As clássicas das Ardenas mudam-se para Bélgica, sendo a hora dos reais especialistas em subidas curtas e inclinadas ocuparem os primeiros lugares. Conseguirá Tadej Pogacar vencer no famoso Mur de Huy?
Percurso
Das 3 clássicas da semana, esta é, para além da mais “acessível” a mais fácil de explicar. 205 quilómetros, com os primeiros 100 a terem duas pequenas ascensões, antes da entrada no circuito final. Analisando o circuito, este é constituído por 3 subidas: Cote d’Ereffe, Cote de Cherave e Mur de Huy. Analisando o circuito, este tem 37,5 kms e um total de 3 colinas, começando com o Cote d’Ereffe (2100 metros a 5,6%), seguindo-se o Cote de Cherave (1300 metros a 7,6%), para depois se dirigirem para Mur de Huy. Na derradeira volta, o Cote d’Ereffe fica a 18,5 kms da meta e o Cote de Cherave a apenas 5,5 kms do final, que deverá ser palco de muitos ataques. À entrada do Mur de Huy a luta por posicionamento será intensa, a subida tem apenas 1300 metros mas 9,7% de inclinação média. É no miolo que se decide tudo, com o final a ser num falso plano.
Tácticas
De todas as clássicas das Ardenas, tipicamente esta é aquela propensa a surpresas visto que a decisão normalmente está concentrada num esforço de 4 minutos no Mur de Huy, onde tudo pode acontecer e onde facilmente se cometem erros de julgamento. Há sempre aquela esperança de que finalmente a corrida não se decida na última subida e creio que este ano finalmente há hipóteses concretas disso acontecer. Primeiro porque Tadej Pogacar não estará seguro de que é mais explosivo do que alguns dos seus rivais, nomeadamente da nova geração e até pensei que o esloveno não fosse participar aqui tendo em conta que não ganhou a Amstel e que quer vencer a Liége.
Por isso mesmo, poderá eventualmente atacar mais de longe, no Cote de Cherave por exemplo, que não está muito longe da meta. Um ataque aí iria baralhar as contas porque vai destruir os blocos de perseguição e vai colocar no vermelho muitos ciclistas que estavam à espera do derradeiro esforço. E diria até que Remco Evenepoel poderá ser um grande aliado, é outro corredor que não está plenamente seguro no Mur de Huy e que sente que precisa de um bom avanço. O terreno rolante anterior é bom para o belga e pode haver um pacto de não agressão antes da última subida.
Favoritos
Thibau Nys – Creio que estava na cabeça dos responsáveis da Lidl-Trek o jovem promissor belga ser o líder nesta corrida, ele tem a explosão necessária e as características certas para ser muito bom nestas rampas, também pela sua base do ciclo-crosse e acho mesmo que fez uma preparação específica para isso. Esteve a um bom nível na Amstel, é preciso não esquecer que ele tem 22 anos, que foi a edição mais rápida de sempre e que a corrida tem mais de 250 kms, esta distância é muito mais a sua praia. O único risco, na minha opinião, é que o Mur de Huy fique demasiado longo para ele, não tem a experiência de fazer esta subida em competição. Na Volta a Polónia do ano passado dominou 3 chegadas em alto, mas sem esta dureza, só se assemelha ao Gran Premio Miguel Indurain do início deste mês.
Thomas Pidcock – Teoricamente, esta é a melhor prova das Ardenas para o britânico, os resultados dizem que se adapta muito melhor à Amstel Gold Race, onde tem vários pódios. Sempre pensei que Pidcock pela sua capacidade de explosão e peso tivesse mais chances aqui e continuo com o 6º lugar da estreia na retina. Acho que na Liege sabe que vai ter muitas dificuldades e tem aqui a possível salvação das Ardenas.
Outsiders
Tadej Pogacar – Na antevisão da Amstel falei sobre os riscos da época estar a ficar longa para o ciclista da UAE Team Emirates, dele eventualmente acusar o desgaste e parece-me que foi isso que aconteceu. Não vimos um Pogacar com a mesma pujança depois do ataque, ele ser apanhado após uma ofensiva a esta distância praticamente nunca aconteceu, não retirando o mérito a Evenepoel e Skjelmose. Não ajuda para a sua recuperação física depois de um Paris-Roubaix onde foi ao limite ter ido novamente ao limite numa corrida de 250 kms, acho que chega em circunstâncias diferente de 2023, ainda por cima nesse ano tinha ganho a Amstel e os níveis motivacionais estavam lá em cima.
Mattias Skjelmose – Na entrada para esta semana espectacular de ciclismo sempre achei que o dinamarquês seria a aposta da Lidl-Trek para a Liege, que tanto ele como Nys teriam carta branca na Amstel e que o belga estaria designado para liderar aqui. A vitória de Skjelmose na Amstel não só lhe deu mais confiança e confirmou um grande momento de forma como abriu as portas para ele não trabalhar aqui porque tem uma oportunidade única de conquistar as 3 corridas numa semana. Creio que Skjelmose estará envolvido numa estratégia de neutralizar e seguir Pogacar caso o campeão do Mundo ataque antes, mas desta vez não vai colaborar como na Amstel com a desculpa de ter Nys no grupo e isso pode custar o sucesso do ataque.
Remco Evenepoel – No papel, esta é a pior clássica da semana das Ardenas para o belga da Soudal e é fácil de perceber porquê, ele não tem a explosão em subida necessária para triunfar no Mur de Huy, na sua única participação previamente foi 43º. Evenepoel precisa de uma corrida que não se decida aí e só está nesta categoria porque este ano está cá Pogacar e tudo pode acontecer. Tudo pode abrir um pouco mais cedo e aí pode usar o seu grande motor e capacidade física para igualar as coisas, de lembrar que devido ao acidente que teve na pré-época chega aqui sem grande desgaste.
Possíveis surpresas
Lennert van Eetvelt – Não sei muito bem o que esperar, mas tenho o feeling que o belga da Lotto vai ser um protagonista. A ProTeam tem andado relativamente bem nesta Primavera e o promissor belga é um ciclista explosivo, bom trepador e que tem bons resultados em clássicas como a Clássica San Sebastian.
Julian Alaphilippe – Nunca pode ser descartado, o irreverente francês foi o primeiro grande favorito a iniciar as hostilidades na Amstel Gold Race, mas depois partiu o motor e ficou para trás. Mostrou que ainda tem alguma explosão e que ainda tem ambição, é um ex-campeão desta corrida e conhece este final como poucos.
Maxim van Gils – Tem sido uma sombra do que mostrou no ano passado na Lotto, no entanto de todas as corridas esta é a mais curta em extensão e aquela onde pode mostrar a sua capacidade de explosão mais facilmente.
Romain Gregoire – Muito pequeno e explosivo, o gaulês tem uma fisionomia excelente para este final. Creio que a Groupama-FDJ tem uma boa equipa para o colocar em posição e no ano passado já fez 7º, um grande resultado para uma estreia.
Tiesj Benoot – Regularidade é com ele, um corredor que tem estado a andar bastante bem desde Março. Claramente recuperou sensações e foi uma preciosa ajuda na Amstel para Wout van Aert. Aqui terá a chance de liderar numa corrida em que fez top 10 em 2023 e 2024, creio que é possível um resultado semelhante.
Joe Blackmore – Os resultados enganam um pouco, tem mostrado sinais de que tem capacidade e ambição de andar com os melhores, falta-lhe ainda resistir mais um pouco com eles. O jovem britânico tem assinado boas exibições e até acho que este terreno mais íngreme é melhor para as suas capacidades.
Dylan Teuns – Estamos a falar de um ex-vencedor desta corrida, que aparece às vezes quando menos se espera e que não está num momento de forma assim tão mau. Não seria uma surpresa completa vê-lo conseguir aqui um bom resultado.
Lenny Martinez – Com Bilbao e Buitrago neste momento completamente fora de forma pode passar por Lenny Martinez a solução da Bahrain. O francês foi 5º na Volta a Catalunha e ganhou 1 etapa no Paris-Nice, tem pouco mais de 50 kgs, o que na teoria o favorece ainda mais nas rampas acima de 10%.
Enric Mas – Um puro trepador que pode beneficiar com uma corrida mais rápida e atacada, ele gosta de subidas curtas e íngremes noutras corridas, não tem motivo para não andar bem aqui, pensando que está em boa forma e que foi 17º em 2023. Precisa de andar sempre bem colocado.
Quinten Hermans – Está mais liberto sem Mathieu van der Poel e estamos a falar de alguém que fez top 20 no ano passado aqui, que já fez pódio na Liege, top 20 na Amstel Gold Race. Pode claramente integrar o top 10 final.
Oscar Onley – A sua especialidade são estes finais mais curtos e explosivos, é alguém que sente maior dificuldade com subidas mais longas. De recordar que ele faz 2º em Willunga Hill e 2º em Jebel Jais, na última das subidas apenas atrás de Pogacar.
Louis Barré – Foi uma das grandes surpresas da Amstel Gold Race e parece estar no momento de forma da carreira, se fizer uma corrida inteligente pode fazer top 10 perfeitamente.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Clement Champoussin e Mauro Schmid.