A Suíça recebe a sua segunda prova do World Tour, naquela que é a última grande competição antes do Tour de France. Com um percurso duro pela frente, quem irá mostrar estar em boa forma?

Percurso

Etapa 1

Einsiedeln acolhe a partida de mais uma edição da Volta a Suíça, um contra-relógio individual de 12 600 metros, um esforço completamente plano que se realiza em torno do Lago Sihlsee. Com longas retas e poucas curvas, este é um percurso para os puros especialistas.




Etapa 2

Dia “plano” por terras helvéticas. Apesar de algumas dificuldades, esta é uma das tiradas mais fáceis da competição pelo que os sprinters não vão querer desperdiçar a oportunidade. A 25 quilómetros do fim, a subida de Oberarig (3,3 kms a 4,7%) poderá fazer algumas vítimas no entanto a chegada a Nottwill deverá ser para nomes como Tim Merlier, Arnaud Demare, Jordi Meeus, Wout van Aert e Kaden Groves.

 

Etapa 3

Primeira chegada em alto da competição, um dia curto com apenas 144 quilómetros e que pode ser dividido em duas partes, primeiros 93 quilómetros planos, antes de duas subidas de 1ª categoria. Col des Mosses 13,5 kms a 4,1%) servirá para o primeiro desgaste ao pelotão, antes da subida final de Villars-sur-Ollon (10,7 kms a 7,8%). Esta é uma escalada bastante regular, com pendentes sempre a rondar os 8%, tendo um quilómetro acima dos 9% a 3000 metros do fim.

 

Etapa 4

Novo dia de alta montanha e ainda mais duro que o anterior. A subida de Crans-Montana (14,6 kms a 6,7%), que esteve presente no recente Giro d’Itália aparece a meio da etapa, será importante para a primeira seleção antes dos muito complicados 35 quilómetros finais.

Höhenweg (19 kms a 4,5%) nem parece algo muito difícil só que esta é uma subida feita em patamares, com os primeiros 7800 metros a 8,6%, seguindo-se uma curta descida de 4 kms até 2700 metros a 7,6%. Os últimos 3 kms são a 6% de média. No topo restam apenas 3000 metros, uma descida rápida até aos últimos 1200 metros com uma pendente média de 5,1%.

 

Etapa 5

Maratona com mais de 210 quilómetros e 4600 metros de desnível acumulado positivo! Uma etapa que tem  Furkapass (16,5 kms a 6,4%) e Oberalpass (10,7 kms a 5,6%) ainda na sua primeira metade, duas subidas muito longas e duras que irão reduzir muito o pelotão. Seguem-se mais de 100 quilómetros no vale, primeiro em ligeira descida e depois em ligeira subida até ao sopé da subida final.

Falamos do Albulapass (17,4 kms a 6,8%), uma escalada onde a primeira parte é a mais dura com 7500 metros a 8,4%. Apesar de aligeirar, a subida continua muito inclinada e termina apenas a 10 quilómetros do final. A partir daqui inicia-se uma longa descida até à meta em La Punt Chamues-ch.

 

Etapa 6

A alta montanha já está para mas o terreno complicado não, não estivessem os ciclistas na Suíça. Logo a abrir, o pelotão volta a passar pelo Albulapass (8,9 kms a 6,8%), uma subida que pode definir muito da etapa, já que logo de seguida encontram Lantsch/Lenz (7,5 kms a 7,5%).

A orografia torna-se mais acessível nos 150 quilómetros seguintes, apenas alguns pequenos topos e uma curta contagem de montanha. O sobe e desce é constante, só isso deverá dificultar a vida aos ciclistas que estiverem a ter um dia menos positivo. Já com mais de 200 quilómetros nas pernas surge uma colina com 700 metros a 8,8%, a anteceder Islisberg (1400 metros a 8,3%). Restam menos de 10 quilómetros, sendo quase todos eles em descida, com exceção dos últimos 2500 metros, que são em subida a uma pendente média de 6,7%.




Etapa 7

Dia difícil de prever com muita dureza na primeira metade da etapa (1 contagem de montanha de 1ª, 1 contagem de montanha de 2ª e 1 contagem de montanha de 3ª). Esta sequência de subidas poderá deitar por terra as aspirações dos homens mais rápidos ainda presentes, pelo que este pode ser um bom dia para estar presente na fuga do dia.

As decisões ficarão guardadas para os 25 quilómetros finais, onde está localizada a subida de Otteneberg (2,6 kms a 7,9%). Um autêntico muro que termina a 20 quilómetros da chegada a Weinfelden, num terreno que, a partir deste momento, se torna bastante rápido.

 

Etapa 8

A Volta a Suíça termina da mesma maneira que começa, com um contra-relógio individual, 26 quilómetros com partida em St. Gallen e chegada a Abtwil. Os primeiros 17 quilómetros são planos, aparecendo a grande dificuldade do percurso, 1600 metros a 8,2%, seguindo-se 3500 metros num planalto, antes de 4000 metros em descida não muito pronunciada até à meta.

 

Táticas

A Volta a Suíça já é por si uma corrida um pouco estranha, considerada demasiado perto do Tour por muitos dos principais candidatos, muitas vezes quando vêm estão só para testar as pernas e não para correr pela classificação geral. A edição deste ano, com imensa montanha logo na primeira metade, aumenta ainda mais esse grau de imprevisibilidade porque é preciso entrar logo em grande forma, não dá para ir ganhando ritmo com o passar dos dias. A intenção da organização parece clara, evitar a debandada dos não trepadores para as últimas 3 etapas e tentar animar as ligações de média montanha.

Esta é uma edição que favorece aqueles que melhor andam no contra-relógio, existem 2 e ambos podem ser explorados pelos especialistas visto que nenhum deles é uma crono-escalada. Depois as etapas de montanha não são incrivelmente complicadas, apenas 1 jornada tem mais de 3000 metros de acumulado, creio que a Volta a Suíça se pode decidir aí a favor dos trepadores, mas tem de haver um ritmo muito elevado ao longo dos quilómetros e olhando para os blocos não há assim nenhum que salte particularmente à vista. As equipas que mais apostam no global da corrida serão a Quick-Step e a Bora-Hansgrohe, a Bahrain-Victorious também tem algumas alternativas para a classificação, mas falta coesão no bloco de apoio.

 

Favoritos

Remco Evenepoel – Era complicado ter um percurso melhor tendo em conta as suas características, resta saber se recuperou completamente e se está aqui para lutar pela classificação geral. Acredito que sim, para ter antecipado o seu regresso à competição é porque os testes correram bem e veja-se o que Ciccone está a andar no Dauphiné. Se não viesse para a geral não fazia sentido a Quick-Step trazer Cattaneo e Knox, são 2 ciclistas que garantem algum apoio na montanha juntamente a Asgreen e Schmid.



Sergio Higuita – É excelente em provas de 1 semana, este ano tem sido muito afectado por problemas de saúde em momentos cruciais como as clássicas das Ardenas. Defende-se no contra-relógio, gosta da altitude e tem uma boa ponta final nos finais mais explosivos, tem potencial e capacidade para ganhar esta corrida.

 

Outsiders

Juan Ayuso – Regressou à competição após lesão prolongada no joelho no Tour de Romandie e já com um resultado interessante, 1 vitória em etapa. É verdade que cedeu no Thyon 2000, mas é preciso contextualizar, não rebentou por completo, tinha falta de ritmo competitivo e não vai encontrar aqui nenhuma subida tão complicada como o Thyon 2000, o que é uma vantagem tendo em conta que é bom nos contra-relógios.

Cian Uijtdebroeks – Outro ciclista muito jovem tal como Ayuso e que tem tido uma progressão sustentada muito interessante, começou por fazer apenas top 10 no Tour of Oman, passou depois para ser 9º na Volta a Catalunha e 6º no Tour de Romandie, um resultado que poderia ter sido bem melhor não fossem 2 contra-relógios muito fracos que fez, é uma área claramente a melhorar. Veremos se com mais algumas semanas o belga deu mais um pequeno salto na sua evolução.



Neilson Powless – Nos últimos tempos virou claramente o seu foco para as clássicas e provas de 1 semana. Num Paris-Nice com um nível altíssimo foi 6º, infelizmente depois teve problemas físicos e não conseguiu prolongar esse momento para as clássicas. Se s condição física base ainda estiver nas pernas do norte-americano é um ciclista muito perigoso porque também anda bem na “cabra”.

 

Possíveis surpresas

Ion Izagirre – Não é incrível no contra-relógio, também não é um puro trepador, mas é dos ciclistas que tem maior probabilidade de fechar no top 5/top 10, pela sua regularidade e consistência, mais do que isso parece muito complicado.

Romain Bardet – Indubitavelmente um perigo na alta montanha, só que não tem grande equipa com ele para potenciar diferenças e irá perder muito tempo nos contra-relógios para alguns dos rivais.

Gino Mader – No Paris-Nice deu vislumbres de voltar ao seu melhor, depois voltou ao nível de 2022, que é sofrível para alguém que já fechou top 10 numa Grande Volta. Os contra-relógios também o penalizam muito.

Pello Bilbao – Um pouco à imagem de Ion Izagirre, alguém que é muito completo e que é um eterno candidato ao top 10. No entanto, até acho que o melhor Bilbao na alta montanha é melhor do que o melhor Izagirre, é alguém que pode perfeitamente fazer pódio, não o vejo a ganhar.

Alexey Lutsenko – Está a chegar a altura do Tour e geralmente Lutsenko aparece sempre com boas pernas, ainda para mais em corridas de 1 semana. Continua com a sua habitual inconsistência e não deve fugir disso, ou passa despercebido ou faz grandes exibições.

Felix Gall – Depois do que mostrou na alta montanha na recente clássicas dos Alpes estou com muita curiosidade para ver o que ele é capaz, será uma das primeiras vezes que lidera a equipa numa corrida desta dimensão, pode afectá-lo de uma forma positiva ou negativa.

Mattias Skjelmose – Evoluiu bastante de 2022 para 2023, continuo a achar que a alta montanha ainda é um calcanhar de Aquiles e é impossível encarar uma corrida destas para ganhar com o pensamento de minimizar perdas em 3 etapas, acho o top 5 possível, teria de ter completado um desenvolvimento improvável na alta montanha para vencer.

Thomas Pidcock – Está aqui mencionado só mesmo pelo estatuto e pela startlist relativa fraca, mas creio que está aqui só para ganhar 1 etapa. Não fez grande preparação específica e não é um puro trepador.



Rigoberto Uran – Aos 36 anos o extravagante colombiano já não parece ter as pernas de outrora e deixou isso bem vincado já esse ano, top 10 será o seu tecto máximo aqui.

Rui Costa – Começou a época de forma brilhante, depois teve alguns problemas e está agora de volta à competição, creio que o foco não está minimamente na geral e sim nas últimas etapas de média montanha.

Wilco Kelderman – Se a Jumbo-Visma o trouxe aqui e se estava na lista de suplentes para o Tour (agora dentro do 8 com a lesão de Kruiswijk) é porque está em boa condição física após falhar o Giro. Um Kelderman a 100% é um forte candidato à geral, a 90% é um nome para o top 10.

 

Super-jokers

Os nossos super-jokers são Matteo Sobrero e Jakob Fuglsang.

By admin