Está na hora da prova mais aguardada! Os elites masculinos são os últimos a ir para a estrada para definirem o novo campeão do Mundo. Quem sucederá a Julian Alaphilippe?
Percurso
A prova rainha dos Mundiais da Bélgica têm um total 268,3 quilómetros entre Antuérpia e Leuven. Dia com 2250 metros de desnível acumulado positivo e marcado por dois circuitos: o circuito da Flandres e o circuito de Leuven.
Após 58 quilómetros planos, o pelotão chega ao circuito de Leuven, circuito esse com pouco mais de 15 quilómetros e com um total de 5 subidas. Nessa primeira passagem será feito primeiro a segunda metade, depois da primeira passagem pela meta, a primeira metade do mesmo.
Poucos quilómetros depois, o pelotão chega ao circuito da Flandres, sendo este composto por 6 subidas. Em cerca de 20 quilómetros ficam todas estas subidas. A abrir Smeysberg (600 metros a 6,8%), seguindo-se Moskesstraat (500 metros a 8%, sendo feita em empedrado), Taymansstraat (500 metros a 4,9%), Bekestraat (300 metros a 7,6%, segunda subida em empedrado), Veweidestraat (800 metros a 2,8%) e, a terminar, novamente o Smeysberg.
15 quilómetros seguem-se até se chegar, outra vez, ao circuito de Leuven, a ser percorrido por 4 vezes, 3 de forma completa, e outra como percorrido nos quilómetros iniciais. Os ciclistas voltam a dirigir-se para o circuito de Flandres, percorrendo-o pela 2ª e última vez, antes de regressarem a Leuven para os derradeiros 33 quilómetros.
A passagem pela meta é antecedida pela subida de Sint Antoniusberg (100 metros a 5%), iniciando-se, depois, duas voltas completas ao circuito. Falando, finalmente, deste circuito e das suas subidas. Tudo começa com o Keizersberg (300 metros a 5,9%), seguindo-se Decouxlaan (400 metros a 4,4%), Wijnpers (300 metros a 6,2%) e Sint Antoniusberg. Na última volta, as subidas ficam a 11, 9, 5 e 2 quilómetros da meta. O final é em falso plano.
Tácticas
Uma das provas mais aguardadas do calendário internacional e do que vimos dos últimos dias podemos retirar algumas conclusões sobre o percurso, sempre tendo em mente que a distância pode endurecer mais a corrida do que em outros escalões. Vimos um sprint em grupo reduzido hoje e 2 ataques a cerca de 5 kms do final a resultar ontem, sempre com grupos relativamente grandes a disputar as restantes medalhas.
A menos que haja um endurecimento extremo da corrida praticamente desde o tiro de partida o cenário mais provável é um sprint em grupo reduzido, não sendo de descartar um ataque já perto da meta. Em termos tácticos esta dimensão entra em acção nas selecções com 6 ou mais elementos. Em nações como a Letónia, República Checa, Eslováquia, África do Sul, Áustria ou Nova Zelândia o objectivo é levar o ciclista protegido bem colocado o máximo de tempo possível, sempre com o objectivo de um top 10, algo mais virá sempre por acréscimo. Restam 18 selecções, dessas podemos também retirar a Rússia e o Equador, que vêm com alinhamentos fracos.
Estados Unidos – Não têm nenhum bom finalizador, têm de arriscar tudo de longe e ter alguma sorte.
Polónia – Aniolkowski desapareceu recentemente e não será alternativa, Kwiatkowski é a melhor carta, se quer o ouro vai ter de arriscar.
Noruega – Dos países que está praticamente all in para um possível sprint final, Kristoff adora este tipo de corridas, vão tentar fechar espaços e podem comprometer-se em perseguições.
Portugal – João Almeida é aquele que tem mais chances e parece em grande forma, têm de atacar e encontrar o grupo certo será uma arte.
Suíça – Das selecções mais interessadas em partir a corrida, não têm nenhum sprinter, Marc Hirschi subiu de forma recentemente e o suíço já mostrou que consegue fazer boas exibições em corridas destas.
Alemanha – Degenkolb não consegue bater os melhores do Mundo ao sprint, Ackermann é muito inconsistente apesar de parecer em boa forma, parece um conjunto débil e com corredores longe da melhor forma.
Colômbia – Neste traçado têm de jogar tudo na carta Fernando Gaviria, rezar para que o sprinter da UAE Team Emirates, a subir bem este ano, sobreviva às colinas e possa disputar uma medalha.
Austrália – Ewan e Matthews nunca se deram muito bem, estão aqui novamente juntos. São as 2 alternativas, Ewan para um sprint menos restrito, Matthews para um grupo mais reduzido, sendo que as chances do corredor da BikeExchange para o ouro são quase nulas. Ewan subiu como nunca na Milano-SanRemo mas tem estado em má forma. De qualquer forma, deve ser dos países a tentar fechar espaços, a par da Noruega, da Alemanha e da Colômbia.
Espanha – Se querem sair daqui com alguma coisa têm de tentar de longe, guardando Ivan Garcia Cortina para um possível sprint. Aranburu e Serrano são bom puncheurs.
Dinamarca – Uma equipa que pode decidir o rumo da corrida. Asgreen, Honoré, Valgren, Cort e Pedersen gostam todos deste percurso e estão todos em boa forma. Dependendo de como vá a corrida poderão perseguir, mas o mais provável é vermos Asgreen e Honoré no endurecimento, Valgren e Cort a tentar ataques mortíferos e Pedersen à espera de um possível sprint.
Holanda – Apesar de Mathieu van der Poel não dar tantas garantias quanto se poderia perspectivar por alguns problemas físicos, continua a ser o líder, um líder que tem de decidir se espera ou não por um sprint. Já vimos a selecção holandesa a seguir ataques e depois a confiar no seu sprinter para o final, pode acontecer o mesmo aqui.
Reino Unido – Muitas incógnitas, mesmo partindo do princípio que Cavendish não sobrevive a este duro circuito. Stewart está ainda muito verde para este nível, Pidcock não tem grandes referências e Hayter é uma das revelações da época e está em forma há algum tempo. Tal como nós, provavelmente os próprios britânicos não saberão o que esperar desta corrida.
Itália – Uma selecção de luxo, com múltiplas opções. Ainda assim, dá a sensação de um certo medo de Wout van Aert. Os transalpinos adoram este tipo de provas e as nuances tácticas, o facto de terem 5 bons finalizadores (Nizzolo, Ballerini, Colbrelli, Trentin e Ulissi) dá-lhes muitas garantias e segurança, tendo praticamente a garantia que em qualquer grupo que se forme são uma grande ameaça. Colbrelli deverá ser o corredor mais protegido na hierarquia, o recente campeão europeu gostaria de uma corrida bem dura. Vão tentar jogar a força dos números.
Eslovénia – Para o ouro não têm propriamente um sprinter, Mezgec não dá garantias de medalhas nesse sentido. Portanto, devem apostar tudo em Matej Mohoric, um corredor que está numa forma incrível, gosta deste traçado ondulado e técnico e que precisa das condições perfeitas para um ataque resultar. Isso implica poucas forças de perseguição e para tal é necessário que todos se sacrifiquem, inclusivamente Pogacar e Roglic, que num sprint final pouco poderão fazer quanto a um título. No entanto, aparenta haver alguma desorganização interna no seio da selecção eslovena.
Bélgica – A pressão já era muita e aumentou nos últimos dias devido à falta de sucesso nas provas de estrada destes Mundiais, ainda para mais a jogar em casa. A estratégia que vão usar é uma das chaves desta corrida. É quase certo que Remco Evenepoel tem liberdade para atacar, e na teoria é bom que a prova seja bem dura e rápida, significa que no caso de um sprint final Wout van Aert terá menos rivais e menos concorrência com energia. Ter Stuyven e Lampaert na equipa permite alguma rede de segurança caso se forme grupos a 20/30 kms da meta, são bons finalizadores. Sentimos que Wout van Aert só se vai mexer se Alaphilippe ou van der Poel atacarem.
França – Demare já disse que vem para trabalhar e não vemos Laporte a bater por exemplo Wout van Aert num sprint. Quanto a Alaphilippe, a condição física permanece uma incógnita, mas o gaulês costuma atingir o pico de forma nos grandes momentos. Será bastante marcado, o que é prejudicial, particularmente pelos seus arqui-rivais Mathieu van der Poel e Wout van Aert, isso pode abrir a perspectiva a Benoit Cosnefroy, alguém que adora estes circuitos, e mesmo Laporte e Senechal devem estar ao ataque para conseguirem poder usar a sua boa ponta final em grupo de 5/10 elementos. A França vai ser das selecções a querer partir a corrida, já fizeram isso nos Europeus, não vão esperar pela última volta.
Favoritos
Pelo que fez este ano e pelo que fez nas últimas corridas, é impossível não ponderar no nome de Wout van Aert, um dos ciclistas que tem hipóteses de vencer em qualquer cenário. Em solitário, num grupo restrito ou num grupo maior. A jogar em casa, o belga vai querer acabar com a saga de segundos lugares em grandes corridas e não há melhor oportunidade que esta. No entanto, a Bélgica tem de se organizar melhor, tem de se posicionar melhor e de jogar melhor tacticamente em relação aos últimos dias.
Este traçado parece feito à medida de Mads Pedersen, mesmo hoje na prova feminina vimos um sprint, quando o normal é a corrida ser selectiva e haver maiores diferenças. O final em ligeira subida é do agrado do poderoso dinamarquês que está bem tranquilo com a força da selecção que tem em seu redor. A preparação parece ter sido perfeita, chega aqui relativamente fresco e confiante, anda sempre bem nestas corridas longas e cheias de colinas.
Outsiders
Sonny Colbrelli parece intocável desde o Benelux Tour, sagrou-se campeão europeu num traçado que aparentava duro demais para um sprinter e manteve esse grande momento nas semi-clássicas italianas. Obviamente o corredor da Bahrain-Victorious prefere envergar a camisola de campeão mundial, veremos se conseguiu manter a forma física e como a Itália vai jogar tacticamente.
Com os recentes problemas físicos vamos ver como chega Mathieu van der Poel a estes Mundiais, deu algumas boas indicações nas semi-clássicas belgas, aqui o nível é outro. O holandês adora estas colinas curtas e inclinadas, esforços bem explosivos e provavelmente vai tentar dinamitar a corrida e encontrar um grupo que seja do seu agrado.
Esta corrida é bem mais longa que as anteriores e isso dá mais espaço a que se formem pequenos grupos pelo caminho. Vemos o cenário se Evenepoel atacar de longe, alguns corredores fazerem a ponte e disso beneficiar Jasper Stuyven, que é alguém que preenche muitos dos requisitos para ganhar aqui. Conhece o terreno, está numa grande selecção, tem uma boa ponta final, anda bem em corridas longas e demonstrou boa forma recentemente.
Possíveis surpresas
Nunca podemos descartar o nome de Alexander Kristoff numa corrida destas, quando o norueguês parece acabado encontra sempre uma forma de se reerguer, recordando que já ganhou o Tour des Flandres. A parte técnica do percurso certamente agrada a Matej Mohoric, alguém que curva como poucos e anda muito bem sozinho, é daqueles ciclistas que sabe que tem de atacar e vai arriscar tudo. Na mesma perspectiva de Jasper Stuyven também há nomes que encaixam neste cenário, corredores como Christophe Laporte, Matteo Trentin, Mike Teunissen ou Magnus Cort. Julian Alaphilippe não nos parece na melhor forma e o mesmo se aplica a Mark Cavendish ou Thomas Pidcock, precisam de um conjunto muito específico de circunstâncias para a vitória. Peter Sagan não impressionou muito nas últimas semanas, deverá apostar em esperar pelo sprint para tentar conquistar uma medalha. É muito improvável uma corrida bem calma com um grupo grande no final, caso isso aconteça olho em Caleb Ewan, Giacomo Nizzolo, Pascal Ackermann ou Fernando Gaviria. Há ciclistas em grande forma no pelotão internacional, que quase certamente vão tentar atacar de longe e tentar a sua sorte, sendo um grande perigo, falamos de Remco Evenepoel, Ethan Hayter, Michael Valgren ou Marc Hirschi, todos sabem que num sprint não terão grandes chances. Ciclistas como Ivan Garcia Cortina, Marco Haller ou Zdenek Stybar podem fazer top 10. Quanto à selecção nacional, é tentar integrar todos os grupos que se formem, jogar friamente e esperar que seja o grupo certo. Uma boa colocação na entrada das colinas será crucial, bem como evitar as quedas.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Florian Senechal e Kasper Asgreen.