Ag2r Citroen Team
Pelo 3º ano consecutivo, Ben O’Connor é a aposta da equipa francesa. Numa temporada marcada por lesões, o australiano estava a passar um pouco ao lado, no entanto o recente Dauphine, onde foi 3º mostrou que é preciso contar com ele. Muito ofensivo, O’Connor pode ser um perigo na montanha. O apoio na montanha não será do melhor: Clément Berthet, Nans Peters, Aurelien Paret-Peintre e Felix Gall.
Paret-Peintre vem do Giro, veremos como recuperou depois de 3 semanas onde andou a grande nível, já Gall vem de uma grande Volta a Suíça onde venceu e deu muito espetáculo. Deverá ter alguma liberdade para as fugas. Oliver Naesen e Stan Dewulf são homens de clássicas, essenciais para proteger O’Connor no plano. Benoit Cosnefroy é outra das estrelas da companhia, só que o gaulês está a ter um ano fraco, ainda não venceu e poucos são os resultados de relevo. Se aparecer em forma pode ser candidato a algumas etapas, tudo depende de estiver a sua condição física.
Previsão: Ben O’Connor tem estado muito sólido e vai conseguir o desejado top 10 final, Felix Gall mostrou rasgos de excelência na Suíça, mas também algumas fragilidades que serão decisivas aqui.
Alpecin-Deceuninck
O ADN da equipa neerlandesa não muda, foco total em vencer etapas. Desde que marca presença no Tour de France, a Alpecin-Deceuninck tem animado muito a corrida. Mathieu van der Poel será peça central, terá muitas etapas ao seu jeito ao longo das 3 semanas de competição. A mega-estrela não vem só a pensar em si, será um dos lançadores de Jasper Philipsen, papel que já desempenhou na Volta a Bélgica.
Philipsen fez uma preparação específica para o Tour, tem vencido um pouco por todo o lado e chega cheio de confiança para tentar levar de vencida muitas etapas e, como objetivo principal, a camisola verde. Com um grande comboio, os experientes Jonas Rickaert e Ramon Sinkeldam vão ser fundamentais, a juntar a Michael Gogl e Silvan Dillier irão dominar os finais. Quinten Hermans e Soren Kragh Andersen são um perigo nas etapas de média montanha, Van der Poel não vai ter pilhas infinitas, em alguns dias serão eles os escolhidos, já têm bastante experiência apesar de não serem veteranos.
Previsão: Arriscamos a dizer que vão ser a equipa mais vitoriosa deste Tour em termos de etapas, 2 para Philipsen e camisola verde, 2 para Mathieu van der Poel, têm tudo para fazer uma Volta a França incrível.
Astana Qazaqstan Team
Mais um alinhamento ao nível da Astana. Alexey Lutsenko vem de fazer a dobradinha nos Nacionais do Cazaquistão no entanto isso não significa muito. Costuma aparecer sempre em forma no Tour (7º e 8º nas últimas duas edições sem se notar a sua presença), só que a temporada tem sido discreta. Harold Tejada, David de la Cruz e Luis Leon Sanchez são o apoio, sem nunca descurar a liberdade que devem ter para integrar fugas, é fundamental vencer etapas.
Teremos Mark Cavendish a despedir-se em grande do Tour? Só falta uma vitória, é esse o objetivo do Míssil da Ilha de Manx. Com mais apoio que no Giro, Gianni Moscon, Yevgeni Fedorov e Cees Bol formarão o seu comboio, longe dos melhores, no entanto é sempre importante ter algum apoio do que não ter nenhum. Não vai ser fácil triunfar, no entanto Cavendish já mostrou que não há impossíveis, a sorte protege os audazes e o britânico não tem nada a perder.
Previsão: Cavendish acabou muito bem o Giro, mas aqui a conversa é outra e pode vir a acusar o desgaste, temos o feeling que vai ser mais uma corrida discreta por parte da Astana.
Bahrain-Victorious
Uma equipa para todas as frentes! Mikel Landa é a grande aposta para a geral, “Landani” volta ao Tour pela primeira vez desde 2020 e procura o primeiro pódio. Retirando o Dauphine, onde andou longe dos melhores, fez uma época muito positiva, sempre no top-10 das provas por etapas. A ausência de muitos quilómetros de contra-relógio são excelentes notícias. Pello Bilbao é a alternativa, todos sabemos da viabilidade do basco, pouco se vê mas está sempre presente e acaba entre os melhores apesar de pouco ganhar. Vindo do Giro, Jack Haig será um dos braços-direitos, tal como o super-experiente Wout Poels.
Para os sprints, a aposta recai sobre Phil Bauhaus, finalmente o gigante alemão que já venceu em Portugal estreia-se na Grande Boucle! Discreto, Bauhaus anda sempre entre os melhores, com um bom posicionamento pode surpreender.
Nikias Arndt, Fred Wright e Matej Mohoric irão ajudar no posicionamento e na proteção dos líderes mas não serão só isso. Principalmente os dois últimos serão setas apontadas às fugas e às etapas estilo clássicas e de média montanha, a qualidade e combatividade de ambos poderá dar frutos. Vêm de vitórias recentes.
Previsão: Pello Bilbao vai mostrar novamente porque é um dos ciclistas mais consistentes do pelotão, vai fazer top 10 e ganhar 1 etapa, entre Fred Wright e Matej Mohoric a equipa vai assinar outro sucesso parcial.
Bora-Hansgrohe
A formação de Ralph Denk é outra equipa que vem com um bloco dividido. Para a classificação geral, Jai Hindley é a aposta, o australiano tem dado muito boa conta de si, vem de ser 4º no Dauphine, e depois de vencer o Giro no ano passado este é um passo normal na sua carreira. Emanuel Buchmann já foi 4º no passado, vem de vencer os Nacionais na Alemanha, não está ao mesmo nível há algum tempo, no entanto nunca pode ser descartado apesar de acreditarmos que estará mais no apoio a Hindley. Ainda no bloco de montanha estão Bob Jungels e Patrick Konrad, dois ciclistas que vêm de fazer o Giro e acrescentam muita experiência.
No início de 2023, Sam Bennett era o homem para os sprints, só que a temporada não tem sido a melhor e o irlandês foi substituído por Jordi Meeus. O belga tem uma oportunidade de luxo para se afirmar dentro da equipa alemã e conta com Danny van Poppel para o guiar nos finais. Com um dos melhores lançadores do Mundo do seu lado, tudo é possível. Marco Haller também fará parte do comboio, tal como Nils Politt, com este a poder ter alguma liberdade para entrar em fugas, como já aconteceu no passado.
Previsão: Buchmann tem estado longe do seu melhor, Jungels também, portanto Hindley vai ser conservador e ficar no lugar mais baixo do pódio, também por isso não vão ganhar qualquer etapa.
Cofidis
Há 15 anos que a formação francesa não vencer na “sua” prova, será desta? As grandes figuras estão todas presenças, não é por aí que poderão falhar. Guillaume Martin é o homem para a geral, devemos vê-lo na mesma estratégia de sempre, irá estar atrasado nas primeiras etapas e depois entra em fugas onde recupera tempo e, ao mesmo tempo, pode discutir as etapas. Vem de ser 6º no Dauphine. Ion Izagirre é um perigo nas fugas que entrar, principalmente nas etapas que terminem após uma descida. Ainda na montanha, Victor Lafay é um nome a ter em atenção, com a experiência a ser dada por intermédio de Simon Geschke.
A combatividade também está presente na restante equipa, Anthony Perez é corredor para entrar em muitas fugas. Estamos muito curiosos para ver o que faz Axel Zingle, o francês tem tido uma evolução muito sólida, estreia-se no Tour e tem algumas etapas ao seu jeito. Muito rápido em grupos restritos e em dias duros, pode surpreender em fugas.
Por fim, sobra o homem do sprint Bryan Coquard. Capaz do melhor e do pior, a colocação de Le Coq nem sempre o ajuda a conseguir um bom resultado. Vai estar de olho nos sprints mais seletivos, é aí que pode vencer. Alexis Renard será o seu lançador.
Previsão: Top 15 para Guillaume Martin, muitas tentativas de Ion Izagirre, arriscamos num pódio de Axel Zingle numa etapa de média montanha.
Lidl-Trek
Todas as grandes figuras estão presentes! Após ter sido impedido de estar no Giro devido à COVID-19, Giulio Ciccone prepara o assalto ao Tour cheio de ambição. O italiano está longe de ser dos mais regulares em três semanas mas este ano parece ter atingido outro nível basta ver os resultados na primeira fase do ano (2º em Valência, 5º no Tirreno-Adriático e 7º na Volta a Catalunha, onde venceu uma etapa a Roglic e Evenepoel!).
Para a geral, o outro plano é Mattias Skjelmose, recente vencedor da Volta a Suíça e que finalmente provou que consegue andar com os melhores na alta montanha. 3 semanas é uma incógnita, veremos como o campeão dinamarquês reage, tem que aproveitar enquanto está em grande forma. Juan Pedro Lopez é a outra seta apontada para a montanha, devendo estar mais focado no apoio.
Depois do Giro onde venceu uma etapa e foi forçado a abandonar, Mads Pedersen continua a sua demanda de Grandes Voltas. O antigo campeão do Mundo não ganha muito, normalmente há sempre ciclistas mais rápidos, mas escolhe os locais certos para o fazer. Alex Kirsch e Jasper Stuyven formam um curto mas perigoso comboio. Tony Gallopin será o capitão na estrada, já tem muitos Tours nas pernas e o irreverente Quinn Simmons completa o elenco, um perigo para as etapas de média montanha.
Previsão: Não acreditamos que a Lidl-Trek venha com o pensamento na geral, no entanto vão caçar as etapas com tudo, pelas suas características 1 para Ciccone e 1 para Skjelmose, Pedersen pode acusar o desgaste de tantas Grandes Voltas nos últimos meses.
EF Education-Easy Post
Richard Carapaz parte como o líder da equipa, a confiança não deverá ser a mais alta, a temporada do campeão olímpico não tem sido boa e as indicações dadas no Dauphine não foram as ideais. Carapaz é alguém capaz do melhor e do pior, veremos que versão apresenta. O bloco sul-americano não fica por aqui, Esteban Chaves, Andrey Amador e Rigoberto Uran serão gregários na montanha mas deverão ter a sua liberdade. Chaves e Uran ainda têm qualidade suficiente para lutar por etapas a partir de fugas, agora tentar o top-10 na geral já é outro assunto.
Não nos admirávamos que Neilson Powless acabasse por ser o melhor elemento da equipa na geral, o norte-americano é um ciclista muito completo, é certo que não sobe com os melhores mas defende-se em todos os terrenos. Muito combativo, gostávamos que o seu foco fosse outro. James Shaw será um gregário.
Depois sobram Magnus Cort e Alberto Bettiol. Cort chega ao 2º objetivo do ano já com a vitória do Giro no bolso, não é um ciclista de entrar em muitas fugas, quando entra tem a certeza que resulta e raramente falha. Bettiol é mais irregular e também vem do Giro onde apareceu a espaços. Num dia muito bom é um candidato a vencer, só que esses dias não são muitos.
Previsão: Ou estamos completamente certos ou completamente errados em relação a Carapaz, prevemos que entre mal no Tour, se descarte da geral e ganhe a classificação da montanha, Magnus Cort vão provar novamente que não falha.
Groupama-FDJ
All-in em David Gaudu! Muita tinta já correu sobre Marc Madiot deixar Arnaud Demare de fora do Tour, numa prova com tantas oportunidades para os sprinters. Focando na equipa selecionada pelo irreverente manager, o trepador francês tem ainda mais responsabilidade, depois de uns últimos meses paupérrimos (desde inicio de Abril que não consegue resultados de relevo, o último top-10 data da Volta ao País Basco). 4º no ano passado, o objetivo assumido é o pódio e vem, novamente, com o seu fiel escudeiro Valentin Madouas (encontrou as melhores sensações nos Nacionais) e Kevin Geniets.
Thibaut Pinot também fará parte do bloco de montanha só que, na sua despedida, acreditamos que terá um papel livre para fazer a sua corrida. 5º no Giro, onde ganhou a montanha, quererá triunfar numa etapa acima de tudo e depois logo se verá o seu estado e como aguenta. Stefan Kung é um faz-tudo, em forma sobe muito bem, e será fundamental na proteção nas etapas planas. Nessa fase, Olivier le Gac e Lars van den Berg também serão fundamentais. Quentin Pacher é um corredor completo, deverá ser dos primeiros a entrar ao serviço nos dias de montanha.
Previsão: Não ficámos convencidos com a forma de David Gaudu, prevemos que o francês falhe os objectivos e que venha Thibaut Pinot tentar salvar o Tour, mas o desgaste de um duro Giro vai passar factura.
Ineos-Grenadiers
Uma equipa com vários líderes e, ao mesmo tempo, sem um líder definido. Egan Bernal regressa a um local onde foi muito feliz, só estar no Tour já é uma vitória depois de tudo o que aconteceu. Aos poucos, tem melhorado mas continua longe dos seus tempos áureos. Já afirmou que vai ter um papel livre, veremos até onde irá. O outro colombiano da equipa é Daniel Martinez, uma verdadeira caixinha de surpresas! Em 8 Grandes Voltas apenas 1 vez terminou no top-10, o que demonstra a sua irregularidade, algo bem evidente nos resultados conseguidos este ano. Qual versão teremos de Martinez? Após o 7º lugar na Vuelta, Carlos Rodriguez dá o passo rumo ao Tour. Com muita irreverência, o espanhol é um ciclista muito talentoso. Sabe que não será tão marcado e isso pode ser importante para um bom resultado.
Por fim, Tom Pidcock, a grande aposta da equipa para o futuro e que vem testar-se seriamente. Talento não lhe falta só que ainda não o vemos a discutir as grandes etapas de montanha, ainda lhe falta evoluir nesse aspeto, falta-lhe regularidade também. Quererá vencer cedo para libertar a pressão. Omar Fraile, Michal Kwiatkowski e Jonathan Castroviejo são fiéis gregários, têm muitos anos disto e experiência para dar e vender, vão ser muito importantes. O elenco fica completo com Ben Turner, uma jovem promessa que pode surpreender em algumas etapas se tiver liberdade para tal.
Previsão: Acreditamos no talento puro de Carlos Rodriguez desde que sobreviva na primeira semana, a Ineos costuma trabalhar bem as Grandes Voltas, arriscamos no top 5 e num triunfo de etapa de Daniel Martinez através de uma fuga.
Intermarche-Circus-Wanty
Mais uma equipa com um bloco repartido e que para a geral traz o sempre regular Louis Meintjes. O sul-africano apareceu, pela primeira vez em forma, no Dauphine, o que são excelentes indicadores. No seu estilo característico, Meintjes irá à procura de mais um top-10 na geral. O apoio na montanha não é muito, Georg Zimmermann e Rui Costa vão ser quem mais perto estarão e mesmo estes dois terão liberdade para procurar vitórias em fuga, eles que vêm a andar bem nas últimas semanas e têm qualidade mais que suficiente para triunfar. Lilian Calmejane também já tem muita experiência mas a qualidade não é tanta, tem uma tarefa mais complicada.
O foco no sprint é liderado por Biniam Girmay, superestrela africana que vem de uma vitória recente na Suíça. O eritreu já mostrou que é capaz de bater os melhores do Mundo, nos seus melhores dias é um corredor muito rápido e quererá uma corrida endurecida nessas fases para desgastar os sprinters mais puros. Adrien Petit, Dion Smith e Mike Teunissen formam o comboio do eritreu, um trio bastante competente.
Previsão: Louis Meintjes parece ter preparado muito bem o Tour e até tem bom apoio, apostamos num top 10 final com triunfo de etapa do inevitável Biniam Girmay.
Israel-Premier Tech
Desengane-se quem ache que Michael Woods ou Dylan Teuns vêm disputar um lugar na geral, o foco desta equipa é as etapas, tal como aconteceu no Giro. Uma pequena nota prévia, por tudo o que se passou foi preciso alguma coragem para deixar Chris Froome de fora do Tour, nota-se que o foco ultimamente está mais na performance e no desenvolvimento dos jovens do que em simplesmente alinhar com os ciclistas mais conhecidos. Em relação aos 2 nomes que falámos, Woods vai estar sempre na lista de candidatos quando a etapa termine em rampas empinadas, noutro cenário será muito difícil vê-lo ganhar porque os rivais sabem que tem debilidades sérias no terreno plano e principalmente nas descidas e vão aproveitar-se disso. Teuns até se mostrou em bom plano na Suíça e apesar de não ter qualquer pódio este ano é preciso lembrar que é um corredor muito vencedor, já soma 14 triunfos na carreira, incluindo a Fleche Wallonne.
Hugo Houle, Guillaume Boivin e Krists Neilands terão as suas chances, poderão fazer 1 top 10, não creio que tenham a qualidade necessária para ganhar numa corrida deste gabarito neste momento. Simon Clarke é sempre muito perigoso, ganhou no ano passado num terreno onde nem é incrível, esteve bem perto do triunfo no Giro deste ano, não lhe podem dar um dedo que o australiano quer logo a mão toda. Tenho alguma expectativa sobre Nick Schultz, transferiu-se da Jayco, está a ter mais liberdade e no ano passado esteve a escassos metros da vitória, apenas ultrapassado por Magnus Cort. Passa um bocadinho debaixo do radar, mas está a fazer uma época até com alguns bons resultados. Por fim, Corbin Strong irá imiscuir-se nos sprints finais, ajudado por Boivin, o australiano terá melhores hipóteses em etapas um pouco duras sem a concorrência de Jakobsen ou Groenewegen, por exemplo.
Previsão: Depois do que aconteceu no Giro merecem pelo menos uma tirada, apostamos em Dylan Teuns para o conseguir.
Lotto-Dstny
Caleb Ewan é o único líder e chega ao Tour até bastante pressionado. Pressionado pela falta de resultados em 2023 (nenhuma vitória e apenas 2 pódios no World Tour) e pela concorrência interna com Arnaud de Lie a aparecer. Juntando a isto, o contrato do australiano acaba em 2024 e um falhanço aqui poderá significar perder lugar para De Lie no Tour em 2024. Não se pode queixar do apoio e no comboio, com Eenkhoorn, De Buyst e Guarnieri, é um dos comboios mais potentes aqui presentes, só que tantas vezes o pequeno “Pocket Rocket” se perde nos seus colegas que só com um pequeno milagre parece-me que sairá com uma vitória.
Haverá alguns corredores depois com papel livre, nomeadamente o talentoso Maxim van Gils, um ciclista que foi incrível nas Ardenas e que já mostrou ter uma explosão impressionante em topos, será um perigo à solta na média montanha com a vantagem de poder poupar forças para determinados dias. Victor Campenaerts vem agora de lesão, a forma física está a melhorar e até se espera mais do belga em etapas em linha do que em contra-relógios, tem perdido esse foco ultimamente. Cuidado ainda com Frederik Frison naquelas etapas de transição mais planas, o poderoso rolador belga está a ter a sua melhor temporada de sempre.
Previsão: Caleb Ewan vai desiludir novamente, caberá a Maxim van Gils salvar a honra do convento.
Jumbo-Visma
A equipa a bater, com o ciclista a bater. O objectivo é repetir a receita de 2022 e para isso estão cá 6 dos 8 corredores que representaram a formação holandesa há 12 meses. Desta vez não há liderança bipartida, o líder é Jonas Vingegaard e não se fala mais nisso. O dinamarquês chega cheio de confiança, ganhou no País Basco e no Dauphine com uma autoridade assustadora, mas perdeu na única batalha contra Tadej Pogacar, numa altura em que o esloveno estava noutra fase da sua preparação. É preciso ver que este é o primeiro Tour em que Vingegaard tem esta responsabilidade, em 2021 foi 2º quando ninguém esperava, em 2022 ganhou quando poucos esperavam, desta vez a pressão está nele e na Jumbo-Visma.
Em relação a 2022 há a perda de Primoz Roglic, que venceu o Giro há umas semanas, no lugar dele vem Dylan van Baarle. Longe de ser a mesma coisa, não está em causa a polivalência do holandês, mas Roglic representava um perigo, uma preocupação e um factor de stress para Pogacar, o que não acontece com van Baarle e Roglic foi preponderante na estratégia há 12 meses. Pelo contrário, Wilco Kelderman mostrou na Volta a Suíça que a ausência de Steven Kruijswijk nem deve causar grande mossa, Kelderman e Kuss serão os grandes escudeiros de Vingegaard na montanha, sendo que a espaços Wout van Aert, Dylan van Baarle e Tiesj Benoot também poderão estar por lá. Wout van Aert tem pela frente um Tour desafiante, tem a camisola verde a defender e ao mesmo tempo já referiu que caso a sua mulher entre em trabalho de parto abandonará a corrida, não estará focado a 100%. Christophe Laporte e Nathan van Hooydonck dão mais do que garantias no terreno plano.
Previsão: 2 sucessos de Wout van Aert, 1 de Jonas Vingegaard e 2º lugar final para o dinamarquês.
Movistar Team
A equipa mais portuguesa deste Tour, graças à presença de Nelson Oliveira e de Ruben Guerreiro. O veterano luso é cada vez mais um capitão e uma pedra basilar na estrutura espanhola, tem aperfeiçoado a arte de ser gregário e é incrível a sua regularidade ao mais alto nível, só para se ter uma noção esta será a 9ª Grande Volta de Nelson Oliveira desde 2019. Ruben Guerreiro vem com outras ambições, obviamente focado no seu líder da geral, mas procurará as suas oportunidades nas jornadas parciais e está na equipa certa para isso, a Movistar gosta de colocar ciclistas nas escapadas das jornadas de montanha para servirem eventualmente numa fase posterior.
O líder vai ser Enric Mas, uma das grandes incógnitas desta corrida, que aparentemente tem em aberto um lugar no pódio. O espanhol não é propriamente um ciclista confiável e regular, se mostrar o nível do final de 2022 aí o pódio está perfeitamente ao alcance, fez uma Vuelta tremenda. Mas se andar como andou no Dauphine até no Tour do ano passado não terá força para um bom resultado, a equipa diz que falhou no Dauphine por problemas intestinais, que só revelou à posteriori.
Matteo Jorgenson tem sido uma das sensações de 2023, só que já leva muitos quilómetros nas pernas e a juntar a isso parece estar de saída do conjunto ibérico, não duvidamos claro do seu profissionalismo na ajuda da Enric Mas, será que a fome de vencer e de mostrar o que vale ainda lá está? De Gregor Muhlberger e Antonio Pedrero esperam-se boas exibições ocasionais na montanha e atenção a Alex Aranburu em sprints em grupo reduzido e finais em pequenos topos, será já um nome a ter em conta na primeira etapa em território basco. Gorka Izagirre é quem fecha os 8 escolhidos, num leque de ciclistas ao qual talvez falte um puro rolador para além de Nelson Oliveira.
Previsão: Apesar de tudo neste tipo de corridas Enric Mas até é bastante regular e vai ficar no top 10, mais do que isso não. 1 etapa para Matteo Jorgenson.
Soudal – Quick Step
Não é novidade nenhuma a estrutura comandada por Patrick Lefevere vir para a Volta a França sem líder para a classificação geral, sempre valorizaram mais a conquista de triunfos parciais do que um 8º lugar na geral, dá mais visibilidade. Fabio Jakobsen, que no ano passado conclui um regresso heróico com um triunfo aqui não se pode queixar do apoio, aliás, mais de metade da equipa é focada nos sprints. Remi Cavagna, Yves Lampaert e Michael Morkov deve ser este o comboio e Jakobsen tem de se conseguir impor no pelotão e tem de confiar na roda do seu lançamento, que tem muitos anos disto. O holandês chega aqui com 5 vitórias, o que não é nada mau, e 2 delas foram conquistadas recentemente na Volta a Bélgica, seria até surpreendente Jakobsen não picar o ponto neste Tour.
Julian Alaphilippe finalmente mostrou boas sensações no Dauphine, não só terminou em 10º como ganhou uma etapa e fez 2º noutra, o francês precisava desesperadamente destes resultados depois de não ter aparecido nas clássicas das Ardenas e de ter sido abertamente criticado pelo responsável máximo. Nunca se sabe bem ao certo os seus objectivos, a camisola da montanha pode estar nas suas cogitações. Kasper Asgreen é aquele que mais o pode ajudar nesse terreno, enquanto Tim DeClercq vai ficar encarregue de comandar o pelotão centenas de quilómetros.
Previsão: Alaphilippe deu boas indicações, Jakobsen também e “a matilha” chega aqui com boa moral, 1 vitória para cada um dos líderes.
Team Arkea-Samsic
Esta Arkea-Samsic é a prova de que uma coisa é fazer temporadas a tentar somar o maior pontos UCI em corridas do calendário europeu, outra coisa bem diferente é ter um plantel competitivo de forma constante no World Tour e nesse campo Nairo Quintana faz mesmo muita falta. Pareceu-me que Warren Barguil foi ao Giro um pouco em desespero e dificilmente vai chegar aqui em condições de ganhar uma etapa contra ciclistas que fizeram a sua preparação somente a pensar no Tour. O outro trepador é Clement Champoussin, só que ou o francês deu um salto qualitativo e tem alguma sorte e saber numa fuga ou terá sempre um trepador melhor ou um finalizador melhor numa escapada.
O que diz muito desta equipa é que entre tantos sprinters, até com algum renome, que tem, venha com Luca Mozzato como principal ciclista para estas chegadas. Não que o italiano seja mau ciclista, longe disso, mas é manifestamente curto a este nível, a sua consistência poderá dar para um top 10, nada mais do que isso, mesmo lançado por Jenthe Biermens. Será a estreia no Tour para Gugliemi, bem pelo contrário Pichon e Delaplace conhecem muito bem estas estradas. Matis Louvel é um ciclista interessante, mostrou que está em boa forma nos Nacionais e não seria uma surpresa completa vê-lo a fazer um top 5 numa etapa através da fuga.
Previsão: Vão sair de mãos a abanar e com um Tour muito discreto.
Team dsm–firmenich
Voltam a trazer o inevitável Romain Bardet como líder para o Tour, e época está a ser boa e consistente sem ser extraordinária, ele nunca foi capaz de andar com os vencedores das provas em que participou, tendo sido 5º na Suíça, 7º na Romândia e 7º no Paris-Nice. Em abono da verdade, esse é o objectivo para esta Volta a França e no registo de Bardet ele sempre que terminou a corrida fez top 10, menos no ano em que conquistou a camisola da montanha. Não podemos esquecer que ele faz 6º no ano passado, num Tour duríssimo, que fez diferenças enormes, quando já poucos pensavam que ele teria esta capacidade. E que é um ciclista que se excede nas etapas míticas, foi 2º no Col du Granon. O apoio é que não será muito, Chris Hamilton vai ser o braço direito, acompanhado pelos inexperientes a este nível Matthew Dinham e Kevin Vermaerke.
O outro lado da aposta recai no potencial de Sam Welsford, um ciclista de 27 anos e que só em 2022 entrou no World Tour. O australiano é um tanque, um sprinter muito poderoso que venceu 2 etapas na Vuelta a San Juan logo no início do ano e que foi demonstrado ao longo do resto da época que consegue batalhar lado a lado com alguns conceituados sprinters, mas sem nunca os bater. A colocação será um desafio, terá a ajuda de Nils Eekhoff e John Degenkolb, bem como de um rolador como Alex Edmondson. Eu acho que Welsford tem muito potencial, mas também acho que isto para já é dar um passo maior do que a perna, a DSM vê em Welsford um potencial Jonathan Milan, só que o australiano não é tão versátil nem tem tanta experiência de estrada.
Previsão: Ainda não acreditamos que Welsford esteja a este nível para ganhar, Bardet vai perder algum tempo na primeira semana e depois caçar etapas, recuperando assim para o 9º/10º lugar.
Team Jayco-AIUla
Uma daquelas equipas que vem com um alinhamento bipartido, com um sprinter de renome e a pensar um pouco na geral também. No entanto, pelo pouco investimento no apoio a Simon Yates não creio que o britânico esteja aqui para andar a todo o gás nas 3 semanas, o melhor trepador que está com ele é Chris Harper e depois temos de olhar a Lawson Craddock, é manifestamente insuficiente. Para além disso o britânico não tem tido uma época nada fácil, perder o Tour Down Under para Jay Vine e depois tanto no Paris-Nice como no País Basco fez top 10 mas esteve bem longe dos melhores e já não compete há mais de 2 meses.
O outro líder é Dylan Groenewegen, o comboio em si não é nada de incrível, Luka Mezgec é que se encontrar o timing certo vale por esse comboio todo. O holandês é daqueles sprinters que tem manifesta dificuldade em colocar-se e sabe que não terá uma boa colocação para todos os sprints puros, é uma questão de aproveitar 1 ou 2 oportunidade que tenha, de preferência já na primeira semana antes do desgaste se instalar nas pernas. Completam o alinhamento Chris Juul Jensen, Elmar Reinders e Luke Durbridge, que são essencialmente roladores.
Previsão: Depois do que a Jayco fez no Giro acredito no top 10 de Simon Yates, só mesmo por causa disso, e porque o britânico não perdeu qualidade assim do nada. As estrelas vão alinhar-se e Groenewegen ganha na 1ª semana.
TotalEnergies
Muitos nomes sonantes, mas considero um dos alinhamentos mais fracos deste Tour. É preciso ver que tanto Peter Sagan como Edvald Boasson Hagen já estão bem longe dos seus tempos áureos e não obstante serem capazes de se imiscuir entre os melhores, ganhar no Tour é outra coisa. Só para se ter uma noção, Sagan acaba de perder os Nacionais eslovacos para um ciclista de uma equipa Continental e o único pódio que tem remonta a Janeiro, está a ser uma época final bastante triste. Hagen também já não saboreia um pódio desde Janeiro e o lançador será o super veterano Daniel Oss.
Anthony Turgis é aquele ciclista que aparece 2 ou 3 dias num ano e não tem dado grandes indicações, Pierre Latour continua muito inconsistente e a mostrar muitas debilidades nas descidas, Steff Cras até estava num bom momento, foi obrigado a abandonar no Dauphine, resta Mathieu Burgaudeau, que até fez uma boa exibição no Dauphine, deve ser o corredor mais perigoso da equipa a espaços. O alinhamento é completo pelo jovem Valentin Ferron.
Previsão: Quem estrutura uma equipa desta forma não merece ganhar no Tour.
UAE Team Emirates
Está muito em jogo aqui para Tadej Pogacar, apesar de tudo o que o esloveno já conquistou em 2023, o Tour continua a ser o principal objectivo do ano e quer recuperar o título de 2020 e 2021. Há alguns aspectos a ter em conta, a recuperação da lesão de Pogacar é morosa, mas pelo menos não foi impeditiva de treinar durante muito tempo. Recentemente confessou à imprensa que ainda não tem mobilidade total no pulso e espera que melhore ainda antes do tiro de partida, será certamente desconfortável, não devendo afectar a performance a curto prazo. O que o corredor da UAE Team Emirates fez nos Nacionais é perfeitamente normal, não podemos retirar daí qualquer conclusão, Pogacar até sem treinar ganharia o contra-relógio por uma larga margem. Acho que está a fazer bluff, se não estiver a 100% estará lá muito perto e quer instalar a dúvida na mente de Vingegaard e da Jumbo-Visma, talvez forçanado-os a desgastarem-se mais para o testarem já nos primeiros dias, podendo sair o tiro pela culatra.
A base da equipa é a mesma que deixou Pogacar desfalcado no final do Tour 2022, por motivos diversos, Bjerg, Laengen, Soler e Majka repetem a presença, sendo que Soler e Majka mostraram que até o podem ajudar na montanha desde que estejam em condições físicas. A adição de Matteo Trentin no lugar de Marc Hirschi acho positivo, Hirschi daria ajuda na média montanha tal como Trentin dá, com o benefício do italiano ser mais experiente e se colocar melhor que o suíço. Felix Grosschartner vem fazer as vezes de George Bennett, aí considero quase igual por igual, sendo que o austríaco tem feito parte do núcleo duro diversas vezes esta época. Depois a mais importante é a substituição de Brandon McNulty por Adam Yates. A UAE Team Emirates ganha uma alternativa credível para a geral, que McNulty não era, e uma garantia de rendimento a 3 semanas, que McNulty não tinha, no entanto creio que perde aquele ciclista que num dia sim destrói por completo o pelotão como o norte-americano fazia, o britânico está mais programado para seguir a ritmo na tentativa do melhor resultado possível no final.
Previsão: Tadej Pogacar vai recuperar o título e vencer o Tour 2023, ninguém consegue parar o esloveno quando está com esta mentalidade, toda a história do pulso e de Adam Yates ser co-líder é bluff. O britânico vai ter de contribuir muito e assim sacrificar o top 5, podendo ainda fazer top 10. 2 etapas para o todo o terreno esloveno.
Uno-X Pro Cycling Team
Vai ser das equipas mais interessantes de acompanhar. Obviamente nesta primeira presença no Tour o mais importante será aparecer, conseguir alguns bons resultados nas etapas e ganhar experiência e conhecimento para preparar o futuro. Para compensar tanta juventude vem com um dos líderes mais experientes deste pelotão, Alexander Kristoff. O ano não está a correr incrivelmente bem, até porque aos 35 anos a explosão já não é a mesma de antigamente e será complicado bater-se de igual para igual com Jakobsen, Philipsen ou van Aert. A sua melhor hipóteses até poderá ser nos Campos Elíseos, num sprint para ciclistas pesados em paralelo, lembrando que 3 das 4 vitórias que ele tem no Tour vieram na segunda metade da prova, quando o poder dos puros sprinters está mais neutralizado. O comboio é constituído por Jonas Abrahamsen, Rasmus Tiller e pelo perigoso Soren Waerenskjold, um ciclista muito possante, que estará à espreita em algum dia mau de Kristoff na média montanha e também nos contra-relógios.
Para a montanha estão aqui um conjunto muito interessante de atacantes, não acredito que o super talento que é Tobias Johannesen venha disputar a geral, não porque lhe falte qualidade, mas porque nunca fez uma Grande Volta e porque teve alguns problemas físicos durante o ano. Anthon Charmig não tem mostrado o nível de 2022, Jonas Gregaard foi o rei da montanha do Paris-Nice e pode tentar envergar novamente essa camisola aqui e Torstein Traeen tem sido incrivelmente regular nas provas por etapas, o 8º posto do Dauphine foi uma excelente indicação para o Tour.
Previsão: Por muito que queira dizer que vão ganhar 1 etapa, ainda não acho que estejam nesse estado de maturação, ainda assim vão ser dos grandes animadores.