As clássicas das Ardenas chegam ao fim com mais um dos Monumentos do ciclismo! A Decana das clássicas marca o fim desta fase da temporada antes da entrada em cena das Grandes Voltas.
Percurso
O novo final da Liège-Bastogne-Liège veio para ficar e, pelo terceiro ano consecutivo, o pelotão terminará no centro da cidade belga e não em Ans, após 257 quilómetros.
Poucos são os quilómetros planos nesta clássica no entanto o início é o mais fácil com a primeira subida categorizada a aparecer apenas ao quilómetro 73, sendo o Cote de La Roche-en-Ardenne (2,7 kms a 5,7%). O Cote de Saint Roch (1000 metros a 10,6 %) fica, sensivelmente, a meio do percurso, antes dos 130 quilómetros finais de loucos.
Tudo começa com o Cote de Mont-le-Soie (1,7 kms a 5,4%), seguindo-se, num espaço de 25 quilómetros, o Cote de Wanne (3,5 kms a 5%), o Cote de Stockeu (1000 metros a 12,8%), o Col de la Haute-Levée (2,2 kms a 7,1%) e o Col du Rosier (4,4 kms a 5,7%).
Para os derradeiros 50 quilómetros ficam a faltar 5 subidas, as mais duras e onde tudo se deve decidir. O Côte de Desnié (1,6 kms a 7,5%) abre as hostilidades da parte final e, logo de seguida, há o famoso Cote de la Redoute (2 kms a 8,6%) e uma colina de 1100 metros a 6,1% em Hornay.
A entrada nos últimos 25 quilómetros faz-se com o Cote de la Roche-aux-Faucons (1300 metros a 10,5%) e, para terminar, existem 1200 metros a 6,3%, ficando a cerca de 10 quilómetros para a chegada. Segue-se uma longa descida até aos derradeiros 2 quilómetros totalmente planos A última curva fica a 600 metros da chegada antes de uma reta da meta em ligeira curva para a esquerda.
Tácticas
Quem vai assumir o controlo do pelotão e da corrida? É uma boa questão, desta vez vamos aos principais blocos (aqueles que consideramos que podem ter uma influência directa) um a um e o que eles podem estrategicamente pensar e fazer.
Bahrain-Victorious – Terão outra responsabilidade e Dylan Teuns é um ciclista mais marcado depois do triunfo na Fleche Wallonne. Poels, Landa, Caruso, Haig e Mohoric é um bloco assustador, mas nenhum destes corredores parece propriamente a 100%. Se tiverem um bom dia têm tudo para ser uma das forças dominantes.
Groupama-FDJ e Cofidis – Daquelas equipas que provavelmente vão correr na expectativa e que têm tudo para teoricamente atacar de longe. Os primeiros têm Molard, Pacher e Madouas, os segundos Guillaume Martin, Ion Izagirre e Jesus Herrada. Devem conseguir meter alguém no top 10.
Ineos-Grenadiers – Depois do sucesso no empedrado e no início das Ardenas, o bloco não parece tão forte. O problema é que está a faltar um Thomas Pidcock em boa forma, o britânico mostra uma inconsistência incrível. Rodriguez é muito promissor, mas ainda não dá garantias, o melhor que têm a fazer é colocar Daniel Martinez no melhor grupo possível.
Quick-Step – Alaphilippe ainda não está a 100% e não deve aguentar uma corrida realmente endurecida. Evenepoel foi à Fleche e não foi utilizado, o que não fez sentido algum e o belga também não deve gostar destas pendentes empinadas. Vansevenant vai seguir os primeiros ataques.
Movistar – A prestação de Valverde no Mur de Huy foi surpreendente, o espanhol ainda não tinha mostrado este nível. Enric Mas parece bem e deverá marcar os movimentos perigosos, mas não é de esperar que sejam tacticamente activos.
Israel-Premier Tech – Finalmente vimos um Michael Woods perto do melhor nível na Fleche, são boas indicações para uma equipa que está a andar melhor. Fuglsang, Impey, Houle e de Marchi é um bloco forte para fazer perseguições, a certo ponto deve ser esse o papel de uma formação que também quer manter Woods bem colocado.
Jumbo-Visma – Wout van Aert é um grande perigo e certamente há quem o queira eliminar com medo da ponta final do belga. O problema para os outros é que Vingegaard e Benoot também estão e podem marcar as principais ofensivas, a esperança é cansar van Aert ao máximo.
DSM – Bardet parece perto do seu melhor, mas tirando Soren Kragh Andersen o francês merecia melhor companhia.
UAE Team Emirates – Sem a presença de última hora de Tadej Pogacar (devido ao falecimento do seu sogro), a estratégia da equipa será completamente diferente. Bennett, Soler, Hirschi e Ulissi terão muito mais liberdade do que aquilo que esperavam. Se os dois primeiros deverão ser lançados de longe, os dois últimos poderão ser guardados para a parte final devido à sua boa ponta final.
Favoritos
Porque não pensar numa nova vitória da Bahrain-Victorious? A equipa árabe está a realizar uma grande Primavera, já venceu um Monumento e vem de vencer nas Ardenas. Uma adição ao bloco de quarta-feira é Damiano Caruso, ele que dominou o “seu” Giro di Sicilia, o bom momento de forma ainda estará presente. Se há monumento que o veterano italiano pode vencer é este, esta é a melhor clássica para os trepadores. Não é lento em grupos restritos, mas preferirá chegar sozinho.
Daniel Martinez tem feito uma temporada fenomenal, o 5º posto na Fleche Wallonne confirmou isso mesmo. O mais provável é a Ineos Grenadiers tentar forçar o ritmo com Geraint Thomas, Martinez gosta destas corridas duras e pode ser um aliado para outros corredores mais atacantes.
Outsiders
Consideramos que pela sua superioridade num possível sprint final, será muito complicado Wout van Aert ganhar, mesmo que sobreviva. Por isso mesmo, é crucial que Tiesj Benoot esteja no grupo. Com este mesmo final o belga já fez top 10 por 2 vezes e com toda a gente a olhar para van Aert pode-se escapar para a vitória visto que não é o centro das atenções.
Dylan Teuns está simplesmente a andar muito bem, o triunfo na Fleche Wallonne foi prova disso mesmo. Com este bloco fortíssimo a trabalhar para ele não é de descartar nova vitória, tirou um grande peso de cima e isso normalmente liberta os ciclistas para grandes exibições, veremos.
Não referimos a Bora-Hansgrohe na parte táctica, mas a equipa alemão tem um grande trunfo para jogar que se chama Aleksandr Vlasov. O russo está a andar muito bem e este traçado até lhe assenta melhor relativamente a Quarta-Feira. Com um sprint final frágil, vai ter de se escapar de longe.
Possíveis surpresas
A Quick-Step não está a atravessar uma fase famosa e Julian Alaphilippe não parece estar a 100%, se estivesse sequer perto disso tinha feito bem melhor no Mur de Huy, uma subida que tão bem está para ele. Remco Evenepoel também não se adapta bem a pendentes inclinadas e aqui há muitas, se quiser fazer alguma coisa de relevante tem de mexer na corrida muito cedo. Na forma em que está Wout van Aert deverá passar as principais dificuldades na frente, Mathieu van der Poel já esteve recentemente num 2º grupo perto da vitória aqui. O problema é que ninguém vai querer trabalhar com ele, na aproximação à meta vai ser atacado por todos os lados, já vimos isto a acontecer e não acabou de feição para ele. Romain Bardet é um forte candidato ao pódio, mas como estará sozinho nos últimos 30/40 kms um triunfo é muito complicado. Se a Ineos quer jogar à superioridade numérica precisa que Carlos Rodriguez esteja a 100%, bem como Thomas Pidcock. Com a irregularidade do britânico, até acreditamos mais no espanhol. Com os olhos em Dylan Teuns é uma boa oportunidade para Wout Poels, que na Fleche Wallonne trabalhou para Teuns, que gosta deste percurso e que até já ganhou este Monumento. Alejandro Valverde teve uma boa chance no Mur de Huy, aqui será mais complicado para o Bala, que tem uma relação de amor-ódio com esta corrida. Com mais de 4000 metros de acumulado é tempo para os trepadores aparecerem aqui, como sempre acontece. Falamos de Guillaume Martin, Enric Mas, Domenico Pozzovivo ou Jonas Vingegaard, todos fortes candidatos ao top 10. Michael Woods reapareceu bem esta semana, mas mesmo assim ainda não parece a 100%, a sua equipa protegeu-o muito bem na Quarta, só assim poderá repetir o top 6. Benoit Cosnefroy entrou para a Fleche Wallonne como um grande candidato, mas caiu com estrondo num grande objectivo, o francês não gosta propriamente de corridas com mais de 4000 metros de acumulado. Para o top 10 atenção ainda a Ruben Guerreiro, Rudy Molard, Valentin Madouas, Bauke Mollema e Warren Barguil.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Marc Hirschi e Matej Mohoric.