Dia de descanso ultrapassado e com o pelotão já em Espanha as dificuldades aparecem. Num final bastante exigente, teremos Primoz Roglic já como líder?
Percurso
A entrada em Espanha faz-se pelo País Basco e, nesta região de Espanha, tudo o que não existe é terreno plano. As primeiras dificuldades aparecem e os últimos 20 quilómetros serão bastante importantes.
Nesse momento aparece o Puerto de Herrera (6,8 kms a 5% mas com os primeiros 3 kms a 8%). Uma subida muito dura que deverá partir o pelotão antes de uma rápida aproximação a Laguardia. A chegada é tudo menos fácil com o derradeiro quilómetro a 8,1%.
Tácticas
Não havendo um candidato muito óbvio há muita incerteza sobre o desfecho. Normalmente esta não seria uma etapa para a fuga porque está muita gente perto da geral e entre abandonos e formas incógnitas já não estão alguns favoritos. A Jumbo-Visma não vai conseguir fazer o jogo da camisola como tem feito até aqui, se chegar um grupo reduzido é Roglic quem fica com esse encargo, portanto pela formação holandesa a escapada vai resultar.
Portanto quem vai perseguir? A Israel-Premier Tech já não tem Michael Woods, Julian Alaphilippe ainda não mostrou estar perto do seu melhor, a Ineos-Grenadiers pode arriscar e apostar em Ethan Hayter, mas com Rodriguez, Sivakov e Carapaz não terá muitos ciclistas de trabalho. Resta saber se a Alpecin ou a Groupama-FDJ querem assumir a responsabilidade para os seus corredores mais aptos para uma jornada destas.
Existe ainda um cenário alternativo de que vamos falar agora e que envolve uma equipa em específico por alguns motivos. Primeiro a etapa é relativamente fácil de controlar, segundo aquela subida de 3ª categoria com o início bastante duro é muito convidativa e até à meta o terreno não é fácil para perseguições e terceiro, essa contagem de montanha tem bonificações no topo.
Favoritos
Poucos falam disto, mas amanhã pode ser dia para Remco Evenepoel tentar alguma coisa. O belga chegou numa forma incrível e a falar em ganhar etapas, pode perfeitamente aproveitar já amanhã e retirar pressão de cima. Faz sentido porque aqueles 3 kms a 8% são muito bons para ele e o falso plano a seguir também, é alguém que se apanhar sozinho ou com colegas cooperantes é muito complicado de apanhar. Pensando na geral, vai querer testar as pernas de Roglic ou Carapaz, não vai querer dar mais tempo ao esloveno por causa da sua lesão recente. Assim também pode tentar somar bonificações nos 2 lados, as outras equipas vão pensar que a Quick-Step até está a trabalhar para Alaphilippe e isso pode surpreender. Mesmo que fiquem com a camisola vermelha podem tentar perdê-la na primeira grande etapa de montanha.
Fred Wright saiu da Volta a França em grande forma, confirmou isso nos Commonwealth Games e chega com a fama de ser alguém perigoso neste tipo de etapas. Há o cenário em que Wright integra a fuga do dia, o britânico mostrou ser perfeitamente capaz disso no Tour, e há um cenário de um ataque na parte final que surpreende os favoritos, também válido. Sabe que dificilmente vai chegar à última semana muito fresco, tem de tentar agora.
Outsiders
Ethan Hayter é dos poucos sprinters capaz de sobreviver a um dia destes para disputar o último quilómetro em subida, o britânico tem a explosão necessária e a capacidade para aguentar o ritmo em subida durante alguns quilómetros. Sabe-se que tem o foco em etapas específicas, mas a Ineos-Grenadiers gosta pouco de fazer grandes perseguições destas quando tem candidatos à geral e Hayter tem claramente problemas de colocação.
No caso de pelotão chegar relativamente compacto não podemos descartar Primoz Roglic, o esloveno costuma ser exímio nestes finais e certamente que a Jumbo-Visma o vai deixar extremamente bem colocado. Ficar com a camisola vermelha não seria um grande fardo, nos próximos dias facilmente a podem perder se não perseguirem fugas.
Recentemente Juan Ayuso venceu uma clássica em que o perfil não foge muito a este. Um grupo reduzido escapou-se antes da rampa final e o jovem espanhol bateu Piccolo, Kelderman e Ferron no risco de meta. Ayuso é explosivo e vamos imaginar que é dos poucos capaz de seguir Evenepoel, pode ajudá-lo não puxando muito com a desculpa de ter João Almeida atrás e depois aproveitar isso.
Possíveis surpresas
A contagem de 3ª categoria deve fazer uma boa selecção, num grupo relativamente restrito vários ciclistas são capazes de ganhar e eventualmente fazer pódio. Alejandro Valverde já não está tão explosivo, mas estamos na Vuelta, na sua despedida e nunca pode ser descartado, Sergio Higuita, Jai Hindley e Wilco Kelderman são todos relativamente explosivos e até João Almeida é perigoso se entrar bem colocado, essa é a grande questão. Santiago Buitrago surpreendeu os maiores favoritos na Vuelta a Burgos, o colombiano evoluiu imenso este ano e adora este tipo de finais onde arranca muitas vezes cedo. Já falámos de Julian Alaphilippe, só a equipa saberá muito bem a condição física do francês, minimamente em forma é o maior candidato, mas também será o ciclista mais marcado. Se Hayter não aguentar o ritmo o melhor Ineos deverá ser Tao Hart e é preciso estar atento a ciclistas que passam bem a montanha e são explosivos, apesar de não ganharem habitualmente muito. Quentin Pacher entra nessa categoria, Robert Stannard vem em grande forma do Tour de Wallonie e até um Bryan Coquard ao seu melhor nível pode surpreender. Damos cerca de 30% para a probabilidade de uma fuga resultar, para além de Fred Wright gostamos das hipóteses de Jesus Herrada, Bruno Armirail, Jonathan Caicedo, Harry Sweeny e Rein Taaramae.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Patrick Bevin e Alexey Lutsenko.