O ciclismo não para e é hora dos voltistas se deslocarem até Espanha para mais uma Volta a Catalunha. Remco Evenepoel e Primoz Roglic irão enfrentar-se antes do Giro, com João Almeida também presente.

Percurso

Etapa 1

Uma das poucas oportunidades para os homens rápidos e logo com o atractivo de poderem ficar com a liderança da corrida. Ainda assim, não será nada fácil, não pelo total de 2000 metros de acumulado, mas pelos 30 kms finais. O Alt de Romanya está a 25 kms da meta e não é incrivelmente difícil, com 6 kms a 4,7%, uma equipa que queira fazer diferenças e afastar sprinters mais puros tem de acelerar muito forte nos 2000 metros finais, que são a 6,5%. Depois a parte final tem algumas pequenas colinas que vai tornar difícil controlar o grupo, conta com 800 metros a 4,7% e o quilómetro final pica a 3,2%.

 

Etapa 2

Primeiro teste, e que teste, com a chegada a Vallter 2000 para separar desde logo as águas. É uma subida muito longa, se olharmos para o quadro mais alargado são 22,6 kms a 5,3%, com os primeiros 10 kms em falso plano, significa que em números mais brutos depois vão ser 11,5 kms a 7,5%. A parte mais importante da ascensão é a meio, onde há 1000 metros a 10,4% e 1000 metros a 9,4%, com os 1600 metros finais a baixarem para os 6%. A última chegada aqui foi em 2021, com vitória de Adam Yates, apenas 16 ciclistas ficaram no mesmo minuto do vencedor.

 

Etapa 3

No papel a segunda chegada em alto, mas por tradição as rampas suaves de La Molina não fazem grandes diferenças. Os números dizem 12,2 kms a 4,4%, isso deu que em 2022, quando Ben O’Connor triunfou, 42 ciclistas chegassem no mesmo minuto, o que é imenso. A jornada em cima tem imenso acumulado, praticamente 4000 metros, se for para se fazer diferenças a corrida tem de ser muito atacada na categoria especial do Coll de la Creueta, com 18,7 kms a 4,9%, mas para isso será preciso um bloco de montanha super forte.




Etapa 4

Diríamos que se não fosse por esta etapa se calhar nem tínhamos aqui metade dos sprinters. Chegada plana a Sabadell, menos de 2500 metros de acumulado e a maior dificuldade da jornada está logo ao início. Claro que surpresas acontecem, aqui só será possível se as equipas dos homens rápidos deixarem sair uma fuga forte demais.

 

Etapa 5

Se ainda existirem grandes dúvidas na classificação geral, têm tudo para ficar dissipadas na 3ª chegada em alto da competição, ao Mirador del Portell. Este é um dia “Unipuerto”, as emoções e as diferenças só se podem fazer no final, mas será a subida mais inclinada que vão enfrentar na competição, serão 8600 metros a 8,8% de inclinação média. Raramente baixa dos 7% e há espaço para se fazer diferenças logo a abrir já que existem 2000 metros a 9,7%.

 

Etapa 6

Jornada com um grau de dificuldade semelhante ao do 1º dia, mas dificilmente teremos um sprint em pelotão compacto, é que depois de 5 duros dias de competição já poderemos ter alguns blocos desfalcados e os últimos 40 kms têm subidas bem difíceis, primeiro com 5,6 kms a 6,1% e já dentro dos últimos 15 kms vai haver 2000 metros a 8,8% que são a rampa de lançamento perfeita para corredores mais explosivos que queiram evitar um sprint.

 

Etapa 7

A Volta a Catalunha termina novamente com o tradicional circuito de Montjuic, em Barcelona. É um dia muito curto e explosivo, os ciclistas vão fazer o circuito final por 5 vezes. Esse circuito tem uma subida com 2,7 kms a 4,7%, mas que na verdade é uma plataforma de lançamento, uma pequena descida e 800 metros a 10,5%, antes de nova descida interrompida por um pequeno topo. A aproximação à meta será feita autenticamente a voar e em caso de um sprint este será feito a alta velocidade.

 

Táticas

Sem um contra-relógio, esta corrida será decidida nas montanhas, com as etapas 2, 3 e 5 a serem as mais decisivas, devido a terminarem em alto. Destas, a que menos diferenças deverá fazer será a 3ª, com chegada a La Molina, o próprio perfil da subida não convida a ataques de longe e as diferenças são sempre muito escassas. Vallter 2000 e Lo Port são subidas muito mais inclinadas e espetaculares e aí sim, diferenças serão feitas, não só devido à extensão de ambas mas devido à altitude. A etapa final de Barcelona pode ser muito traiçoeira e, atacada de longe, pode provocar mais diferenças que muitas chegadas em alto.




Olhando para os diversos blocos, Jumbo-Visma e UAE Team Emirates são os mais fortes. Primoz Roglic terá Sepp Kuss como seu braço direito, com Tobias Foss, Koen Bouwman, Steven Kruijswijk e Robert Gesink como ajudas de luxo. Já a equipa árabe tem em João Almeida e Adam Yates os líderes e Marc Soler, George Bennett e Rafal Majka os gregários mais importantes. A Soudal-QuickStep de Remco Evenepoel tem um bloco sólido, não ao nível dos anteriores, mas Ilan van Wilder, Fausto Masnada, Mattia Cattaneo, Louis Vervaeke e Jan Hirt darão conta do recado.

 

Favoritos

Fresquinho de vencer o Tirreno-Adriático e três etapas, Primoz Roglic quer mais. Era suposto o esloveno começar a temporada aqui no entanto a sua forma estava melhor que o previsto e em Itália já esteve bem, apesar de, nas montanhas, nunca ter parecido o mais forte, soube gerir e esperar pelos momentos certos. Com dias de competição e mais alguns treinos nas pernas, Roglic quererá adicionar mais uma corrida ao seu palmarés. Com várias etapas ao seu estilo, poderá somar importantes bonificações.

Naquilo que poderá ser a grande antevisão do Giro, Remco Evenepoel será o grande rival. Acabado de chegar de um estágio em Tenerife, onde bateu recordes do Strava, o campeão do Mundo tem um último grande teste antes da prova italiana e quererá entrar na cabeça dos seus rivais, marcando posição. Sabe gerir o seu esforço nas grandes dificuldades como poucos, e se há ciclista capaz de dinamitar a corrida nas etapas de média montanha é Evenepoel.

 

Outsiders

Este será, também, um teste importante para João Almeida. O Tirreno-Adriático foi prova que o campeão nacional está no caminho certo e a seu favor tem o historial, venceu uma etapa e foi 3º na geral do ano passado. Com duas opções dentro da equipa, será a estrada a decidir quem será protegido, esperamos ver o português muito forte e, no seu estilo característico, nas etapas de montanha. A confiança está em alta, teremos Bota Lume na Catalunha?

A ausência de contra-relógio é música para os ouvidos de Mikel Landa, o basco sabe que tem uma oportunidade de ouro para vencer uma prova World Tour. Num percurso que não o favorecia muito, Landa esteve muito bem no Tirreno-Adriático, o que demonstra que está em excelente forma. É um ciclista que não tem medo de atacar nos dias duros e com Gino Mader pode formar uma dupla perigosa.




Qual será a versão de Richard Carapaz nesta corrida? O campeão olímpico ainda nada mostrou em 2023 (foi campeão nacional no entanto a sua superioridade é evidente), só que todos sabemos que quando menos se espera consegue sacar um coelho da cartola. A altitude jogará a seu favor, se estiver em forma será um perigo nesses dias. Muito combativo, gosta de atacar de longe, ainda no ano passado o fez e foi assim que decidiu a corrida.

 

Possíveis surpresas

Giulio Ciccone está a ter um dos melhores momentos da sua carreira, finalmente a regularidade está a aparecer e consegue discutir corridas com os melhores. A confiança é muito importante e como o italiano está mais um grande resultado é possível. Adam Yates esteve mais discreto no Tirreno-Adriático, no entanto isso significa que a sua forma esteja pior. O britânico é um especialista em provas de uma semana, não terá muitas oportunidades de liderança na época, e numa equipa com duas opções vai querer aproveitar. O que esperar da INEOS Grenadiers? Egan Bernal e Geraint Thomas regressam de lesão, dos dois Thomas será o mais perigoso, com o Giro perto deverá querer ganhar alguma confiança. Luke Plapp nunca pode ser descartado, o australiano é capaz do 8 ou 80. Jai Hindley e Gino Mader também entram nesta lista, ou estão muito bem, ou passam completamente ao lado da corrida, veremos que versões apresentam, sendo que o helvético vem de um excelente Paris-Nice. Romain Bardet, Ben O’Connor e Guillaume Martin lideram as respetivas equipas, principalmente Bardet pode ser um perigo e ameaçar o pódio, esteve muito bem no Paris-Nice e é mais um que não tem medo de atacar de longe. Por fim, Tobias Halland Johannessen, Louis Meintjes, Cian Uijtdebroeks e Geoffrey Bouchard devem lutar pelo top-10 final.

 

Super-jokers

Os nossos super-jokers são Lenny Martinez e Oscar Onley.

By admin