Amanhã os ciclistas terão pela frente uma montanha russa com cerca de 2400 metros de acumulado e parece haver vários desfechos possíveis, que tipo de etapa vamos ter?
Percurso
Uma etapa que estamos mais habituados a ver no Giro, serão 183 kms de sobe e desce constante onde praticamente não há um metro plano. Depois de 20 quilómetros até relativamente acessíveis há 3 contagens de montanha em rápida sucessão, 3 subidas que até são algo duras e que se forem feitas com bom ritmo vão seleccionar o pelotão. Depois não há muito mais a contar, é um autêntico carrossel sem grandes subidas, há uma colina de 1700 metros a 5,1% a 14 kms da meta, pode servir para ataques, do pelotão ou da fuga, e o quilómetro final empina a cerca de 4%. São 2400 metros de acumulado, mas nas pernas vai parecer bem mais.
Tácticas
Olhando para esta etapa antes da Volta a França começar diria que era quase de certeza um sprint em pelotão reduzido, analisando de uma forma um pouco mais fina já não tenho tanta certeza. Para contexto, este traçado é bem mais duro do que parece e estamos ao 8º dia seguido de competição, um desgaste acrescido muito grande. Nem todas as equipas se vão juntar a uma perseguição, este percurso favorece os sprinters que passam bem a montanha, falamos de Jasper Philipsen, Mads Pedersen e Arnaud de Lie, eventualmente a Jayco pode pensar num Michael Matthews. No papel esta é, talvez, a melhor oportunidade de Arnaud de Lie em toda a Volta a França, só que a Lotto-Dstny não consegue controlar uma fuga sozinha, nem mesmo com a potencial ajuda da Alpecin, é que Mads Pedersen poderá estar ainda um pouco combalido da queda.
Com tanta gente fora da geral e com liberdade para entrar na fuga estes primeiros 40 quilómetros da etapa são um pesadelo para as equipas dos sprinters, ou a fuga se dá antes das 3 contagens de montanha, nos primeiros 20 quilómetros, ou então vai fugir um grande grupo, impossível de controlar, e aí o melhor é tentar colocar ciclistas lá e todas as equipas têm opções viáveis para isso. Depois de amanhã vem o “sterrato”, as equipas dos homens da geral não vão querer meter-se na confusão, portanto acho que há 70% de hipóteses da fuga resultar amanhã.
Favoritos
Paul Lapeira – Actual campeão francês, tudo bate certo para continuar esta tendência de vitórias emblemáticas para o país anfitrião. Tem sido uma das revelações da temporada precisamente neste tipo de traçado, foi campeão nacional, fez 5º na Amstel, 11º na Liege, ganhou uma etapa na Volta ao País Basco numa final parecido, tem uma belíssima ponta final
Alex Aranburu – Vou na senda de campeões nacionais, o espanhol da Movistar não tem assim tantas chances ao longo de uma prova de 3 semanas, a alta montanha é demasiado dura para ele e não tem ponta final para combater com os sprinters, diria que tem esta etapa marcada no livro de prova e com Enric Mas já um pouco atrasado na classificação geral até terá mais liberdade.
Outsiders
Arnaud de Lie – Porque não o campeão belga? Na antevisão do Tour dissemos que iria ganhar esta jornada, temos de nos manter fiéis a isso, no final de contas esta talvez seja a etapa que melhor se adapta às suas características, até pelo final. Tem uma equipa praticamente dedicada a ele e pode perfeitamente também ir para a fuga, é um autêntico touro.
Ben Healy – Está a andar extremamente bem, realizou talvez o melhor contra-relógio da carreira hoje e neste terreno ondulado é um perigo à solta, provavelmente até o vamos ver bem activo logo nas contagens de montanha iniciais para fazer uma grande selecção do pelotão, tem liberdade porque já está um pouco atrasado e a EF também já viu Carapaz perder tempo.
Magnus Cort – Corredor muito bem talhado para estas montanhas russas, mal se viu ainda neste Tour porque tem estado a poupar energias precisamente para momentos como este, é um perigo à solta em finais a subir, por ele este percurso até tinha mais dureza.
Possíveis surpresas
Jasper Philipsen – Segundo nome que temos aqui para um final ao sprint, julgo que este traçado está perfeitamente ao seu alcance, no entanto tudo o que tem acontecido deixa a sua marca fisicamente e emocionalmente, a equipa pode não querer perseguir o dia todo para o seu sprinter ou pelo contrário, mostrar que está com ele mesmo sem grande resultado prático.
Mads Pedersen – Se não tivesse caído há uns dias estava na categoria acima. Apesar de continuar em prova aparentemente sem lesões de maior, espero ver a melhor versão de Pedersen apenas daqui a alguns dias.
Michael Matthews – Acho que precisava de ainda mais dureza e também de uma equipa que conseguisse pegar na corrida e fazer uma selecção a sério para ele de forma a conseguir ganhar. Assim creio que a melhor alternativa para ele é uma fuga.
Biniam Girmay – Tem a camisola verde, está muito motivado e em forma, atenção que o eritreu é um ciclista muito competente em finais a subir sem muita inclinação, de lembrar que no Giro no ano passado bateu Mathieu van der Poel.
Mathieu van der Poel – Pode ter luz verde da equipa para atacar e se libertarem a fera vai ser um perigo à solta nesta orografia ondulada, que ele tanto gosta porque pode colocar na estrada a sua capacidade de explosão e usá-la em plano.
Kevin Vauquelin – Quando um ciclista está com estas pernas e com esta aura, tudo é possível, depois de ganhar a etapa ainda em território italiano, o francês não relaxou assim tanto e fez top 10 no contra-relógio de hoje, de lembrar que é um bom especialista no terreno de média montanha e não sprinta nada mal.
Axel Zingle – É a melhor aposta da Cofidis neste tipo de terreno, tem-se mostrado irrequieto, isto pensando que Coquard fica resguardado para um possível sprint final.
Alberto Bettiol – Tinha grandes ambições no fim-de-semana inicial no Tour, não as concretizou e desde aí tem poupado algumas energias, o italiano continua a ter aquela aura de grandes vitórias à porta.
Stephen Williams – Preferia um final ainda mais durinho, ainda assim se chegar num sprint a 3/4 é sempre um potencial candidato, é preciso não esquecer a sua capacidade explosiva a subir.
Maxim van Gils – É uma excelente alternativa dentro da Lotto-Dsnty para ir numa fuga, não trabalhar grande coisa com a desculpa de ter um sprint no pelotão e depois aproveitar para atacar nos quilómetros finais, outro bom especialista nas Ardenas.
Matej Mohoric – Um mestre das escapadas que não parece estar ainda na melhor forma, mas que nunca se pode descartar em jornadas deste género, a sua mentalidade ofensiva costuma trazer bons resultados.
Toms Skujins – O letão adora este tipo de etapas e caso tenha liberdade para poder entrar na fuga quase de certeza que o vai fazer.
Super-Jokers
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