Está na hora da prova rainha destes Mundiais! Os elites masculinos vão para a estrada no dia de amanhã, numa prova que promete. Conseguirá Mathieu van der Poel defender o título mundial?
Percurso
274,5 quilómetros para a prova rainha dos Campeonatos do Mundo. Os elites masculinos terão praticamente 4300 metros de desnível acumulado positivo, quase tudo situado no circuito de Zurique. Até entrarem no circuito, que será realizado por 7 vezes e meia, os ciclistas terão pela frente duas subidas (4800 metros a 4,2% e 1300 metros a 10,1%).
Falando do circuito em si, o mesmo tem um total de 26,9 quilómetros de extensão. Logo após a passagem pela linha de meta, 800 metros a 7,8%, uma pequena colina que antecede a grande dificuldade do dia, Witikon (2,2 kms a 6%). No topo, restam 20 quilómetros para o final, seguindo-se 10 quilómetros num planalto sem grandes dificuldades. 3 quilómetros de descida acentuada antes da última colina do percurso com 880 metros a 4,7%. Menos de 5 quilómetros para o fim, terreno bastante rápido e sem grandes dificuldades, numa reta da meta com mais de um quilómetro de extensão.
Táticas
Até agora, todas as provas de estrada foram corridas debaixo de chuva, o que tornou as condições de prova ainda mais difíceis. Um circuito já duro, ainda mais duro ficou. Para amanhã, não se espera chuva, o que são boas notícias para os ciclistas e, desta forma, a corrida terá de ser endurecida de outra forma. Toda a atenção estará na Eslovénia de Tadej Pogacar. A equipa não é das mais fortes e mais enfraquecida ficou com a lesão de Matej Mohoric. Digamos que, quando a dureza aparecer, apenas Domen Novak, Jan Tratnik e Primoz Roglic irão estar no apoio a Pogacar. E será que Roglic se vai sacrificar para o seu compatriota? Se não o fizer, a história será outra e, aí, a corrida terá de ser atacada de mais longe por parte de … Pogacar, algo que não seria surpreendente.
A Bélgica tem em Remco Evenepoel a principal aposta, no entanto tem várias opções para cobrir outros ataques, como Maxim van Gils e Tim Wellens. Mas sejamos honestos, para vencer Evenepoel é, de longe, a melhor aposta e a única que dá garantias. Diríamos que Suíça, com Marc Hirschi, e Países Baixos, com Mathieu van der Poel, vão apostar tudo nos seus líderes, chegam em boa forma e são dos principais candidatos. As equipas que não têm os principais favoritos têm que surpreender e atacar de longe. Falamos, principalmente, de Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, França e Itália. Seleções muito bem apetrechadas, cheias de talento e que sabem que, no mano a mano, dificilmente conseguem sair com o título mundial. Num momento de hesitação, têm que atacar e colocar os seus ciclistas na frente para colocar as restantes equipas sob pressão.
Favoritos
Tadej Pogacar é, indubitavelmente, o grande favorito. O esloveno tem um traçado perfeito para si, subidas explosivas, algumas curtas e outras longas, uma variedade impressionante, tudo ao seu jeito. Como já referimos, a sua equipa pode ser o calcanhar de Aquiles e isso pode levar a um ataque de longe. Se há ciclista que pode vencer com um ataque destes é Pogacar, o esloveno já o fez várias vezes em provas importantes e, praticamente, sempre com sucesso. Depois do Tour, fez uma preparação cuidada a pensar neste grande objetivo de época e carreira.
Remco Evenepoel tem dominado as competições de seleções este ano, dois ouros nos Jogos Olímpicos e já um nestes Mundiais. O belga quer sempre mais, é um ciclista muito ambicioso, e já procura o segundo título de fundo. Terá de jogar na antecipação de um mais que provável ataque de Pogacar, no entanto vai ter de cerrar os dentes para o tentar seguir. Será o duelo que todos esperam e, se há forma de Evenepoel vencer, é fugindo em solitário, pois se o deixam ir sozinho nunca mais o apanham. O belga não tem medo de atacar, seja a que distância for.
Outsiders
A correr em casa, Marc Hirschi não podia esperar chegar melhor, um percurso ideal para as suas características. É certo que a Volta ao Luxemburgo mostrou um Hirschi mais “fraco” mas o helvético vinha de ganhar 5 provas em 5 possíveis, tinha os padrões muito elevados. Motivação não lhe falta, veremos se as pernas correspondem, terá de ter o melhor dia da sua carreira para conseguir igualar Pogacar e Evenepoel, não só a subir mas também no sprint, são todos muito rápidos.
2024 tem sido o ano do renascimento de Julian Alaphilippe. O francês parece de volta aos bons velhos tempos, quando discutia as grandes provas, basta ver que, este verão, foi 2º em San Sebastian e 3º em Montreal. Sem nada a perder, Alaphilippe procura um terceiro título mundial num percurso bastante duro, bem ao jeito de Imola, quando venceu em 2020. Romain Bardet e David Gaudu serão fundamentais na manobra ofensiva da equipa francesa e, quem sabe, no ataque de Alaphilippe.
Mathieu van der Poel é um ciclista de grandes provas e grandes momentos. Desde que venceu Milano-Sanremo e Tour de Flandres, o neerlandês esteve muito discreto, aparecendo em bom plano na Volta ao Luxemburgo. Mais magro que o habitual, Van der Poel está a apostar tudo em revalidar o título mundial. A tarefa não se avizinha fácil, está longe de ser um trepador e só uma corrida menos endurecida o beneficia. Por isso, e como acreditamos que não vai acontecer, terá de sofrer. Rende muito nos grandes palcos, agiganta-se quando menos se espera.
Possíveis surpresas
Matteo Jorgenson teve uma evolução tremenda esta temporada, deu um grande salto qualitativo. O gigante norte-americano sobe melhor do que nunca e a dureza que terá pela frente só o beneficia. Terá de tentar surpreender e poderá fazer uma dupla perigosa com Neilson Powless, outro ciclista que rende bem nas clássicas. A Espanha tem Enric Mas, Juan Ayuso e Mikel Landa, no entanto achamos que a melhor hipótese recai em Pello Bilbao. O basco apareceu, finalmente, em forma nas clássicas do Canadá, um ciclista muito regular e que aparece sempre nas grandes provas. A irreverência de Ayuso também não pode ser descartada. Mattias Skjelmose é o líder indiscutível da Dinamarca, esta é uma prova muito dura para Mads Pedersen. O jovem dinamarquês caiu no Luxemburgo mas não foi nada demais. Um percurso explosivo, ideal para o franzino ciclista, cada vez mais um perigo nas clássicas.
Será que Primož Roglič será usado simplesmente como gregário? O esloveno pode vir a ser protegido e, por outro lado, ser usado para seguir ataques de outros ciclistas. Dependendo da situação de corrida pode ver-se na frente e, num grupo reduzido, é um enorme perigo, basta recordar que já venceu uma Liege-Bastogne-Liege. Maxim van Gils é a principal alternativa na Bélgica, um ciclista de clássicas, muito explosivo e que tem neste terreno a sua arma predileta. Já aqui mencionamos a França, que tem nos experientes Romain Bardet e David Gaudu duas alternativas. Dois corredores em boa forma, sem nada a perder, à imagem de Alaphilippe, gostam de atacar de longe. A Grã-Bretanha corre por fora, entre Adam Yates, Tom Pidcock e Stephen Williams têm 3 ciclistas que podem andar muito bem neste percurso, no entanto só em condições muito especiais os vemos a lutar pelos primeiros lugar. Por fim, mencionar o letão Toms Skujiņš, um corredor muito ofensivo que tem sido um destaque da temporada nas clássicas. Relativamente a Portugal, está longe de ser o percurso ideal para João Almeida, muito explosivo e com várias descidas, um top-10 já seria um resultado positivo.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Michael Woods e Ben Healy.