Começa amanhã a “segunda” semana do Giro com uma etapa de média montanha e com Geraint Thomas de rosa, o que podemos esperar desta etapa de transição?

Percurso

A primeira metade da etapa não poderia ser mais diferente da segunda metade. Se no total são praticamente 3000 metros de acumulado, mais de 80% disso está nos primeiros 90 kms da tirada que tem quase 200 kms. A jornada inicia-se com um falso plano antes de 3 kms a 8% e depois segue-se um carrossel constante até os ciclistas chegarem aos 1500 metros de altitude pouco antes do ponto intermédio da tirada. Oficialmente a contagem de segunda categoria tem 33,7 kms a 2,5%, só que a média esconde sempre a real dureza da subida pelas pequenas descidas que há. Os ciclistas têm fases de 8 kms a 5% e mesmo os últimos 3700 metros são a 6,5%.

Como quem sobe também tem de descer são quase 30 kms de descida acentuada antes da última contagem de montanha e verdadeira dificuldade do dia que tem 2600 metros a 8%, estando ainda a 75 kms da meta. Depois disso os ciclistas começam a dirigir-se para a costa, terminando junto a Lido di Camaiore, uma localidade que recebe vários finais do Tirreno-Adriatico, para terminar à cota 0.

Tácticas

Desde o final do contra-relógio são conhecidos pelo menos 3 abandonos, Remco Evenepoel, Rigoberto Uran (por COVID) e Stefan Kung (por opção). Creio que a mudança de liderança de Evenepoel para Thomas não vai modificar o aspecto táctico desta etapa, a Ineos-Grenadiers tem pouco ou nenhum interesse nesta etapa, só tem de ter cuidado para ninguém do top 25 entrar na fuga. Com tanta dureza a responsabilidade vai cair nos ombros da Trek-Segafredo e da Jayco, eventualmente com uma ajuda da Alpecin de Kaden Groves. A questão é que todos estes sprinters já obtiveram 1 vitória em etapa, não há propriamente essa obrigação moral de alguém que ainda não atingiu o objectivo principal. Uma motivação extra poderá ser a classificação por pontos, Milan não passa tão bem as subidas como estes 3 corredores e principalmente Matthews precisa de muitos pontos aqui e que os rivais não pontuem, mas mesmo aí a melhor alternativa seria…ir para a fuga.




Assumindo que mesmo com estas condicionantes todas há essa vontade de perseguir a escapada, aqueles 3 kms a 8% no início da etapa vão ser terríveis para estas equipas e os próprios sprinters podem ficar em alguma dificuldade, a partir do momento em que saem 8,9, 10 corredores é “game over” para o pelotão. Outro aspecto a ter em conta é que depois de amanhã sim, é uma etapa mais propícia de sprint algo seleccionado, temos um início fácil de controlar e 2 subidas onde claramente há espaço para o ritmo ser mais selectivo. Atribuo 90% de hipóteses de sucesso para a fuga amanhã.

Favoritos

Mattia Cattaneo – A Soudal-Quick Step vai querer vingar o abandono precoce do seu líder e vai atacar a fuga de amanhã com tudo o que tem. Cattaneo não tem tido um grande desgaste e até no recente contra-relógio se poupou, tem a experiência necessária para entrar na escapada e depois jogar com as probabilidades a partir daí.

Vincenzo Albanese – Oportunidade de ouro para a Eolo-Kometa, que depois do triunfo de Davide Bais está completamente sem pressão. Vincenzo Albanese tem subido bastante bem e não deve ter dificuldades em entrar na fuga naquela parte inicial. Dentro do lote de ciclistas que tem essa capacidade é dos que tem melhor ponta final.

Outsiders

Ben Healy – Não seria a primeira vez que um ciclista repetia vitórias em Grandes Voltas nas fugas e com o poderio que Ben Healy demonstrou não seria uma surpresa completa, o irlandês ainda apresenta a forma necessária para alcançar mais um triunfo e é daqueles que vai forçar tudo nos primeiros 20 kms.

Lorenzo Rota – Dá a clara sensação que está em subida de forma depois de já ter dado boas demonstrações em Frankfurt e nas Ardenas, parece-me que tem o perfil certo para uma etapa destas pois num grupo restrito também tem boas hipóteses.




Simon Clarke – Sabe que na alta montanha não tem a mínima hipótese de ganhar 1 etapa, tem de ser na média montanha e um final destes assenta-lhe bem porque tem potencial para ser táctico e num grupo de 5/10 será sempre dos mais fortes. Um dos objectivos do ano é ganhar no Giro, a Grande Volta que lhe falta.

Possíveis surpresas

Michael Matthews – Nestas etapas por vezes a melhor defesa é o ataque e nada melhor do que evitar que a sua equipa faça a perseguição do que entrar na fuga. Mas nesse cenário será um ciclista muito marcado.

Ryan Gibbons – Já se viu que na UAE Team Emirates há alguma abertura para ir à procura de etapas, tem sido assim com Brandon McNulty e amanhã pode ser dia para o sul-africano que é um bom sprinter.

Toms Skujins – Já esteve em 2 fugas, já gastou 2 balas. É daqueles ciclistas que sabe que tem de ser na média montanha e que está claramente em boa forma, é alguém com muita experiência nestas situações, um nome a ter em conta.

Natnael Tesfatsion – Defende-se bem na montanha e é perigoso nos grupos reduzidos, a espaços já mostrou qualidade este ano, resta saber se teve a guardar forças para uma possível vitória histórica.

Stefano Oldani – Tem experiência não só no Giro, mas também nas fugas de segunda semana no Giro, parece-me que tem as características certas para uma tirada destas, tem liberdade total na Alpecin.

Simone Velasco – Battistella não está em grande forma, Cavendish longe dos melhores momentos, Velasco parece ser aquele com mais condições de numa etapa destas, numa Astana a necessitar de um grande triunfo, assinar uma vitória.

Patrick Konrad – Chegou ao Giro com excelentes pernas, não me parece que as tenha perdido. Está a pouco mais de 9 minutos da liderança, acho que é a distância limite para ter autorização para ir para a fuga. Para a Bora-Hansgrohe seria bom ter Konrad mais perto da frente.




Ilan van Wilder – Veio para ser o braço direito de Remco Evenepoel, agora tem liberdade para o que quiser, um pouco como no ano em que João Almeida veio ajudar o belga. A partir do abandono esteve em grande destaque e acredito que aconteça o mesmo com o jovem belga. Precisa de uma fuga destas para reentrar na luta pelo top 10.

Magnus Cort – Teoricamente vai melhorar bastante durante o Giro, a ideia é chegar ainda relativamente fresco ao Tour, apesar de não ter dado boas indicações durante a primeira semana já deve ter melhorado face à concorrência.

Brandon McNulty – Tem tentado quase todos os dias em que a fuga tem hipóteses, ainda não teve sucesso para entrar em nenhuma, é quase certo que amanhã vai voltar a tentar, tem de dar tudo nas partes do percurso a subir.

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Filippo Zana e Sebastian Berwick.

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