Depois de uma primeira etapa surpreendente, o pelotão continua por Itália e, novamente, por estradas conhecidas. A Basílica de San Luca será o plano de fundo da batalha de amanhã. Teremos os primeiros ataques entre os favoritos?

 

Percurso

Praticamente 200 quilómetros no segundo dia do pelotão por Itália. Os primeiros 137 quilómetros são relativamente acessíveis, apenas 2 contagens de montanha de terceira categoria, que até são bastante duras, mas devem servir apenas para iniciar o desgaste dos ciclistas. A 60 quilómetros do fim surge o Cote de Botteghino di Zocca (1900 metros a 6,9%) e 11 quilómetros depois o Cote de Montecalbo (2,7 kms a 7,7%).



Rapidamente, os ciclistas chegam a Bolonha e ao circuito final. Duas voltas ao circuito de 18 400 metros, onde a grande dificuldade está a 13 quilómetros do fim. Falamos do Cote de San Luca (1900 metros a 10,6%). Esta é uma subida que aparece todos os anos no calendário, mais concretamente no Giro dell’Emilia e que proporciona espetáculo. Dividindo em segmentos de 500 metros, há dois acima dos 12,5% e o que estraga a média são os últimos 300 metros a 5,9%. Atingido o topo pela segunda vez, os ciclistas descem um pouco, voltam a ter quase um quilómetro em subida e, aí sim, rápida descida de 4 quilómetros, antes dos derradeiros 6 quilómetros planos.

 

Tácticas

Para tentar adivinhar o que se vai passar amanhã é importante fazer um rescaldo do que se passou hoje. A primeira equipa a pegar na corrida foi a EF, precisamente pensando em Bettiol, que tinha legítimas ambições. Tacticamente falharam porque aquele ataque de Ben Healy não fez sentido nenhum e prendeu o líder da equipa para esta etapa no pelotão, Bettiol nunca ganharia num sprint a Wout van Aert ou Tadej Pogacar. A UAE provou o que se temia, em condições normais, e a equipa querendo manter 4 ciclistas protegidos e perto da geral, não têm equipa para controlar este tipo de jornadas, é demasiado curto. Tinham o plano de endurecer a corrida para um possível teste de Pogacar, mesmo que fosse apenas para ver como Vingegaard estava, e o que conseguiram foi deixar em apuros Juan Ayuso, que não deu bons sinais.

As 2 últimas subidas eram demasiado acessíveis para um candidato à geral fazer diferenças e estavam muito longe da meta e o esloveno decidiu guardar forças para amanhã, tal como tínhamos previsto, daí termos mencionado o nome de Bettiol ontem. Nunca pensámos que o grupo fosse tão numeroso, e isso deveu-se ao ritmo constante e estável da Visma-Lease a Bike, que por um lado teve um bom dia porque manteve as suas aspirações intactas na geral, mas por outro lado desgastou a equipa toda, principalmente Tratnik, Kelderman e Jorgenson, para um 3º lugar de Wout van Aert. Nesse capítulo, percebemos a intenção de começar logo o Tour com uma vitória e também acalmar um bocado a ambição de Wout van Aert para depois o belga estar só focado no trabalho para Vingegaard, deixaram-se um bocadinho levar pela emoção e o entusiasmo. No meio disto tudo a DSM foi perfeita e contou com o melhor dia da carreira de Frank van den Broek, o facto de Bardet ter entrado sem qualquer objectivo para a geral permitiu-lhe arriscar e tinha de ser ali, era a última subida verdadeiramente dura do dia.

Amanhã creio que o traçado favorece muito mais para atacar e fazer diferenças, a etapa é mais fácil de controlar na sua globalidade, subidas mais curtas e mais inclinadas e a última dificuldade está bem mais perto da meta. A UAE continua a ter um alinhamento curto se quiser conservar os 4 “líderes”, o truque seria usar apenas Politt nos primeiros 100 quilómetros, a grande questão é o que fazer na primeira passagem por San Luca, na teoria tem de ser Sivakov a fazer essa subida toda na frente porque depois no vale precisam de ainda ter Marc Soler com eles para também não serem atacados por corredores como Bardet. A DSM pode ser a chave disto, como têm a camisola amarela, acredito que vão honrar este símbolo, até porque caso não haja grandes ofensivas em San Luca, o francês tem hipóteses de a conversar. Outro problema aqui, não têm muitos corredores de trabalho, não estou a ver Barguil, Onley ou Van den Broek a trabalhar e o restante alinhamento é para ajudar Jakobsen. Um ataque entre ascensões a San Luca tem algumas hipóteses de resultar, menos do que hoje, mas se for bem orquestrado é possível.



Favoritos

Tadej Pogacar – Hoje a UAE fez o clássico teste para ver se Vingegaard estava a andar minimamente bem, até porque com o calor tudo pode acontecer, é normal. O esloveno certamente tem este dia marcado na agenda, estas pendentes de 2 dígitos é que dão para fazer diferenças, é o melhor sprinter num grupo reduzido de favoritos e pode ganhar tempo na estrada e nas bonificações. A paragem competitiva de Vingegaard pode ter consequências na sua capacidade de explosão.

Maxim van Gils – Traçado mais específico das clássicas das Ardenas, mesmo como o belga da Lotto-Dstny gosta, costuma andar muito bem na Fleche Wallonne e este é um tipo de esforço que até é parecido. Hoje mostrou-se muito bem, foi 3º no sprint do pelotão e é alguém que marcou esta etapa no livro de prova, não vai ter assim tantas oportunidades quanto isso.

 

Outsiders

Primoz Roglic – Apresentou-se aparentemente com uma boa forma física para este Tour, está ainda mais fino do que no Dauphiné, este tipo de ascensões sempre foram a sua praia, o esloveno dá-se bem com aquelas clássicas italianas do Outono. Terá certamente o apoio da equipa durante a etapa, num duelo a 3 com Pogacar e Vingegaard acho que é o menos marcado e é muitas vezes subvalorizado num sprint com poucas unidades.

Tom Pidcock – A Ineos vai arriscar pouco ou nada amanhã. A estratégia será proteger os líderes, não sacrificar Bernal, De Plus, Pidcock e Rodriguez e ir vendo entre eles quem é que vai dando mais garantias na geral, o que é, confessamos, um bocadinho parvo, porque é claramente Rodriguez. Ainda assim, Pidcock é um perigo neste tipo de etapas, alguém explosivo, muito técnico nas descidas e com boa ponta final.



Adam Yates – É outro ciclista que adora estas pendentes e estar dentro da UAE dá-lhe vantagens, será menos marcado do que se fosse líder de outra equipa e pode beneficiar disso na parte mais plana até à meta, até porque um ciclista como Matteo Jorgenson julgo não ser tão eficaz neste tipo de terreno e teve algum desgaste extra hoje.

 

Possíveis surpresas

Jonas Vingegaard – O objectivo passará por “apenas” seguir Pogacar no momento do ataque. Se os 2 estiverem isolados quase de certeza que o dinamarquês não vai ajudar Pogacar para o esloveno lhe ganhar no sprint final e conquistar as bonificações.

Remco Evenepoel – Passou o teste hoje, mas também não foi assim tão complicado. Estas ascensões fazem lembrar um pouco a clássica de San Sebastian e as Ardenas, onde já foi muito feliz, caso esteja a 100% é menino para acompanhar os melhores.

Aleksandr Vlasov – Um bocadinho na onda de Adam Yates, um ciclista secundário na hierarquia da equipa e que tem andado bem nos últimos tempos. É algo explosivo, não é horrível a sprintar e pode querer atacar para deixar Roglic mais descansado num grupo restrito.

Pello Bilbao e Santiago Buitrago – Acho 2 ciclistas muito parecidos em termos de capacidade neste tipo de esforços e ambos estão em patamares iguais no que toca à marcação dos adversários na classificação geral. Sendo 2 e tendo alguma liberdade podem atacar à vez caso haja reagrupamento depois da subida.

Stephen Williams – Se fosse noutra altura da época talvez até estivesse mais acima nesta antevisão, foi deveras impressionante na Volta ao País Basco e depois em algumas das Ardenas, adora estas subidas curtas e explosivas, apesar de achar que está um bocadinho no limite para ele em termos de extensão.

Alberto Bettiol – O italiano e a equipa tentaram hoje, acho que amanhã é mais complicado, o campeão transalpino dá-se melhor com pendentes um bocadinho mais suaves, mas se estiver a voar é possível que esteja no grupo da frente.

João Almeida – Costuma ter alguns problemas de colocação neste tipo de circuitos mais urbanos. Nisso a equipa pode ser fundamental e basta seguir a roda de Pogacar, já teve boas exibições em traçados deste género e pode tentar a sua sorte depois da subida caso não seja obrigado a trabalhar.

Carlos Rodriguez – Acredito que faça um bom lugar na geral final, não é ciclista com explosão e pode passar dificuldades amanhã, um bocadinho à medida de Felix Gall e de Simon Yates, este último porque não vai ter grande equipa para o colocar.



Alex Aranburu – Hoje pareceu seguir com alguma facilidade, tem características semelhantes a Bettiol. Creio que San Luca está no limite das suas capacidades como trepador, é possível sobreviver porque ainda estamos no início do Tour.

Wout van Aert – Duvido que consiga sobreviver com os melhores caso haja ataques muito sérios, ainda não está na sua melhor forma. E mesmo que passe na frente, será muito difícil a Visma ter equipa para controlar depois.

Magnus Cort Nielsen – Já vi coisas mais estranhas a acontecer, o dinamarquês de vez em quando saca coelhos da cartola.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Giulio Ciccone e Derek Gee.

 

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