A primeira etapa em linha da Vuelta mantém os ciclistas por Barcelona e traz as primeiras dificuldades do percurso. Teremos os primeiros ataques entre os favoritos?

 

Percurso

O pelotão continua em Barcelona depois da polémica e inesperada etapa de ontem. Os primeiros 70 kms vão servir para saber quem será o primeiro líder da classificação da montanha, 2 contagens de montanha onde o pelotão espera não ter de perseguir uma fuga muito grande, tudo depende da eficácia das principais equipas em controlar os primeiros quilómetros.



O resto das dificuldades está nos últimos 5000 metros, primeiro com a subida ao Castelo de Montjuic (900 metros a 8,7%) onde está um sprint bonificado (6, 4 e 2 segundos para os 3 primeiros), uma rápida descida e cerca de 1500 metros de falso plano, onde os 1000 metros finais têm quase 4% de média.

Montjuic faz lembrar algo? Sim, o circuito da última etapa da Volta a Catalunha, só que este final não é o mesmo. É quase igual ao da 9ª etapa da Vuelta de…2012! Nesse dia Joaquin Rodriguez, com a camisola de líder atacou e só Philippe Gilbert conseguiu ir com ele. Até houve colaboração entre ambos devido a interesses distintos, Gilbert ganhou, Rodriguez foi 2º e ganhou tempo aos rivais. Tiralongo foi 3º e para discutir o top 10 chegou um grupo com quase 50 ciclistas.

 

Táticas e clima

Vamos começar pelo clima, que hoje teve uma grande influência em tudo o que aconteceu. Se as previsões do modelo mais utilizado para o clima europeu se confirmarem, com muito fluxo de ar vindo do mar, vamos estar perante o caos, de novo. Os modelos coincidem em algo, o pior será da parte da manhã, estando em aberto a hipótese de eventualmente a partida ser adiada em caso de cheias. Mesmo que pare de chover a estrada nunca terá tempo de secar, se tivesse de apostar e tendo em conta o que aconteceu hoje, creio que a organização vai neutralizar os tempos da geral, apenas se vai jogar a vitória na etapa, há potencial mesmo para muito más condições meteorológicas.

Podemos terminar a antevisão então? Bom, como não somos adivinhos não sabemos o que a organização vai fazer, é apenas um palpite com os dados que temos. Vamos fazer a próxima secção partindo do pressuposto que vai haver uma etapa como hoje, sem restrições. Jogar-se-á a liderança, a etapa e a geral, são 3 tabuleiros completamente distintos. Creio que a DSM até vai assumir as responsabilidade e vai perseguir a fuga, mas sempre com cautela, lembrando que a manta não estica e que Dainese, Bardet, Onley e Poole não devem trabalhar. Deverá haver interesse de outras formações em assumir a corrida, a Movistar pode querer tentar a liderança, o mesmo se aplica à EF ou à Groupama-FDJ, são equipas que terminaram a menos de 10 segundos da DSM e que têm ciclistas que podem perfeitamente ir às bonificações.



Os interesses da etapa serão em grande parte os da liderança, não estou a ver muito mais equipas com particular interesse nesta etapa, os sprinters estarão sempre com medo de um ritmo louco e de uma má colocação na subida ao castelo. Na geral vai ser uma equipa muito nervosa, os principais ciclistas vão querer estar sempre na frente, se a estrada estiver encharcada vai haver quedas, cortes, uma luta dos diabos para entrar nos primeiros lugares na parte final. E aí a Jumbo-Visma, por exemplo, tem bloco para dominar a corrida e esticar muito o grupo e os seus líderes são explosivos o suficiente para fazer diferenças, tentando recuperar um pouco do que perderam hoje. Podem tentar repetir o que fizeram há 2 anos numa etapa do Tour numa colina parecida, nesse dia ganhou Wout van Aert isolado. Não acho que vá ser tão selectivo quanto muitos pensam, bastam segundos de hesitação entre corredores que se isolem e podem ter um grupo de 20/30 logo atrás, sendo que acredito que vai ser mais selectivo do que em 2012 pela chuva.

 

Favoritos

Primoz Roglic – Pode-se dizer que neste final coloca o “certo em muitas caixinhas”. Vai querer estar na frente por causa das bonificações e por causa da geral, tem a melhor equipa para o colocar e um final destes em falso plano é muito bom para as suas características.

Romain Gregoire – Primeira pequena loucura desta Vuelta, admitimos. O francês está com a rédea solta e é um super talento, cheio de confiança depois do que fez na última corrida em França. Se ganhar pode saltar para a liderança, outro factor motivacional. Ele este ano ganhou num final quase tirado a papel químico em Dunkerque (0,6 kms a 9,8% e final de 1,9 kms a 4,1%). Depois em Cassel perdeu para Hagenes, mas é preciso ver que correu só a pensar na geral.

 

Outsiders

Marijn van den Berg – É o nome que mais salta à vista quando pensamos num final em grupo reduzido e é outro corredor com hipótese de liderança, vai é precisar que a equipa lhe dê uma grande ajuda. Na Polónia num final de 2,3 kms a 4% depois de uma tirada super dura venceu com autoridade num grupo de 60, amanhã espera fazer o mesmo.



Bryan Coquard – Analisando as etapas desta Volta a Espanha pode estar aqui perante a sua melhor oportunidade em toda a Vuelta, o francês adora este tipo de finais mais duros e em ligeira subida porque anula o facto de não ser um puro sprinter.

Andrea Bagioli – É um dos melhores puncheurs daqui e a Quick-Step vai dar tudo para proteger Evenepoel para a geral e o italiano para a etapa, será das grandes apostas dele. Tem uma boa ponta final, tem bons resultados em Espanha e parece estar em boa forma depois do que fez em San Sebastian.

 

Possíveis surpresas

Juan Ayuso – Gosta de arriscar nas curvas e de dar espectáculo, por isso caiu numa corrida em Espanha na preparação para esta Vuelta. Tem de marcar a roda de Roglic e esperar que ele force a barra em demasia. 

Jonas Vingegaard – Já vimos coisas mais estranhas a acontecer apesar de não estarmos na alta montanha, ainda que tenha de chegar sozinho.

Santiago Buitrago – Bom especialista de clássicas, tem tudo para com uma boa colocação estar com os melhores depois do Castelo.

Andrea Vendrame – Não vai ter muito mais chances para um sprint em grupo reduzido, ainda que a vitória me parece inalcançãvel, ter boas chances de um top 5.

Matteo Sobrero – A grande dúvida que tenho é se vai estar ao serviço de Dunbar desde já ou se vai ter liberdade porque o transalpino é explosivo e sprinta bem, veremos.

Ivan Garcia Cortina – Capaz do melhor e do pior, mas quando funciona é incrível, até já teve vitórias no World Tour em percursos ondulados e à chuva, é bom presságio. Outro que saltaria para a liderança com as bonificações.



Kevin Vauquelin – Outro grande talento francês que sobe bem, mas não é um trepador puro, o que é bom aqui. Não sendo um ciclista muito marcado poderá ter mais liberdade.

Kaden Groves e Alberto Dainese – Creio que com a chuva será duro demais para eles, mas nestas coisas nunca se sabe. 

Orluis Aular – Bom nome para o top 5, ganhar acho muito complicado por causa da concorrência. Não tendo uma equipa do outro Mundo para o colocar vai ter de escolher a roda certa.

Sergio Higuita – Nos seus dias é um ciclista muito perigoso, não tem tido muitos  dias desses este ano. Vejo-o como um possível ciclista a surpreender na descida.

Andreas Kron – Encaixa-se quase na mesma categoria de Higuita.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Milan Menten e Felix Engelhardt

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