A Vuelta está de volta à estrada após o dia de descanso com uma etapa de média montanha que pode ser perfeitamente atacada de longe, tal como foram as anteriores. Será que Ben O’Connor vai resistir?

 

Percurso

Quase que nem dá tempo para reaquecer os motores, passado 12 quilómetros de terreno plano os ciclistas iniciam uma contagem de 2ª categoria com 15,3 kms a 4,3%, não é uma dureza extrema visto que raramente passa dos 6/7%, mas será suficiente para fazer desgaste no pelotão. Segue-se um longo vale antes da sequência de subidas finais.

A primeira montanha, de 3ª categoria, é claramente a mais acessível, a seguinte é o Alto de Mabia, que tem 6 kms a 5,7%, mas com os 2000 metros iniciais a 9,3%. Por fim, o Alto de Mougás contabiliza 9,9 kms a 6,1% e tem bonificações no topo, de 6, 4 e 2 segundos. A fase inicial é a mais complicada, com 5,4 kms a quase 8% e a surgir ataques têm de ser aqui. Depois a descida é muito rápida, os ciclistas vão estar a 20 kms da meta, ainda há uma pequena colina a 6 kms do final, antes da veloz aproximação a Baiona.

 

Táticas

Esta Vuelta está muito estranha e vamos ver se o dia de descanso trouxe alguma clarificação táctica às equipas da geral. A situação é tal que neste momento temos um potencial candidato ao pódio com uma distância enorme para os rivais mais directos e que à priori tinham mais favoritismo para conquistar esta corrida. E depois temos várias nuances que tornam isto ainda mais complexo. Ben O’Connor já mostrou que está em boa forma, ainda que claramente mais confortável nas subidas longas face aos esforços mais explosivos, Primoz Roglic tem talvez a melhor equipa de gregários, mas só parece conseguir fazer diferenças nas montanhas mais curtas, será insuficiente para recuperar os quase 4 minutos de atraso.




No meio disto tudo, Enric Mas é o que tem parecido mais consistente e tem sérias hipóteses de ganhar, precisa que Lazkano, Rubio e Quintana encontrem as suas melhores pernas para o ajudar nas etapas mais importantes. Richard Carapaz tem evidenciado francas fragilidades nos “muritos”, muita capacidade nas montanhas mais longas, com o handicap de já não ter 2 importantes ajudas como Rui Costa e Rigoberto Uran. E a UAE, que à partida da Vuelta era a que tinha mais opções e o alinhamento mais forte mantém apenas Pavel Sivakov e Adam Yates (graças à enorme etapa 9 que fez) relativamente perto.

Acho que há 2 peças fundamentais neste puzzle a considerar, tanto O’Connor como Roglic têm, respectivamente, Felix Gall e Florian Lipowitz ainda por perto, os 2 gregários de luxo só poderão ser usados em alturas cruciais e incorporá-los numa fuga é um pau de 2 picos, veja-se o que aconteceu quando a Red Bull-Bora tentou cobrir o ataque de Ben O’Connor com Florian Lipowitz, saiu o tiro pela culatra.

Creio que o pelotão vai continuar a ser muito agressivo na forma de correr e a etapa de amanhã parece-me dura demais para a Visma controlar para Wout van Aert, caso o belga queria pode sempre tentar através da fuga. Também acho que vamos assistir a 2 corridas separadas, uma pela vitória na etapa e, eventualmente, tentar colocar ciclistas na luta pelo top 5, uma outra depois entre os favoritos nas últimas 2 subidas. A Decathlon-Ag2r e a Red Bull-Bora poderão continuar esta guerra fria de ver quem persegue a fuga e, apesar de não acreditar que vá acontecer, eu se fosse a Movistar tentava alguma coisa amanhã e cavalgava esta onde positiva em redor de Enric Mas. Aproveitar a fragilidade de alguns adversários em subidas deste género, atacar no sopé da penúltima subida e depois ter 2 ciclistas na fuga à espera para o ajudar a criar diferenças.

 

Favoritos

George Bennett – A Israel-Premier Tech tem mostrado ambição ao longo desta primeira semana, nem sempre com os melhores resultados e por vezes trabalhando aparentemente sem razão. O neozelandês não está assim tão longe na classificação geral e não é um ciclista muito marcado. É 16º a 6 minutos de Roglic, o que pode ser suficiente para o deixarem ir.




Harold Tejada – A Astana está a mudar um bocadinho de chip, muito activa no mercado de transferências recentemente e o colombiano esteve bem próximo de um triunfo, quando foi apanhado já dentro do quilómetro final na etapa 8. As indicações que tem dado são boas e tem de aproveitar.

 

Outsiders

Pavel Sivakov – A UAE Team Emirates já fez um raid, será que vai tentar fazer outro e colocar Pavel Sivakov também na luta mais directa pelo pódio? O francês tem corrido de uma forma muito agressiva, não seria uma surpresa, e a equipa tem corredores como McNulty, Vine ou Soler, muito bons neste tipo de terreno.

Giulio Ciccone – Mattias Skjelmose já não está assim tão envolvido na luta pela geral, é natural que a Lidl-Trek também comece a apontar baterias para vitórias em etapa, é que colocar ciclistas na fuga é também uma boa estratégia para proteger o seu líder porque eles podem recuar a qualquer altura. O italiano tem estado desaparecido nesta Vuelta, acho que se aparecer é para algo em grande.

Eddie Dunbar – O irlandês nunca mais mostrou a condição física do Giro quando apareceu realmente ao mais alto nível, mas os últimos sinais têm sido muito bons, tem conseguido acompanhar os melhores a espaço e sabe que com uma fuga que ganhe muito tempo pode reentrar no top 10.

 

Possíveis surpresas

Wout van Aert – Pessoalmente acho que estes 3000 metros de acumulado e, em particular, a última subida, está mesmo no limite para ele, mas é possível a vitória. Tem é de ser a partir da fuga porque a Visma não quererá controlar esta jornada.

Primoz Roglic – Estas subidas são ao seu jeito e caso haja pelotão compacto para a última montanha e e saia um grupo muito restrito, o esloveno será sempre dos mais explosivos.

Enric Mas – Já dei em cima a receita que considero ideal por parte da Movistar, é preciso aproveitar e fazer estragos enquanto há mais potencial e capacidade física para isso.

Brandon McNulty – Acredito que a UAE coloque pelo menos 2 elementos numa fuga grande que aconteça e acho que o perfil do norte-americano é muito bom para esta etapa, gosta destas subidas, é um bom rolador e até tem uma boa ponta final. Pode ser o bis da UAE.

Jhonatan Narvaez – Um bocadinho na linha de Wout van Aert, é mesmo no limite para o equatoriano esta dureza, que beneficia do facto da Ineos não estar activamente na luta pela vitória para ter mais liberdade e poder aplicar a sua explosão na fase final.

Mauro Schmid – Sinto que vou mencionar o suíço em todas as etapas de média montanha, já mostrou 1 vez que continua com boa condição física. O facto de não estar a lutar por nenhuma posição na geral permite-o jogar mais friamente.




Oier Lazkano – Um verdadeiro touro cheio de força e que adora este terreno ondulante e sem muitos quilómetros de pendentes inclinadas, é o tipo de ciclista que parece que o desgaste não chega.

Ion Izagirre – Não vejo muitas hipóteses melhores do que esta para o basco da Cofidis, que tem a vantagem de descer muito bem, não sprintar mal e poder gerir as forças porque nem sempre foi a fundo.

Mauri Vansevenant – O belga é um dos mais combativos do pelotão, o que por vezes nas fugas grandes o prejudica bastante porque desperdiça muita energia. Se for com um Asgreen ou um Cattaneo, pode ser uma importante ajuda.

Victor Lafay – Em princípio a Decathlon-Ag2r vai querer manter todos com o líder da competição, é uma menção caso o francês tenha liberdade.

 

Super-jokers

Os nossos super-jokers são Marc Soler e Isaac del Toro.

 

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