Aí está o Tour 2024! Tal como em 2023 temos uma jornada inaugural enigmática, com 7 contagens de montanha, um sobe e desce constante e incerteza no desfecho.

 

Percurso

Partida e chegada em Itália, 206 quilómetros, 7 contagens de montanha e quase 4000 metros de acumulado, esta jornada inicial da Volta a França promete e muito! A organização quis criar um traçado que se pudesse adaptar a vários ciclistas e deixar um cenário incerto e conseguiu isso mesmo. Depois de 28 quilómetros planos a estrada empina ligeiramente e vai dar à primeira contagem de montanha do dia, com 12,6 kms a 5,4%, seguem-se 2 subidas de 3ª categoria e o sprint intermédio, antes dos ciclistas entrarem na fase decisiva, que começa com o Cote de Barbotto (5,9 kms a 7,6%) cujos 600 metros finais são a 12%.



A descida até ao Cote de San Leo é sinuosa e esta contagem tem 4,8 kms a 7,6%, surgindo o Cote de Montemaggio em rápida sucessão, com os seus 4,3 kms a 6,7%. A última ascensão é o Cote de San Marino, que tem 7,1 kms a 4,7% e não é o terreno mais fértil para ataques pois nenhum quilómetro passa dos 6% de média, o topo ainda está a 26,5 kms do final e a aproximação à meta é muito rápida, em Rimini.

 

Tácticas

Ninguém sabe muito bem o que vai acontecer amanhã, uma coisa é certa, esta dureza toda parece demasiado para os sprinters, não acredito que Philipsen ou Pedersen estejam minimamente na discussão da etapa, no máximo daria para um Wout van Aert na sua melhor forma. No ano passado tivemos um início semelhante no Tour, Adam Yates e Simon Yates aproveitaram uma hesitação do grupo dos favoritos para se destacarem depois de Pogacar e Vingegaard não colaborarem, atrás dos britânicos chegou um grupo com 12 unidades.

Com a preparação limitada que Jonas Vingegaard teve para o Tour e as recentes fragilidades demonstradas no Dauphiné por Roglic e Evenepoel, o mais provável é a UAE tentar qualquer coisa, pelo menos controlar a etapa. Vai haver muito nervosismo no pelotão e luta pelo posicionamento, é o principal factor que me leva a pensar que a fuga não pode resultar, já que não estou a ver a UAE a queimar os cartuchos todos amanhã, a jornada de Domingo, essa sim, pode dar para fazer mais diferenças, as subidas são muito mais inclinadas e há menos terreno desde a última dificuldade até à meta.

A última ascensão amanhã está a 26,5 kms da meta e não é muito duro, dificilmente se vão fazer grandes diferenças e mesmo assim é possivelmente depois reunir as tropas. A outra solução seria Pogacar atacar a mais de 40 kms da meta, não estou a ver isso a acontecer logo ao primeiro dia, é demasiado risco para uma recompensa que pode ser mínima. Eu acho que Pogacar vai tentar na mesma, está confiante, é um ciclista altamente combativo, mas também acho que quase ninguém dos candidatos à geral o quer levar até à meta porque sabe que num sprint irá sempre perder. Só vejo esse cenário caso se destaquem, por exemplo, Pogacar e Roglic, e unam esforços para deixar Vingegaard e Remco mais afastados.



Eu se fosse à UAE tentava fazer como em 2023, aproveitar a força dos números e testava as águas com Yates, João Almeida ou Ayuso, para ver também a reacção dos adversários e para retirar ainda mais a pressão a Pogacar, até porque num grupo de 20/30 ciclistas são certamente dos que terão mais elementos. O cenário realista mais provável que eu vejo é a UAE a preparar terreno para Pogacar, mas o esloveno a não conseguir fazer diferenças suficientes, depois entre um sprint em grupo bem reduzido e um ataque em solitário aposto no ataque.

 

Favoritos

Alberto Bettiol – Dissemos na nossa previsão da EF que o italiano iria festejar amanhã, em casa, com a camisola de campeão italiano, não nos podíamos contradizer aqui. Até porque Bettiol cumpre muitos dos requisitos necessários, primeiro tem a motivação extra com ele, de correr em casa, de correr com uma nova camisola, este deve ser um dos grandes objectivos do ano. Depois está em excelente forma e já em 2024 ganhou por diversas vezes com um ataque a solo, na Milano-Torino, na Boucles de la Mayenne e nos Nacionais de estrada, sendo que não tem uma ponta final nada má caso seja necessário ir através dessa rota.

Tadej Pogacar – Apesar de achar que o esloveno tem na cabeça fazer mais diferenças na etapa 2, continua a ser um dos grandes favoritos. Caso haja diferenças será ele o ciclista da fazê-las e consegue ganhar no cenário de seguir sozinho até à meta e num grupo bem reduzido, com os ciclistas da classificação geral, Pogacar é um “killer” e não vai desperdiçar a oportunidade caso a tenha.

 

Outsiders

Alex Aranburu – É outro bom candidato, na minha opinião, a uma vitória estilo Bettiol, um corredor que passa muito bem a média montanha, que desce muito bem, que sprinta bem em grupos reduzidos e que não vai estar necessariamente amarrado a Enric Mas porque o seu líder tem outros gregários que podem fazer esse trabalho.

Wout van Aert – No papel acho este traçado muito bom para as características do belga, os cerca de 3800 metros de acumulado creio que estão mesmo no limite das suas capacidades caso estivesse na sua melhor condição física, mas ainda me pareceu um bocadinho curto nos Nacionais de estrada. Ainda assim, se estiver num grupo de 20/30 elementos é o maior candidato à vitória.



Tom Pidcock – Um ciclista que por vezes é capaz do melhor quando poucas esperam, é com esse pensamento que o menciono nesta categoria, é que o britânico concentrou forças para estas semanas e vai querer dar na estrada uma boa resposta a algumas críticas que tem recebido. Pidcock não só sprinta relativamente bem como é dos melhores do pelotão a manobrar a bicicleta nas descidas, uma vantagem grande na parte final.

Possíveis surpresas

Primoz Roglic – Creio que entre ele, Evenepoel e Vingegaard é aquele que potencialmente vai entrar melhor e com mais ritmo neste Tour, por isso o coloco aqui, e porque as subidas de amanhã são boas para as suas características. Atenção que Roglic também não sprinta mal e pode ter com ele Hindley e Vlasov para fechar espaços, o que pode ser importante.

Mathieu van der Poel – Quase 3800 metros de acumulado estão mesmo no limite, mesmo que esteja na sua melhor condição física, vai precisar que o ritmo não seja super elevado nas contagens de montanha mais duras para sobreviver. Chega fresco e se estiver na forma com que esteve nas clássicas muito cuidado.

Santiago Buitrago – Corajoso, destemido, um ciclista que não é muito marcado pelos tubarões e que também não sprinta mal, estou muito curioso com o que o colombiano consegue fazer.

Michael Matthews – Dos sprinters todos acho que é o único a par de Wout van Aert que tem alguma possibilidade de sobreviver, depois tem um grande problema, é que no máximo só vai ter Chris Harper com ele para controlar um grupo onde a Jayco vai ter inferioridade numérica.

Adam Yates – Uma opção um pouco no espírito de 2023, aproveitar a marcação entre os favoritos para se escapar e conseguir a camisola amarela, o britânico pareceu muito bem na Volta a Suíça.

Matteo Jorgenson – Na teoria será ele a marcar Adam Yates caso o britânico ataque e é preciso lembrar que num sprint mano a mano provavelmente até será mais forte o norte-americano, o problema é se tiver de marcar muitos ataques e perder força com isso.

Aleksandr Vlasov – Um pouco no espírito de Yates e Jorgenson só que na teoria o russo até pode aproveitar uma guerra entre a UAE e a Visma para se esgueirar, deixando Roglic mais protegido atrás, foi um corredor que impressionou-me no Dauphiné.

Maxim van Gils – Um especialista em clássicas das Ardenas que certamente se vai sentir confortável na primeira etapa de uma prova por etapas, é alguém que prefere a média à alta montanha e com algum poder explosivo, não sendo nada marcado pelas equipas da geral.

Romain Gregoire – Em 2023 vimos uma equipa francesa a praticamente salvar a sua participação com uma vitória no fim-de-semana inaugural, será que vamos ter isso novamente, mas com a Groupama-FDJ? Gregoire é muito talentoso e adora este terreno ondulante, este ano já mostrou ser perigoso em grupos reduzidos.

Magnus Cort Nielsen – Já nem se pode considerar um sprinter, o dinamarquês especializou-se em finais duros e sprint em grupos de 20 a 40 unidades, é um nicho particular que tem aproveitado. Geralmente brilha mais com dias de competição nas pernas porque tem uma boa capacidade de recuperação.



Derek Gee – Chega pleno de confiança depois de um Dauphiné brilhante onde conseguiu seguir por várias vezes os melhores a subir, será que deu o clique derradeiro ao poderoso canadiano. Também não é nada mau no contra-relógio, não lhe podem dar muitos metros de vantagem.

Axel Zingle – A Cofidis fez uma gracinha em 2023, vou atirar este nome para o barulho porque foi um corredor que evoluiu bem de 2023 para 2024 e também é explosivo.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Jonas Vingegaard e João Almeida

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