A terminar o fim-de-semana, os classicómanos têm mais uma oportunidade de brilhar. Esta é uma prova menos dura, no entanto se for bastante atacada pode fazer com que os principais ciclistas consigam discutir a vitória entre si.
Percurso
A Gent-Wevelgem começa com 150 kms planos onde o grande perigo é o vento lateral. Há estradas expostas e uma passagem pelo tradicional De Moeren, esta é a grande oportunidade de fazer uma selecção inicial e os grandes roladores estarão certamente de olho na previsão do vento.
As dificuldades começam com 3 colinas em estrada, com a mais dura delas a ser o Baneberg (1300 metros a 6%). A primeira sequência de subidas termina com o Kemmelberg, feita em empedrado, que são 400 metros a 10,7%. Entre os quilómetros 175 e 183 há 5000 metros de empedrado/gravilha, que no mapa de prova estão assinalados como 3 sectores ao todo. Depois os ciclistas encaminham para a última sequência de dificuldades, condensada entre os quilómetros 195 e 214.
Em rápida sucessão surge o Monteberg (1000 metros a 5,4%) e o empedrado do Kemmelberg (400 metros a 10,7%), passado alguns quilómetros há o Scherpenberg, uma subida não muito dura, com 1000 metros a 2,3% e por fim a sequência decisiva do Baneberg (1300 metros a 6%) e a vertente mais dura do Kemmelberg (700 metros a 10,9%). Daí até à meta são 35 quilómetros, onde por vezes há algumas recuperações e reagrupamentos.
Tácticas
Esta é das provas mais enigmáticas do calendário internacional. Apesar de não ser extremamente dura e das principais dificuldades estarem muito longe da meta o último grande sprint que houve foi em 2014. A partir daí têm chegado sempre grupos muito pequenos resultantes de uma selecção com o vento lateral ou de fugas tardias.
Este ano parece haver menos equipas interessadas num sprint em pelotão compacto, Sam Bennett e Dylan Groenewegen estão aqui, mas o primeiro não está em boa forma e o segundo não passa bem as subidas. Pascal Ackermann também não está a 100% e resta talvez a Quick-Step com Fabio Jakobsen e a Alpecin-Fenix com Tim Merlier, mas que também tem Jasper Philipsen, bem melhor que Merlier nas colinas. Sprinters como Pedersen, Demare ou Ghirmay estão a subir bem e é provável que estejam por lá num cenário de sprint em 20/30 ciclistas.
O grande problema para estas equipas todas é a Jumbo-Visma, que neste momento está demolidora nas clássicas e que vem para a Gent-Wevelgem com a armada toda, a mesma armada que destruiu a E3. Têm a capacidade para entrar nas principais dificuldades na frente e seleccionar o pelotão a partir daí, tendo superioridade numérica nos grupos que se formem. A única maneira de eventualmente perderem a corrida é escaparem-se e haver uma super união das equipas dos sprinters que restem no pelotão.
Favoritos
A Jumbo-Visma tem repartido as vitórias entre os ciclistas mais fortes e parece-nos que amanhã poderá ser dia para Christophe Laporte, que também viu a equipa oferecer-lhe um triunfo no Paris-Nice. A atenção estará toda em Wout van Aert e o francês poderá atacar dentro de um grupo reduzido, com o belga a marcar tudo o que se mexa posteriormente. Van Aert já tem esta corrida no seu palmarés e pode querer recompensar o seu gregário de luxo.
Um dos grandes perigos para a formação holandesa será Jasper Philipsen. O belga é neste momento um dos melhores sprinters do Mundo e tem a capacidade para bater Van Aert neste campo. Sobe relativamente bem e muito provavelmente estará num grupo de 20/30 ciclistas que passem as dificuldades na frente. O maior problema para Philipsen poderá ser o apoio, já que não está Dries de Bondt nem Mathieu van der Poel, terá de confiar num excelente dia de Jonas Rickaert e de Gianni Vermeesch.
Outsiders
É incontornável o nome de Wout van Aert, tem de ser considerado um grande candidato porque é daqueles que está em excelente forma e consegue ganhar em muitos cenários. É o campeão em título e obtém quase sempre grandes resultados a correr em casa. No entanto, o grande objectivo é o Tour de Flandres, não vai correr riscos desnecessários nem desgastar-se em demasia.
Uma corrida de 250 kms é música para os ouvidos de Mads Pedersen, que provou mais uma vez na Milano-SanRemo que está em grande forma e que consegue lidar na perfeição com distâncias longas. Não apareceu na E3 Harelbeke, falhou o corte principal, mas aqui a corrida tem um perfil completamente diferente. É um dos melhores sprinters do Mundo depois de um dia duro na bicicleta e tem uma excelente equipa com ele.
A Lotto-Soudal precisa de pontos urgentemente e se há um ciclista capaz de fazer uma surpresa aqui é Victor Campenaerts. O belga apostou muito este ano nas clássicas e está a andar muito bem, fez top 10 logo na entrada das clássicas e a partir daí ou não foi aposta da equipa ou teve bastantes azares como ontem. É daqueles corredores que corre sempre ao ataque e que se lhe derem alguns metros podem já não lhe colocar a vista em cima.
Possíveis surpresas
A Quick-Step está a ter uma temporada de clássicas bastante fraca, completamente ofuscada pelo poderio da Jumbo-Visma e sabe que a melhor chance de vitória recai em Fabio Jakobsen, mas para isso têm de levar o holandês sempre muito protegido e bem posicionado, para além de marcar os ataques da Jumbo-Visma com Kasper Asgreen, Florian Senechal e/ou Davide Ballerini. Tal como Campenaerts, há mais ciclistas perigosos se lhes derem alguns metros, falamos de Matej Mohoric, Jasper Stuyven e Stefan Kung, todos a andar muito bem. Arnaud Demare pareceu estar a recuperações as boas sensações com uma grande exibição na Milano-SanRemo, veremos se o francês confirma isso aqui, ele gosta deste tipo de clássicas e a Groupama-FDJ vem com um alinhamento talhado para perseguições. Este será o último grande objectivo de Biniyam Ghirmay antes de descansar um pouco para o Giro, visto que o eritreu não vai ao Tour de Flandres, está a andar muito bem e não precisando de estar a pensar no próximo fim-de-semana pode libertá-lo para arriscar um pouco mais. Tim Merlier está na mesma categoria de Fabio Jakobsen, espera que se reunam condições para um sprint grande com 50 a 60 ciclistas. Em relação a sprinters atenção ainda a Arnaud de Lie, a Matteo Trentin (que tem um bom histórico de resultados aqui e que não vai esperar por Ackermann) e a Peter Sagan, que tem melhorado paulatinamente. Jhonatan Narvaez, Soren Kragh Andersen, Anthony Turgis e Rasmus Tiller parecem em boa forma, são nomes a considerar para um top 10, mas não estamos a ver cenários onde ganhem a corrida.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são Ivan Garcia Cortina e Tiesj Benoot.