Está aí a alta montanha e os Alpes! Dia de grandes e míticas subidas com o mais duro final em alto do Tour, até ao momento. Conseguirão os adversários colocar Tadej Pogacar sob pressão?
Percurso
Finalmente um dia de verdadeira alta montanha! Já em plenos Alpes, os ciclistas apenas terão um percurso mais acessível nos primeiros 70 quilómetros antes de apanharem a clássica combinação Col du Telegraphe (11,9 kms a 7%) e Col du Galibier (17,6 kms a 6,8%).
O topo do Souvenir Henri Desgrange fica a 45 quilómetros da chegada, seguindo-se uma rápida descida de 33 quilómetros até ao sopé da subida final, o Col de Granon. 11400 metros a 9,1% prometem uma luta intensa! Esta é uma subida muito regular, que tem no seu miolo dois quilómetros acima dos 10%.
Tácticas
Chegou o momento aguardado por muitos, a primeira grande etapa de montanha desta Volta a França com a sequência Telegraphe-Galibier-Granon. Pogacar chega aqui com uma boa vantagem na geral, mas longe dos 5 minutos que tinha em 2021, apesar de impenetrável e quase imbatível no Tour até agora é preciso recordar que foi em condições semelhantes (montanha longa e calor) que cedeu no ano passado face a Vingegaard no Mont Ventoux. Até agora este Tour foi de desgaste, uma corrida rapídissima e com muito stress, quando assim é as quebras por vezes acontecem do nada e são dramáticas. Vamos tentar ler como os 3 principais blocos vão actuar amanhã.
UAE Team Emirates – Parecem muito debilitadas e Pogacar corre um risco muito sério, o de ficar sozinho no Galibier. Laengen e Bennett já foram para casa com Covid-19, Majka testou positivo e foi autorizado a continuar, Hirschi está a passar muito mal e este não é o terreno de Bjerg. Sobram Soler e McNulty no meio disto tudo. Mantiveram a amarela hoje, vão ser obrigados a controlar a fase inicial da corrida, usando Hirschi e Bjerg, a melhor estratégia seria enviar Soler para a fuga, ficando Majka e McNulty com o líder o máximo tempo possível. Desta forma, e caso tentem isolar Pogacar no Galibier, talvez o espanhol conseguisse ajudar entre esse ponto e o Granon. O mais provável é o esloveno ficar sozinho relativamente cedo e a partir daí pode até partir para o ataque e tentar deixar toda a gente para trás, quando é assim a melhor defesa é o ataque.
Jumbo-Visma – Até agora pareceu que estavam a preparar terreno para este momento, daí ser incompreensível a incursão de Laporte na fuga hoje. O plano deverá ser incluir Wout van Aert na fuga e acelerar ao máximo no Galibier com Laporte, Benoot e Kruijswijk, ficando ainda Kuss de reserva. O primeiro objectivo é deixar Pogacar sem companheiros. Um cenário ideal para a formação neerlandesa, se houver pernas para isso, é recolocar Roglic na luta directa pela geral, isso colocaria uma pressão enorme nos ombros de Pogacar, que na situação em que está não o vai marcar directamente. Com Van Aert na fuga, o belga poderia descair e ajudar Roglic no caso de um ataque no Galibier, a ligação para o Granon ainda é longa. Se a Jumbo-Visma isolar Pogacar e esperar até ao Granon é porque Roglic não está nada bem e vai jogar tudo com Vingegaard, mas isso também seria levar Pogacar ao colo com a possibilidade de ver o esloveno a reforçar a camisola.
Ineos-Grenadiers – Com uma jornada destas também não estávamos minimamente à espera de ver Ganna e Van Baarle na fuga, com o histórico da Ineos o objectivo tem de ser ganhar o Tour e não é assim que o vão ganhar. Seria importante ter Martinez ainda perto, mas não o têm e terão de aproveitar a liberdade que o colombiano vai ter para o lançarem na frente, talvez com van Baarle também. A formação britânica também vai querer isolar Pogacar e depois jogar com as 3 cartas que tem (Pidcock, Yates e Thomas), sendo que os 2 primeiros terão rédea mais solta porque vão perder muito tempo no último contra-relógio. Pidcock é aquele que está mais solto e com menos a perder, hoje já quis estar na frente. Ganna e Castroviejo podem trabalhar no pelotão, enquanto van Baarle e Martinez esperam na frente por um possível ataque, não seria completamente descabido ver uma aliança Jumbo/Ineos para colocar o camisola amarela em xeque.
Outros – Esta é a 2ª etapa com mais acumulado neste Tour e com toda a ansiedade de isolar Pogacar duvidamos muito que a fuga tenha hipóteses, é de esperar que alguns fortes trepadores já estejam porque há muitos pontos da montanha em jogo. Estamos curiosos para ver a estratégia da Groupama-FDJ, sendo que Gaudu não é dos trepadores mais fiáveis, Pinot deverá ter carta verde para procurar pontos da montanha.
Favoritos
Isto é um grande tiro no escuro tendo em conta que há alguns dias Primoz Roglic deslocou o ombro e foi o próprio ciclista a colocá-lo no sítio. Desde então, o esloveno tem estado com algumas dores, mas o dia de descanso certamente ajudou e o pelotão hoje também não foi a fundo. Muito menos explosivo que o habitual, resta confiar nas pernas e a Jumbo-Visma sabe que ter Roglic perto na geral é crucial para o resultado final deste Tour. Esperemos que o medo de arriscar não supere a ambição de ganhar.
Já em certas partes do Tour, em 2021, Tadej Pogacar teve de jogar e de se defender sozinho, num cenário em que não seja muito atacado no Telegraphe não seria de descartar que o corredor da UAE Team Emirates batesse a concorrência no Granon, até porque já demonstrou mais do que uma vez que claramente é o mais explosivo entre os candidatos à geral. Já tivemos etapas este ano em que todos esperavam um grande espectáculo e depois … sprint entre os favoritos.
Outsiders
Existe um plano alternativo que a Jumbo-Visma pode querer executar, tudo depende das leituras que tenham, mas podem sair muito mal na fotografia. Esse plano é trabalhar a etapa toda, manter o ritmo alto desde o início para desgastar Pogacar, colocar inclusivamente Roglic a trabalhar para Jonas Vingegaard na esperança que o dinamarquês consiga fazer diferenças. Vingegaard adora estas jornadas de alta montanha e já mostrou que está aqui para vencer com o novo estatuto que tem dentro da equipa.
Adam Yates tem feito um Tour bastante bom, bastante sólido e é a carta mais consistente que a Ineos-Grenadiers tem para jogar. Não é um ciclista vistoso, mas pode aproveitar-se de uma guerra entre Vingegaard e Pogacar se os dois ficarem a fazer marcação directa. Defendeu-se no contra-relógio, sobreviveu ao empedrado e ao vento, sabe que é das melhores oportunidades que tem na carreira.
Já referimos que não acreditamos na fuga, mas um ciclista que a pode fazer resultar é Thibaut Pinot, começando assim a sua campanha pela camisola das bolinhas. Pinot adora estas subidas épicas, ele corre para vencer ainda em grandes palcos e sentir a emoção do público. Veremos se tem liberdade por parte da Groupama-FDJ, essa é a questão, até porque já está bem longe na geral.
Possíveis surpresas
Dos corredores que estão a lutar pela geral não estamos a ver muitos com a coragem de atacar de longe e se esperarem pelo Granon e pelos últimos quilómetros perdem para Pogacar ou Vingegaard, portanto a única opção é sair do grupo mais cedo. Thomas Pidcock não é um puro trepador e tentou colocar os outros em xeque hoje, Geraint Thomas sabe que tem de recuperar tempo e tem uma boa ponta final em subidas e Romain Bardet já nos habituou a grandes momentos com a sua enorme panache. Não esperamos isso de Enric Mas, David Gaudu, Nairo Quintana ou Neilson Powless. Para a fuga há vários nomes a ponderar, com uma probabilidade de sucesso bem reduzida, desde logo Bob Jungels, Pierre Latour ou Simon Geschke pelos pontos que já têm na classificação da montanha. Jakob Fuglsang tem tentado integrar fugas grandes, mas não tem conseguido, depois dedica-se a poupar energia para dias como este, o dinamarquês tem muita experiência a este nível e em etapas destas. Carlos Verona já esteve perto e procura a maior vitória da carreira, a Movistar tem dado alguma liberdade ao trepador espanhol. Bauke Mollema não se sentia nada bem antes do dia de descanso, veremos se agora já está melhor, tem responsabilidade de aparecer mais pelo seu estatuto. Mattia Cattaneo já gastou alguma energia, no entanto é um trepador super consistente e alertamos novamente para as chances de Patrick Konrad. De resto, atenção a Dylan Teuns, Daniel Martinez, Valentin Madouas e Louis Meintjes.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Giulio Ciccone e Michael Storer.