Depois da loucura de ontem o pelotão tem pela frente mais uma jornada de média montanha com final em Córdoba, um final que vai ser feito pela 4ª vez nos últimos 13 anos, será que vamos ter novo vencedor de etapa nesta Vuelta?

Percurso

Archidona acolhe a partida da 7ª etapa, um dia com uma apenas contagem de montanha mas uma grande armadilha. 148 quilómetros relativamente planos até ao início do Alto del 14% que, como diz o nome tem rampas a 14%. 7400 metros de extensão a 5,6%, com o penúltimo quilómetros a 11,6% de inclinação, é onde se podem fazer diferenças.

Atingido o topo restam 26 quilómetros, cerca de 8 em plano, outros tantos em descida, antes dos últimos 10 quilómetros planos em direção ao final em Córdoba.

Tácticas

Curiosamente este traçado é em tudo semelhante ao de 2011, nesse ano a Liquigás de Vincenzo Nibali montou uma armadilha na descida e conseguiu o melhor dos 2 Mundos, Peter Sagan ganhou a etapa e com uma descida supersónica levou o seu líder a ganhar tempo aos rivais, cerca de 20 segundos. Também importante é ver que sobreviveram 60 corredores no grupo principal para o final em Córdoba, é uma boa referência. A organização gosta muito deste final, também o usou em 2014, vitória de John Degenkolb num sprint em pelotão reduzido, o grupo tinha novamente 60 unidades, é um padrão interessante. E novamente em 2021, nesse ano o alto estava ainda mais perto da meta, a menos de 20 quilómetros e sprintaram cerca de 40 ciclistas, com triunfo de Magnus Cort.

A corrida mudou muito ontem, aquela previsível guerra entre UAE e Red Bull-Bora passou para uma densa dúvida sobre a capacidade de Ben O’Connor segurar uma grande vantagem na classificação geral. Foi perceptível que os blocos de apoio são globalmente frágeis e que uma oportunidade bem aproveitada ou usar a superioridade numérica pode ser crucial para o desfecho desta Vuelta. A única parte positiva do que aconteceu ontem é que estas 2 equipas agora podem poupar algumas energias visto que a responsabilidade agora está toda nos ombros da Decathlon-Ag2r no que toca a controlar a corrida. No entanto, a formação francesa, em caso de alguma ameaça para a classificação geral também pode correr friamente, deixar um ciclista ir para 2/3 minutos do líder para tentar forçar as rivais a trabalhar.




Acho que hoje não será um dia propriamente para recuperar tempo, há terrenos muito mais propícios a isso, significaria um risco muito grande para, eventualmente, pouco proveito, porque há espaço para recuperações. O perigo de queda ao arriscar na descida e estragar uma Vuelta é demasiado para a potencial recompensa de ganhar uns segundos na geral. E isso também implicaria quase a obrigação de colocar ciclistas na fuga que depois ajudassem na parte final mais plana. Portanto, descarto um pouco a opção de dia para a geral, a Decathlon-Ag2r deve controlar na fase mais inicial e depois ter a ajuda das formações que querem ganhar a etapa.

A chave para essas equipas vai ser a formação da fuga, se querem triunfar só podem deixar 5/6 elementos no máximo ir para a frente e de preferência corredores das ProTeams, porque apanhar Kung’s e Campenaerts’s não será fácil. Este final em 2014 e 2021 teve uma coisa em comum, a estrutura da Jayco deu tudo o que tinha e o que não tinha para Michael Matthews fazer 3º em ambos os casos, amanhã não estou a ver muitas equipas dispostas a ajudar a Visma, de Wout van Aert. Este é quase o cenário ideal para o belga, um possível sprint em grupo reduzido eventualmente sem Groves e Bittner e não acredito que Strong, por exemplo, acredite poder bater van Aert num sprint plano, portanto a responsabilidade cai toda em cima da Visma de fazer a maioria da perseguição e ainda fazer diferenças na subida e controlar na descida e parte plana, isto sem Dylan van Baarle, que já abandonou e não metendo Sepp Kuss ao trabalho.

Eu vejo como cenário mais provável um ataque tardio a resultar, a Visma não tem capacidade para sozinha, controlar este final.

Favoritos

Patrick Konrad – É um nome que preenche muitos dos requisitos, na minha opinião. Está muito atrasado na classificação geral, a Lidl-Trek no final deve ter alguns elementos no pelotão da frente, chegou a esta Vuelta em boa forma e ontem terminou junto com os melhores da classificação geral, não tem tido percalços e tem uma ponta final interessante.

Stefan Kung – Considero que este final é um bocadinho no limite para ele, mas pode estar na luta, acho que encontrou as melhores pernas do ano nesta Vuelta, fez um bom resultado no contra-relógio de abertura, entretanto foi 5º numa etapa ao sprint e já esteve ao ataque noutras tiradas, é alguém que não tem nada a perder e pode-se lançar descida abaixo.

Outsiders

Wout van Aert – Acredito que vá estar na luta, mas a gestão da corrida terá de ser feita com pinças, Affini e Gesink para perseguir a fuga na parte plana, Attila Valter vai ter de durar quase toda a subida, depois o belga até poderá ter de responder a ataques por conta própria na descida e na aproximação à meta, em caso de sprint no papel será sempre o mais rápido.




Richard Carapaz – Estou a ver o equatoriano amanhã a tentar recuperar algum do tempo perdido na primeira chegada em alto, ele parecia em grande forma, sofreu com o calor e partiu um pouco o motor, mas já nos habituou a atacar bastante neste tipo de jornadas. Pode beneficiar da guerra entre UAE e Red Bull Bora.

Corbin Strong – Vamos assumir um cenário de sprint entre 50 a 60 unidades, caso Wout van Aert tenha de responder a vários ataques por conta própria vai desgastar-se em demasia e isso pode abrir a porta ao sprinter da Israel-Premier Tech, que costuma passar muito bem a montanha e é aposta expressa da equipa para este tipo de etapas.

Possíveis surpresas

Kaden Groves – Seria uma surpresa para mim o australiano passar esta subida com os melhores, a única opção que tem é gerir esforço, tentar não perder muito tempo e confiar na equipa para o recolar caso o pelotão não vá a full gas.

Ion Izagirre – O basco é conhecido por ser um dos melhores do pelotão a descer e sabe que na teoria nas chegadas em alto terá alguma dificuldade para bater puros trepadores, esta tem de ser encarada como uma boa oportunidade, tem é de estar em melhor forma do que no Tour.

Victor Campenaerts – Este é o tipo de etapa que o experiente belga, especialista em fugas, tem marcada no libro de prova. Creio que a sua melhor chance até será da fuga inicial, aquele quilómetro a mais de 10% vai custar a passar.

Andreas Kron – Resta saber se vai ter liberdade total, no entanto na teoria este é o tipo de jornada que o dinamarquês gosta, para poder usar a sua explosão e a sua ponta final competente. O foco da equipa vai estar em Lennert van Eetvelt, veremos se lhe vão dar asas num dia em que ficou oficial a sua transferência para a Uno-x.

Mauro Schmid – Fez um grande contra-relógio logo na abertura da Vuelta, a partir daí tem passado despercebido e acredito que, a não ser que esteja doente, seja a pensar neste tipo de jornadas visto que o suíço é um bom rolador e um bom finalizador em grupos reduzidos.

Victor Lafay – Já ganhou uma etapa na Volta a França com um perfil até semelhante a este, esteve grande parte da época lesionado, tem regressado paulatinamente e dado boas indicações a espaços.

Quentin Pacher – É pouco provável que consiga a vitória, no entanto é quase certo que o francês vai tentar atacar e mostrar o seu espírito combativo e por vezes basta isso para se colocar numa boa posição para triunfar.

Jhonatan Narvaez – Existe uma remota possibilidade da Ineos trabalhar para o equatoriano e achar que pode deixar Wout van Aert para trás e depois levar Narvaez ao triunfo, já os vimos fazer este tipo de trabalho diversas vezes para Ethan Hayter e o britânico não tem um sprint assim tão confiável. Ainda assim, diria que a melhor possibilidade de Narvaez é um ataque nos 10 kms finais.

Isaac del Toro – O mexicano não tem medo de atacar e é muito ambicioso, a UAE vai querer colocar sempre alguém em grupos que saiam e mesmo assim ainda terá Sivakov e Yates com João Almeida, pode ser o dia em que del Toro tenha um pouco mais de liberdade.

William Junior Lecerf – Viu-se ontem que a Soudal-Quick Step vem com ambição de ganhar etapas, apesar de trazer Mikel Landa para a classificação geral, o jovem belga é um talento que não tem medo de atacar e pode surpreender neste final.

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Vito Braet e Carlos Canal

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