AG2R Citroen Team – 13
Não sendo incrível, foi uma Vuelta razoável para a formação gaulesa, que viu Ben O’Connor finalmente deixar os maiores azares para trás para finalizar no 8º posto da classificação geral, um lugar conquistado sem fugas envolvidas e sem recuperar minutos para os rivais de uma só vez. O australiano fez uma corrida muito consistente e controlada, a sua melhor etapa até talvez tenha sido na Sierra Nevada, denotando que até gostaria de mais etapas com muito desnível.
Bob Jungels, de saída da Ag2r, esteve no auxílio ao seu líder e foi 8º na única fuga em que esteve, longe das pernas que mostrou no Tour. Andrea Vendrame e Jaako Hanninen abandonaram logo na 1ª semana e não vimos a habitual combatividade de Nans Peters. Antoine Raugel completou a sua primeira aventura de 3 semanas e Clement Champoussin esteve especialmente activo na segunda metade da corrida, integrou 4 fugas, mas sem grandes resultados para o currículo, um corredor que parece ter estagnado um pouco recentemente.
Alpecin – Deceuninck – 17
Mais uma Grande Volta incrível para aquela que é claramente a melhor equipa dentro das ProTeams. Jay Vine finalmente mostrou a este nível que consegue transformar os Watts produzidos em grandes vitórias na montanha. O australiano esteve intocável em fugas nas primeiras montanhas, depois perdeu um pouco o ascendente, mas estava claramente a caminho de conquistar a camisola da montanha, quando foi forçado a abandonar devido a queda, um final inglório na prova que certamente vai fazer com que as outras equipas olhem para ele de forma diferente, produziu valores impressionantes e foi o culminar de uma bela história.
Robert Stannard foi muito combativo quando se esperava que lutasse por etapas em grupos reduzidos e de forma surpreendente até tentou vingar o abandono do seu colega com um ataque tardio pela montanha. Lionel Taminiaux foi 8º no último dia, Gianni Vermeesch 3º na etapa 19, Xandro Meurisse ajudou muito Vine nas fugas e Jimmy Janssens foi 4º numa etapa da primeira jornada. Nota negativa para Tim Merlier, uma das desilusões desta Volta a Espanha, sair da corrida com apenas 2 pódios contra esta concorrência, quando tinha ganho etapas no Giro e no Tour em 2021 é manifestamente pouco para um sprinter que vai para a Quick-Step em 2023 e vai ter a concorrência interna de Fabio Jakobsen. Nem se deu por Floris de Tier.
Astana Qazaqstan Team – 14
A boa Vuelta a Burgos já dava indicações que Miguel Angel Lopez iríamos ter na Volta a Espanha e, no final, o colombiano terminou num muito positivo 4º lugar, o seu melhor resultado desde 2018. Faltaram etapas de alta montanha e com muito desnível para vermos o Superman no seu habitat natural e, quem sabe, a vencer uma etapa. Vadim Pronskiy foi o melhor apoio de Lopez, nas etapas finais esteve forte e ainda conseguiu um top-10. Esperava-se mais de Harold Tejada, não se viu quando a estrada inclinou.
Alexey Lutsenko bem tentou, entrou em 4 fugas mas os resultados práticos foram nulos, nem um top-10 conseguiu. Vincenzo Nibali já longe do seu melhor, esteve em 3 fugas na última semana e David de la Cruz também por lá andou mas não mostrou as pernas de outras edições, quando discutia etapas. Esse função coube a Samuele Battistella, por duas vezes foi 2º e ainda um 6º antes de abandonar.
Bahrain-Victorious – 11
Uma equipa que viveu depende de Fred Wright. O britânico chegava em grande forma e não desiludiu, conseguiu ser 2º na classificação por pontos fruto da enorme regularidade (6 top-10 incluindo 3 pódios). Com mais calma e experiência, Wright tinha conseguido uma vitória, mas os erros também são importantes para aprendizagem. Nas várias fugas onde esteve, Edoardo Zambanini ainda sacou um pódio, muito melhor que Mikel Landa, Santiago Buitrago e Wout Poels em conjunto. Os 3 trepadores passaram ao lado da corrida, nunca se conseguiram destacar.
Gino Mader partia com esperanças de um bom resultado na geral mas cedo perdeu o contacto com os primeiros lugares. Tentou redimir-se na última semana, sempre muito ativo ao entrar em 4 fugas mas os zero top-10 mostram a fraca condição física. Aos 38 anos, Luis Leon Sanchez foi 16º na geral, um resultado muito decente do veterano espanhol. Jasha Sutterlin foi um corredor de trabalho.
BORA-Hansgrohe – 15
A formação alemã vinha com uma equipa dividida e, apesar de tudo, tem que sair satisfeita da prova que fez. É certo que o 10º lugar de Jai Hindley não deixa os responsáveis da equipa contentes, um vencedor do Giro almeja sempre mais, mas a semana inicial foi fatal para uma melhor posição na geral. Wilco Kelderman foi jogado taticamente, chegou a estar nos primeiros lugares depois de uma fuga, mas uma queda e a falta de pernas voltaram a colocá-lo como gregário. Sergio Higuita foi de menos a mais, esteve em 2 fugas nos últimos 4 dias mas espremendo a sua prestação não se retira muito sumo. Matteo Fabbro foi o trepador mais sacrificado.
Do lado do sprint, Sam Bennett partia com pressão, a época não estava a correr de feição, o irlandês só tinha um triunfo mas antes de chegar a Espanha arrumou a questão vencendo por duas vezes. Estava a ter um duelo interessante com Pedersen na luta pela camisola verde quando foi forçado a abandonar devido a COVID-19. Danny van Poppel foi fundamental nas duas vitórias, lançou o irlandês na perfeição e, depois do seu abandono, assumiu as rédeas do sprint, conseguindo 4 top-5. Jonas Koch e Ryan Mullen trabalharam muito.
Burgos-BH – 10
Deixaram uma boa imagem apesar de terem começado a Vuelta com 7 elementos, depois de Manuel Penalver não ter partido em terras neerlandesas. Muita combatividade, como seria de esperar, numa Volta a Espanha em que 1 vitória em etapa estava muito cara. As tarefas pareceram bastante bem definidas, Oscar Cabedo e Jesus Ezquerra não integraram qualquer fuga, Cabedo terminou a geral em 22º e Ezquerra foi sempre algo perigoso na média montanha, terminando com um 7º e um 9º posto em etapas.
Por outro lado, Ander Okamika tinha a missão de integrar o máximo de escapadas possíveis e entrou em 5, Daniel Navarro guardou-se para a última semana, sem conseguir causar estragos, Jetse Bol e José Manuel Diaz Gallego somaram 3 fugas cada um, mas curiosamente o melhor resultado em etapa, a par de Ezquerra, foi de Victor Langellotti, o surpreendente vencedor de etapa na Volta a Portugal, que foi 7º na chegada a Bilbao.
Cofidis – 12
No final de contas foi o inevitável Jesus Herrada a salvar de certa forma a Volta a Espanha da Cofidis, algo que não seria assim tão improvável à partida. O espanhol, que já conta com 18 vitórias na carreira, voltou a mostrar que tem uma incrível eficácia e inteligência nos momentos chave, ganhou cedo numa tirada em que foi preciso aguentar o pelotão e esteve novamente perto na etapa 17, só foi superado por Uran e Pacher, somando 120 pontos graças a isto.
No lado oposto, Bryan Coquard passou relativamente ao lado desta Volta a Espanha, sempre muito mal posicionado nos sprints, o francês pagou muito caro por isso, levou apenas 52 pontos UCI. Na chegada em que fez 2º a sua recuperação foi impressionante, talvez tivesse ganho não estivesse tão mal posicionado, viria a abandonar mais cedo para tentar recuperar fisicamente e somar pontos noutras corridas. Os lançamentos de Cimolai não foram propriamente incríveis, sendo que por vezes foi Coquard a não seguir o seu lançador. Mal se deu pela presença de José Herrada e Thomas Champion, Rochas deixou a Vuelta muito cedo, Ruben Fernandez e Davide Villella estiveram em algumas fugas, mas nunca ameaçaram os rivais.
EF Education – EasyPost – 14
Percorrendo as nossas memórias foi uma Vuelta de altos e baixos para os comandados de Jonathan Vaughters, que logo nas primeiras etapas de montanha mostraram que não vinham para discutir o pódio. A partir daí foi tentar ver o que se arranjava e ficou um grande amargo de boca quando Mark Padun se mostrou claramente o mais forte da fuga num dia que caiu para os ciclistas da geral. O ucraniano nunca mais conseguiu reunir aquelas condições de novo e não chegou a cumprir as expectativas.
Quando tudo apontava para uma Grande Volta relativamente falhado para a formação norte-americana apareceu Rigoberto Uran num golpe de magia a salvar a honra do convento. Vitória em etapa e subida ao top 10, que o experiente colombiano logrou manter até ao fim da Volta a Espanha para somar uns preciosos 280 pontos para a EF Education Easy Post. De resto, Hugh Carthy esteve muitos furos abaixo do que apresentou no Giro, Esteban Chaves nem se deu por ele, Kudus, Caicedo e Shaw foram tentando as fugas e Julius van den Berg fez um top 10 numa chegada ao sprint.
Equipo Kern Pharma – 8
O projecto espanhol mais entusiasmante neste momento por toda a juventude e talento que tem acusou precisamente um pouco dessa inexperiência e também teve muito azar entre quedas e Covid-19. Roger Adriá ainda foi 10º na 5ª etapa, antes de ser obrigado a deixar a prova, Urko Berrade foi 10º numa jornada também e só esteve numa fuga, mesmo a fechar a Vuelta. Pau Miquel e Hector Carretero abandonaram a meio, Kiko Galvan e Vojetch Repa andaram desaparecidos e as notas mais positivas vão para Raul Garcia Pierna e José Felix Parra.
Garcia Pierna pela forma como terminou a sua estreia em 3 semanas, esteve em 3 fugas nas últimas etapas e ainda foi a tempo de fazer 8º numa delas, Parra terminou esta aventura em 26º, de recordar que este ciclista foi uma das surpresas da Volta a Portugal 2021 ao fechar no 7º posto.
Euskaltel-Euskadi – 6
Não foi um regresso glorioso da laranja mecânica basca, as armas ainda não são as de outro tempo e fizeram o que conseguiam com o que tinham. Entre os 8 ciclistas registaram um total de 14 presenças em fugas, quase 2 fugas por cada ciclista ao longo da Vuelta. A alta montanha foi um calcanhar de aquiles, Mikel Bizkarra não logrou as exibições de outros anos, terminou em 28º na geral. O melhor resultado em etapa foi o de Carlos Canal, que foi 11º logo na 2ª etapa. Não houve grandes surpresas nem grandes desilusões porque não se esperava mais deles.
Groupama-FDJ – 9
Fica a sensação que poderiam ter conseguido mais e melhor com o alinhamento que traziam. Nomeadamente Thibaut Pinot, que desde cedo perdeu tempo e reservou energia para as fugas, mas que depois raramente se conseguia infiltrar nas mesmas ao longo da última semana. Foi uma temporada de recuperação, ainda que não plena do gaulês que tem muitos fãs na modalidade, veremos se consegue traduzir as boas exibições em boas vitórias em 2023. Na terra dos quases também esteve Quentin Pacher, um 4º, um 5º, um 6º e um 2º posto já na última semana ao ver Rigoberto Uran a festejar o triunfo que ele queria. A história não acabou bem porque viria a cair e a abandonar no dia seguinte, numa altura em que as oportunidades já escasseavam.
Jake Stewart fez 2 top 10’s e abandonou, coube a Fabian Lienhard a partir desse momento ir aos sprints. Miles Scotson e Bruno Armirail fizeram uma Grande Volta bem discreta, Sebastien Reinchenbach até esteve em 3 fugas, sempre com exibições que não ficam minimamente na retina e, apesar do 4º lugar em Bilbao, esperávamos bem mais protagonismo de Rudy Molard, um ciclista que chegou à Vuelta num bom momento da temporada.
INEOS Grenadiers – 17
Uma equipa se se soube reinventar depois do grande líder ter perdido muito tempo nos primeiros dias e sai com um balanço positivo. Richard Carapaz queria, pelo menos, o pódio mas cedo se viu que era impossível. O campeão olímpico redefiniu objetivos, procurou etapas e em 5 fugas conseguiu triunfar em 3 delas. A juntar a isso, leva para a casa a classificação da montanha. Pavel Sivakov estava em 9º quando foi forçado a abandonar e a representação na geral coube a Carlos Rodriguez, o campeão espanhol acaba em 7º, debilitado após uma queda que o fez perder duas posições no último dia de montanha.
As expectativas sobre Ethan Hayter eram muitas, o britânico não correspondeu e até abandonar somou um top-10 apenas. Tao Geoghegan Hart foi poupado na primeira semana, até estava bem na geral mas depois explodiu e foi um pilar para Carlos Rodriguez. Dylan van Baarle mostrou o porquê de ser um fiel gregário e Ben Turner e Luke Plapp completaram, com sucesso, a primeira experiência de 3 semanas.
Intermarché – Wanty – Gobert Matériaux – 14
Com um alinhamento diferente do habitual, muitas opções e muitos possíveis líderes, acabou por correr dentro das expectativas graças a 1 ciclista. Falamos do inevitável e do super consistente Louis Meintjes, que venceu no muro das Las Praeres ao integrar a fuga certa, onde era claramente o melhor trepador. Seguindo sempre ao seu ritmo nas subidas terminou a Volta a Espanha no 11º posto da geral, mas desta vez vemos um Meintjes claramente mais aventureiro e combativo, era raro vê-lo nas fugas e agora é uma constante. O sul-africano ficou cedo com a liderança solitária visto que Pozzovivo perdia muito tempo e Jan Hirt foi cedo para casa.
Foi uma Vuelta de pesadelo para o jovem sprinter belga Gerben Thijssen, que caiu logo ao 2º dia e nunca mais esteve em condições físicas de sprintar, numa fase da época em que passava por um excelente momento. Logicamente, o seu comboio com Julius Johansen e Boy van Poppel não se fez notar. Rein Taaramae esteve perto na 8ª etapa e depois desapareceu e Jan Bakelants mostrou o seu habitual espírito lutador com 4 fugas ao longo das 3 semanas.
Israel – Premier Tech – 5
Tiveram muito azar durante a época e a tónica manteve-se na última Grande Volta do ano, símbolo disso foi o facto de Michael Woods nem sequer ter chegado a Espanha. Patrick Bevin voltou a mostrar que tanto saca uma belíssima vitória como mal aparece nas transmissões e durante estas 3 semanas foi o segundo caso. Ainda se viu um pouco de Alessandro de Marchi, só que o italiano nunca revelou ter pernas suficiente para disputar etapas.
Carl Hagen e Chris Froome estiveram quase 3 semanas no anonimato, Itamar Einhorn abandonou muito cedo e até foi Omer Goldstein uma das notas positivas, ao ser muito combativo (4 fugas) e ao terminar a 19ª etapa no top 10. Daryl Impey conquistou o único pódio da equipa, foi 2º na sua grande chance de sucesso, perdendo para o ataque solitário de Marc Soler. Analisando os resultados, o seu estatuto e o seu orçamento, foi uma das piores equipas desta Vuelta.
Jumbo-Visma – 14
Os primeiros dias da Vuelta foram perfeitos para a equipa neerlandesa: 4 dias com duas vitórias e 4 líderes diferentes dentro da equipa, Roglic parecia no controlo … até que apareceu a primeira grande etapa de montanha. O esloveno mostrou que a sua condição física ainda não era a melhor, foi subindo de forma, chegou a estar a praticamente 3 minutos e quando abandonou devido a queda estava a menos de 1:30. Esforço inglório para o ciclistas que tentava fazer história na Vuelta.
Sepp Kuss era o braço direito de Roglic mas foi forçado a abandonar ainda cedo, tal como aconteceu com Edoardo Affini. Chris Harper não teve medo em assumir e foi muito importante enquanto o seu líder esteve em prova, era o último homem de trabalho nas etapas de montanha. Robert Gesink apareceu na parte final, quase venceu uma etapa em fuga. Sam Oomen e Rohan Dennis são capazes de mais e melhor. Mike Teunisen deu conta de si quando teve oportunidades nas chegadas rápidas.
Lotto Soudal – 7
É muito complicado estar focado na luta pela manutenção no World Tour, trazer as segundas linhas para a Vuelta e mesmo assim vingar. A equipa ressentiu-se das ausências de Tim Wellens, Caleb Ewan, Arnaud de Lie e Victor Campenaerts e esteve discreta durante as 3 semanas. Para isso também contribuiu e muito o abandono super precoce de Steff Cras, que apontava ao top 15 e que era claramente o melhor trepador da equipa.
Os melhores resultados em etapas foram por parte de Harry Sweeny e Filippo Conca, o neozelandês foi 5º na etapa 7 e o italiano concluiu na mesma posição na etapa 9. Drizners, Malecki e Thomas de Gendt estiveram em 1 fuga cada um, muito pouco para amostra e mal se deu pela presença deles nesta Volta a Espanha. Maxim van Gils fez 8º numa jornada e o mais consistente foi Cedric Beullens, encarregue de se imiscuir nos sprints, fechou a Vuelta com 4 etapas dentro dos 10 melhores.
Movistar Team – 18
A equipa de Eusebio Unzué partia com a corda no pescoço, um bom resultado aqui era fundamental para a manutenção no World Tour e Enric Mas finalmente apareceu em 2022. O espanhol deixou para trás as quedas e o medo a descer, a sorte protegeuo e foi 2º, dando uns valiosos 844 pontos que quase garantem a manutenção. O melhor Mas apareceu quando mais era preciso.
Alejandro Valverde despediu-se da Vuelta sem muito brilho, não esteve na luta direta por nenhuma etapa e pela primeira vez na carreira fechou uma Vuelta sem nenhum top-10. Nelson Oliveira mostrou o porquê de ser um gregário de luxo, muitas vezes na frente e a ser útil para a equipa. Gregor Muhlberger e Carlos Verona foram pelas importantes na montanha, ao passo que Lluis Mas, Mathias Norsgaard e Jose Joaquin Rojas cumpriram o seu papel. Falta a vitória em etapa para colocar “a cereja no topo do bolo”.
Quick-Step Alpha Vinyl Team – 20
Um sucesso retumbante, algo que esta estrutura procurava há algum tempo e que estava a tentar construir desde que Remco Evenepoel entrou na equipa. O prodígio belga fez uma prova fenomenal e não quebrou na 3ª semana, ao contrário do que muitos vaticinavam. Sempre bem colocado, sempre atento, assumiu bem cedo a liderança da prova e foi ganhando vantagem sobre os rivais, vantagem que aumentou e consolidou no contra-relógio. Teve um dia mau na Sierra de la Pandera, falava-se que ia sofrer muito na Sierra Nevada, mas passou esse teste e sobreviveu aos ataques dos rivais na última semana, também com a ponta de sorte de já não ter a concorrência de Roglic. Mereceu, e muito, depois do que lhe aconteceu no final de 2020, recuperar de mal conseguir andar para vencer uma Grande Volta mostra bem o espírito de sacrifício de um grande campeão.
E alguns leitores discordaram connosco quando dias antes do início da Vuelta dissemos que este era um super apoio para o ataque à Vuelta da Quick-Step. Ficou provado que, com um Julian Alaphilippe em forma e empenhado, a formação belga fez muitos estragos e não só preparou na perfeição como colocou muito bem Evenepoel, pena que o francês tenha sido forçado a desistir por queda. Neste departamento destaque também para o jovem Ilan van Wilder, que Remco conhece tão bem das camadas jovens, muitas vezes o último apoio do camisola vermelha, que nunca esteve em grandes apuros tácticas, fruto também da vantagem que tinha para a concorrência. Os restantes cumpriram o seu papel, Cavagna no terreno plano, Vervaeke e Masnada infiltrando-se nas fugas para sempre possivelmente úteis ao seu líder.
Team Arkéa-Samsic – 11
Estiveram muito bem tendo em conta que perderam o seu líder (Nairo Quintana) mesmo antes da corrida começar. Embrenhado numa polémica que descambou na sua desqualificação do Tour, o colombiano e a sua equipa acharam por bem não viajar para os Países Baixos. Ficou Elie Gesbert com a responsabilidade de mostrar o novo equipamento da equipa gaulesa na montanha e o francês guardou energias para as últimas etapas, esteve em 4 fugas, terminando no top 10 por 2 vezes. Simon Gugliemi deixou uma inesperada boa imagem, principalmente pela forma com que acabou a Vuelta, fez 12º e 13º nas últimas 2 etapas de montanha, o jovem de 25 anos está calmamente a subir nos rankings e na hierarquia interna, pode ser opção para o Tour em 2023.
Guernalec e Delaplace não se fizeram notar e deixaram a prova cedo, Owsian tentou ajudar em fugas e Clement Russo também foi útil, tanto nos lançamentos, como a forçar perseguições em escapada. Dan McLay foi o sprinter de serviço, arrancou bem e acusou o desgaste de uma Grande Volta nas últimas etapas, fez 4 top 10, todos eles até à 11ª etapa.
Team BikeExchange – Jayco – 12
Outra formação com as atenções divididas entre os pontos e o prestígio dos resultados. Tudo parecia estar a correr relativamente bem com a campanha de Simon Yates na geral (estava em 5º) até o britânico ser forçado a abandonar, concluindo assim uma época quase para esquecer nas Grandes Voltas, com algum azar à mistura. O outro líder da equipa australiana, Kaden Groves, salvou a sua campanha na etapa 11, depois de um início bem abaixo das expectativas. Os 100 pontos de Groves foram muito úteis e foi o maior triunfo da carreira do jovem de 24 anos, que está de saída para 2023.
O comboio para Groves nem sempre funcionou na perfeição, quase isso aconteceu deu vitória do sprinter. Lucas Hamilton voltou a estar muitos furos abaixo do que já mostrou que pode e consegue dar, raramente esteve com Yates nos momentos importantes da primeira metade da Vuelta. Lawson Craddock foi um destaque claramente pela positiva, foi um dos mais combativos da competição. Esteve em 5 fugas e muitas vezes arriscou de longe, o que tendo em conta a sua tímida ponta final fazia muito sentido, deu emoção a algumas tiradas e não saiu com a merecida recompensa, apesar de ter terminado 3 vezes no top 10.
Team DSM – 16
Assistimos à confirmação de todo o potencial de Thymen Arensman como ciclista de 3 semanas, logo agora que o neerlandês de 22 anos estará de saída da Team DSM para ingressar na Ineos-Grenadiers. Contas feitas, é uma das revelações de 2022, sem sombra de dúvida. Ele que já tinha feito um Giro excelente, ficando por 2 vezes muito próximo de vencer 1 etapa, aqui não só fez isso como também terminou em 6º da geral, mesmo com um contra-relógio muito mau, onde perdeu quase 2 minutos para os seus rivais, num dia onde até se esperava que ganhasse tempo. Foi um resultado muito importante para a forma como será encarado no futuro, tanto pela sua equipa, como pelas formações rivais.
John Degenkolb voltou a mostrar que já não tem a ponta final de um puro sprinter, só fez top 10 por 2 vezes e um apontamento muito positivo para o muito jovem Marco Brenner, que foi 5º em Penas Blancas apenas aos 20 anos. A restante equipa, muito jovem, esteve muito discreta, servindo essencialmente esta Vuelta para ganharem experiência, enquanto Nikias Arndt ainda deu nas vistas com uma fuga perigosa na primeira semana, sendo forçado a abandonar pouco depois.
Trek – Segafredo – 19
Globalmente saem com um saldo super positivo graças a Mads Pedersen. Camisola verde e 3 vitórias em etapa (ao que se junta 4 pódios para além disso) e principalmente uma enorme demonstração de espírito de equipa. Quem leu a nossa antevisão da Vuelta sabe que não esperávamos isto do dinamarquês, pensávamos que o desgaste de uma longa temporada se iria fazer sentir e tal não se verificou. Pedersen aproveitou a relativa falta de sprinters nas etapas planas (só Bennett lançado por Poppel lhe fez frente) e ainda se mostrou claramente superior em grupos reduzidos e em finais com pequenos topos.
Dentro da formação norte-americana não existe assim mais nenhum grande destaque, foi um esforço colectivo enorme controlar as etapas de média montanha para que Pedersen pudesse vencer, tanto que Julien Bernard e Juan Pedro Lopez nunca estiveram em fugas (não se sabe se por falta de capacidade física ou por opção de guardar energias), de resto o espanhol pode-se classificar como a única desilusão depois do Giro brilhante que fez. Kirsch esteve muito bem nos lançamentos para Pedersen, Tiberi muito trabalhou a perseguir fugas, o mesmo se aplica a Dario Cataldo e Kenny Elissonde foi 5º numa das poucas chances que teve.
UAE Team Emirates – 19
João Almeida baixou as expectativas antes da Vuelta, afirmando não estar na melhor forma, começou mais discreto e, como é apanágio seu, foi subindo de forma até fazer uma excelente semana final, que lhe valeu o 5º lugar, o seu segundo melhor resultado de sempre numa Grande Volta. O campeão nacional teve uma prestação excelente mas dentro da sua equipa ficou ofuscado por Juan Ayuso. O espanhol de 19 anos, a estrear-se em provas de 3 semanas, excedeu todas as expectativas para terminar em 3º … isto depois de ter tido COVID-19 durante a competição. Na maioria das etapas foi o único capaz de seguir Mas e Evenepoel (e Roglic enquanto esteve).
Marc Soler foi incansável ao longo de 3 semanas, atacou, atacou e atacou e venceu uma etapa. Só ele esteve em 7 fugas, um terço da Vuelta, o que lhe valeu o prémio de super combativo! No bloco de montanha, Jan Polanc esteve bem e Brandon McNulty não apresentou, nem de perto, o nível do Tour. Ivo Oliveira fez de tudo um pouco e, no último dia, auxiliou Juan Sebastian Molano para a vitória. O lançador colombiano fez melhor que o seu líder. Pascal Ackermann somou 5 top-10 mas a vitória nunca esteve perto, longe dos seus melhores momentos.