Está na hora de uma das mais espetaculares clássicas da temporada, a Strade Bianche! A combinação de sterrato e subidas curtas e inclinadas fazem desta prova uma das mais esperadas do ano.

 

Percurso

Pela primeira vez em muitos anos, a Strade Bianche sofre alterações! Prova mais longa, 215 quilómetros e … mais setores de sterrato! Este ano serão um total de 71,8 quilómetros em “estradas brancas”.O primeiro sector de gravilha surge logo ao quilómetro 14 (Vidittra), sendo que se segue o setor de Bagnaia, este com 5,8 quilómetros de extensão, e que tem rampas a 10%. O setor de Radi, com 4,4 quilómetros, é o que se segue, antes de um setor muito longo (La Piana), com um total de 5500 metros. A subida de Montalcino (6,5 kms a 4,8%), que não é em terra batida, é o obstáculo seguinte. No miolo da prova, temos três longos setores de sterrato, com 11,9 quilómetros (Lucignano d’Asso), 8 quilómetros (Pieve a Salti) e 9,5 quilómetros (San Martino in Grania), no entanto são feitos em estradas planas.



O sector seguinte de gravilha pode vir a ser importante, pois junta ao sterrato, inclinações terríveis. Mas tudo se vai começar a decidir no Monte Sante Marie, um troço de gravilha de 11,5 quilómetros do mais difícil que há, também pelas curtas e duras subidas que o intermedeiam e que está situado a pouco mais de 70 kms da meta.

Após uma fase bem dura, vêm 17,8 kms mais fáceis, antes de uma sequência de 4 setores. O primeiro surge a 50 quilómetros do fim, Monteaperti (apenas 600 metros mas com com inclinação média de 7,5%). Colle Pinzuto (2,4 quilómetros e rampas a 10%), Le Tolfe (1100 metros onde incluído uma colina com 11,4% de inclinação média) e Strada del Castagno (1300 metros).

A partir daqui, os ciclistas entram no desconhecido com novos 30 quilómetros. Depois de 14 quilómetros planos surge o 13º setor – Vico d’Arbia (3300 metros) -, sendo feito em ligeira descida. O Colle Pinzuto volta a aparecer no menu, antes de nova passagem por Le Tolfe. Ficam a faltar apenas 12 quilómetros.

Como se esta dureza toda não chegasse, ainda teremos uma chegada absolutamente épica a Siena, na Piazza del Campo, que é antecedida por uma descida de alguns quilómetros algo técnica. Serão 700 metros a uma inclinação média de 9,1%, mas com fases a 16% já na parte histórica da cidade e é normalmente aqui onde tudo se decide, se ainda restar um grupo na frente da corrida.

 

Clima

Esta vai ser uma edição da Strade Bianche algo atípica, repleta de chuva e lama, um bocadinho a lembrar a edição ganha por Tiesj Benoot. Já choveu durante a tarde na zona de Siena e a previsão é que chova ainda mais durante a noite e a madrugada, uns modelos apontam para mais chuva, outros para menos, mas são unânimes na presença da mesma. Deverá parar por volta das 7h, nunca vai dar tempo para o sterrato e as estradas secarem, sendo que existe a possibilidade de alguns aguaceiros a meio da tarde. Vai estar algum vento, com rajadas até 35 km/h.

 

Tácticas

Esta parte do clima muda tudo. O mais provável é que a corrida se abra desde muito cedo, muito mais facilmente vai haver cortes e os favoritos não vão querer arriscar perseguições, assim que se entre no “sterrato” mais a sério (sector 7) o pelotão vai partir de imediato creio eu. Este traçado favorece os classicómanos mais virados para a montanha, ciclistas como Sagan ou Cancellara tinham hipóteses aqui, mas só mesmo na melhor forma visto que tem mais de 3000 metros de acumulado.



Com estas condições não entra tanto em jogo a força do bloco, não acho que haja uma equipa muito superior às restantes, há formações com várias opções, mas algumas não são muito convincentes ou levantam dúvidas em relação à sua experiência ou momento de forma, casos da EF Pro Cycling, da UAE Team Emirates ou mesmo da Visma, há muitos pontos de interrogação e acho que será a edição mais em aberto dos últimos anos pelas razões que mencionei.

 

Favoritos

Tadej Pogacar – O factor incerteza aqui é ser a estreia do esloveno nesta temporada. Já conhece bem esta corrida, ganhou-a em 2022, na sua 4ª participação, mas é a primeira vez que se estreia numa época aqui e portanto é normal que ainda não esteja a 100%. Mesmo assim, tem mais do que capacidade para vencer novamente, ele gosta deste tipo de condições, diverte-se em cima da bicicleta e quer novos desafios, é ambicioso e não tem medo de arriscar um pouco.

Thomas Pidcock – Chega como campeão em título e com outra responsabilidade, dá a sensação que esta corrida era o primeiro grande objectivo de 2024 e a preparação na Volta ao Algarve correu bem. Exímio também noutras vertentes do ciclismo como o ciclo-crosse, a chuva até lhe dará uma importante vantagem competitiva, é um ciclista que tem melhorado ao longo do tempo no aspecto da consistência.

 

Outsiders

Tim Wellens – Com todos os olhos postos em Tadej Pogacar creio que o belga tem aqui chances de uma grande vitória, também olhando para as condições climáticas adversas de que ele tanto gosta. Está em boa forma, gosta de atacar de longe, é das melhores segundas linhas que aqui está e em 5 participações terminou sempre no top 15, esta é a altura do ano em que anda melhor e gostei de o ver na Kuurne.





Attila Valter – É o primeiro a dizer que não é todos os dias que se tem a oportunidade de liderar uma equipa como a Visma numa prova como esta. É dos líderes aqui presente que dará mais importância e que melhor preparou esta corrida. Fez um bom UAE Tour que serviu de base para amanhã e gosta muito desta prova, 4º em 2022 e 5º em 2023.

Michal Kwiatkowski – Pode haver outros nomes mais óbvios, é um bocadinho um tiro no escuro, na mesma lógica de Wellens. Kwiatkowski tem sido algo irregular ao longo dos últimos anos, por acaso costumo acertar quando ele aparece, como no triunfo na Amstel Gold Race e algo me diz que se vai apresentar aqui muito bem. Começou bem o ano em Espanha e abandonou um Gran Camino marcado pela chuva por precaução essencialmente e já venceu grandes corridas nestas condições.

 

Possíveis surpresas

Matej Mohoric – Em 6 participações apenas por 1 vez terminou no top 10, por alguma razão algo ainda não clicou para ele nesta corrida. No entanto, é claramente a melhor aposta da sua equipa e controla a bicicleta como poucos, principalmente nas descidas, pode beneficiar disso.

Julian Alaphilippe – No papel esta corrida é perfeita para ele e já festejou em Siena, só que a situação dentro da Soudal-Quick Step está muito tremida, as pernas não parecem estar na melhor forma e mentalmente é complicado gerir toda esta situação com Lefevere.



Romain Bardet – Nesta fase da carreira já se concentra bastante neste tipo de corridas mais prestigiantes, geralmente tem uma boa leitura de corrida e é alguém que se dá bem à chuva, basta lembrar que fez 2º em 2018, quando estavam condições semelhantes.

Valentin Madouas – É uma Groupama-FDJ bem apetrechada e que estaria ainda melhor não fosse a ausência de Stefan Kung, de última hora. 2º no ano passado, mas até agora não impressionou em 2024, veremos se realmente deu mais um grande passo em frente no defeso.

Romain Gregoire – É um nome importante a ter em conta, foi 8º no ano passado na sua estreia e começou o ano a rivalizar com Ayuso e Skjelmose nas semi-clássicas. É muito explosivo, extremamente talentoso, falta algumas referências sobre como se adaptará a estas condições.

Toms Skujins – Não considero que Andrea Bagioli seja um líder propriamente fiável, acho que a Lidl-Trek vai dar oportunidade a quem realmente está em grande forma e o letão mostrou estar a andar muito bem na Omloop, especialmente quando a estrada empinava. É alguém que tanto está habituado e adora estas condições desafiantes.

Quinn Simmons – O mesmo se aplica ao norte-americano que se apresentou ao Mundo nesta prova, creio que tem boas características para esta corrida e ainda está para vir a grande confirmação de Simmons ao mais alto nível, o potencial está lá.

Ben Healy – É um perigo à solta com um motor enorme e que já mostrou na Volta ao Algarve que está a andar bem e que esta parte da época até às Ardenas é um foco muito grande para ele. Não creio que seja o melhor a dominar a bicicleta, mas faz parte de um bloco muito interessante.

Alberto Bettiol – Outro elemento dentro do forte bloco da EF Pro Cycling, é um corredor de grandes corridas e que fez uma bela exibição à chuva nos Mundiais, tem potencial para surpreender.

Maxim van Gils e Lennert van Eetvelt – 2 jovens em ascensão que chegam aqui motivados e sem pressão numa estrutura que está a obter excelentes resultados. Não há grandes indicações deles neste contexto, um é mais puncheur, o outro mais trepador, mas em grande forma podem obter um grande resultado.

Daniel Martinez – Este não é propriamente o terreno predilecto dele, no ciclismo quando se está confiante e com boas pernas anda-se bem em todos os terrenos e o colombiano apresentou-se muito bem na Volta ao Algarve, é dos corredores que chega aqui com melhores indicações.

Sepp Kuss – Em teoria vem para trabalhar em prol de Attila Valter, no entanto numa corrida destas tudo pode acontecer e a hierarquia muda muito rapidamente. A capacidade de explosão e de controlar a bicicleta do norte-americano são muitas vezes subestimadas.





Krists Neilands – Numa Israel tem um grande líder para esta corrida o talentoso letão pode aproveitar visto que aprecia bastante estas condições, é alguém que nas últimas épocas aparece de vez em quando em grande numa corrida destas.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Bastien Tronchon e Lenny Martinez.

 

 

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