Primeira de 4 etapas de montanha desta última semana do Giro! Muita dureza, mais de 5000 metros de acumulado, será que finalmente vamos ver grandes diferenças entre os primeiros da classificação geral?
Percurso
204 quilómetros e praticamente 5800 metros de acumulado, é uma etapa de montanha à antiga! Vamos ver se não teremos uma primeira hora frenética com os 65 kms planos que os ciclistas vão ter a abrir esta jornada a seguir ao dia de descanso, é que colocar ciclistas na frente da corrida pode ser muito importante. O Passo Santa Barbara é a primeira contagem de montanha e é pena que esteja tão longe da meta, já que tem 12,8 kms a 8,2%, seguindo o Passo Bordala, com 4,7 kms a 6,7%.
As 2 contagens de montanha de 2ª categoria são relativamente longas mas não são muito inclinadas, aí o mais provável é guardar-se forças para a subida que coincide com a meta. O Monte Bondone é uma chegada que engana, globalmente tem 21,7 kms a 6,6%, mas é uma montanha feita por fases ou patamares. Primeiro 3,1 kms a 9%, depois 3,9 kms a 7,5% e a fase final tem 8,4 kms a 7,8%, sendo que inclui 2000 metros a 9,4% logo no início desta fase.
Táticas
Numa perspectiva da classificação geral esta é uma das etapas mais importantes, reúne a dureza das montanhas e do desnível com a extensão. Nesta semana, ou seja, daqui até ao final do Giro, só há a etapa 19 com este potencial para fazer diferenças excluindo obviamente o contra-relógio. Este vai ser um dia muito importante, mas também um dia de relativo medo, é a jornada a seguir ao descanso, os ciclistas vão entrar sem saber muito bem como vai reagir o corpo, lembrando que Roglic e Thomas, por exemplo, acabaram a segunda semana ainda com pequenas mazelas de quedas.
O que vai acontecer durante a etapa vai depender da atitude dos 4 blocos principais: Ineos-Grenadiers, Jumbo-Visma, UAE Team Emirates e Bahrain-Victorious. Ninguém sabe se alguém vai pegar realmente na corrida, a Ineos tem os números dentro do top 10, mas parece ter uma hierarquia clara e não está a arriscar nada, a Jumbo-Visma tem estado na expectativa de que Primoz Roglic recupere das mazelas, a Bahrain não tem propriamente grandes apoios na montanha (Haig está muito debilitado), portanto resta saber se a UAE vai finalmente trabalhar para João Almeida tentar fazer a diferença. O ciclista português parece ser menos explosivo do que Thomas e Roglic, portanto se quer fazer realmente diferenças precisa de um dia bastante duro, agora que já conquistaram 2 etapas têm o elenco concentrado na conquista da geral, Vine e McNulty podem ser absolutamente decisivos.
Paralelamente à luta pela geral teremos a batalha pela conquista da camisola azul, Davide Bais tem uma tarefa quase impossível para defender a liderança face a Thibaut Pinot, Ben Healy e Einer Rubio, amanhã estão em jogo 135 pontos, que é quase a quantia que Bais tem neste momento. A questão é que tanto Pinot como Rubio estão a menos de 6 minutos na geral, não creio que as principais equipas os deixem ir para a frente da corrida, aí a vantagem é para Healy, só que o irlandês também não tem propriamente muita experiência neste tipo de jogos.
Favoritos
Ilan Van Wilder – Certamente não esperava estar nesta posição, vinha como o braço direito de Remco Evenepoel, é neste momento um aspirante a subir lugares na classificação geral. Estando a mais de 6 minutos dos principais candidatos à geral, terá alguma liberdade para entrar na fuga, o problema é que precisará da ajuda tanto de Ballerini no terreno plano como de Serry depois na montanha, a Quick-Step tem de arriscar e confiar nas pernas que van Wilder tem mostrado.
Hugh Carthy – Já mostrou intenções na etapa que foi encurtada, nesse dia a EF arriscou a sério, enviou Healy, Cepeda e Carthy a certa altura para a frente e o objectivo era bem claro. É daqueles ciclistas que ainda está fora do pódio, que sabe que tem de arriscar e que costuma fazer excelentes terceiras semanas, certamente assinaria por baixo estar nesta fase a 3 minutos dos primeiros candidatos, é um perigo à solta, ainda com alguma liberdade.
Outsiders
Lorenzo Fortunato – Está a chegar o seu terreno, parece estar claramente a melhorar com o passar da competição. Ao contrário de van Wilder e Carthy, terá certamente liberdade para ir para a fuga, o maior problema é entrar lá devido aos primeiros 65 kms planos, precisa de estar muito atento a essa fase. Como não está na luta pela montanha pode guardar energias para a última subida.
João Almeida – Tem de finalmente mostrar o que vale actualmente neste tipo de terreno, fez uma preparação muito específica e detalhada para estar a 100% nesta altura. Até agora tudo correu bem, não sofreu grandes percalços, não teve grandes perdas de tempo, acho que está satisfeito com a posição actual. É um dos dias mais importantes da carreira até agora.
Primoz Roglic – O esloveno foi o único a atacar forte e a provocar diferenças entre os candidatos à geral, depois caiu e tem jogado mais na defensiva e nisso o dia de descanso pode ter sido muito importante. A subida final é boa para ele e se tiver pernas vai certamente tentar, o ciclista da Jumbo-Visma não vai esperar pela “cronoescalada” para tentar ganhar o Giro.
Possíveis surpresas
Warren Barguil – Caiu no início do Giro e tem recuperado e subido paulatinamente de rendimento ao longo da prova, acho que vai andar bem nesta última semana, tem capacidade e qualidade para isso.
Jefferson Cepeda – Já esteve por uma vez muito perto de um triunfo, é um puro trepador que adora muito desnível. Incrivelmente inconsistente, pode ter a ajuda de Healy para integrar a fuga e o irlandês pode servir de distracção para o ataque final do equatoriano.
Joe Dombrowski – Um especialista da terceira semana e da alta montanha, no dia da etapa encurtada foi dos que tentou desde cedo integrar a fuga e é quase certo que lá vai estar amanhã.
Jay Vine – Mesmo que esteja com planos de acelerar o ritmo no pelotão, a UAE provavelmente vai querer enviar alguém para a fuga, nunca se sabe quando esse corredor satélite vai ser preciso. Se o pelotão der margem à escapada e se Jay Vine estiver isolado na frente não será obrigado a esperar por João Almeida, acredito mais que McNulty fique com o português no pelotão.
Derek Gee – Vai querer estar na fuga, dá por ele na luta subitamente pela camisola por pontos, é dos ciclistas que já merece uma grande vitória para culminar um Giro espectacular. O ambiente na Israel-Premier Tech é neste momento muito bom, parece que a entrada de Sam Bewley como director desportivo fez maravilhas.
Geraint Thomas – Não é propriamente o leve puro trepador, não é o maior especialista em etapas com este desnível, mas se deixam o britânico chegar aos 2 kms finais com condições de sprintar, aí será até um forte candidato à vitória na etapa. Teoricamente terá de ser mais defensivo e de responder aos ataques dos rivais.
Ben Healy – Um verdadeiro monstro, mas que já está em boa forma há muitas semanas, será que vai começar a pagar um pouco o desgaste face a corredores mais frescos e com um objectivo mais claro? Para além disso não o considero um puro trepador e andar envolvido em sprints pela montanha prejudica-o um pouco na luta pela etapa.
Damiano Caruso – A grande questão é se os 3 maiores candidatos ao triunfo lhe vão dar alguma liberdade, quando atacou no outro dia a Ineos forçou Arensman a trabalhar para fechar o espaço. Está numa situação um pouco complicada, mas se quer o pódio e se quer ganhar tem de atacar.
Thibaut Pinot – Sair com a camisola azul é um grande objectivo e dar espectáculo nesta despedida do Giro também. Só que Pinot não é um sub-23 desconhecido, está demasiado perto para ter muita liberdade.
Santiago Buitrago – Um pouco à imagem de Ilan van Wilder, está mais ou menos à mesma distância na classificação geral. O colombiano já andou bem na terceira semana do Giro e tem mais experiência do que no passado. A ir para a fuga é uma forma da Bahrain forçar outras equipas a trabalhar e acelerar o ritmo, o que pode beneficiar Caruso.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Carlos Verona e Eddie Dunbar.