Mundiais em Agosto? Sim, a prova de estrada dos Mundiais é já amanhã, quem sairá vencedor do carrossel de Glasgow?

 

Percurso

270 kms de sobe e desce constante em Glasgow. Olhando mais atentamente para o circuito final que será ultrapassado por 10 vezes, vai ser muito mais duro do que os números aparentam. Globalmente não há grandes subidas, não há colinas muito longas, mas há ao todo 3600 metros de acumulado. Cada volta são 14200 metros onde há cerca de 40 curvas, que carrossel! Para além desse carrossel de curvas há um carrossel em altimetria, notam-se 6 colinas em cada volta:

550 metros a 5,7%

250 metros a 6%

350 metros a 7,6%

350 metros a 6,8%

200 metros a 10%

200 metros a 13% (a famosa Montrose Street, que hoje viu o ataque decisivo de Philipsen)

Clima

Muito importante devido à natureza do traçado, com tantas curvas já existe perigo suficiente a seco, quanto mais se as estradas estiverem molhadas. Para além disso, chuva irá tornar a prova ainda mais dura, o pelotão estica mais a cada curva. Analisando as previsões, prevê-se alguma chuva para a tarde (entre as 15h e as 17h), isto no modelo europeu mais usado pelos especialistas. Outros modelos (o GFS) aponta para chuva a partir das 13h, enquanto o UKV, muito usado no Reino Unido menciona aguaceiros entre as 15h e as 17h, no entanto as previsões neste parte do Mundo mostram algo voláteis.

 

Tácticas

Geralmente não se pode retirar muitas conclusões das provas de juniores, o pelotão é tendencialmente mais desequilibrado, há poucas forças de perseguição e organização, costumam resultar mais vezes os ataques de longe. Foi o que aconteceu hoje, 2 ataques de longe deram sucesso a quem os fez, o vencedor da prova masculina inclusivamente fez mais de 90 kms na frente. Viu-se perfeitamente que é quase impossível organizar perseguições, vantagem para quem faz a corrida mais ao seu ritmo a partir da frente. É quase um treino intervalado, um circuito muito explosivo, o que anula muitas ambições para quem vem com sprinters.




Com tantas viragens, vantagem também para quem vem no ciclo-crosse, é um traçado tremendamente técnico, talvez o Mundial mais técnico da história, e se chover então nem se fala. Os blocos contam aqui menos do que numa corrida normal, no entanto claramente Bélgica e Dinamarca chegam aqui com vantagem face às demais formações pelas características dos seus corredores e pela quantidade de opções que têm. Creio que vamos ter uma corrida espectacular em que grandes figuras como Evenepoel, Van der Poel ou Pogacar vão logo mexer a cerca de 100 kms da meta, sabem que têm de endurecer a corrida se quiserem tirar daqui alguma coisa. Apesar da importância dos blocos não ser tão grande porque é quase impossível perseguir de forma organizada aqui, ter superioridade numérica num grupo pode ser crucial, viu-se hoje como a Dinamarca jogou na perfeição com isso e como a França na prova feminina fez uma disrupção na perseguição.

Vejo ainda um cenário em que temos um campeão do Mundo um pouco fora da caixa e fora do leque dos favoritos mais lógico, teria de ser alguém com bom sprint, boa explosão e que aproveitasse uma marcação entre Van der Poel e Van Aert e uma boa colaboração de Evenepoel.

 

Favoritos

Mathieu van der Poel – Dificilmente terá uma oportunidade melhor do que esta num Campeonato do Mundo, um percurso tão adequado às suas características e que premeia tanto quem se movimente de longe. É um corredor incrível nos Monumentos e nos momentos importantes e vem do Tour com boas pernas, não estando demasiadamente desgastado, na Volta a França teve alguma azar, estava doente nas etapas que melhor lhe assentavam.




Mads Pedersen – Alguém que é incrivelmente eficaz em corridas longas, e que sabe o que é preciso para se ser campeão do Mundo. Tem um bloco super poderoso com ele, era complicado arranjar melhor e tem um sprint temível após 250 kms de corrida. Apesar deste não ser um traçado para puros sprinters, é um percurso que exige explosão e uma boa ponta final e Pedersen é alguém que adora mexer na corrida de longe.

 

Outsiders

Remco Evenepoel – Talvez seja neste momento o corredor no Mundo que melhor registo tem em clássicas acima de 230 kms, na última época e meia ganhou San Sebastian por 2 vezes, a Liege-Bastogne-Liege por 2 vezes e ainda foi campeão nacional (num traçado bem plano, para roladores) e campeão do Mundo. Dos maiores candidatos é dos poucos que não fez o Tour, fez um estágio em altitude depois da Volta a Suíça e mostrou estar em grande em San Sebastian. Creio que tem de chegar sozinho, mas o sprint de Evenepoel é subvalorizado, principalmente depois desta distância. Os rivais sabem que não lhe podem dar 10 metros que seja.

Wout van Aert – Há pontos a favor e pontos contra o belga. O facto de não ter terminado o Tour pode ser benéfico, teve mais tempo para descansar, mas teve um filho recentemente, veremos se isso lhe afectou a rotina de treino e de descanso. Tem um bom sprint, mais frágil após tanto desgaste, mas o facto de ter Evenepoel na equipa a mexer na corrida antes dele pode significar que guarda mais energias para os últimos 50 kms. Nestas grandes corridas há sempre uma dúvida sobre van Aert, é incrível com a sua qualidade como é que só tem 1 Monumento na carreira.

Kasper Asgreen – É o meu nome da última parte das “tácticas”, aquele corredor que poucos estarão à espera. O dinamarquês brilhou no final do Tour e isso certamente lhe deu outra confiança e outra aura para atacar estes Mundiais. Dentro da Dinamarca todos estarão a olhar para Pedersen e o próprio corredor da Lidl-Trek também estará mais atento a outros corredores sonantes. No caso de uma fuga a 2/3 com Evenepoel é natural que o belga seja muito solidário, conhecem-se bem, dão-se bem, e pode sentir que bate Asgreen ao sprint. A questão é que o nórdico tem um sprint muito bom depois de um dia duro, estou a ver isto a acontecer.

 

Possíveis surpresas

Tadej Pogacar – Nunca o podemos descartar numa corrida desta importância, ele vive para estes momentos e vai querer dar espectáculo de longe. Não o estou a ver a ganhar porque é preciso alguns colegas até certo ponto e sem ser Luka Mezgec não vejo ninguém capaz de o acompanhar, isso vai obrigá-lo a desgaste extra e a fechar muitos espaços.




Jasper Philipsen – Num cenário bem remoto de um sprint em grupo reduzido é o maior candidato, a teoria diz que vai ficar mais na expectativa, mas neste circuito não pode ser. Depois há outro problema, ninguém vai querer colaborar com ele num grupo que esteja isolado.

Christophe Laporte – Tenho “mixed feelings” em relação a ele. Fez um Tour fenomenal e chega em muito boa forma, mas não acho que este seja propriamente o traçado ideal para ele, é alguém que em certos momentos se esconde um pouco da corrida e isso pode ser fatal. No entanto, foi vice-campeão do Mundo em 2022, é algo a ter em conta.

Alberto Bettiol – Alguém que do nada aparece e saca uma grande vitória, será que o consegue aqui? Bettiol até começou bem o Tour, depois foi inconstante como a carreira dele é. Sabe o que é ganhar corridas longas e Monumentos, tem uma boa ponta final, veremos o que consegue fazer.

Ben Healy – Uma verdadeira máquina de produzir watts, tenho o feeling que preferia um percurso bem menos técnico e com subidas mais longas, também está a correr quase “sozinho”.

Dylan van Baarle – Quem dera a muitas selecções ter uma segunda opção desta qualidade e o corredor da Jumbo-Visma também saiu muito bem do Tour. Quando a corrida começa a ficar dura e seleccionada é alguém que vai lá estar, não é muito explosivo, mas se lhe dão alguns metros de vantagem é um enorme perigo.

Julian Alaphilippe – Foi um Tour para esquecer e não parece na sua melhor versão, no entanto se há cenário em que Alaphilippe mesmo assim tem mostrado ser competitivo é em esforços destes, em colinas curtas e inclinadas onde pode colocar um andamento bem pesado.

Marc Hirschi – Tem dado boas indicações recentemente e também não se importa com a extensão da prova, tem uma equipa bem melhor do que parece com ele, a Suíça tem vários corredores capazes de andar muito bem neste terreno.

Mauro Schmid – Na minha opinião preenche muitos dos critérios para fazer pódio e surpreender. Não é um corredor muito marcado, tem uma boa ponta final, é um perigo a andar sozinho, tem boa técnica e já nos Mundiais sub-23 não esteve assim tão longe de ganhar.

Neilson Powless – Fez um Tour algo estranho, surpreendeu pela positiva em San Sebastian e já se viu que corridas longas é com ele, outro ciclista que não tem medo de atacar.

Michael Matthews – Ciclista de grandes momentos e de grandes campeonatos que já disse não ter tido a melhor preparação por causa de um problema no ombro, para além disso costuma ser muito conservador.



Andrea Bagioli – Ganhou recentemente a última etapa do Tour de Wallonie, num traçado muito ondulado com 215 kms. Anteriormente já esteve na discussão directa de clássicas do World Tour, pode surpreender.

Fred Wright – Talvez a melhor aposta da equipa da casa, vão querer brilhar nas suas estradas. Wright parecia que estava a caminho de brilhar no Tour, mas mal se viu, como será que saiu da prova de 3 semanas?

Portugal – Dificilmente o percurso poderia ser pior, João Almeida vem da Volta a Polónia algo cansado, não é um ciclista técnico e costuma posicionar-se mal, Nelson Oliveira até se coloca bem, mas não é muito explosivo, Ruben Guerreiro também não é incrível no posicionamento e André Carvalho não parece estar na melhor forma.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Stefan Kung e Nils Politt.

 

 

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