Aí está o momento pelo qual muitos fãs da modalidade aguardavam! O Tour 2023 começa em Bilbau com uma etapa de média montanha que promete muito espectáculo, vai ser certamente electrizante.
Percurso
A Volta a França começa amanhã em território basco e com uma etapa bem diferente do habitual numa abertura de Grande Volta. Será uma jornada que pode ser considerada de média montanha, com mais de 180 kms e mais 3000 metros de acumulado. Estas estradas são bem conhecidas dos corredores desta região, não há quase 1 metro plano e é um traçado que passa por muitos caminhos do Circuito de Getxo, uma clássica do circuito europeu. Quem pretenda envergar a camisola da montanha tem logo uma chance de somar pontos ao km 13,5 com uma contagem de 3ª categoria, não é um começo nada fácil.
Apesar de todo o sobe e desce o principal atractivo está dentro dos 30 kms finais e começa com o Cote de Vivero (4,3 kms a 7%), é uma subida em que o primeiro e o último quilómetro rondam os 8% e é uma boa chance para deixar os ciclistas mais explosivos para trás. O Cote de Pike, apenas a 10 kms do final é bem mais inclinado, não só pelos 2100 metros a 9,4%, mas pelo 1000 metros finais a 12,5%, que prometem fazer algumas diferenças. Segue-se uma rápida descida até Bilbao, onde a rampa do quilómetro final tem 5,4% de inclinação média.
Tácticas
Felizmente as previsões iniciais não se confirmaram e o máximo que está previsto para amanhã são alguns aguaceiros à hora de almoço, o que é uma boa notícia para um pelotão nervoso pela estreia e que estaria ainda mais nervoso pela condição da estrada. A última vez que o Tour começou com uma etapa deste género foi em 2021, quando Julian Alaphilippe ganhou e envergou a camisola amarela, nesse dia imensos potenciais candidatos ao top 10 levaram 2, alguns mesmo 5 minutos, numa jornada repleta de quedas e com 3 abandonos à mistura. Comparativamente com amanhã, essa jornada tinha um final mais duro mas menos metros de acumulado e subidas bem mais acessíveis ao longo do dia e na folha de resultados podemos ver que o top 10 foi quase totalmente povoada por ciclistas da geral.
A grande questão desta etapa prende-se com o facto de ser possível ou não os ciclistas de clássicas como Wout van Aert ou Mathieu van der Poel disputar o triunfo ou pelo menos chegar em condições para isso ao quilómetro final. Em condições normais, a meio do Tour, isto seria uma etapa para a fuga, é complicado chegar a uma conclusão sobre isso porque se por um lado a frescura desses corredores dá-lhes vantagem neste momento, o facto de ser o primeiro dia vai levar com que a velocidade seja naturalmente mais elevada, todos vão querer estar sempre bem colocados, e isso vai aumentar o desgaste e potenciar diferenças.
Ao mesmo tempo que esta dúvida permanece, entre Pogacar e Vingegaard está a haver um jogo muito curioso. O esloveno quer retirar pressão de cima, já veio dizer que não está a 100%, Gianetti até atribui liderança partilhada a Adam Yates, Vingegaard veio referir que a Jumbo-Visma está pronta e espera que o esloveno lance ataques amanhã, quase que a avisar que não o vão apanhar desprevenido, talvez pensando que assim controle um pouco os ímpetos de Pogacar.
Posso estar completamente enganado, mas vejo poucos cenários em que Wout van Aert lute pela vitória amanhã, quase nenhum talvez. Não sendo Kelderman e Kuss ciclistas muito explosivos, poderá ser necessário que o belga proteja o seu líder, não é um objectivo para este Tour vestir de amarelo até porque já o fez e mesmo a camisola verde é um foco mais longínquo, não vai prejudicar em nada Vingegaard sabendo que pode até nem concluir o Tour pelo nascimento do seu filho. Para além disso, mesmo que sobreviva a todas as subidas, van Aert nunca foi incrível em finais destes em subida, sempre foi melhor em finais planos, ao contrário de Mathieu van der Poel, que não só é melhor a finalizar em pequenos topos como tem muito mais liberdade para atacar.
Em relação ao holandês, se por um lado não pode esperar por Pike, a subida de Vivero está mesmo no limite das suas capacidades se for percorrida a full gas, pode querer arriscar aí. Depois em Pike não acredito que ciclistas da geral tirando talvez Pello Bilbao queiram atacar com medo do que possam perder, acho que Pogacar teoricamente é mais explosivo do que Vingegaard e vai querer deixar o dinamarquês desde já mais preocupado e em xeque com o que possa vir a passar.
Favoritos
Tadej Pogacar – É o mais explosivo dos ciclistas da geral e sabe que é neste tipo de terreno que tem de ganhar tempo a Vingegaard, não obstante de tudo o que diz sobre não estar a 100%, um talento geracional deste calibre não perde assim tanto rendimento com uma lesão daquele género e não podem subestimar um Pogacar sedendo de se vingar do Tour 2022.
Pello Bilbao – Há quem venha disputar o Tour, há quem venha ganhar etapas, a Bahrain já veio a público dizer que um dos grandes objectivos é colocar Pello Bilbao com a camisola amarela no País Basco. Para isso é preciso o basco entrar na Volta a França a 100% e ter uma estratégia bem clara, para amanhã terá de tentar aproveitar um impasse táctico entre os 2 grandes tubarões e aproveitar para se escapar.
Outsiders
Jonas Vingegaard – Obviamente não se pode descartar o vencedor do ano passado desta jornada inaugural, o dinamarquês e a Jumbo-Visma deram excelentes indicações no Dauphine e sabem perfeitamente que neste Tour é importante entrar logo bem para não perder tempo. Tem em Wout van Aert uma peça fulcral neste tipo de terreno e é bem mais explosivo do que parece à primeira vista, basta lembrar o que fez no País Basco em Abril.
Mattias Skjelmose Jensen – Grande exibição na Volta a Suíça, a melhor claramente no World Tour até agora e isso dar-lhe-á outra confiança e paz de espírito para enfrentar a primeira Grande Volta da carreira. Por isso mesmo e porque o corpo ainda não conhece este tipo de limites estas primeiras etapas são uma boa oportunidade para ele, é muito explosivo em rampas empinadas como já mostrou nas clássicas e em provas por etapas e tem uma boa ponta final, se a Lidl-Trek o trouxe para este baptismo de fogo é porque confia imenso nas suas capacidades.
Mathieu van der Poel – Aí está o ciclista dos grandes momentos. Em 2021 ganhou na 2ª etapa, quando final foi no Mur de Bretagne, uma subida incrivelmente difícil, ele consegue superar neste tipo de palcos e até deu boas referências na preparação para este Tour. A parte táctica será complicada para ele, será que arriscar e ataca de longe ou será que espera por Pike para ver se consegue seguir os principais ciclistas da geral? É que aquele quilómetros final a 5,4% é mel para o ciclista da Alpecin-Deceuninck.
Possíveis surpresas
Wout van Aert – Mencionámos na parte táctica o motivo pelo qual não o consideramos um forte candidato para amanhã.
Simon Yates – Que grande caixinha de surpresas, se estiver ao seu melhor nível é ciclista para discutir a vitória, lembrando que no Circuito de Getxo em 2022 foi incrível neste Cote de Pike. Não compete desde Maio, acho que isso pode passar factura neste início de Tour explosivo.
Julian Alaphilippe – Mostrou estar bem melhor no Dauphine, mas duvido que consiga seguir Pogacar e Vingegaard naquele quilómetro final diabólico no Cote de Pike e pior do que isso, Alaphilippe costuma ser daquele tipo de ciclista que rebenta em vez de minimizar as perdas quando não está nos seus dias.
Giulio Ciccone – Outro bom trepador que por tradição anda bem nas Ardenas e se formos a ver até há algumas semelhanças entre este traçado e o da Liege-Bastogne-Liege, onde Ciccone precisamente fez 13º este ano, bem como 5º na Fleche Wallonne, com o Mur de Huy com pendentes bem inclinadas.
Thomas Pidcock – Um enigma enorme, que ainda tem de ser descodificado. Por exemplo, falhou por completo na Fleche Wallonne onde seria incrível no papel para depois ser 2º numa Liege-Bastogne-Liege que teoricamente nem é a sua praia, depois foi fazer Mountain Bike e fez uma Volta a Suíça horrível, não sei o que esperar dele.
Alex Aranburu – Poucos estão a falar dele, mas é alguém que tem melhorado de forma consistente na montanha e neste tipo de subidas, alguém que desce muito bem e que tem boa explosão para aquele quilómetro final, se não tiver de ficar “amarrado” a Enric Mas muito cuidado com ele.
David Gaudu – Incrível em pendentes inclinadas no Paris-Nice deste ano, não se pode retirar conclusões da campanha de clássicas que fez porque adoeceu. Mostrou laivos de boa forma no campeonato francês, se quer mesmo disputar o pódio nesta edição tem de entrar já bastante bem.
Ion Izagirre – Longe estão os tempos em que se pensava que poderia discutir top 10’s em Grandes Voltas, no entanto o basco está a jogar em casa e certamente não vai ficar quieto a ver os favoritos a ganhar, deve tentar qualquer coisa e nunca se sabe a reacção dos seus oponentes.
Mikel Landa – Melhor em pendentes inclinadas do que muitos pensam, o esforço não pode é ser muito explosivo, para minimizar isso a Bahrain tem de ser das equipas a acelerar o ritmo, para mitigar precisamente esta falta de explosão do basco.
Enric Mas – Outra que de vez em quando se dá maravilhosamente bem com pendentes acima de 10%, veja-se os seus finais de época nos muritos espanhóis e nas clássicas italianas, mas provavelmente não estará na melhor condição física.
Maxim van Gils – Um enorme talento que já se viu que não está para brincadeiras a este nível, quando penso no belga penso numa etapa desta natureza, resta saber se já está preparado para brilhar a este nível.
Michael Woods – Apesar da veterania e de já não ser tão explosivo tem de ser mencionado para vez que a estrada inclina acima dos 10%.
Dylan Teuns – Ver justificativa de Michael Woods.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Adam Yates e Valentin Madouas