Aí está a etapa rainha! 5000 metros de acumulado em apenas 172 quilómetros e um final duríssimo no Picon Blanco, é nesta orografia que os trepadores vão tentar fazer ajustes na classificação geral.

Percurso

A organização da Vuelta conseguiu um feito, concentrar 5000 metros de desnível positivo em apenas 172 quilómetros, o que ao 20º dia de competição promete fazer mossa. O início parece a parte mais acessível da jornada, apenas com uma 3ª categoria e tal, mas logo a abrir há 2700 metros a 6,5%, quem entrar muito frio vai ter problemas. Depois então de 2 contagens de 3ª categoria há o Alto del Caracol (10,7 kms a 5,5%), uma subida que engana porque tem ali um miolo de 3 kms a 8%, logo após uma pequena descida. Segue-se o Portillo de Lunada (14,1 kms a 6,1%) e é aqui que os primeiros movimentos mais sérios podem acontecer, há 3 kms a 8,5% já perto do topo que são perfeitos para lançar ataques.

O Portillo de la Sia (7,2 kms a 5,8%) é mais curto e mais acessível, é uma montanha mais rolante, não sobe dos 8%, ou seja, quem não é um puro trepador também consegue ajudar e logo a seguir há uma descida com cerca de 25 kms. A sequência final começa com o Puerto de los Tornos (11,2 kms a 5,8%), que no topo tem bonificações para a geral para os 3 primeiros e é uma subida muito parecida com a anterior, rolante, sem grandes oscilações de inclinação, ganha-se muita vantagem de ir na roda aqui. O Picon Blanco é um excelente palco para terminar a montanha nesta Vuelta, são 8 kms a 9%, em que 4 desses 8 kms têm uma média acima de 10%, são pendentes agonizantes depois de uma tirada destas.

Tácticas

Esta é a etapa mais dura de toda a Vuelta e vem no final da 3ª semana, o que deve acentuar as diferenças, há muita coisa em jogo numa classificação geral que ainda tem alguns acertos para fazer. Há várias perspectivas pelas quais podemos abordar esta jornada, antes de individualizar as vertentes tácticas o primeiro grupo de ciclistas, aqueles que vão lutar somente pela vitória de etapa são os que já estão longe na geral e, factor importante, não têm nenhum colega no top 10. Não há muitos corredores nesta posição, mas são os que têm mais liberdade táctica, falamos de Riccitello, Bennett, Haig, Castrillo, Fortunato, Max Poole, Ion Izagirre, Guillaume Martin e Louis Meintjes.




Podíamos incluir neste lote Filippo Zana, mas nos últimos dias Eddie Dunbar tem mostrado ambições de subir a top 10 na geral e não é impossível isso acontecer, aliás Dunbar, Cristian Rodriguez, Sepp Kuss e Adam Yates entram na categoria de ciclistas que têm obrigatoriamente de atacar de longe se querem esse top 10, apesar do britânico não ter dado bons sinais recentemente. Todos os outros caça etapas que tenham colegas no top 10 estão numa situação mais delicada, a qualquer momento pode ser necessário recuar. Uma classificação secundária que ainda não está arrumada é a montanha, mas se Marc Soler der tudo nas primeiras 3/4 contagens de montanha do dia, ou até mesmo Jay Vine, garantem que a camisola fica na UAE, o maior problema pode vir a ser Pablo Castrillo.

Depois temos a perspectiva do top 10, e geralmente uma jornada deste género cai para um ciclista da geral. Sivakov até pode atacar, mas tem mostrado pouca capacidade física, Landa quase de certeza que vai tentar arrancar de longe e dar espectáculo, teve apenas 1 dia mau e fazer 9º ou 6º para ele é o mesmo. Lipowitz numa etapa destas tem de ficar com Roglic e depois há a luta pela camisola branca. Carlos Rodriguez tem de ganhar tempo a Mattias Skjelmose antes do contra-relógio final, o problema é que o dinamarquês parece em crescendo e o espanhol não tem equipa para fazer estragos na montanha. Acho que este duelo em particular ficará guardado mais para a subida final, Skjelmose também não é ciclista de arriscar por aí além, muito menos com um prémio destes em jogo.

O’Connor e Roglic estão satisfeitos com a situação actual, por eles assinavam por baixo que a Vuelta acabasse hoje, portanto não se devem mexer, vão jogar mais na defensiva. Para além de Landa sobram então Enric Mas, David Gaudu e Richard Carapaz. De todos eles vejo Enric Mas a jogar mais na defensiva porque caso Ben O’Connor fique para trás relativamente cedo ele tem o pódio quase garantido. Já Gaudu e Carapaz são obrigados a atacar de longe, o grande problema é que ambos têm equipas neste momento manifestamente fracas na montanha, apenas Pacher e Cepeda, respectivamente, podem ajudar mais um pouco quando o terreno empinar. A única hipótese que têm é fazer uma aliança com Landa e a Quick-Step, que ainda tem Vansevenant, Cattaneo e Knox. Ainda assim, salvo imprevistos, a situação parece controlada para a Red Bull-Bora e Roglic.

Favoritos

Richard Carapaz – Quanto mais acumulado melhor para o equatoriano, que também gosta das pendentes que vai enfrentar amanhã. Ele não é muito explosivo, portanto quanto mais desgaste melhor, vai ter de tentar meter Shaw e Doull na fuga e depois Cepeda fazer alguns estragos no pelotão, a falta que faz Rigoberto Uran.




Mikel Landa – Hoje de manhã estava muito desiludido com a pequena quebra que teve, que lhe custou a luta pelo pódio. Recuperou forças e hoje esteve ao seu nível, mesmo num esforço que não era incrível para ele, acho que amanhã vai tentar rebentar com a corrida, tem uma pequena liberdade extra porque já está um pouco longe e é dos poucos que tem equipa forte ao seu lado.

Outsiders

Primoz Roglic – No meio disto tudo o esloveno tem-se mostrado bastante forte na maioria dos momentos, esteve em maior aperto no dia em que ganhou Adam Yates, mas salvou o dia e agora parece bem melhor, mesmo nas montanhas mais longas e com mais algum acumulado. Já tem muita experiência nestas situações, não vai entrar em pânico e se tiver a oportunidade pode ganhar mais 1 etapa.

David Gaudu – O francês parece vir de menos a mais e é um corredor que depende muito da confiança. Os sinais de hoje são encorajadores, precisa de se aliar com Landa e que Pacher esteja num grande dia também, eventualmente contando com Kung para os vales, será que vai arriscar tudo à procura do primeiro pódio em Grandes Voltas?

Max Poole – É dos ciclistas que mais merece ganhar 1 etapa nesta Vuelta, já tentou por diversas vezes e houve sempre alguém mais forte. Imaginando que ciclistas atacam para o top 10 ou para o pódio, ele pode apenas seguir na roda e depois aproveitar isso, toda a DSM vai estar no seu apoio.

Possíveis surpresas

Enric Mas – O espanhol constantemente tem sido dos que mais perto tem estado de Roglic, mas só num dia conseguiu superiorizar-se a subir ao esloveno, não acho que tenha capacidade para ganhar a etapa, não acho que tenha liberdade ou audácia para arriscar tudo, portanto deve estar entre os melhores para garantir o pódio, mais nada.

Eddie Dunbar – O irlandês tem subido paulatinamente na geral apesar de dizer que não é um objectivo e nos últimos dias de montanha tem inclusivamente mostrado mais capacidade física do que alguns do top 10, o que pode levar a ter essas ambições, principalmente tendo Zana e Schmid ao seu lado.

Sepp Kuss – Aos poucos e poucos o trepador da Visma-Lease a Bike tem dado melhores indicações, nitidamente ainda bem longe do nível alcançado no ano passado. Kuss é outro puto trepador que simplesmente adora dias com muito acumulado, Valter e Kruijswijk podem ajudar bastante.

Pablo Castrillo – Quem ganha 2 etapas pode perfeitamente ganhar 3 e o espanhol ainda parece ter energia apesar da sua tenra idade. Acho que a montanha também passa por um objectivo pessoal e nesse caso o desgaste extra de lutar pelos pontos vai passar factura.




Matthew Riccitello – Outro trepador norte-americano que a espaços tem conseguido acompanhar os melhores da geral e teoricamente sai beneficiado de haver muito acumulado porque é um corredor muito leve. Tem Bennett. tem Frigo, tem liberdade e tem um registo bom a acabar Grandes Voltas.

Jack Haig – O australiano realmente tem sido uma sombra do que já foi, veremos se guardou todos os cartuchos para esta etapa, senão é mais uma performance muito fraquinha para um ciclista deste gabarito.

Adam Yates – Ganhou a etapa da Vuelta mais dura anteriormente disputada com um “raid” de longe, acredito que possa voltar a tentar fazer o mesmo, a questão é que parece estar claramente a acusar o desgaste de uma longa temporada, particularmente do Tour.

Mattias Skjelmose – Parece claramente em crescendo, tem impressionado pela capacidade de gerir o esforço nas subidas, ainda hoje ficou para trás relativamente cedo e terminou muito bem, valendo-lhe a subida ao pódio como líder da juventude, é um bom finalizador.

Marc Soler – O espanhol dá sempre tudo na estrada e vai querer conquistar a classificação da montanha, é uma aposta certa se a aposta for quem entra para a fuga.

Aleksandr Vlasov – A Red Bull-Bora, tendo Martinez e Lipowitz, poderá querer colocar Vlasov na fuga em caso de Roglic precisar que o russo recue. Caso isso não seja necessário, Vlasov tem uma bela oportunidade de vencer uma etapa e seria um bom prémio para o trabalho que tem feito.

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Carlos Rodriguez e Ion Izagirre

 

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