O empedrado está de volta! A antecipar um fim-de-semana recheado de ciclismo, é tempo para o último grande teste antes do Tour de Flandres. Teremos mais uma vitória de Mathieu van der Poel?

 

Percurso

No menu estão 17 subidas e 11 sectores de empedrado, uma mistura atractiva numa clássica com cerca de 208,8 kms. Como já é habitual podemos dividir as dificuldades em fases, principalmente tendo em conta que os 3 primeiros sectores de empedrado e a primeira subida não terão grande influência.

Entre 119 e 83 kms para o fim, será feito aqui algum endurecimento da corrida, a fuga deve começar a perder unidades e pode haver algumas figuras secundárias a atacar no pelotão: La Houppe (1,9 kms a 5,1%), Kanarieberg (1 km a 8,1%), Oude Kruisberg (900 metros a 4,8% e em paralelo), Knokteberg (1,2 kms a 7,3%), Kortekeer (900 metros a 6,7%) e a subida em paralelo do Taaienberg (700 metros a 6,3%).



Entre 72 e 47 kms para o fim surge a segunda fase, local onde os ataques no pelotão vão começar a sério, vai começar a jogar-se tacticamente a corrida. Algumas equipas que falhem os principais movimentos serão obrigadas a perseguir e isso pode custar caro: Berg Ten Stene (1,3 kms a 4,8%), Boigneberg (1 kms a 5%), Eikenberg (1,2 km a 5% e em paralelo), Stationsberg (1,5 kms a 5%), Mariaborrestraat (2000 metros em plano mas em empedrado) e o Kapelleberg (800 metros a 5%).

Logo a seguir surge a combinação decisiva, aquela que já fez muitas vezes as diferenças finais nesta e noutras corridas nesta zona. As subidas sucedem-se muito rapidamente, o que também é um fator a ter em consideração. Paterberg (400 metros a 9%) e Oude Kwaremont (2,1 kms a 4,2%, subida em paralelo) só por si já é uma combinação dura, sendo que após ainda surge o Karnemelkbeekstraat (1,4 km a 5,7%). A 25 kms da meta ainda há o paralelo no Varenstraat, num total de 2000 metros e o Tiegemberg (800 metros a 4,8%). A partir daí não há mais dificuldades e só o jogo tático poderá decidir a corrida, se tal ainda não tiver acontecido.

 

Tácticas

O último grande teste antes do Tour des Flandres. Daqui certamente vão sair ciclistas mais confiantes e outros preocupados com a condição física, visto que já não há muito tempo para afinar o motor. Em 2023, Wout van Aert triunfou num sprint a 3 face a Mathieu van der Poel e Tadej Pogacar, no ano passado o astro neerlandês colocou 1:30 no seu rival mais próximo, só para se ter noção do nível que esta corrida tem normalmente.

Geralmente a sequência Paterberg-Oude Kwaremont é decisiva, apesar que nesse ponto a corrida já está aberta o suficiente para ter um reduzido leque de candidatos. A ausência de Tadej Pogacar altera aqui completamente as dinâmicas da corrida porque dá um aspecto de todos vs Mathieu van der Poel a partir desse momento, é que pela lista provisória a Alpecin tem aqui um bloco de apoio frágil, faltam Dillier, Hermans, Philipsen e Vermeersch, não vão ter grande capacidade de segurar a corrida quando UAE, Visma e até Lidl-Trek começarem a disparar em todas as direcções. Eu diria que o maior aliado de Mathieu van der Poel pode ser Mads Pedersen, o dinamarquês não me parece que vá esperar, ele gosta de ir para a frente, colocar ritmo e endurecer as corridas. Se a prova abrir muito cedo a Alpecin pode simplesmente trabalhar até dar, manter Pedersen por perto e depois Mathieu van der Poel ir à caça do corredor da Lidl-Trek.

Isto porque Pedersen é alguém que normalmente não se esconde ao trabalho, tem aquela mentalidade de que pode ganhar a qualquer um, depois resta saber quem da UAE e da Visma está à altura da situação, podem aproveitar-se da situação.




Favoritos

Mathieu van der Poel – De longe o maior candidato a conquistar mais uma vez esta prova. Se chegar à sequência Paterberg-Oude Kwaremont relativamente perto da frente da corrida correm o risco de nunca mais o verem até ao risco de meta e tem de ser esse o grande foco da Alpecin. Como se viu na Milano-SanRemo não tem neste momento medo de um sprint depois de uma corrida dura, não é de descartar ganhar também nesse cenário se não for demasiado solidário a puxar.

Matteo Jorgenson – O norte-americano tem tido uma grande evolução em todos os aspectos desde que entrou para a Visma, é alguém que fez aqui 5º no ano passado e começou a época em grande forma ao ganhar o Paris-Nice. Tudo tem sido uma aprendizagem para ele e espero vê-lo em 2025 com melhores tácticas também. A Visma tem de usar a força dos números, com Dylan van Baarle convalescente e Wout van Aert à procura das melhores sensações e, eventualmente, numa marcação mais directa a Mathieu van der Poel, pode dar para Jorgenson.

 

Outsiders

António Morgado – Não o coloco aqui por ser português, mas sim porque parece ter dado mais alguns passos em frente na sua evolução como ciclista este ano e porque já tem a experiência de viver estas clássicas. No ano passado, fez um Tour des Flandres brilhante, de trás para a frente, onde também gastou imensa energia graças a isso. A colocação é fundamental e muitas vezes partir para o ataque é o melhor, não há preocupação com isso, evita-se recuperações e quedas e o ciclista da UAE Team Emirates mostrou nas camadas jovens que tem esse espírito ofensivo que por vezes resulta num grande triunfo.

Mads Pedersen – Voou no Paris-Nice, partiu o motor na Milano-SanRemo e não conseguiu acompanhar os melhores quando havia uma grande expectativa sobre ele, vai estar sedento de voltar a mostrar que trabalhou muito no Inverno para ganhar grandes clássicas. O problema é que por vezes é demasiado solidário quando vai para a frente, esta ambição tolda o pragmatismo.



Stefan Kung – Numa corrida muito aberta, atacada de longe para contrariar o favoritismo de Mathieu van der Poel, favorável a motores grandes que conhecem bem estas corridas, aí o suíço está em casa e creio que pode ter vantagem face a outros ciclistas. Também é alguém que não tem medo de puxar lado a lado com outros candidatos à vitória.

 

Possíveis surpresas

Tim Wellens – Na teoria, até é o ciclista mais conceituado da UAE para este tipo de corridas no alinhamento. É alguém que deve rondar o top 10, não o vejo com capacidade para fazer diferenças.

Filippo Ganna – Não sei o que esperar do italiano que mais uma vez impressionou bastante na Milano-SanRemo. Atenção que a Ineos até tem uma boa equipa para este tipo de terreno, com Tarling e Turner à cabeça, a questão é que no papel Ganna adapta-se melhor às pendentes mais suaves da Cipressa e do Poggio do que a estes esforços explosivos muitas vezes acima dos 10%. Estamos a falar de alguém bastante pesado.

Wout van Aert – Talvez a maior incógnita desta corrida. Creio que a Visma o vai usar como isco e como escudo de Mathieu van der Poel, para ficar colado à roda do neerlandês a ver se aguenta e depois usar o bom sprint final que tem. Seria uma surpresa para mim vê-lo ao nível do seu arquirival.

Michael Matthews – Dos corredores mais consistentes do pelotão internacional neste tipo de provas, mas também dos mais conservadores. Vai poupar energia dentro do grupo principal, colocar a sua equipa ao trabalho enquanto ainda a tiver e depois eventualmente sprintar para um top 5 e bons pontos UCI.

Jasper Stuyven – Já venceu Monumentos, sabe que não terá muitos mais anos a este nível e é alguém que conhece estas estradas como poucos. De recordar que fez 2º no ano passado, não é impossível voltar ao pódio.

Jonas Abrahamsen – Gosto muito das possibilidades do norueguês neste tipo de provas, tem um motor enorme e o pelotão tem de ter cuidado se lhe derem muita vantagem. A Uno-x sabe que tem de atacar de longe.

Mathias Vacek – A Lidl-Trek realmente tem bastantes opções, o checo é aquele que está mais em ascensão e que no papel até será menos marcado pelos grandes nomes. De recordar que mostrou uma evolução muito grande este ano na montanha e no contra-relógio, globalmente está mais forte e tem as características certas para andar bem aqui.



Laurence Pithie – Um dos nomes que a Red Bull-Bora foi buscar para rivalizar com Visma e UAE. Até agora bastante discreto em 2025, teoricamente estão aqui os grandes objectivos da época. Na Milano-SanRemo teve problemas e não conseguiu estar na luta. Já mostrou no passado que se adapta bem ao empedrado e tem uma excelente ponta final.

Matteo Trentin – Em bom plano na Milano-SanRemo, é alguém muito experiente nestas corridas e uma sólida opção para top 10.

Valentin Madouas – Não tem medo de atacar e de há uns anos para cá é sempre um ciclista que ronda o top 10.

Biniam Girmay – Surpreendeu-me como resistiu tão bem na Cipressa ao ritmo de Tadej Pogacar, acho que está em grande forma e que estes esforços mais curtos até se adaptam melhor a ele. Com o apoio da reunir podem reunir tropas e depois lutar por um top 5.

Mike Teunissen – Saiu para ter mais oportunidades e escolheu bem, uma Astana que está a voar em 2025. Tem mostrado laivos do que é capaz e pode também passar pelos pingos da chuva para fazer top 5.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Josh Tarling e Toms Skujins.

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