Primeira etapa em linha e primeira chegada em alto, o Observatório de Vila Nova promete fazer as primeiras grandes diferenças na classificação geral e separar o trigo do joio, quem sairá por cima?
Percurso
Muita dureza logo na primeira etapa em linha, vamos desde já saber quem está aqui para discutir a Volta a Portugal em Bicicleta. A etapa em si não é tremendamente difícil, os primeiros 120 quilómetros são até muito acessíveis e fáceis de controlar, o pelotão passa por Miranda do Corvo uma primeira vez, faz a subida do Senhor da Serra, que não fará grandes diferenças, depois volta a Miranda do Corvo e segue para o Observatório de Vila Nova.
A montanha em si é das mais duras de Portugal Continental, tem 9,9 kms a 8,2%, mesmo com os primeiros 2000 metros a cerca de 5%, entre o quilómetro 6 e 8 a média ronda os 12%, é aí que há mais potencial para diferenças.
Tácticas
Vai ser uma jornada muito interessante de acompanhar, na minha opinião. Ninguém sabe muito bem como está face aos restantes, haverá desconfiança entre toda a gente, especialmente de corredores do pelotão nacional face ao pelotão internacional, será que vão marcar mais os ciclistas estrangeiros como Colin Stussi? Há algo que me parece evidente, esta ascensão favorece os puros trepadores, foi feito em 2022 e Frederico Figueiredo dominou nesse dia, com corredores como Mauricio Moreira, Alejandro Marque ou Delio Fernandez a sentirem mais dificuldades, ciclistas mais pesados e talhados para o contra-relógio.
A Sabgal/Anicolor não costuma ser equipa de se esconder e tendo em conta que tem a camisola amarela e 2/3 grandes favoritos à vitória final é de esperar que façam questão que o pelotão chegue junto à última subida. Só que depois aí pode ocorrer ficarem curtos de ciclistas de trabalho, Julius Johansen, Rafael Reis, Luís Mendonça e André Carvalho, nenhum destes é um trepador. Portanto, ou Frederico Figueiredo, ainda convalescente de uma queda no Campeonato Nacional, se lança ao trabalho, ou pode dar uma janela de oportunidade a ciclistas ofensivos, menos marcados, de ganharem algum terreno importante.
Favoritos
António Carvalho – É sempre uma pequena incógnita porque quase nunca tem grandes referências antes da Volta a Portugal, mas nesta fase da carreira é quase a única prova que se torna um objectivo na temporada. É uma subida que lhe assenta bem face às características, é um ciclista explosivo e pareceu bastante fino hoje no prólogo em Águeda. Em 2022 ajudou e muito Mauricio Moreira.
Mikel Bizkarra – No ano passado vimos a melhor versão do experiente Luis Angel Mate e uma Euskaltel-Euskadi muito bem, será que este ano vamos ver o mesmo, mas com Mikel Bizkarra? O perfil pequeno e leve do basco parece-me muito bom para esta etapa, ele sabe bem muito bem a corrida e conseguiu alguns top 15 em competições interessantes antes desta altura do ano onde costuma andar sempre bem.
Outsiders
Artem Nych – O russo tem feito uma temporada muito interessante e é um ciclista extremamente completo. No ano passado já mostrou que na classificação geral também é capaz de fazer uma gracinha e acho que tem tudo para estar melhor em 2024, com a preparação que fez e com tudo o que mostrou no ano passado.
Diego Camargo – É um tremendo tiro no escuro, o colombiano foi 10º na Vuelta as Asturias e ainda há 1 mês fez 2º na Volta a Colômbia, apenas atrás de Rodrigo Contreras. Os comandados de David Plaza têm, na teoria, várias opções, mas Camargo parece a melhor delas na montanha e o resultado do prólogo foi encorajador.
Abner Gonzalez – O porto riquenho foi uma grande aposta de José Azevedo, também porque há uns anos brilhou nas estradas portuguesas com a camisola da Movistar e este ano parece estar em subida de forma. Há uma razão extra para o incluir aqui, perdeu muito tempo hoje, o que o torna ainda mais motivado para atacar e arriscar amanhã e juntamente a isso poderá ter alguma liberdade extra.
Possíveis surpresas
Mauricio Moreira – Acredito que estará entre os primeiros e que poderá ter uma atitude mais defensiva tendo em conta que no papel é uma subida que não lhe assenta tão bem como uma Senhora da Graça, por exemplo, acho a vitória muito complicada.
Frederico Figueiredo – Se estivesse a 100% era o maior candidato. Teve uma fractura do rádio nos Nacionais, ainda está a correr condicionado e falhou alguma preparação, veremos como estão as pernas.
Henrique Casimiro – Em 2022 foi nesta subida que mais se destacou e onde obteve o melhor resultado, em 2023 andou sempre com os melhores na montanha e acredito que isso volte a acontecer amanhã. Não é muito explosivo para os últimos metros, tem de fazer a diferença antes disso.
Colin Stussi – Vencedor da Volta a Portugal em 2023, o próprio confessou que nunca se tinha sentido tão bem na estrada. Chega aqui com uma preparação semelhante e com resultados parecidos, mas desta vez será mais bem marcado e parece-me que a Voralberg tem menos ajuda para a montanha.
José Felix Parra – Considero este ciclista um grande perigo neste tipo de etapas e ponderei colocá-lo ainda mais acima. Ele conhece muito bem a corrida, já foi 7º em 2021, e a sua fisionomia é perfeita para ascensões deste género.
Joan Bou – Teve um resultado interessante mesmo antes da Volta a Portugal, mas continuo a achar Mikel Bizkarra um perigo bem maior para a concorrência tendo em conta o percurso.
Afonso Eulálio – Está a ter um 2024 pleno de afirmação ao nível do ciclismo nacional e já em 2023 demonstrou capacidade para, ocasionalmente, andar com os melhores na alta montanha. Será ao mesmo tempo o gregário de luxo de António Carvalho, mas também a sua alternativa na ABTF Betão-Feirense.
Luís Fernandes – Um corredor que também adora a alta montanha e aparece sempre muito bem por altura da Volta a Portugal, é um puro trepador e vai estar na sua praia. A LA costuma maximizar muito bem o resultado que obtém.
Jonathan Caicedo – Outra pequena incógnita um pouco como Diego Camargo. Caicedo tem mais pergaminhos internacionais por ter estado no World Tour, parece-me um ciclista mais completo e menos trepador que o seu colega de equipa.
Abel Balderstone – O melhor trepador da Caja-Rural, uma das ProTeams presentes e que vem de um triunfo numa clássica espanhola. Para além disso já fez 2º no G.P. Beiras e Serra da Estrela, conhece bem as estradas portuguesas.
Hélder Gonçalves – Tem evoluído todos os anos, foi 15º em 2022 e 11º em 2023, é um trepador nato que adora as subidas longas.
Jesus del Pino – Foi aqui que mais se destacou na Volta a Portugal em 2022, o top 10 obtido em 2023 motivou-o ainda mais e é um trepador muito consistente.
Delio Fernandez – Candidato ao pódio final, acho que aqui vai passar por algumas dificuldades.
Super-jokers
Os nossos Super-Jokers são: Emanuel Duarte e Hugo Nunes