Está aí o primeiro Monumento da temporada! “La Primavera” marca o início de uma das fases mais preenchidas da temporada, onde se espera muita emoção e espectáculo.

 

Percurso

Com praticamente 300 quilómetros, a Milano-Sanremo é a prova mais longa da temporada velocipédica. Voltando à sua data tradicional, o percurso é praticamente o mesmo de sempre. Como é habitual, a primeira dificuldade é o Passo del Turchino (2,4 kms a 5,4%).



É a partir dos 240 kms que as coisas complicam, com a entrada nos Capos. Ao km 240,6 o Capo Mele (2 kms a 3,7%), ao km 245,3 o Capo Cervo (1,2 kms a 3,7%) e o mais complicado surge ao km 253,8, o Capo Berta tem 1700 metros a 7% de inclinação média. Depois vem outra fase da corrida, a entrada na Cipressa, que é praticamente a derradeira oportunidade de deixar sprinters para trás, principalmente devido ao comprimento da subida, com 5500 metros, já que a inclinação média é somente de 4,1%.

Por fim temos o Poggio, 3600 metros a 3,7% apenas a 5,5 kms da meta, parece fácil mas depois de 280 kms qualquer inclinação na estrada custa. Segue-se uma descida rápida e técnica, onde também se podem fazer diferença, antes da sempre dramática recta final na Via Roma.

 

Tácticas

Entre ataques tardios e sprints em grupos restritos geralmente é um lote de 50 ciclistas a estar na luta pela Milano-SanRemo. No entanto, acreditamos que este ano a corrida seja bem diferente, tudo por causa de um ciclista: Tadej Pogacar. O prodígio esloveno está em grande forma, sabe que tem aqui uma excelente oportunidade de somar um Monumento ao currículo e a conjuntura é favorável, Pogacar já mostrou que para ele a forma como ganha é quase tão importante como ganhar de todo. É muito raro um ciclista poder mudar assim a forma como se corre uma prova.

O grande problema para Pogacar será livrar-se de Wout van Aert, outro corredor em grande forma, que consegue fazer de tudo, e que tem uma melhor ponta final relativamente ao esloveno. Independentemente disso, a UAE Team Emirates vem com uma equipa forte e sabe que tem de endurecer ao máximo a corrida, e o mesmo se aplica à Jumbo-Visma para eliminar a concorrência de Jakobsen e Philipsen, principalmente. Depois do que aconteceu em 2021, Wout van Aert estará mais atento na parte final.



Com isto tudo, obviamente que há espaços para surpresas, como em 2021, para um grupo se destacar no Poggio e um ataque na descida ou na parte plana de um nome mais secundário resultar, mas consideramos menos provável porque vemos uma Cipressa a, eventualmente, ser acelerada como poucas vezes vimos. As ausências de Alaphilippe, Colbrelli e Stuyven também reduzem, e muito, o lote de candidatos, até porque deixa a Quick-Step sem grandes alternativas.

Partindo do princípio que a corrida vai ser acelerada e muito atacada na Cipressa, se Pogacar atacar aí e um grupo restrito for com ele o provável é não haver uma boa colaboração e aí os sprinters podem juntar-se e recuperar antes do Poggio. Se a selecção for feita simplesmente a ritmo ainda haverá gregários (possivelmente 4 UAE e 3/4 Jumbo-Visma) num grupo de 30/40 e aí reina a lei da sobrevivência e da superioridade numérica. Neste cenário até é mais provável um vencedor surpresa (estilo Covi ou Laporte).

 

Favoritos

Em quase todos os cenários em que a corrida se desenrola Wout van Aert é um possível vencedor, e quem sabe o belga não vai atacar na parte final para garantir o triunfo. Salvou o Paris-Nice de Primoz Roglic, agora é a vez do esloveno lhe pagar o favor e ser fundamental nesta corrida, quer seja a marcar Pogacar ou a perseguir movimentos perigosos. De qualquer maneira, quanto mais reduzido o grupo for, melhor para van Aert, que não tem garantias de bater os melhores sprinters do Mundo ao sprint.



Não era para vir à corrida, mas também a Dinamarca não era para estar presente no Europeu de 1992 e ganhou. Mads Pedersen é um substituto de luxo face à ausência de Jasper Stuyven, mas há uns dias a grande questão era como é que o ciclista da Trek-Segafredo não vinha tendo em conta as suas características e a forma em que está. Pedersen está a subir como nunca, sabe posicionar-se muito bem e adora corridas longas e duras.

 

Outsiders

Soren Kragh Andersen poderá ser um perigo à solta nas estradas italianas. O ciclista da Team DSM ficou muito perto do triunfo em 2021 e os testes que fez no Paris-Nice foi claramente a preparar este momento. O que fez na última etapa foi impressionante e o dinamarquês sabe que eventualmente terá apenas 1 oportunidade para atacar e a partir daí dar tudo, pois não tem ponta final para disputar a vitória com os melhores.

Com o que tem demonstrado este ano não descartaríamos Christophe Laporte, um ciclista com boas características para esta corrida e que pode beneficiar do facto de não ser um grande candidato. Pode atacar para deixar van Aert mais confortável ou marcar movimentos perigosos na descida final, sendo que é possível ser o mais rápido num grupo de 3 ou 4 elementos que ganhe alguma distância.



Num cenário idêntico ao de Laporte, temos que mencionar Alessandro Covi. O italiano está a ter um ano tremendo, já levantou os braços por duas vezes, e tem sido um dos braços direitos dos seus líderes noutras competições. Aproveitando a marcação entre os grandes candidatos, pode antecipar os ataques e escapar num pequeno grupo, onde será sempre um dos corredores mais rápidos.

 

Possíveis surpresas

A UAE Team Emirates deverá fazer a corrida, mas daí a retirar dividendos é outra coisa. Não estamos muito bem a ver como possam ganhar porque têm de gastar alguns elementos a fazer a selecção e a partir daí a Jumbo-Visma tem Primoz Roglic para marcar Tadej Pogacar, sendo que Wout van Aert até pode ficar mais atento a Alessandro Covi e Christophe Laporte a Davide Formolo. A chave para um possível insucesso da UAE Team Emirates será sempre a Jumbo-Visma. A Ineos Grenadiers apresenta várias alternativas, sendo que a que levanta mais expectativas é Thomas Pidcock, apesar de ainda não ter mostrado muito em 2022. Filippo Ganna é a grande esperança transalpina e espera ter liberdade da equipa para atacar na parte final, enquanto Ethan Hayter está longe do que mostrou em 2021. Como a corrida se perfila a Movistar tem em Ivan Garcia Cortina e Alex Aranburu 2 fortes candidatos ao top 10, ambos estão a andar bem e se dão bem com estas corridas. Veremos do que é capaz Alberto Bettiol, o italiano pouco correu em 2022, devido a ter contraído COVID-19 mas esteve bem na Milano-Torino e, quando menos se espera, consegue surpreender. Na Ag2r, na Bahrain e na BikeExchange ninguém nos parece incrível, sendo que na Wanty, Alexander Kristoff não está naquela grande forma e para Biniam Ghirmay será cedo demais vencer um Monumento destes.  Entre os sprinters Jasper Philipsen é dos que melhor passa a montanha, mas abandonou o Paris-Nice por doença, e Bryan Coquard é um forte candidato ao top 5 por tudo o que tem mostrado. Cremos que para Fabio Jakobsen será impossível a vitória, sendo que Arnaud Demare e Nacer Bouhanni têm mais algumas chances, ainda que não muitas, de estar a disputar o final. Danny van Poppel e Stefano Oldani são mais que sprinters, estão a subir muito bem esta temporada e continuam com uma excelente ponta final, pelo que podem surpreender. Na Quick-Step o líder até poderá ser Zdenek Stybar, sendo que Mathieu van der Poel chega aqui completamente sem ritmo competitivo e um triunfo será uma missão impossível, apesar do holandês ter estado a treinar bem nas últimas semanas e a Peter Sagan ainda falta muito para chegar à melhor forma.




Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Anthony Turgis e Luka Mezgec.

By admin