Eis que, com o mercado de transferências já a entrar em sono profundo, a Jumbo-Visma, estrutura que passará a ser Visma-Lease a Bike a partir de 2024, anunciou a contratação de Cian Uijtdebroeks com efeito imediato, anulando assim o contrato que o belga tinha com a Bora-Hansgrohe para a próxima temporada.
A história não ficou por aqui, pouco depois a formação alemã emitiu um pequeno comunicado onde mencionava que Cian Uijtdebroeks era e é ciclista da Bora-Hansgrohe e que tem contrato até 31 de Dezembro de 2024 com a equipa. Logo de seguida, o corredor partilhou nas redes sociais um comunicado da sua agência que dizia que o contrato entre o jovem de 20 anos e a equipa germânica tinha cessado a 1 de Dezembro, estando a decorrer os procedimentos legais e que a UCI já tinha sido informada do sucedido.
Tudo isto tem, como é óbvio, um contexto. Começando pelo ciclista em si, fez uma temporada incrível como júnior em 2021 e foi recrutado pela Bora-Hansgrohe para 2022. Começou por fazer um calendário mais afastado dos holofotes e venceu a Volta a França do Futuro no final desse ano. Também graças a esse triunfo entrou em 2023 com outro estatuto e foi mesmo 9º na Volta a Catalunha, 6º no Tour de Romandie, 7º na Volta a Suíça e 8º na Vuelta para acabar o ano em beleza.
O início desta polémica vem precisamente dessa Vuelta. Enquanto a maioria das atenções estava no que se passava internamente na Jumbo-Visma, Uijtdebroeks estava insatisfeito e mostrava essa frustração publicamente relativamente à forma como não estava a ser protegido face a Aleksandr Vlasov, companheiro de equipa com o qual repartia a liderança da equipa. Muito menos explosivo do que o russo, viria mesmo a perder o 7º posto para Vlasov na última etapa de montanha.
Esta possível e provável saída de Uijtdebroeks para a Visma vem um pouco compensar o ingresso de Primoz Roglic na Bora-Hansgrohe, só que este foi um movimento que se fez sem estas polémicas. Pelo que se escreve na imprensa internacional, a Bora recebeu propostas de outras equipas para libertar o jovem de 20 anos a troco de compensação financeira, algo que a Visma não ofereceu, apenas o pagamento dos salários que ficariam a faltar.
Esta contratação encaixaria bem na Visma, um dos seus responsáveis já disse querer atacar o Giro com uma base muito jovem. Algo que poucos estariam à espera era a intromissão de Patrick Lefevere, responsável da Quick Step, neste assunto. O polémico dirigente tentou mostrar alguma da hipocrisia da Bora-Hansgrohe na rede social “X”, escrevendo que “encontrei-me com o Ralph Denk dia 21 de Janeiro em Bruxelas. Concordámos que ele esperasse até dia 31 de Março para fazer uma oferta por Remco Evenepoel, se não garantisse patrocinadores para continuar com a equipa. A 8 de Março ele fez uma oferta escrita ao pai do Remco. Que não chore agora.”
Uijtdebroeks continua a preparar a próxima temporada e até já foi visto a treinar com calções da Visma. Estes foram os factos conhecidos até agora, vou agora deixar um pouco a minha opinião. Creio que isto tudo é um pouco exacerbado e desnecessário. Primeiro, com todo o respeito por Uijtdebroeks, que é um enorme talento e que até pode ganhar Grandes Voltas no futuro (apesar de para isso ter de melhorar muitos aspectos), não é nenhum Roglic, nenhum Pogacar, nenhum Van Aert. Estamos a falar do 8º classificado da última Vuelta.
E que, ainda por cima, veio para a imprensa queixar-se que o seu companheiro de equipa o estava a atacar para o ultrapassar na geral quando a equipa estava a dar liberdade a ambos para correr e que depois disse que perder 1 lugar na geral nem lhe importava muito. Então se não importava para quê todo o drama e todo o rebuliço? Passa uma péssima imagem para o exterior e há equipas que não querem estar envolvidas nisso. A Visma acha que tem capacidade e força para domar esta fera, veremos se não lhe cai uma bomba-relógio nos braços. Depois o romper de contrato também não faz muito sentido, até parece que o vínculo durava até 2027 ou 2028. Era só Uijtdebroeks ter esperado alguns meses, continuar a trabalhar e evoluir, manter perfil baixo sem grandes confusões e daqui a pouco tempo ia para onde quisesse sem grandes problemas.