Finalmente a alta montanha está de regresso! Uma jornada muito dura e que promete fazer diferenças, será que vamos ter ataques e espectáculo entre os favoritos?

Percurso

60 kms planos antecedem a primeira grande sequência de montanhas deste Giro, atenção que pelo que se ouve dizer este traçado estará sujeito a possíveis alterações de última hora por causa da neve. Esta primeira subida não é incrivelmente dura, é sim bastante longa com os seus 26 kms a 5% de inclinação média, sendo que os últimos 10 kms são a 6,2%.

O Croix de Coeur é a montanha mais dura até agora, 15500 metros a 8,6% e com os 4 kms finais acima de 10% de média. São 15 kms de subida e 23 kms de descida bem acentuada e depois mais 23 kms de terreno completamente plano até à subida final que vai levar os ciclistas a Crans Montana, 12900 metros a 7,3% que prometem fazer imensas diferenças, é uma chegada relativamente constante, na média dos quilómetros nunca passa dos 9% e raramente desce dos 6%, sendo que os metros finais são mais acessíveis.

Tácticas

Parece um bocadinho ridículo dizer isto porque o 20º classificado já está a 10 minutos, mas este é o primeiro grande dia para a classificação geral, que até agora tem sido uma questão de sobrevivência. Mais do que a ausência de Evenepoel, o abandono de Tao Hart ontem veio mudar bastante o panorama da corrida, principalmente se juntarmos a debilidade que Sivakov evidencia neste momento. A Ineos tem Puccio, Swift, o debilitado Sivakov e depois Arensman e de Plus, só que ambos estão dentro do top 10, para além do camisola rosa Geraint Thomas. Creio que isto apresenta um dilema táctico para uma equipa que gosta tanto e está tão habituada a controlar a corrida colocando ritmo, é que colocar ritmo numa etapa destas é queimar por completo Arensman e Laurens de Plus.




Portanto, a Ineos tem 2 possibilidades mais ou menos óbvias, ou joga na defensiva como hoje e deixa uma fuga grande ir, poupando os seus elementos no top 10, ou joga ao ataque e tenta por tudo colocar 1 deles na fuga do dia, o que iria obrigar outras equipas a perseguir e iria proteger o que resta do relativamente frágil bloco. Esta decisão pode decidir o Giro. Falando em blocos, a Jumbo-Visma ainda está completa e o que parecia à partida um alinhamento com algumas lacunas, agora parece ameaçador, a questão é como é que Roglic se sente depois da queda sofrida ontem, e podemos pensar o mesmo de Thomas, como estará realmente o britânico.

De resto vejo 2 equipas com algumas probabilidade de pegar na corrida, João Almeida tem escapado aos azares e pode aqui aproveitar para tentar alguma coisa, tipicamente o ciclista português tem alguns problemas de posicionamento e seria benéfico também por si a UAE Team Emirates pegar na corrida, lembrando que ainda McNulty, Formolo e Vine, um trio perigoso na montanha, podem fazer estragos amanhã. Depois ainda há a Bahrain-Victorious, que não tem propriamente gregários (Zambanini e Pasqualon não chegam), tem de tentar colocar Buitrago ou Haig na fuga para meter pressão nas equipas rivais, estão a passar despercebidos, mas ainda estão no top 20. Aquela descida e o terreno plano entre a penúltima subida e a última dificuldade exige que quem queira atacar de longe coloque corredores na frente para depois os líderes tentarem fazer a ponte, é obrigatório.

Creio que existe a sensação de fraqueza da Ineos no pelotão, assumindo do pressuposto que todos os líderes se sentem minimamente bem, amanhã é o dia de testar a Ineos, primeiro porque não podem deixar Sivakov recuperar das mazelas físicas, segundo porque conseguindo isolar o trio que está no top 10 e obrigando-os a sacrificar alguém, a formação britânica não fica com essa vantagem para a última semana. A somar a isto, com toda a situação das doenças e do COVID, nunca se sabe o dia de amanhã, a condição física muda muito rapidamente, quem se sente bem tem de testar os rivais amanhã. Por isto tudo, espero uma corrida atacada, até atribuo ligeiro favoritismo aos candidatos à geral no que toca à etapa.

Favoritos

Damiano Caruso – Tem passado autenticamente pelos pingos da chuva, ainda não teve grandes problemas no que toca a quedas e já no outro dia tentou qualquer coisa na descida. É alguém que desce bem, está numa equipa que ainda não teve grandes doenças ou abandonos e que não tem medo de arriscar de longe, adora etapas destas e costuma evidenciar-se em provas duras. Tenho gostado muito do que tenho visto por parte do italiano que ainda goza de alguma liberdade.




João Almeida – Teve apenas um pequeno percalço até agora, está perfeitamente na luta. Ontem não caiu ao contrário dos seus rivais directos e tem mostrado estar confiante nas suas capacidades. O João treinou bastante este aspecto de subidas longas e duras, está agora a entrar no seu terreno e em todas as Grandes Voltas que fez esteve sempre bem com a fadiga a entrar mais em acção.

Outsiders

Laurens de Plus – Se falámos nessa possível estratégia da Ineos-Grenadiers na parte táctica seria hipócrita não colocar o belga neste patamar. Esta opção só entra em causa se a formação britânica decidir jogar ao ataque para colocar os rivais em xeque, a questão que se coloca se será demasiado arriscado nesta fase porque o belga tem demonstrado pernas para andar muito bem na alta montanha, regressando ao nível que outrora demonstrou.

Primoz Roglic – Se não tivesse caído ontem e não tivesse dito que estava um pouco dorido estaria na categoria acima. Esta é uma oportunidade de ouro para o esloveno arrecadar o Giro, resta saber se recuperou das mazelas porque estas subidas não o assustam. A Jumbo-Visma hoje mostrou que está preparada para tudo, colocou Kuss e Hessmann na frente caso a corrida rebentasse e fosse necessário recuar para ajudar Roglic, normalmente são muito precavidos na abordagem tácticas.

Warren Barguil – Não há assim tantos puros trepadores em boa condição física e atrasados na classificação geral, mas o experiente francês da Arkea-Samsic é um deles. Barguil já passou por momentos piores no início deste Giro com algumas dificuldades respiratórias, agora chega o seu terreno predilecto e se ganhar amanhã fica com a camisola da montanha também em aberto.

Possíveis surpresas

Geraint Thomas – Um triunfo do galês amanhã seria um marcar de posição muito forte face aos adversários e não é impensável. Mas lá está, tal como Roglic caiu ontem e na posição em que está pode ser obrigado a algumas perseguições.

Hugh Carthy – Chegou o seu terreno predilecto e com o desgaste a acumular em toda a gente é aí que o britânico se costuma destacar, dizemos já que não seria uma surpresa vê-lo no top 5 final, é que já fez o mais difícil que foi sobreviver a isto tudo, a última semana tem tudo para ser dele.




Lennard Kamna – O derradeiro resistente da Bora-Hansgrohe e a formação alemã acredita nele. A questão é que se querem mesmo um grande resultado com Kamna, não pode esperar até à última subida, a contrapartida disto é que o germânico pode ter algum medo por ainda nunca ter feito um top 10 numa Grande Volta e somente isso já seria uma bela conquista para ele.

Ilan van Wilder – Ao ataque hoje, não seria uma surpresa vê-lo novamente na fuga amanhã. O terreno é muito mais propício a que não haja tantos jogos tácticos e precisa claramente que Pieter Serry vá com ele para a frente.

Santiago Buitrago – Uma verdadeira caixinha de surpresas, já andou muito bem em etapas de montanha na segunda e terceira semanas, e poderá ser usado como ferramenta para a Bahrain-Victorious colocar alguma pressão sobre as equipas rivais, é alguém que tem passado relativamente despercebido.

Thibaut Pinot – Se quer a camisola da montanha tem de ir para a fuga, mas ainda está relativamente perto da geral e poderá não ter luz verde para isso. O francês começou o Giro a voar, entretanto veio dizer que já não se sentia tão bem. Não se mexeu nos últimos dias a pensar nesta etapa?

Jefferson Cepeda – Incrível no Tour of the Alps ainda não se viu no Giro, o mesmo aconteceu em 2021 e 2022, será que finalmente consegue contrariar isso?

Matthew Riccitello – A Israel-Premier Tech tem dado nas vistas ao longo destes dias nas fugas e o norte-americano mostrou no início do Giro estar a subir bem, pode ser a aposta da equipa para amanhã e ser mais uma revelação desta corrida.

Filippo Zana – Tem pernas, talento e vontade de brilhar, a questão é se vai ficar muito preso à candidatura de Eddie Dunbar ao top 10 da geral.

Bauke Mollema – Hoje esteve na fuga e não se desgastou em demasia, era etapa para Toms Skujins, amanhã é mais para o perfil dele.

Jay Vine – Pode acontecer o australiano ser enviado para a fuga por parte da UAE Team Emirates como “corredor satélite” e depois dar-se o acaso da fuga ganhar muito tempo e se Vine for o mais forte vai ter liberdade.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Joe Dombrowski e Lorenzo Fortunato

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