de quem queria ver emoção e incerteza, se a distância tivesse sido a do ano passado, as diferenças muito provavelmente teriam sido bem menores, conferindo maior equilíbrio no que toca à geral. Na nossa opinião, ou a distância de contra-relógio volta à do ano passado ou a etapa da Fóia tem de ser realmente diferenciadora, até para as equipas portuguesas (pela preparação e material de contra-relógio) terem alguma hipótese de fazerem top 10/top 15 da geral contra um pelotão recheado de World Tour.

 

Foto: Volta ao Algarve



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