Venha o Giro d’Itália! A primeira Grande Volta do ano começa com uma etapa bastante complicada onde Tadej Pogacar pode começar a fazer as primeiras diferenças.
Percurso
Longe de ser um mero passeio até à meta, uma jornada protocolar apenas para definir uma primeira liderança, cada vez mais os organizadores estão a optar por variar nos traçados das primeiras etapas das Grandes Voltas. Há aqui alguns aspectos importantes, os ciclistas vão ter a oportunidade de reconhecer os últimos quilómetros da etapa em Torino e vão chegar ainda relativamente frescos porque a jornada tem menos de 140 kms.
Há 2 pontos fulcrais na etapa em termos de montanha, primeiro o Colle della Madalena, a 22 kms da meta. 6,1 kms a 7,4%, uma subida com um miolo que tem 2000 metros a cerca de 8,5%. Segue-se uma descida bem rápida e uma pequena parte plana antes de uma colina cujo topo está a 3 kms da meta e é uma autêntica parede, 1500 metros a 8,6%, e depois uma rapidíssima aproximação a Torino, o final da etapa está praticamente no topo dessa colina.
Tácticas
Dei por mim a pensar nas tácticas da UAE para esta etapa e em como a equipa vai encarar a Volta a Itália, se quer simplesmente ganhar com o mínimo de energia gasta ou se quer dar espectáculo e, eventualmente levar Pogacar a alguns recordes. Algo como levar a camisola rosa de início ao fim, tentar vencer o maior número de jornadas possíveis, pode ser um Giro que fica na história e ajuda Pogacar a consolidar a sua candidatura a melhor ciclista de sempre. Concluí que estes pensamentos se vão aplicar mais no futuro e que dependem de outras circunstâncias inerentes à corrida (veremos se a equipa eventualmente vai querer perder a camisola rosa no futuro). Este fim-de-semana vai ser rasgadinho, vai ser para tentar fazer a dobradinha e maximizar as diferenças logo de início para depois poder controlar com menos pressão, até porque acho que Pogacar vai entrar na competição perto do seu melhor e há rivais que pela sua natureza demoram um pouco a carburar, casos de Thomas ou O’Connor, que não são tão explosivos.
A etapa é curta, será mais ou menos fácil de controlar, até porque vai haver o nervosismo habitual de uma primeira tirada de Grandes Voltas e uma grande luta pela colocação. Espero uma UAE Team Emirates a forçar o ritmo na contagem de 2ª categoria, mas não creio que Pogacar vá arrancar aí, não há necessidade disso e depois de arriscar numa descida ainda longa quando pode ter a equipa com ele. Essa montanha é mais para reduzir o grupo, facilitar a colocação depois para a última colina e neutralizar um pouco a explosão dos poucos punheurs aqui presentes.
Favoritos
Tadej Pogacar – Se não o colocarmos nesta categoria mais de 10 vezes durante o Giro acho que será surpreendente, tal é o domínio que prevemos que tenha em vários terrenos, algo que tem vindo a demonstrar também ao longo da temporada. Nenhum trepador aqui presente é tão explosivo e tem uma ponta final tão boa, é a oportunidade perfeita para fazer já algumas diferenças e assumir desde muito cedo a camisola rosa.
Julian Alaphilippe – Atenção, não acho que o francês vá bater Tadej Pogacar pelo que tem demonstrado nas últimas semanas, mas se já debelou o problema física que o vinha a apoquentar é natural que se apresente melhor e acho que deste lista de participantes é o único que, neste percurso, ao seu melhor, tem capacidade para bater Tadej Pogacar. Por outro lado, também não seria uma surpresa que desse tudo para tentar seguir o esloveno e depois rebentasse o motor.
Outsiders
Aurelien Paret-Peintre – Fez um belo Paris-Nice, terminou muito bem o Tour of the Alps e esteve brilhante na Liege-Bastogne-Liege ao terminar em 5º. A Decathlon Ag2r está a andar muito bem e o francês tem uma bela ponta final em grupos reduzidos, tem a contrapartida de, se calhar, ter de esperar por Ben O’Connor caso este passe dificuldades.
Antonio Tiberi – Estou na expectativa que seja uma das confirmações desta prova, apesar das manifestas dificuldades que tem demonstrado ocasionalmente na alta montanha. Pois bem, aqui ainda está fresco e com um perfil de etapa que é do seu agrado, o italiano não é nada mau na média montanha e até é algo explosivo como já o demonstrou no passado.
Romain Bardet – Um ciclista de culto que gosta de esforços explosivos e de rampas empinadas como se viu na Liege-Bastogne-Liege, onde conquistou o melhor resultado da carreira num Monumento, o que o deixou visivelmente emocionado. Chega aqui sem grande pressão e repleto de confiança e nessas condições às vezes os ciclistas superam-se.
Possíveis surpresas
Daniel Martinez – O estado de forma com que chega ao Giro é uma grande incógnita, creio que se estiver mesmo no seu melhor é dos poucos capaz de seguir Pogacar, viu-se bem na Volta ao Algarve como o colombiano é explosivo e já obteve bons resultados em grupos reduzidos.
Filippo Zana – Em casa, muito motivado, e numa prova onde já brilhou. O talentoso italiano tem de encarar esta corrida como se fossem os Campeonatos Nacionais porque o traçado até nem é mau para ele.
Alexey Lutsenko – Capaz do melhor e do pior em cima da bicicleta. O ciclista cazaque já bateu a armada da UAE Team Emirates 1 vez este ano em Itália, mas numa chegada em alto, ultimamente parece que não está tão explosivo.
Maximilian Schachmann – Se estivesse na mesma condição física com que ganhou o Paris-Nice há uns anos diria que este é o perfil ideal, duro, mas sem alta montanha, onde o alemão mostra a sua capacidade explosiva. Em 2024 já mostrou laivos do que pode fazer, ainda sem concretizar.
Quinten Hermans – Julgo que este traçado é só mesmo para os puncheurs que melhor passam a montanha, acho que está acima do limite para Bagioli ou Pithie, por exemplo, no limite para um corredor como Quentin Hermans, que tem uma ponta final muito perigosa e que parece em boa forma.
Jhonatan Narvaez – Fez um início de época surpreendente, teve de acabar a temporada das clássicas mais cedo do que o previsto, mas recuperou a tempo e se tiver as pernas do Tour Down Under vai ser um perigo à solta nas etapas de média montanha.
Ben O’Connor, Geraint Thomas, Damiano Caruso – Todos ciclistas que não são muito explosivos neste terreno e na abertura de uma Grande Volta e vão tentar minimizar as perdas.
Luke Plapp – Num cenário em que Pogacar não consiga fazer diferenças e a Jayco tenha Plapp, Dunbar e Zana, o australiano é ciclista para se escapar para a vitória num terreno já acessível em direcção à meta.
Tobias Foss – Um bocadinho na onda de Plapp, é um bom rolador e no Tour of the Alps viu-se que está a sprintar bem, pode aproveitar a oportunidade.
Michael Woods – Tem tudo para estar pelo menos na discussão dos 10 primeiros, o canadiano apesar de ser veterano ainda é muito explosivo em rampas empinadas como esta e a Israel costuma planear muito bem estes momentos.
Attila Valter – Já obteve bons resultados no final da Volta a Catalunha em Barcelona, este traçado é um pouco mais duro, mas tem algumas parecenças.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são Mauri Vansevenant e Florian Lipowitz.