183 quilómetros de muita montanha, 5000 metros de acumulado e várias passagens acima dos 2000 metros de altitude para ajudar a decidir a classificação geral. Quem recuperou melhor do esforço dos últimos dias? Será que Primoz Roglic e João Almeida conseguem tirar a rosa a Geraint Thomas?
Percurso
Podemos chamar de etapa rainha, pelo traçado e pelas circunstâncias de corrida! Os primeiros 15/20 kms são muito rápidos e depois disso temos um muito longo falso plano que vai dar à primeira contagem de montanha do dia, com 4 kms a 7%, no entanto os ciclistas vão dos 376 metros de altitude ao quilómetro 21 para o 1870 ao quilómetro 87,7. Descida com cerca de 10 quilómetros leva os corredores ao Passo Valparola, com 13,9 kms a 5,7%, é a subida mais longa e com menor pendente média de todas as contagens de montanha.
Nova descida para o Passo Giau, que tem um cruel precedente de 1900 metros a 7,3%, antes da montanha em si, uns terríveis 9800 metros a 9,3% de inclinação média, em que o primeiro e o penúltimo quilómetro são a 10,5%. O Passo Giau está a 2227 metros de altitude e a 40 kms do final. A descida para Cortina d’Ampezzo leva para o sprint bonificado e é o começo do Passo Tre Croci (8 kms a 7,2%), esta é uma montanha muito regular, onde se irá fazer uma selecção final para o Tre Cime di Lavaredo.
O Tre Cime di Lavaredo engana muito, é bastante mais duro do que aparenta, porque é uma contagem de montanha feita em 3 fases, primeiro 1700 metros a 6,1%, fase de descanso, depois 1000 metros a 11,4%, nova fase de descanso e acaba com uns temíveis 3600 metros a 12,4%, onde um passo em falso faz os ciclistas perderem minutos.
Tácticas
Primeiramente haverá uma luta diabólica para entrar na fuga, primeiro porque é a última oportunidade para os trepadores, segundo porque muitas equipas da geral vão querer colocar alguém na frente para eventualmente ser útil mais tarde e terceiro porque há corredores que têm obrigatoriamente de ir para a fuga se querem um posto no top 10. Mesmo admitindo que o lugar de Bruno Armirail é quase “de borla” porque o francês está muito longe de ser um trepador, corredores como Ilan van Wilder, Aurelien Paret Peintre e Hugh Carthy, têm de jogar tudo por tudo na fuga se querem o top 10 final, especialmente os 2 primeiros que têm mostrado excelentes pernas, enquanto o britânico parece em quebra.
Uma segunda luta será pela camisola da montanha, Pinot na posição em que está claramente não será autorizado a ir para a frente, portanto a Groupama-FDJ só tem de controlar se Ben Healy e Einer Rubio não entram na fuga, tudo o que seja homens da geral estão já a muitos pontos. A terceira e principal luta é então pela classificação geral. Acho que neste momento temos a curiosa situação que ninguém está satisfeito, Thomas não está completamente confortável com a sua margem de liderança, Roglic e João Almeida sentem que têm de recuperar tempo, talvez a margem que existe para o 4º classificado os faça arriscar um pouco mais do que o habitual.
Creio que a atitude da Ineos-Grenadiers vai ser de algum conservadorismo, à imagem dos últimos dias, apesar de ter Laurens de Plus e Thymen Arensman próximos na geral, não os tem utilizado, não há razões para os utilizar em ataques e fugas amanhã até porque se os rivais querem ganhar tempo a Thomas têm de fazer as suas equipas trabalhar durante a etapa. A Jumbo-Visma e a UAE podem perfeitamente colocar alguém na fuga, Bouwman pela equipa holandesa e Ulissi/Formolo do outro lado pois as duplas Dennis/Kuss e McNulty/Vine são capazes de fazer muitos estragos.
Depois em princípio será um mano a mano entre o trio maravilha, em teoria esta etapa vai mais de encontro às características de João Almeida comparando com o dia de hoje, exceptuando o Passo Giau e os quilómetros finais, veremos se a UAE tenta aumentar o desgaste face às outras subidas. Relativamente às hipóteses da fuga, tal como ontem, terá poucas chances, precisa de ser um grupo enorme, a colaborar muito bem, sem grandes perigos para a geral e de ganhar muita vantagem antes da segunda contagem de montanha.
Favoritos
Geraint Thomas – Uma coisa que tenho notado é que o britânico tem gerido os seus esforços com pinças, hoje na parte final nem esboçou intenção de sair da roda de Roglic, que sprintava até à meta mesmo sem haver bonificações. O britânico parece ter preparado este pico de forma na perfeição e tem sido o mais consistente dos candidatos à geral, outra coisa que se nota é que tem aproveitado com brilhantismo o trabalho dos outros (no dia em que Roglic ataca é Tao Hart que faz a ponte, nos últimos 2 dias de montanha foi sempre à boleia de Kuss).
Primoz Roglic – Há 2 dias assustou, valeu um incrível Sepp Kuss e hoje mostrou que de facto foi só um mau momento não obstante ter sofrido logo na primeira subida do dia. Será que está a recuperar melhor do que os rivais e que curou as mazelas das quedas? Roglic é alguém que já provou ter uma resiliência incrível face às contrariedades e quando olho para os 3 kms finais só me consigo lembrar do esloveno a voar nos “muritos” da Vuelta.
Outsiders
João Almeida – Como dissemos em cima é uma etapa muito mais ao seu jeito face a hoje. Tem muito mais acumulado, tem subidas com pendente menos inclinadas. O problema é mesmo as pendentes acima dos 10% que vai encontrar no Passo Giau e principalmente nos 3 kms finais, mas isso pode ser mitigado com uma jornada realmente dura nas outras montanhas. O português sabe que hoje não teve um dia perfeito, mas tem de retirar confiança do facto de estar a lutar ainda pelo Giro e de neste momento ainda ter uma equipa muito forte com ele.
Ilan van Wilder – O belga está numa posição em que a melhor hipótese para terminar no top 10 é entrar na fuga e como tem uma margem ainda considerável para o 10º pode ser que o deixem ir para lá. Precisa do apoio de Pieter Serry e de uma boa vantagem antes do Passo Giau, tendo em conta o que aconteceu neste Giro seria um feito incrível terminar as montanhas em beleza.
Einer Rubio – Estas jornadas com muito acumulado favorecem os pequenos trepadores como o talentoso colombiano, mas reitero que para ter sucesso na etapa precisa de ir para a fuga e isso talvez não seja autorizado. Rubio também tem a camisola da montanha em ponto de mira, será que a vai conseguir tirar de Thibaut Pinot?
Possíveis surpresas
Eddie Dunbar – A fazer um Giro incrível, está a surpreender toda a gente. Terminar no top 5 seria um objectivo cumprido, portanto acho que vai arriscar zero ou perto de zero amanhã.
Filippo Zana – A voar neste momento, já tendo a sua vitória em etapa acredito que fique com Dunbar no pelotão até porque a Jayco não abunda em trepadores.
Warren Barguil – Não vai ganhar na crono-escalada, portanto é a sua derradeira chance, vai deixar tudo na estrada como fez hoje, tem muita experiência e a condição física parece estar a melhorar.
Damiano Caruso – Tem sido dos mais consistentes dentro do top 10, se tiver pernas já mostrou no passado ser muito ambicioso em etapas deste género, a Bahrain tem Haig e Buitrago, vamos ver se arrisca tudo, até porque o italiano desce muito bem.
Thibaut Pinot – Continua a mostrar uma disponibilidade física impressionante nesta despedida do Giro, o problema é que está neste momento muito próximo na classificação geral.
Aurelien Paret-Peintre – Sabe que tem de voltar a ir para a fuga se quiser tirar uma vitória de etapa ou um top 10 deste Giro, o francês tem tido uma excelente atitude e é plausível que o volte a fazer.
Hugh Carthy – Desiludiu imenso nos últimos dias, não é ciclista de ficar quieto a ver a caravana passar a menos que esteja a passar um mau momento.
Lorenzo Fortunato – No seu terreno e não tem nada a perder, a Eolo-Kometa tem de tentar colocar metade da sua equipa nesta fuga e jogar o tudo por tudo, amanhã é tarde demais. Pena que caiu há 2 dias.
Santiago Buitrago – Esperava-se muito mais dele depois de fazer pódio na Liege-Bastogne-Liege e de em edições anteriores ter brilhado na última semana, será que desta vez já gastou os cartuchos todos?
Bauke Mollema – Não vai querer sair deste Giro sem deixar a sua marca, o holandês é muito combativo.
Matthew Riccitello – Promissor trepador que não fez uma má etapa hoje, tem entrada em menos fugas que os seus companheiros e toda a Israel parece estar a andar muito bem, pode surpreender amanhã.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Sebastian Berwick e Jack Haig