É tempo para o último teste antes do Tour de Flandres. Com um pelotão de luxo, quem marcará posição antes do 2º Monumento do ano?
Percurso
Este será o último teste para alguns ciclistas antes do Tour des Flandres naquela que é uma das clássicas belgas mais curtas, com apenas 183 kms. No entanto, tem um perfil bastante duro e invulgar, visto que as subidas e os troços de empedrado estão espalhados pelo traçado e não concentrados numa área específica ainda que o miolo seja mais endurecido que a parte final, pelo menos é lá que estão as maiores dificuldades. Nas últimas 3 edições tivemos 1 vitória a solo e 2 grupos de 5 elementos a discutir o triunfo, pelo que um sprint num grupo ainda grande é o cenário menos provável.
Ao todo serão 13 subidas e 8 troços de empedrado, sendo que 2 colinas preenchem os 2 requisitos. As dificuldades começam passado 60 kms com o Nieuwe Kwaremont (2 kms a 5%) e a primeira vaga de colinas inclui o duríssimo Knokteberg. Acreditamos que os primeiros ataques sérios possam surgir no Berg ten Houte, a 70 kms da meta, uma colina que tem 1100 metros a 5,5%, sempre em empedrado, até porque logo a seguir há o Kanarieberg (1100 metros a 8,5%). 12 kms depois há uma segunda passagem pelo Knokteberg (1100 metros a 7,4%), seguindo pelo Hotond (1200 metros a 3,9%).
Há então uma descida que leva a um troço de empedrado de 2500 metros e à subida de Ladeuze (1200 metros a 5,2%), que é a última grande dificuldade, a quase 40 kms da meta. A partir daí só há mais 3 troços de empedrado e 2 subidas, o Nokereberg (400 metros a 3,3%) e o Holstraat (400 metros a 3,2%).
Táticas
A poucos dias do Tour de Flandres, esta é a última clássica para o pelotão afinar os últimos pormenores. Por norma, este tipo de provas traz algumas surpresas, com vencedores menos esperados, devido a uma corrida muito mais aberta. A mudança de percurso não vem tirar a essência à corrida, até coloca mais dificuldades aos ciclistas, com mais subidas e setores de empedrado.
Muito do desfecho da corrida pode passar pela Alpecin-Fenix que, pela primeira vez este ano, conta com Mathieu van der Poel nas clássicas belgas. Não nos admiramos nada se o neerlandês atacar de longe, tentando dinamitar a corrida, fez isso na Coppi e Bartali da passada semana, tendo inclusive ganho essa etapa. Aqui a concorrência é mais feroz mas Van der Poel é Van der Poel, pode vencer como quiser. O facto de ter Jasper Philipsen na equipa também será fundamental, o belga será guardado para o sprint. Tadej Pogacar é outra das atrações, o esloveno irá testar-se no paralelo.
Esta será uma corrida onde existirá um braço de ferro entre os classicómanos e as equipas dos muitos homens rápidos presentes. É certo que o terreno não é o mais acessível para estes, mas em boas condições físicas os mais resistentes podem estar na discussão.
Favoritos
Se há corredor capaz de vencer em várias situações de corrida é Mathieu van der Poel. A estreia em Sanremo foi promissora, continuou em Itália para ganhar ritmo, fazendo 5 dias de competição e ganhando pelo meio. Agora regressa às clássicas de forma a fazer um último teste antes do Tour de Flandres. Como já referimos, não nos admiramos que ataque cedo, veremos quem o consegue acompanhar. Se o grupo for forte pode ir até ao fim e, aí, Van der Poel pode escolher entre voltar a atacar ou esperar pelo sprint.
Mads Pedersen voltou às boas exibições no passado domingo, numa corrida que mais se adaptava às suas características. Amanhã o antigo campeão do Mundo volta a ser um dos grandes candidatos, especialmente se a prova terminar ao sprint. Não será fácil manter a corrida junta, dentro da Trek-Segafredo terá que contar com Toms Skujins, Quinn Simmons e Edward Theuns num dia em grande.
Outsiders
Será Tadej Pogacar capaz de tirar mais um coelho da cartola? Vindo do esloveno nada é impossível e uma vez que esta não é uma verdadeira prova da Flandres, apesar do empedrado, este não é muito agressivo, pelo que as diferenças se podem fazer nas subidas. Os fortes ataques de Pogacar têm sido praticamente impossíveis de seguir, será que amanhã se vai repetir o cenário?
Esta tem sido uma prova onde, nas 4 últimas edições, em 3 delas venceram ciclistas de forma isolada e isso pode voltar a repetir-se por intermédio de Stefan Kung. Longe de ser um ganhador, o helvético tem estado sempre nos grupos mais fortes das clássicas só que a falta de uma ponta final impede-o de melhores resultados. Foi 3º na E3 Harelbeke, depois de surpreender os rivais antes do sprint, amanhã pode repetir o cenário.
Jasper Philipsen tentará sobreviver nas muitas dificuldades do percurso para, depois, vencer ao sprint, onde será complicado ter rivais à altura. O belga é um dos sprinters mais completos do pelotão e com Van der Poel na equipa não correrá tão pressionado. Dries de Bondt será uma peça fundamental no possível sprint, é o seu braço direito.
Possíveis surpresas
A Quick-Step tem passado um pouco ao lado das clássicas belgas das últimas semanas e não contando com Kasper Asgreen terão de ser outros nomes a assumir-se. Yves Lampaert já aqui venceu por duas vezes, costuma ser cirúrgico nas suas vitórias e a preparar o pico de forma, não seria de estranhar vê-lo em grande. Fabio Jakobsen terá a sua chance em caso de sprint, no entanto não será fácil para o neerlandês, que mostrou na Gent-Wevelgem que ainda precisa de melhorar neste terreno. Tiesj Benoot tem uma rara oportunidade para liderar a Jumbo-Visma e não a vai querer desperdiçar, tem sido fundamental para os bons resultados da equipa. Sabe que tem que chegar sozinho para vencer. Anthony Turgis, Soren Kragh Andersen, Valentin Madouas, Victor Campenaerts e Tim Wellens são outros ciclistas que esperamos ver na frente quando a corrida endurecer, adoram estas provas e este tipo de dificuldades. Dylan van Baarle é o campeão em título, estará muito mais marcado, vem em boa forma, pelo que pode voltar a erguer os braços, numa INEOS onde Tom Pidcock continuará a ganhar ritmo. Bryan Coquard, Arnaud de Lie e Ivan Garcia Cortina são sprinters bastante completos que podem estar na luta pela vitória, caso a corrida se decida ao sprint num grupo mais numeroso.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Mike Teunissen e Ben Turner.