Foto: POOL GETTY/DEWAELE/LaPresse

Está aí o primeiro Monumento da temporada! “La Primavera” marca o início de uma das fases mais preenchidas da temporada, onde se espera muita emoção e espetáculo. Conseguirá Mathieu van der Poel revalidar o título?

 

Percurso

Com praticamente 290 quilómetros, a Milano-Sanremo é a prova mais longa da temporada velocipédica. O percurso é praticamente o mesmo de sempre, e como é habitual, a primeira dificuldade é o Passo del Turchino (2,4 kms a 5,8%). É a partir dos 230 kms que as coisas complicam, com a entrada nos Capos. Ao quilómetro 230 o Capo Mele (2 kms a 3,7%), ao quilómetro 242,4 o Capo Cervo (1,5 kms a 2,4%) e o mais complicado surge ao km 255, o Capo Berta tem 1500 metros a 6,7% de inclinação média.

Depois vem outra fase da corrida. A entrada na Cipressa, que é praticamente a derradeira oportunidade de deixar sprinters para trás, principalmente devido ao comprimento da subida, com 5500 metros, já que a inclinação média é somente de 4,1%. Por fim, temos o Poggio, 3600 metros a 3,7% a apenas a 5,5 quilómetro da meta. parece fácil mas depois de 280 kms qualquer inclinação na estrada custa. Segue-se uma descida rápida e técnica, onde também se podem fazer diferença, antes da sempre dramática reta final na Via Roma.

Tácticas

As pistas deixadas pelos grandes favoritos indicam que poderemos ter uma das Milano-Sanremo mais duras de sempre, até se fala que pode ser batido o recorde da Cipressa, ascendendo a penúltima subida deste Monumento, eventualmente, em menos de 9 minutos. O que temos vindo a assistir nos últimos anos é uma contradição muito interessante, os sprinters estão a subir melhor do que nunca e só houve um final ao sprint 1/2 vezes na última década. Acho que Tadej Pogacar talvez veja esta como uma oportunidade de ouro para levar esta clássica para casa e, nos próximos anos, praticamente nem aparecer por cá visto que já estaria no seu currículo e esta é uma corrida relativamente aborrecida para o estilo de correr do esloveno.




É que vejamos, do grupo selecto que no ano passado foi embora no Poggio, Mathieu van der Poel ninguém sabe bem como está, faz aqui a sua estreia em 2024 na estrada, Filippo Ganna parece longe da melhor forma, e Wout van Aert nem sequer está. Se juntarmos a isto a ausência de Caleb Ewan, o desaparecimento de Julian Alaphilippe, a má forma de Biniam Girmay ou Arnaud Demare, teoricamente não haverá assim tantos adversários quanto isso que estejam ao nível de Pogacar e o primeiro passo tem de ser livrar-se dos sprinters. Pela responsabilidade, creio que na parte plana, a Alpecin-Deceuninck deve ajudar um pouco, depois cabe à UAE Team Emirates endurecer as subidas ao máximo, e digo desde já, vou desenvolver mais à frente, que Pogacar merecia um alinhamento mais forte consigo.

 

Clima

Condições quase ideias para a prática da modalidade, 15 a 18 graus, algum sol e vento fraco, com rajadas nunca superiores a 25 km/h. Um detalhe importante, o vento, apesar de fraco, estará tendencialmente de costas ao longo da costa.

 

Favoritos

Tadej Pogacar – Pode ser a oportunidade de uma vida para levar de vencida o “Monumento dos sprinters”. O esloveno começou a época a voar com uma impressionante vitória na Strade Bianche, de facto mudou a forma como se corre de uma forma global. Pogacar sabe que têm de endurecer a corrida ao máximo para exponenciar as diferenças no Poggio, daí eu estar desiludido com a equipa da UAE, tirando Wellens e Ulissi ninguém tem propriamente experiência de trabalho nestas circunstâncias. Isto era uma corrida que exigia a presença de Nils Politt, por exemplo. Nomes como Covi e Hirschi não são propriamente gregários, é uma função que tem uma ciência muito particular, e Isaac del Toro nunca fez esta quilometragem e não é muito explosivo, não é fiável. Na minha opinião, seria um alinhamento muito mais forte com Nils Politt, Pavel Sivakov e Mikkel Bjerg para o que a UAE pretende fazer com a corrida, ainda assim pode ser que Pogacar faça magia.

Mathieu van der Poel – A estratégia será a mesma de 2023, seguir Pogacar até onde puder e depois fazer a diferença se conseguir, também com a desculpa que tem Philipsen para um sprint. O facto de ser o primeiro dia de competição do neerlandês na estrada levanta algumas questões, mas é como ele diz, se há corrida que pode ser ganha sem grande ritmo competitivo é esta, Pogacar também fez o que fez na Strade Bianche. Pela falta de ritmo, espera que a UAE Team Emirates não tenha a capacidade de explodir completamente com a corrida.

 

Outsiders

Mads Pedersen – 6º em 2022, 6º em 2023 perante uma concorrência de peso, o dinamarquês começou a época muito bem e a dar mostras que está também a subir bastante bem. Pedersen é um lutador, alguém que gosta de corridas endurecidas, corridas rápidas e que sobrevive bem às subidas que não tenham muita inclinação, mas tem de melhorar em certos aspectos nesta prova como a colocação em momentos chave. Enfrenta um dilema, será que dá tudo para seguir Pogacar arriscando rebentar ou segue ao seu próprio ritmo?




Matej Mohoric – Antigo vencedor desta prova, é outro dos que não se importa com uma corrida rápida. Duvido que consiga seguir directamente Pogacar, só que é alguém que consegue recuperar vários segundos na descida após o Poggio e pode reentrar na luta por causa disso. Outro ciclista que é absolutamente genial em maratonas.

Christophe Laporte – Uma espécie de convidado mistério de que poucos falam, se a Visma não vem com Wout van Aert é porque acredita bastante na capacidade do francês. Campeão europeu também num percurso duro e numa corrida muito rápida, foi 13º no ano passado, o 2º no sprint entre os elementos do 3º grupo, este ano será mais protegido pela equipa.

 

Possíveis surpresas

Alberto Bettiol – Um corredor que habitualmente está nesta categoria pela sua irregularidade, mas que ponderei colocá-lo na categoria acima por alguns motivos. Primeiro está claramente em boa forma como se viu pela maneira impressionante como ganhou a Milano-Torino; segundo é um ciclista que adora estas grandes corridas, já venceu o Tour des Flandres, foi destaque nos Mundiais; terceiro é alguém que não tem medo de perder um lugar no top 10 para ganhar a corrida e isso nestas ocasiões é a chave para o sucesso.

Filippo Ganna – Foi a maior surpresa de 2023, a forma como acompanhou os “aliens” no Poggio. 2024 está a ser completamente diferente, ainda não mostrou as mesmas pernas do ano passado e creio que a preparação, um pouco mais focada nos Jogos Olímpicos, terá implicação nesta fase da época.

Michael Matthews – Parece um ciclista um bocadinho a cair nos rankings, tendo em conta as circunstâncias é alguém que pode surpreender no top 5 e que não estou a ver a ganhar. Ele gosta desta corrida, entre 2017 e 2022 fez sempre top 12 e até fez top 5 por 2 ocasiões, o facto de não estarem muitos sprinters com ambições à partida é bom para ele.

Jasper Philipsen – Depois de uma temporada de grandes sucessos tem dado sinais algo contraditórios em 2024, veremos como se apresenta depois de algumas derrotas esclarecedoras face a alguns rivais. Talvez tenha tido uma preparação para esforços menos explosivos e isso será tirado a limpo aqui. O facto de ser líder com os holofotes em Mathieu van der Poel retira alguma pressão.

Olav Kooij – Atenção que o sprinter neerlandês está em boa forma, corre completamente sem pressão e passa as subidas melhor do que muitos pensam, especialmente as pequenas colinas. Creio que o perfil rápido da corrida será demais para ele mas … tudo pode acontecer.




Julian Alaphilippe – É um pouco confrangedor ver um grande campeão como o gaulês arrastar-se pelas estradas como está a acontecer, principalmente depois de tudo o que Patrick Lefevere ecoou pela imprensa, Alaphilippe parece triste, abatido, sem forças, duvido que consiga seguir os melhores.

Arnaud Demare e Alexander Kristoff – 2 nomes grandes, 2 ciclistas que já venceram aqui e que não estão na melhor forma, não estou a ver forma de estarem na discussão da corrida.

Thomas Pidcock – Na Ineos-Grenadiers neste momento não parece haver rei nem roque, a equipa parece claramente uns furos atrás da UAE e da Visma e há muito que a grande esperança será Pidcock. Até começou a andar bem em 2024, mas nada de especial, não me parece que esta corrida seja ideal para as suas características

Maxim van Gils – A minha expectativa é que o belga da Lotto-Dstny esteja entre os 10 melhores ciclistas a subir nesta Milano-Sanremo, isso pode eventualmente dar o top 10 final ou algo menos caso o grupo onde esteja seja alcançado.

Corbin Strong – Julgo que será a grande aposta da Israel, um ciclista que nos últimos 12 meses fez 2 top 5 em clássicas do World Tour relativamente duras, são boas indicações para amanhã.

Laurence Pithie – O jovem de 21 anos vai aqui entrar em território completamente desconhecido, mas atenção que confirmou o bom início de temporada na Austrália com 2 pódios no Paris-Nice, tem muito potencial.

Matteo Trentin – Muitas vezes sem a liberdade de liderar uma equipa nesta prova, o italiano é a melhor cartada da Tudor, que está a fazer uma belíssima temporada e que sabe muito bem como maximizar as suas armas, Trentin este ano teve a tranquilidade de preparar objectivos como este.

Toms Skujins – Numa corrida rápida, marcada pela capacidade de subir e resistir a um ritmo elevado, o letão é um ciclista de potencial top 5 caso não tenha de esperar por Pedersen ou Milan, é que iniciou 2024 autenticamente a voar.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Danny van Poppel e Michal Kwiatkowski.



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