Após um dia muito duro, a montanha está de regresso. Os ciclistas terão pela frente uma autêntica maratona num dia com quase 215 kms! Passará algum corredor a fatura do esforço de hoje?
Percurso
Um dos dias mais longos do Giro! 212 quilómetros com 4433 metros de desnível acumulado positivo no dia mais duro da prova até agora. Depois de 77 quilómetros muito ondulantes, de sobe e desce constante, surge Monte Morelli (7,7 kms a 6,4%).
30 quilómetros menos complicado levam ao longo Passo della Consuma (17,1 kms a 5,7%). Sem descanso, e após a descida, aparece o Passo della Calla (15,3 kms a 5,5%). Praticamente 25 quilómetros de descida desembocam na derradeira dificuldade, o Passo del Carnaio (10,8 kms a 5% mas que tem um quilómetro a 12,9%). No topo, ficam a faltar 10 quilómetros, 9 em descida e 3 em plano, até à meta em Bagno dei Romagna.
Tácticas
O dia de hoje foi duríssimo, foi toda a gente ao limite, e isso amanhã pode passar fatura. Mais de 4300 metros de desnível positivo é bastante duro e os mais de 200 kms também vão fazer mossa. Apenas em termos de comparação, a etapa 9, quando Bernal ganhou no sterrato, tinha 3500 metros de desnível. Este vai ser um dia importante também para quem quiser estar na luta pela montanha, 2 contagens de 2ª categoria, que dão 18 pontos ao vencedor de cada uma.
A Ineos-Grenadiers já está em modo de controlo total, Bernal já ganhou a sua etapa, tem a camisola rosa e uma vantagem relativamente confortável para o 2º classificado. A prioridade era afastar Remco Evenepoel e isso foi conseguido hoje, Bernal já tem margem para o contra-relógio. O facto de Bernal estar neste momento tão forte pode levar algumas equipas a não atacar a corrida, esperando um possível dia mau do colombiano mais para a frente. Ainda por cima o Zoncolan está já à etapa 14, e é uma subida onde se podem perder minutos, como já vimos noutros anos.
As equipas rivais da Ineos-Grenadiers podem eventualmente desgastar a formação britânica, obrigando a mesma a impor um ritmo mais elevado. Curiosamente, olhando para a geral, só vemos 3 equipas com ciclistas colocados desta forma. Jai Hindley (que claramente não está com as mesmas pernas de 2020), Ruben Guerreiro (em grande forma e com Carthy em 4º) e João Almeida (cada vez melhor e com Evenepoel em 7º). A presença destes ciclistas numa fuga grande seria teoricamente muito boa para ingressarem no top 10/top 15, mas má para uma vitória em etapa porque a restante fuga saberia que eles estariam mais interessados em ganhar tempo.
Acreditamos que uma fuga venha a resultar. Se esta tiver apenas ciclistas a mais de 20 minutos na geral, o mais provável é o pelotão fazer 150 kms em ritmo mais calmo para testar as pernas dos favoritos nas últimas 2 subidas, se tiver alguns corredores perigosos para o top 10, será um dia bem mais rápido, e com a dureza de hoje pode haver quebras grandes.
Favoritos
Gino Mader já tem uma etapa e não se importaria nada de conquistar outra. Mader está a ser cirúrgico neste Giro, hoje foi literalmente última na tirada. Está na luta pela classificação da montanha e a Bahrain-Victorious está a dar-lhe plena liberdade para entrar nas escapadas. É relativamente inexperiente em Grandes Voltas, mas é preciso recordar que foi 20º na Vuelta em 2020, sendo 2º na penúltima etapa.
Este Giro tem tido bastantes surpresas nas vitórias em etapa, mesmo nas fugas. Porque não pensar que amanhã é dia para Einer Rubio? O jovem colombiano é um grande talento na alta montanha e não falta montanha amanhã. A equipa tem Pedrero e Nelson Oliveira que podem ficar junto de Soler, enquanto Rubio pode ir procurar a fuga com a ajuda de Cataldo, ou mesmo ser ajudado pelo português.
Outsiders
Gianluca Brambilla ainda não conseguiu um grupo com uma fuga vencedora, apesar de ter tentado em 2 ou 3 dias. O italiano também desce bastante bem, para além de subir bem, e tem experiência nestas situações. Tem guardado alguma energia em jornadas anteriores, que poderão ser muito úteis.
A EF Education – Nippo tem estado muito activa nas fugas em etapas de montanha. E amanhã poderá muito bem ser dia de jogar a carta de Ruben Guerreiro para obrigar a Ineos-Grenadiers a cansar-se ainda mais. O ciclista português foi, a par de Tobias Foss, o único a conseguir acompanhar hoje os melhores no sterrato, mesmo trabalhando para Hugh Carthy. Impressionante.
Jefferson Cepeda foi a grande sensação do Tour of the Alps, mas ainda não se viu neste Giro. O equatoriano terá alguns problemas em apanhar a fuga certa, mas para isso basta seguir a roda de Simon Pellaud, o suíço sabe fazer isso como poucos. Foi dos corredores que menos energias gastou neste Giro e Androni Giocattoli bem precisa de um triunfo.
Possíveis surpresas
Como já referimos em cima, existe a possibilidade de Jai Hindley e João Almeida tentarem integrar a fuga do dia para obrigar a Ineos-Grenadiers a gastar elementos de trabalho mais rápido, um plano a longo prazo, e caso os favoritos disputem a etapa, esperem mais ataques de Egan Bernal. Em relação à fuga, Geoffrey Bouchard esteve muito próximo do triunfo na etapa 9 e vai querer defender a sua liderança da montanha, podendo ser ajudado por Tony Gallopin, que ocasionalmente neste Giro tem mostrado boas pernas. Outro nome óbvio neste cenário é o de Bauke Mollema, que está aqui só a caçar etapas, de momento ainda sem sucesso. Simon Carr já mostrou sinais de estar em boa forma e a EF está bem colocada na classificação colectiva, vão querer ciclistas na frente, tal como a BikeExchange, que pode utilizar Nick Schultz com esse propósito. A Quick-Step teve um mau dia hoje e vai querer vingar-se disso, lembrem a Bahrain no dia a seguir a Landa ter abandonado, também James Knox e Fausto Masnada são opções para isso. A Bora-Hansgrohe tem alguns caçadores de etapas, cuidado com Matteo Fabbro e Felix Grossschartner, caso tenham carta verde. Olho ainda em Sebastien Reichenbach, Gorka Izagirre e Michael Storer.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: George Bennett e Alberto Bettiol