Uma armadilha de média montanha no final da 2ª semana do Giro pode dar ainda mais animação à corrida, os ciclistas da geral têm de estar atentos, resta saber se também serão os protagonistas deste episódio.

Percurso

Que dia espera os ciclistas! Mais de 3100 metros de desnível acumulado positivo numa etapa de média montanha entre Santena e Turim. Apenas os primeiros 37 quilómetros serão acessíveis, a partir daqui pouco será o terreno onde os ciclistas poderão respirar.

Il Pilonetto (3,6 kms a 7,2%) servirá para aquecer os motores, sendo que na primeira metade da jornada ainda duas subidas não categorizadas: 3800 metros a 5,8% e 1600 metros a 8,1%. A primeira passagem pela meta faz-se a 75 quilómetros do fim.

O circuito é constituído por duas complicadas contagens de montanha e duas subidas não categorizadas. A abrir a conhecida subida de Superga (5,1 kms a 8,2%), escalada até 2021 presente no final da Milano-Torino, seguindo-se uma colina com 1600 metros a 12,3%. O Colle della Madalena (3,6 kms a 7,3%, os 2 quilómetros iniciais são a 12,4% e 9,4% respetivamente) aparece logo de seguida, antes da descida para a passagem em Parco del Nobile (1600 metros a 8,1%), antes da descida rápida até à meta.

A primeira volta servirá de reconhecimento para os ciclistas que, na derradeira passagem, terão Superga a 27 quilómetros da chegada, Colle della Madalena a 12 e o último pequeno topo, que aqui será um sprint bonificado, a escassos 4000 metros do fim.

Táticas

Durante uns dias os sprinters não vão ter hipóteses, a começar já amanhã. A grande questão é então saber se será um dia para os homens da geral ou para uma fuga.




A jornada é relativamente fácil de controlar pois é curta, tem menos de 150 quilómetros. Para além disso, as dificuldades estão relativamente perto da meta, não há o risco de queimar cartuchos e atacar para ser anulado por perseguições no terreno plano. Outro factor que pode fazer com que uma equipa da geral controle a corrida é o facto de as etapas para fazer diferenças começarem a escassear, depois de amanhã só há mais 5 oportunidades antes do contra-relógio (descontando já a etapa 18). O calor e o abandono de Romain Bardet também pode levar a que alguma formação queria testar as águas para ver como estão os rivais, nunca se sabe quando começa uma virose no pelotão.

Mas também há factores que nos fazem pender para a fuga. O maior deles todos é que a etapa de Domingo é muito duro e geralmente quando é assim as equipas dos candidatos preferem guardar energias. Para além disso como o equilíbrio é muito grande ainda não há propriamente necessidade de arriscar muito pois muitos corredores ainda acham que têm chances de fazer pódio. A tirada de amanhã vai também ser muito importante para a classificação da montanha visto que há 4 contagens de 2ª categoria, que dão muitos pontos a esse propósito.

Favoritos

Santiago Buitrago já esteve em fugas que resultaram, mas os astros ainda não alinharam para o colombiano que em 2022 deu um grande salto qualitativo e nos rankings. Algo que nos chamou à atenção é que Buitrago hoje perdeu quase 3 minutos de propósito para amanhã ter mais liberdade para estar na fuga, estando agora a mais de 12 minutos na geral. Pode contar com a ajuda de Wout Poels, alguém muito ofensivo, mas que ataca demais numa fuga muitas vezes. A Bahrain está na luta pela classificação colectiva.




Bauke Mollema já mostrou muita capacidade física, e também há 2 dias, tal como Buitrago. Essa jornada foi fácil demais para Mollema conseguir fazer diferenças, nesta a questão é se terá liberdade da equipa e autorização por parte dos rivais para ir para a frente. É que o holandês está a pouco mais de 6 minutos da liderança da geral, por isso mesmo a Trek-Segafredo pode querer Mollema na frente, para não ser obrigada a perseguir lá atrás.

Outsiders

Caso os ciclistas da geral venham a discutir a etapa vemos com bons olhos a possibilidade de outro Bahrain-Victorious, falamos de Pello Bilbao. O espanhol tem tudo para melhorar com o decorrer deste Giro, recupera muito bem, e tem uma boa ponta final, para além de preferir este tipo de traçado às colinas. Usando a força dos números, a Bahrain vai querer colocar os rivais sob pressão, deixando Landa mais descontraído a pensar em amanhã.

Simon Yates tem vindo a conservar energias nos últimos dias, hoje perdeu mais 7 minutos e está quase a 20 minutos na geral, tem liberdade plena. A questão é saber se o britânico tem a condição física para ganhar uma etapa, se recuperou psicologicamente do desaire da geral e se foi apenas um dia mau. Se estiver perto dos 100% é um fortíssimo candidato.

Se Lennard Kamna tem por objectivo secundário a classificação da montanha, então amanhã tem obrigatoriamente de estar na frente. E caso isso aconteça é outro ciclista a ter em conta na luta pela etapa pela capacidade que tem. A Bora-Hansgrohe vai querer ter alguém na frente e Kamna tem vindo a perder algum tempo nos últimos dias para o deixarem ir para as fugas.

Possíveis surpresas

Seria para nós uma relativa surpresa se sempre fossem os ciclistas da classificação geral a disputar o triunfo. Nesse sentido, aqueles que teoricamente melhor se adaptam são mesmo Richard Carapaz e João Almeida, ambos são relativamente explosivos e com uma boa ponta final, ambos parecem em boa forma neste momento e com um bom apoio da equipa. Alejandro Valverde pode também tentar valer a sua boa ponta final num grupo de 10/15 que sobreviva e Emanuel Buchmann tentar atacar de longe pois os olhares estarão mais em Jai Hindley. Vincenzo Nibali sabe que tem de recuperar tempo e vai gostar destas estradas sinuosas. Para a fuga há muitos nomes, uns mais óbvios do que outros. Se Koen Bouwman quer a classificação da montanha é um dos elementos que tem de estar na frente, possivelmente apoiado por Gijs Leemreize ou Tobias Foss. Este perfil de colinas e sobe e desce constante é bom para corredores como Mauri Vansevenant ou Harm Vanhoucke, este último mais livre agora que Caleb Ewan já foi para casa. David de la Cruz é outro ciclista com liberdade plena visto que o seu líder já abandonou e o mesmo para Lilian Calmejane ou Damien Howson. Rein Taaramae tem sido um activo muito importante para a Intermarche, já esteve perto de ganhar e ajudou Rota há 2 dias, é outro nome a ter em conta. Atenção ainda a ciclistas como Felix Gall, Antonio Pedrero, Damien Howson, Davide Villella e Wout Poels. Parece-nos uma jornada dura demais para Mathieu van der Poel, mas com o holandês nunca se sabe.

Super-jokers

Os nossos super-jokers são Chris Hamilton e Davide Formolo

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