Está aí o primeiro Monumento da temporada! “La Primavera” marca o início de uma das fases mais preenchidas da temporada, onde se espera muita emoção e espetáculo.

 

Percurso

Com praticamente 300 quilómetros, a Milano-Sanremo é a prova mais longa da temporada velocipédica. O percurso é praticamente o mesmo de sempre, e como é habitual, a primeira dificuldade é o Passo del Turchino (2,4 kms a 5,4%).



É a partir dos 240 kms que as coisas complicam, com a entrada nos Capos. Ao km 240 o Capo Mele (2 kms a 3,7%), ao km 247,2 o Capo Cervo (1,2 kms a 3,7%) e o mais complicado surge ao km 255, o Capo Berta tem 1600 metros a 7,2% de inclinação média. Depois vem outra fase da corrida, a entrada na Cipressa, que é praticamente a derradeira oportunidade de deixar sprinters para trás, principalmente devido ao comprimento da subida, com 5500 metros, já que a inclinação média é somente de 4,1%.

Por fim temos o Poggio, 3600 metros a 3,7% apenas a 5,5 kms da meta, parece fácil mas depois de 285 kms qualquer inclinação na estrada custa. Segue-se uma descida rápida e técnica, onde também se podem fazer diferença, antes da sempre dramática recta final na Via Roma.

Tácticas

Em termos de espectáculo este é o Monumento mais dicotómico, por um lado a corrida é bastante monótona durante cerca de 6 horas, por outro lado a expectativa vai-se acumulando para um bloco de 30 minutos que é dos mais emocionantes na temporada. Visto como o Monumento dos sprinters, desde 2016 que não há um sprint com mais de 10 unidades, quando Demare venceu. É preciso relembrar o que aconteceu em 2022, com Tadej Pogacar à cabeça a UAE Team Emirates partiu por completo a corrida na Cipressa, ficando um grupo de 30 unidades na frente, já sem a maioria dos sprinters, algo que não é usual. No Poggio, Pogacar tentou arrancar e ficaram 10 unidades na frente, posteriormente Matej Mohoric fez uma descida memorável para se destacar e não mais ser apanhado.

Este ano acredito que a táctica será praticamente a mesma, desta vez a UAE Team Emirates tem ainda mais condições para fazer estragos no pelotão, a equipa que acompanha Pogacar é ainda mais forte, mesmo com a ausência de Formolo, substituído por Tim Wellens. No ano passado faltou aquele elemento extra que preparasse o ataque de Pogacar no Poggio, a equipa espera que esse elemento seja Grossschartner. O esloveno está numa forma inabalável e todos sabem que a responsabilidade de endurecer a corrida é da sua equipa, não espero grandes ataques de ciclistas secundários na Cipressa até porque o ritmo não vai dar para isso.



Aos sprinters cabe tentar aguentar a velocidade que será certamente muito elevada e esperar que algum colega também fique com eles até ao final. No papel o grande rival de Pogacar será Wout van Aert, creio que uma surpresa só poderá acontecer se estes dois pesos pesados se ficarem a marcar depois do Poggio e alguém aproveite isso para escapar.

De salientar que o Paris-Nice e o Tirreno-Adriatico fizeram estragos, de fora por doença ou consequência de quedas estão Thomas Pidcock, Michael Matthews, Giacomo Nizzolo e Greg van Avermaet.

 

Favoritos

Tadej Pogacar – Vejo esta como uma das grandes oportunidade para o esloveno ganhar esta corrida, pela equipa que tem junto de si, pelo estado de forma simplesmente incrível em que está e pelo facto de muitos dos maiores rivais no papel não estarem no seu melhor, ou aparentemente ainda longe do seu melhor. O vento parece estar favorável aos ataques, o que é outro factor importante para o esloveno. Não considero que Pogacar tenha de chegar isolado, acredito que num sprint a 5/6 ou mesmo num duelo com Wout van Aert ou Mathieu van der Poel seja realmente apertado e equilibrado e tudo pode acontecer.

Mads Pedersen – É um verdadeiro especialista das provas longas o dinamarquês, é incrível como no ano passado não estava escalonado para vir a uma corrida que no papel é muito boa para ele apesar de já ter dito publicamente que não gosta dela. O antigo campeão do Mundo foi 6º em 2022 mesmo não tendo feito uma preparação específica, agora em 2023 é diferente, este é um dos objectivos do ano e tudo o que seja uma corrida rápida acima dos 230 kms é do agrado de Pedersen, que tem um antigo vencedor, Jasper Stuyven, ao seu lado.

 

Outsiders

Wout van Aert – Uma das grandes questões desta corrida, a condição física do vencedor de 2020. Wout van Aert falhou a Strade Bianche por problemas de saúde e só começou a época no Tirreno-Adriatico, por um lado está com a preparação algo atrasada, por outro lado não chega com tanto desgaste. No Tirreno pareceu muito bem na penúltima etapa, mas também porque nas outras não chegou a ir ao limite, Alaphilippe diz que foi o ciclista que mais o impressionou nesse dia. Num grupo de 5/6 será sempre, no papel, o melhor sprinter, mas também já o vimos a perder sprinters que pareciam ganhos.



Biniam Girmay – Foi 12º aqui na estreia e tem tudo para melhorar esse resultado. A preparação decorreu sem problemas de maior e o eritreu impressionou em Valência e nos 2 primeiros sprints do Tirreno. Depois claramente tenho a sensação que nos 2 últimos dias de competição não quis arriscar qualquer queda pois este é um dos grandes objectivos do ano para ele. Girmay passa bem as subidas, mas gosta mais de esforços mais explosivos do que uma Cipressa e um Poggio feito a full gas, é preciso não esquecer que ele tem evoluído muito bem e que a Intermarche-Wanty é uma das equipas do momento.

Matej Mohoric – Alguns dirão que é impossível um raio cair 2 vezes no mesmo sítio, no caso de Mohoric não acho impossível porque esta corrida encaixa-se como uma luva no perfil do esloveno, ora vejamos, uma distância muito grande que aumenta o desgaste (maioria das vitórias de Mohoric são acima dos 200 quilómetros), as subidas não são muito inclinadas e uma descida técnica a guiar os ciclistas para a meta. O vencedor de 2022 mencionou numa entrevista que até se sente melhor do que no passado e realmente tanto na Kuurne como na Strade Bianche deu excelente indicações, mostrou-se sempre muito forte. Como todos estão à espera que ataque na descida pode muito bem variar e surpreender no terreno plano.

 

Possíveis surpresas

Mathieu van der Poel – A definição do ciclista “caixinha de surpresas”, mas pelas evidências não pode estar entre os maiores favoritos. Ficou aquém do esperado na Strade Bianche apesar de ter atacado a certa altura, fez um Tirreno-Adriatico muito longe das expectativas e recentemente disse que tem continuado a ter alguns problemas nas costas, o que numa corrida de quase 300 kms não é o ideal. Ainda assim,  já mostrou que por vezes consegue resultados geniais quase do nada.

Julian Alaphilippe – Não foi um início de época tremendo e sim, a condição física do francês parece estar a melhorar com os dias de competição. Só que para ganhar esta corrida perante um Pogacar como está precisa de estar a 100%, acho que Alaphilippe ainda não está aí e não gostei de o ver na Strade Bianche a ficar para trás tão cedo numa corrida tão boa para as suas características.

Arnaud Demare – Eu não descartaria o francês da Groupama-FDJ, uma equipa que de forma surpreendente deixa de fora Stefan Kung e Valentin Madouas, ambos num grande momento. Isto porque o foco é total em Demare, vencedor em 2016. Os resultados até agora em 2023 são fracos, só que em 2022 não eram e ele esteve na discussão no final e para além disso parece-me que a condição física é bem melhor do que aparenta. Espera que Geniets e Pacher estejam com ele na fase decisiva.



Jasper Philipsen – É dos puros sprinters daqueles que melhor passa as subidas, o único problema para ele chama-se UAE Team Emirates, se o vento estiver de costas e a Emirates fizer tudo bem no endurecimento da corrida não estou a ver Philipsen a sobreviver.

Fernando Gaviria – Esta entrada na Movistar quase que fez Gaviria renascer das cinzas, certamente que deu outro foco ao colombiano sentindo que é quase a última grande oportunidade da carreira, coloco-o na mesma categoria de Philipsen, alguém que está em muito boa forma e que nos seus dias faz boas exibições nas subidas, mas que não estará num grupo de 10, só num grupo de 20/30.

Filippo Ganna – Sem Thomas Pidcock, a Ineos-Grenadiers ficou sem grandes opções, Ganna será a melhor delas pela condição física em que está. Até considero que as características desta corrida são boas para Ganna, as subidas não são muito inclinadas como o italiano gosta. Sabe que tem de ganhar isolado e que não tem a explosão de Pogacar, ou antecipa ou joga tudo em aproveitar um reagrupamento após a descida.

Magnus Cort – Não é alguém que goste propriamente da Milano-SanRemo, mas esta “nova corrida”, seleccionada pela UAE Team Emirates é muito boa para as suas características porque se livra dos puros sprinters. O dinamarquês está a fazer o melhor arranque de temporada da sua carreira, as indicações são excelentes e a própria EF como equipa está a andar muito bem, é outro corredor que não gosta de subidas inclinadas.

Danny van Poppel – Sam Bennett está na lista de partida, mas esqueçam lá isso quando a corrida for acelerada. A esperança é que o desfecho seja um grupo de 20/30 e nesse caso muito cuidado com Danny van Poppel, o neerlandês passa as subidas melhor do que muitos pensam e consegue colocar-se muito bem.

Arnaud de Lie e Caleb Ewan – O belga começou a temporada a todo o gás e ficaram todos boquiabertos com a sua exibição na Omloop. No entanto, desiludiu muito no Paris-Nice, não esteve sequer perto de uma vitória quando vinha moralizado. Nunca fez uma corrida com esta distância, é a sua estreia em Monumentos. Já Ewan está na situação oposta, parece numa forma mediana, mas conhece muito bem esta corrida e já esteve na discussão da mesma. A estratégia será a mesma, tentar aguentar o máximo tempo que consigam com os melhores.

Anthony Turgis – Uma caixinha de surpresas que no ano passado foi 2º e que por vezes obtém resultados quando não se dá nada por ele.

Jasper Stuyven – Há a sensação que é um ciclista dos grandes momentos, surpreendeu tudo e todos em 2021 e já fez grandes exibições no Paris-Roubaix, caixinha de surpresas número 2.

Alberto Bettiol – Dentro de uma EF num grande momento, ou faz 1º ou faz 30º, caixinha de surpresas número 3.



Jan Tratnik – Não estará na lista de muita gente, é um feeling muito particular que tenho. Nas provas que se disputaram até agora o esloveno tem tido sempre um papel muito importante na Jumbo-Visma. Não seria uma surpresa completa se passasse o Poggio com os melhores, e caso Wout van Aert também o faça, dará a superioridade à equipa neerlandesa. Já se viu que depois do Poggio tudo pode acontecer e Tratnik é um corredor muito inteligente que adora corridas longas, estou a ver um cenário plausível onde ganha na Via Roma.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Alex Aranburu e Magnus Sheffield.

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