Dia de etapa rainha! 5400 metros de acumulado concentrados em 166 kms e a passagem pelo ponto mais alto deste Tour. Será que Pogacar consegue responder ao arraso que Vingegaard deu hoje no contra-relógio?

Percurso

Aí está a etapa do Tour 2023 com mais metros de acumulado! 5400 metros de acumulado, entramos no território dos puros trepadores. A etapa começa com uns quilómetros planos, em ligeira descida, não será de esperar que a fuga se forme por aí. Para isso poderá ser decisivo o Col des Saisies, com 13,5 kms a 5,1%, até porque depois se segue uma íngreme descida e o Cormet de Roselend (19,8 kms a 6,1%) que leva os corredores a quase 2000 metros de altitude, uma escapada que se forma aqui já deverá levar com alguns corredores a rondar o top 10. Depois há um vale de cerca de 30 kms até ao Cote de Longefoy (6,7 kms a 7,5%) e que continua um pouco mais em falso plano.

E depois vem o grande monstro da jornada, o Col de la Loze, que ao todo tem 28 kms a 6%, mas são números que enganam. Na verdade é uma ascensão feita em 2 fases, a primeira tem 9,2 kms a 6,9%, a segunda tem uns terríveis 11,2 kms a 8,4%, é aqui que há mais espaço para diferenças, até porque o topo está a praticamente 2300 metros de altitude, é o ponto mais alto deste Tour. O alto está a 6,5 kms da meta e é sempre a descer até aos 500 metros finais, uma rampa bem inclinada em Courchevel.

Tácticas

Hoje foi daquelas etapas que mudou completamente o panorama táctico do Tour. O que aconteceu foi muito especial, talvez a melhor performance em contra-relógios de que há memória, Vingegaard colocou 4,5 segundos por quilómetro a Pogacar, sendo que o esloveno ficou mais de 1 minuto à frente dos restantes, estes 22 quilómetros fizeram mais diferença do que 2000 quilómetros anteriores. É prematuro dizer que o Tour está resolvido, Pogacar é um eterno lutador e como se viu em 2022 não vai baixar os braços assim tão facilmente, mas a faltar 2 etapas de montanha, sendo 1 delas o território perfeito de Vingegaard, dizer que é muito complicado é pouco.

Há muito que tinha na cabeça que esta 17ª etapa era onde a Jumbo-Visma planeava tentar dar o golpe decisivo na geral, a elevada altitude misturada com as subidas longas são a praia de Vingegaard e o plano seria colocar um ritmo elevado durante a jornada toda e depois atacar no Col de la Loze. E acho que com a geral como estava ontem (separados por 10 segundos) a formação holandesa faria isso. Agora, com quase 2 minutos de diferença isso não faz sentido nenhum, basta serem conservadores e jogarem na expectativa, ainda por cima o 3º classificado está tão longe. Basta colocar um ritmo confortável, até preferem que a fuga leve as bonificações.




Cabe à UAE Team Emirates tentar potenciar e maximizar, mas a formação de Pogacar não é tão forte e não tem a mesma estrutura, até porque não vão sacrificar Yates que ainda está luta pelo pódio e tanto Trentin como Laengen não serão grande ajuda na montanha. Que não haja dúvidas, a UAE e Pogacar vão tentar, só que vão fazer isso a uma Jumbo-Visma e a um Vingegaard super confiante, que só precisa de seguir a roda de Pogacar para ganhar este Tour.

Sendo assim, esta nova situação de corrida dá alguma esperança a um ciclista que vá para a fuga porque o ritmo da UAE deverá ser diferente do da Jumbo-Visma e isso dá algum alento a Guilio Ciccone, que quer a classificação da montanha. Em que situação a Jumbo-Visma pode dar uma ajuda à UAE? Caso a fuga e Ciccone esteja perto e Vingegaard e a equipa queiram levar a camisola das bolinhas, é que poucos pontos separam o dinamarquês do italiano e se isso significar pouco risco e pouco dispêndio de energia podem eventualmente tentar. Há também espaço para um vencedor surpreendente entre os ciclistas da geral, um pouco como aconteceu como Carlos Rodriguez, caso os ataques de Pogacar sejam respondidos no imediato por Vingegaard e haja uma paragem de ambos.

Favoritos

Sepp Kuss – Lembram-se do que aconteceu com Carlos Rodriguez? Porque não pensar no mesmo, mas com Sepp Kuss? O norte-americano tem puxado constantemente pelo grupo dos favoritos praticamente até restarem 5 ciclistas, amanhã com a UAE ao trabalho tem a oportunidade de se poupar e reservar energias, a subida longa e em altitude é boa para ele e aquele final em descida é perfeito para alguém atacar enquanto Pogacar e Vingegaard se entreolham.




Ben O’Connor – Está a ter um Tour para esquecer, será que finalmente dá a volta aqui, no seu território predilecto? Depois desta etapa só terá mais uma oportunidade, é quase agora ou nunca. A qualidade do australiano está lá, não se faz top-5 numa Grande Volta por acaso, só precisa de reencontrar as melhores sensações e o contra-relógio e o dia de descanso poderão ter servido para isso mesmo.

Outsiders

Jonas Vingegaard – Não seria de admirar um cenário em que a UAE trabalha o dia todo, Pogacar ataca, Vingegaard responde e já sem fuga à frente contra-ataca para um triunfo incontestável que sentencia de vez o Tour. É preciso lembrar que no ano passado foi acima dos 2000 metros que o dinamarquês logrou quebrar a resistência do esloveno e voltar a fazer isso seria um golpe psicológico muito grande.

Tadej Pogacar – Não é ciclista de baixar os braços, mas hoje sofreu um rude golpe e vai ser muito difícil dar a volta. Ainda assim, o esloveno é um monstro e vai tentar de tudo para deslocar Vingegaard, numa discussão ao sprint entre os 2 continua a ser teoricamente mais forte e se Vingegaard seguir somente na roda até pode de certa forma facilitar o triunfo por respeito.

Rigoberto Uran – Sei que caiu há 2/3 dias mas não parece estar com grandes consequências dessa queda, continuo a achar que o colombiano até chegou a este Tour depois da Volta a Suíça e a sua experiência também fez com que hoje não gastasse energias desnecessárias para amanhã, perdeu mais de 7 minutos no contra-relógio. É bom em altitude como colombiano que é e até prefere estas subidas sem grandes pendentes.

Possíveis surpresas

Adam Yates e Carlos Rodriguez – Coloco-os neste momento no mesmo patamar e acho que só podem triunfar num cenário igual ao de Sepp Kuss, o mesmo em que o espanhol triunfou.

Felix Gall – Muito cuidado com ele, não está a quebrar, muito pelo contrário, efectuou excelentes exibições nas últimas 2 etapas e hoje defendeu-se melhor do que o esperado. Se o trepador austríaco quer realmente recuperar lugares tem de ir para a fuga com mais 1 ou 2 colegas e esperar que o ritmo no pelotão seja inferior ao das últimas etapas de montanha.

Thibaut Pinot – Deixem-me ser romântico enquanto ainda posso e uma vitória em etapa seria a despedida perfeita para uma das figuras do ciclismo francês da última década, que até está em excelente forma. É um lutador, um guerreiro, vai querer ser protagonista.

Jack Haig – A Bahrain já ganhou com Pello Bilbao e Wout Poels, porque não pensar num talentoso trepador que em dias cirúrgicos tem perdido algum tempo propositadamente?




Guillaume Martin – Tem de tentar alguma coisa para entrar no top 10, hoje caiu para 11º e o lugar de Felix Gall parece impenetrável, ir para a fuga com Izagirre e Geschke seria uma solução plausível, o espanhol ainda está a andar bem.

Alexey Lutsenko – Um Tour péssimo até agora, no entanto nas últimas 2 etapas tem mostrado laivos de que as pernas começam a responder, pena aquele ataque na companhia de Alaphilippe sem qualquer sentido.

Dylan Teuns – Um pouco na onda de Rigoberto Uran, ainda não teve o seu dia de sorte, depois de chegar com boas pernas. E tal como Uran perdeu muito tempo hoje com o motivo de não se desgastar para amanhã. O belga é muito experiente em fugas destas e sabe o que precisa de fazer para ganhar.

Clement Champoussin – Uma escolha um bocadinho mais alternativo, ficou-me na retina uma etapa em que o ciclista da Arkea até acompanhou os melhores durante muito tempo, apenas precisa de passar essa condição física para a fuga amanhã.

Rui Costa – Está claramente a melhorar comparativamente com a concorrência, há 2 dias tentou a sua sorte, mas a Lidl-Trek tinha outros interesses, hoje fez top 20 no contra-relógio o que foi melhor do que alguns corredores a lutar pelo top 10 da geral, são boas indicações.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Mikel Landa e Wout Poels

 

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