A 39ª edição da Volta ao Alentejo será virada para os sprinters, uma corrida em que cada segundo conta e onde o leque de candidatos talvez seja maior do que nunca. Vai haver muito nervosismo durante as etapas e uma luta enorme pelas bonificações.
Percurso
Etapa 1
176,7 kms entre Vendas Novas e Sines sem grandes dificuldades orográficas, mas estamos a adivinhar uma grande luta para entrar na fuga. É que para além dos sprints intermédios quem quiser a camisola da montanha vai ter de estar nesta escapada, porque há 3 contagens de 4ª categoria para ultrapassar. Esta vai ser a etapa em que vai ser preciso estar mais atento ao vento, prevê-se uma velocidade de 20 km/h com rajadas de 30 km/h e será maioritariamente de costas/lateral entre os quilómetros 70 e 145/150. Os últimos quilómetros de Porto Covo até Sines serão muito penosos, a direcção da corrida muda e haverá vento frontal. A chegada é muito técnica, é crucial entrar bem colocado na zona dos 2 kms para a meta e a recta da meta é muito curta, com 300 metros.
Etapa 2
Ligação entre Beja e Portel, com mais uma altimetria bastante simples. Apenas 1 contagem de montanha pelo caminho e o sprint intermédio bem cedo em Serpa pode levar a que certas equipas interessadas nas bonificações só deixem a fuga sair depois disso. Este é o 2º dia perigoso por causa do vento, com intensidade e rajadas semelhantes ao primeiro dia. No entanto, como vem de Noroeste, apenas na zona entre Mourão e Renguengos de Monsaraz deverá haver condições para bordures. O final em Portel é em ligeira subida, não tem muitas curtas, mas tem 3 rotundas nos últimos 2 kms, a última delas bem perto da meta.
Etapa 3
Uma etapa muito parecida à anterior na medida que tem apenas 1 contagem de montanha e conta com um sprint intermédio nos primeiros 30 kms. Prevê-se que na Sexta-Feira o vento acalme um pouco, no entanto é necessário estar bem atento porque estas estradas são mais expostas. Será uma grande luta para se entrar bem colocado na curva a 1200 metros do final, a partir daí não há grande espaço para recuperações.
Etapa 4
O dia que muito apontam como decisivo e que mais diferenças fará, o contra-relógio em Castelo de Vide. A subida à Ermida da Senhora da Penha (1800 metros a 7,6%), uma descida kamikaze onde até deve haver mais diferenças que na subida e um final explosivo, em subida, no centro de Castelo de Vide, com 1000 metros a 5,5%. São 8400 metros vertiginosos em que felizmente não está prevista chuva.
Etapa 5
Última etapa da “Alentejana” com a já tradicional chegada a Évora, no empedrado da capital de distrito. A organização decidiu colocar os 3 sprints intermédios na segunda metade da jornada e vai haver certamente quem queira bonificar, tem tudo para ser uma jornada rapidíssima. Este final é bem conhecido do pelotão nacional, é fundamental entrar no quilómetro final dentro dos 10 primeiros, a estrada é estreita, técnica e não dá para recuperar muitos lugares, até pode haver cortes.
Tácticas segundo a segundo
É um percurso muito monótono e obviamente seria mais interessante para os espectadores que houvesse alguma montanha à mistura. No entanto, para os directores desportivos deve ser a edição mais stressante dos últimos anos porque vai ter de haver um controlo constante, segundo a segundo, dos tempos na geral e de quem está nas fugas. Isto porque ao contrário de outras edições, conjugando com esta escolha de percurso, a organização decidiu colocar bonificações na meta (10, 6 e 4 segundos para os 3 primeiros) e nos sprints intermédios (3,2 e 1 segundo para os 3 primeiros). Uma entrada numa fuga que valha 6 ou 9 segundos de bonificação significa quase uma vitória em etapa e pode valer um bilhete para o top 5 ou top 10 da geral.
O contra-relógio tem 2 colinas onde os trepadores vão tentar recuperar, mas como já se viu noutros anos, os sprinters conseguem recuperar tempo na descida graças à técnica que possuem. Numa perspectiva de poupar energias e de maximizar bonificações vai ser muito importante a estratégia. Nas formações com mais do que 1 sprinter, cremos que a melhor opção é sprintar na meta sempre com o mesmo e que esse sprinter deve ir a um sprint intermédio. Nos outros 2 sprints intermédios o outro sprinter deve tentar roubar bonificações aos rivais.
Infelizmente o percurso foi apresentado muito tarde e isso talvez tenha impedido alguns candidatos de se prepararem para esta prova da melhor maneira, mas esperamos uma corrida muito aberta, mais interessante de se seguir desde dentro do que de fora.
Favoritos
Dentro do lote de sprinters, Daniel Freitas é dos mais completos do nosso pelotão, alguém muito experiente, que já correu esta prova algumas vezes e regular em todos os terrenos. Começou bem a temporada e foi a aposta da equipa na Clássica da Arrábida, sobe bem e conta com uma equipa muito experiente ao seu lado, com César Martingil para o ajudar nos sprints. Cremos que Martingil tem mais explosão e velocidade pura, mas que a Rádio Popular/Paredes/Boavista terá em Daniel Freitas a sua carta para a geral.
A Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados está a ser uma das equipas do ano até agora, pelos resultados e por tudo o que mostrou na Volta ao Algarve. Está numa situação muito parecida com a formação boavisteira, tem em Leangel Liñarez um puro sprinter, mas achamos que a aposta deverá ser em João Matias. É outro ciclista em boa forma, a sua capacidade nas colinas permite uma boa defesa no contra-relógio e pode perfeitamente ir às bonificações em certas chegadas. Tem técnica a descer e um bom perfil para esta corrida.
Outsiders
Em condições normais Mikel Aristi estaria na categoria acima, o basco da Euskaltel deverá ser a aposta, não obstante a existência de Juan José Lobato. Aristi é muito mais regular, muito mais completo e a única dúvida é que esta corrida será a sua primeira da temporada. Conhece bem algumas chegadas, defende-se no contra-relógio e será um perigo para a geral se estiver em forma.
Temos algumas dúvidas sobre qual será a aposta da Glassdrive/Q8/Anicolor, mas acreditamos que poderá ser Fábio Costa. O jovem português não é só um sprinter, passa muito bem as colinas e começou a época em boa forma. O status quo diz Luís Mendonça, só que o antigo vencedor da Volta ao Alentejo poderá acusar alguma falta de ritmo competitivo e a infecção com Covid-19 pode afectar isso (ainda que o pódio na Clássica da Arrábida tenha surpreendido). Nem sempre a “Alentejana” terá este perfil, é uma oportunidade de ouro para Fábio Costa.
Caso consiga somar bonificações, Daniel Mestre é um grande perigo, por entre os sprinters é dos mais completos, um pouco à medida de Daniel Freitas. Conhece muito bem estas estradas e a W52/FC Porto, com os roladores que tem, vai tentar aproveitar toda e qualquer oportunidade no vento alentejano. Basta Daniel Mestre conseguir bonificar uns 10 segundos ao longo de todas as etapas planas e cremos que será um forte candidato.
Possíveis surpresas
Vamos ver qual será a estratégia da Caja Rural, Orluis Aular vem de um triunfo na Clássica da Arrábida, o venezuelano deveria ser logicamente a aposta da equipa porque está em grande forma, é um sprinter completo e vem cheio de confiança. No entanto existe também Iuri Leitão e o ciclista português deve ter algumas oportunidades, porque não colocá-lo a discutir as vitórias em etapa enquanto Aular tenta bonificar o que conseguir nos sprints intermédios? Parece-nos um bom compromisso. Luís Gomes está em excelente forma, só que será complicado bonificar durante as etapas, o corredor da Kelly-Simoldes-Oliveirense prefere alguma dureza, o top 5 é bastante provável, a vitória consideramos complicado, era preciso mais dureza. A Glassdrive/Q8/Anicolor, como já referimos, tem algumas opções, é que para além de Luís Mendonça, também o jovem Pedro Silva é sprinter. Tomas Contte será outro perigo à solta, o argentino é um sprinter que passa bem as colinas, poderá faltar-lhe algum apoio de lançadores, é preciso que o seu compatriota Nahuel d’Aquila esteja presente em boa forma. A Burgos-BH é forte candidata a ganhar um final plano com Manuel Peñalver, mas o espanhol é um puro sprinters, veremos qual será a estratégia visto que Oscar Pelegri e Mihkel Raim também estão presentes. O Atum General/Tavira tem 2 cartas para jogar, o explosivo Miguel Salgueiro e o polivalente Aleksandr Grigorev, que dos especialistas em contra-relógio deve ser o mais explosivo. A Efapel Cycling conta com Rafael Silva, um sprinter regular, candidato a um top 5 nesta Volta ao Alentejo.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: César Martingil e Leangel Linarez.