As clássicas das Ardenas mudam-se para Bélgica, sendo a hora dos reais especialistas em subidas curtas e inclinadas ocuparem os primeiros lugares, com o famoso Mur de Huy a ser o palco de todas as decisões.

 

Percurso

Das três clássicas das Ardenas, a La Fleche Wallone é, claramente, a mais simples no entanto de ano para ano tem vindo a ter um percurso cada vez mais duro. Este ano, a partida será dada em Blegny para 202 quilómetros depois terminar no Mur de Huy.



O início é feito em sobe e desce constante com a primeira colina a aparecer ao quilómetro 44, o Côte de Tancrémont (2,9 kms a 5,4%). Seguem-se alguns pequenos topos, com os ciclistas a continuar em direção a Huy, entrando no circuito final quando estiverem percorridos 120 quilómetros.

Na primeira vez apenas será feito meio circuito, que será ultrapassado, na sua totalidade por 2 vezes, mas passam-se as 3 subidas do percurso: Cote d’Ereffe, Cote de Cherave e Mur de Huy. Analisando o circuito, este tem 31 kms e um total de 3 colinas, começando com o Cote d’Ereffe (2000 metros a 5,8%), seguindo-se o Cote de Cherave (1400 metros a 7,9%), para depois se dirigirem para Mur de Huy.

Com a passagem pela linha de meta, volta-se a fazer o circuito já referido, com o Cote d’Ereffe a estar a 18,5 kms da meta e o Cote de Cherave a apenas 8 kms do final, que deverá ser palco de muitos ataques. À entrada do Mur de Huy a luta por posicionamento será intensa, a subida tem apenas 1200 metros mas 11,9% de inclinação média. É no miolo que se decide tudo, com o final a ser num falso plano.

 

Tácticas

Todos os anos nos questionamos se vai ser mais uma Fleche Wallonne a ser decidida no Mur de Huy visto que, apesar de todos os ataques e dificuldades anteriores, assim tem sido nos últimos 15 anos. Teoricamente há uma guerra entre as equipas com bons finalizadores nestes muros e aquelas que trazem várias opções, mas sem um puro especialista. No entanto, há quase sempre perseguições inesperadas até porque para se ganhar no Mur de Huy é preciso entrar com 20 a 30 segundos de vantagem.

Se algumas equipas quiserem realmente abrir a corrida poderemos ter a Fleche Wallonne mais espectacular dos últimos anos e dizemos isto porque está cá Tadej Pogacar. O esloveno sabe que num mano a mano com Alaphilippe ou Cosnefroy no Mur de Huy deverá perder, foi 9º em 2020 e todos temos visto como ele simplesmente tem revolucionado a forma de correr, não tem medo de atacar de longe, puxar e trabalhar com quase todos. A Ineos Grenadiers é a equipa do momento, ganhou as últimas clássicas e muita coisa também depende da estratégia que irão ter amanhã. No papel o Mur de Huy é perfeito para Thomas Pidcock, a questão é que também há Michal Kwiatkowski, Carlos Rodriguez e Daniel Martinez. Será que acreditam mais nas suas chances rebentando com a corrida ou confiando na explosão de Pidcock?



Nesta vertente ofensiva estes 2 blocos muito fortes podem encontrar mais ajuda, a Jumbo-Visma sabe que Benoot e Vingegaard precisam de reduzir o grupo, a Bahrain tem várias alternativas e mesmo a Bora-Hansgrohe precisa de fazer alguma coisa para que Vlasov e Higuita tenham hipóteses.

A Quick-Step vem com a lenha toda para defender Julian Alaphilippe. Remco Evenepoel deverá servir de puro tampão a fugas visto que as pendentes mais elevadas não são do agrado do belga. Vansevenant e Van Wilder serão muito importantes, mas sozinhos não vão anular nada. Vão precisar da ajuda da Ag2r Citroen que tem um Benoit Cosnefroy na forma da vida dele e, se Michael Woods já estiver em boa forma, poderão contar ainda com a Israel-Premier Tech, que vai actuar aqui como um joker importante visto que têm Neilands, Impey, Clarke e Fuglsang para ajudar o canadiano. Outra possível ajuda será a Movistar.

Conclusão: A presença de um Tadej Pogacar em forma pode mudar muita coisa e o momento da Ineos-Grenadiers também, mas um Remco Evenepoel em pleno sacrifício por Alaphilippe pode resultar em mais um previsível final ao sprint no Mur de Huy, até porque não precisam de apanhar os atacantes, basta deixá-los a 15/20 segundos na entrada de Huy.

 

Favoritos

A preparação de Julian Alaphilippe não foi propriamente um mar de rosas, mas este é um grande objectivo da temporada e o francês mostrou muita capacidade de explosão na Volta ao País Basco. No papel tem as características perfeitas, sabe o que tem de fazer, a grande questão é como estará depois do trambolhão que deu na Brabantse Pijl.



Depois de alguns problemas físicos finalmente Benoit Cosnefroy está a conseguir alcançar o potencial que muitos viam nele. Fortíssimo na Amstel Gold Race e na Brabantse Pijl, só perdeu para a superioridade numérica da Ineos-Grenadiers, o francês já deve ter pesadelos com a equipa britânica. Cosnefroy foi 2º no Mur de Huy em 2020, apenas perdeu para um surpreendente Marc Hirschi e já deve estar farto de segundos lugares.

 

Outsiders

É inevitável colocarmos aqui alguém da Ineos-Grenadiers e como já referimos, achamos que Thomas Pidcock é aquele que mais se adequa a este traçado. Não é uma corrida muito longa, é para corredores explosivos e Pidcock até tem um perfil semelhante a Alaphilippe em alguns aspectos. Vem do ciclo-crosse, é explosivo, resta saber se está a 100% depois de um início de temporada intermitente.

Michael Woods foi uma grande desilusão na Volta a Catalunha devido a problemas de saúde e depois já se apresentou melhor na exigente Volta ao País Basco. Teve 10 dias para preparar esta corrida e como o canadiano é nas pendentes elevadas nunca pode ser descartado da luta pela vitória. Conta com Fuglsang e Clarke, 2 ciclistas muito experientes e que podem guiar Woods, algo crucial visto que a colocação é uma grande debilidade e já vimos isso custar vitórias no Mur de Huy.



Se há alguém que pode parar um final ao sprint em Huy é Tadej Pogacar, a única reserva que temos é se o esloveno não estará aqui mais a pensar na Liege-Bastogne-Liege, existe a possibilidade de vir apenas para rodar e trabalhar para Hirschi. A forma como mudou a Milano-SanRemo e o Tour des Flandres foi inacreditável, se vier com vontade de fazer o mesmo aqui é espectáculo garantido.

 

Possíveis surpresas

O histórico aqui é muito importante, mesmo por isso é que temos de mencionar Alejandro Valverde, vencedor em 2006, 2014, 2015, 2016 e 2017. A questão é que “O Bala” já não tem a mesmo explosão, a idade já pesa, e não tem tido uma temporada muito famosa. Marc Hirschi ganhou em 2020, ainda na Team DSM e o suíço tem hipóteses aqui. Até está em boa forma, vimos isso no Gran Premio Miguel Indurain, mas isso não chega, precisa de chegar ao nível de 2020. Warren Barguil é incrivelmente consistente, 9º em 2016, 6º em 2017, 4º em 2020 e 5º em 2021, a Arkea-Samsic já está numa situação confortável na corrida ao WT, corre sem pressão e o gaulês pode perfeitamente fazer novamente top 5. Na Ineos-Grenadiers é preciso também ter atenção a Carlos Rodriguez e Daniel Martinez, o estilo de corrida ofensiva dos britânicos faz com que os líderes cheguem à fase final das corrida com mais energia porque não têm de estar a lutar pela colocação e a fechar espaços que se criam. A Bahrain-Victorious tem várias opções, Dylan Teuns e Wout Poels adaptam-se muito bem ao Mur de Huy, ambos já fizeram top 10, e Damiano Caruso está em grande forma. Muita atenção a Victor Lafay, o francês da Cofidis deu um salto em frente este ano e vimos no Tirreno-Adriatico como em chegadas explosivas se conseguiu intrometer entre os melhores. Na Jumbo-Visma a melhor carta é Jonas Vingegaard, enquanto Rudy Molard e Michael Matthews vão tentar repetir o top 10 de outras edições. Apesar de não estar em grande forma, Bauke Mollema terminou no top 10 por 5 vezes nas suas últimas 7 participações, é incrível a consistência do holandês, que vai tentar repetir o resultado. Outros nomes para o top 10 serão Quentin Hermans, Diego Ulissi e Rigoberto Uran.




Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Remco Evenepoel e Juan Ayuso.

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