A região da Figueira da Foz acolhe o pelotão internacional para uma nova clássica que promete animação! Teremos Rui Costa a vencer em Portugal e a continuar o fabuloso início de época?
Percurso
189,2 quilómetros com 2141 metros de desnível acumulado positivo é o que o pelotão terá pela frente. Partida em São Pedro, com os primeiros 101 quilómetros a serem feitos num terreno mais acessível, antes da entrada no circuito final, onde estão as grandes dificuldades.
Falando do circuito este será percorrido por 3 vezes e tem um total de 29 quilómetros. Após 4 quilómetros surge um pequeno topo com 300 metros a 6,8%, e 3 quilómetros passados é a vez da subida da Rua Parque Florestal (2100 metros a 8,5%, com o quilómetro final a 10,9% de média).
No topo ficam a restar 20 quilómetros de circuito, 14 deles a serem muito rápidos até à subida de Enforca Cães. Pela frente um autêntico muro, 600 metros a 9,2%, a rampa de lançamento perfeita para os ataques. Até ao final restam 6200 metros, os últimos 4000 em terreno plano para o fim na Praia do Relógio.
Táticas
Globalmente esta é uma corrida muito difícil de prever, por vários motivos. Primeiro porque a condição física de muitos ciclistas é uma incógnita, boa parte deste pelotão tem aqui o primeiro dia de competição do ano, segundo porque não há referências de anos anteriores nem de corridas neste traçado e também porque não se sabe se alguns corredores não vão mais a pensar na Volta ao Algarve.
Um bom indicador, de um modo geral, de como a corrida vai ser é olhar para a lista de participantes e ver que tipo de bloco as principais equipas trazem. Neste caso nem isso é boa ideia porque estes alinhamentos são mais desenhados para a Volta ao Algarve do que propriamente para a Figueira Champions Classic, até pelos pontos que cada corrida distribui.
Olhando para os dados da orografia, claramente que 3 passagens por aquela dura subida é demais para os sprinters, mas por outro lado a última passagem ainda é relativamente longe da meta e o resto do dia é muito fácil, a corrida mal excede os 2000 metros de acumulado. Podemos então assistir a uma batalha entre as equipas dos sprinters (Trek, Quick-Step e DSM) vs as equipas dos trepadores/sprint em grupo reduzido (EF Education, Intermarche-Wanty, Alpecin). As equipas portuguesas têm tudo para ter um papel bem ofensivo, querem mostrar valor e patrocinadores na transmissão televisiva e têm aqui uma boa chance de imiscuir um ou outro ciclista no top 10, quanto mais dura a corrida for para elas melhor.
Favoritos
Rui Costa – É o maior candidato pelo que fez em Maiorca e na Comunidade Valenciana, mas por isso também é aquele com mais responsabilidade de mexer na corrida e com mais atenção por parte dos adversários, o que claramente poderá ser prejudicial. O cenário ideal seria escapar-se com mais alguns ciclistas na principal subida, arranjar aliados e atacar na pequena colina do circuito final.
Magnus Cort – No papel é um traçado incrível para o dinamarquês e a EF sabe disso e sabe que tem de deixar os sprinters mais puros para trás. Kudus, Eiking e Doull são corredores que em boa forma conseguem ajudar Cort num grupo de 20/30 unidades. A questão é que apesar da polivalência de Cort, das mais de 20 vitórias que tem na carreira apenas … 1 foi numa clássica.
Outsiders
Casper Pedersen – Deu boas indicações no Challenge Mallorca onde até Bagioli e Alaphilippe trabalharam para ele no dia em que Rui Costa ganhou. A Quick-Step sabe da capacidade do dinamarquês em passar a média montanha e pode ser uma boa carta a jogar num sprint em grupo mais reduzido.
Natnael Tesfatsion – Vem com muito ritmo das provas australianas onde deixou excelentes indicações, e onde teve de fazer alguns esforços deste género. É alguém com uma ponta final perigoso num grupo de 10 a 15 ciclistas e pode ter a ajuda de Tony Gallopin.
Quinten Hermans – Está a preparar as clássicas das Ardenas, a condição física já deve ser bastante aceitável e tem um perfil que encaixa neste terreno, ele gosta de subidas inclinadas apesar desta ser um pouco longa demais para ele e também tem uma boa ponta final, lembrando que bateu Wout van Aert na luta pelo 2º lugar na Liege-Bastogne-Liege do ano passado.
Possíveis surpresas
Fabio Jakobsen e Casper van Uden – Os sprinters mais puros da corrida, não os consigo ver a passar com os melhores a principal dificuldade do percurso e como as respectivas equipas têm alternativas não devem jogar tudo na carta do puro sprinter. A estarem no grupo são claros favoritos.
Kobe Goossens – Com a maioria do pelotão com os olhos em Rui Costa pelo português jogar em casa e estar em boa forma, o belga pode perfeitamente aproveitar para mais uma escapada vitoriosa, como já fez no Challenge Mallorca. Claramente muito confiante, não tem medo de atacar e no dia da sua segunda vitória lança a sua ofensiva num grupo curto, como o que pode ficar aqui depois das dificuldades.
Edward Theuns – Dos homens mais rápidos que até se defende na média montanha. No dia em que ganha Girmay em Valência ele só descolou na última subida, passou melhor as subidas do que Kristoff, por exemplo.
Tony Gallopin – O francês tem estado algo intermitente nas últimas épocas, mas no papel este é um percurso que lhe assenta como uma luva na perspectiva de atacar de longe para a vitória porque a parte final é algo técnica e não há um bloco fortíssimo.
Oscar Onley – Acabou 2022 a voar e a competir com Jonas Vingegaard na CRO Race, não se sabe muito bem o que esperar do britânico, espero que esteja com os melhores nas subidas, não o vejo a ganhar.
Kristian Sbaragli – Nos seus dias era ciclista para, neste traçado, estar entre os favoritos, com uma ponta final temível em grupos reduzidos, teve um 2022 complicado e parece longe dessas andanças.
Luís Gomes – Dos ciclistas de equipas portugueses mais talhados para um traçado destes, exímio na média montanha e com bom sprint, mas não costuma estar em destaque em Fevereiro.
Tiago Antunes – Pode ter marcado estes 10 dias no seu calendário como grande objectivo de início de época, não nos admirava muito, sabe que tem de andar bem aqui para dar nas vistas e eventualmente embarcar numa aventura no estrangeiro. No ano passado foi o 2º melhor entre equipas portuguesas na Volta ao Algarve e no Gran Camiño.
Hugo Nunes – Um corredor que tem por hábito andar bem o ano todo, estar bem colocado e imiscuir nos sprints, está cada vez mais completo e até poderá ter em mente a classificação da montanha na Volta ao Algarve.
Vicente de Mateos – No papel este é um percurso espectacular para um ciclista que no passado já esteve bem na discussão dos Nacionais em Espanha. O Louletano parece estar em bom plano neste momento.
António Barbio – Regressou ao ciclismo com energias renovadas após uma pausa na carreira, deu boas indicações na Prova de Abertura e já andou bem várias vezes neste tipo de terreno acidentado.
Frederico Figueiredo – Com estas pendentes não seria uma surpresa vê-lo entre os melhores e a atacar na principal subida do dia, o problema é que a corrida não acaba aí e a parte final promove algum reagrupamento sendo o ciclista da Glassdrive Q8 Anicolou um puro trepador.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Marijn van den Berg e Kevin Vermaerke.