Depois da passagem pela Figueira da Foz, o ciclismo vira-se mais para sul para mais uma edição da Volta ao Algarve! Com um percurso já tradicional e com um forte leque de participantes, teremos novamente um português a triunfar?

 

Percurso

Etapa 1

200 kms relativamente planos para começar esta Volta ao Algarve, é praticamente uma reedição da jornada inaugural da edição transacta. 1 contagem de 4ª categoria e outra de 3ª categoria vão decidir o primeiro líder da montanha, o que certamente será um atractivo para algumas equipas portuguesas. Este final é muito rápido, existe um pequeno topo e depois a aproximação à meta é alucinante, atenção que as estradas estreitas dos últimos 40 kms juntamente com o pelotão grande e com o nervosismo costumam causar algumas quedas. A colocação à entrada do último quilómetro será decisiva, 2 rotundas em rápida sucessão costumam alongar muito o grupo. Jakobsen superou Coquard e Kristoff no ano passado.



Etapa 2

Primeiro teste às pernas dos trepadores com o Alto da Fóia. A jornada começa fácil, tudo se começa a complicar em Alferce, ao quilómetro 113, com 5,8 kms a 6,5%, sendo que quem queira endurecer o ritmo antes dos últimos 20 kms ainda tem uma colina de 2700 metros a 7,9% que não é categorizada. Hora da sequência decisiva Picota/Fóia. A Picota é a subida mais regular, tem 6400 metros a 6,5%, sendo que os últimos 2 kms são a rondar os 7%.

A entrada na Fóia é abrupta e quem queira fazer diferenças tem de ser desde o sopé, esta é a vertente por Monchique. A subida totaliza 7700 metros a 6,1%, a grande dificuldade está no quilómetro inicial a 8,9%, depois disso será improvável ver grandes ataques e grandes diferenças, muitas vezes está vento frontal e é uma montanha exposta. Em 2022 usou-se a mesma vertente e houve sprint de umas 20 unidades.

 

Etapa 3

Segunda e última oportunidade para os homens rápidos aqui presentes, com o trajecto de mais de 200 kms entre Faro e Tavira. Os ciclistas vão uma primeira vez a Tavira, momento em que viram para o interior do Algarve de modo a passar por 2 contagens de montanha. Depois de Vila Real de Santo António até à meta o traçado é feita praticamente sempre pela Nacional 125. Mais uma vez a colocação é importante visto que há uma curva à direita a 90 graus dentro dos 500 metros finais.

 

Etapa 4

Desta vez a mítica etapa do Malhão é ao Sábado! A jornada é relativamente parecida em relação ao ano passado, com a sequência Vermelhos-Alte-Malhão-Malhão, mantendo-se a dupla passagem pela subida de 2500 metros a 9,8%. Não é de esperar grandes movimentações nas contagens de montanha anteriores. Caso a primeira passagem pelo Alto do Malhão seja muito atacada, o grupo vai logo ficar muito curto e a corrida completamente aberta visto que está a 24 kms da meta.



Etapa 5

A hora de todas as decisões é o contra-relógio de 24,4 kms com início e final em Lagoa, é um esforço individual ainda relativamente longo e mais extenso do que o anterior percurso de Lagoa usado em 2019 e 2020, na altura com 20 kms. Tem 2 colinas pelo meio, ambas com cerca de 500 metros, que servem para quebrar um pouco o ritmo dos puros especialistas.

 

Tácticas

Quais as consequências desta ligeira alteração de percurso com o contra-relógio a fechar a Volta ao Algarve em vez de o termos a meio? Creio que é uma tentativa da organização de promover as equipas dos trepadores a arriscar o tudo por tudo na etapa do Malhão e fazer com que chegue aí um lote de ciclistas mais alargado no que toca ao pensamento da vitória. A última vez que tivemos uma “Algarvia” nestes moldes Remco Evenepoel partiu para o contra-relógio de amarelo e selou o triunfo aí. De resto, teríamos de recuar até 2013, quando Tony Martin ganhou uma edição que ainda nem tinha o Alto da Fóia.

Há algo que não podemos esquecer em relação ao percurso da Volta ao Algarve, no ciclismo moderno fazer grandes diferenças nas subidas é cada vez mais raro, existe portanto uma relação muito próxima entre o contra-relógio e o vencedor da corrida, ora vejamos, em 2013 (Tony Martin), 2020 (Remco Evenepoel), 2022 (Remco Evenepoel) os vencedores coincidiram e das últimas 10 edições (vamos excluir 2021 da amostra pelas suas especificidades) apenas por 2 ocasiões o vencedor final não fez pódio no contra-relógio, falamos de Michal Kwiatkowski em 2018 (foi 4º e depois foi aquela fuga louca na etapa do Malhão) e Tadej Pogacar em 2019 (foi 5º e venceu a geral aos…20 anos).

Portanto sim, acho que o vencedor da Volta ao Algarve 2023 vai fazer top 5 no contra-relógio e sinceramente isso até está a baralhar ligeiramente as minhas contas, porque há imensos especialistas em competição.

 

Favoritos

João Almeida – Apesar de por norma demorar um pouco a carburar o ciclista português já deu bons sinais em Maiorca e por isso mesmo é um grande candidato. Muito completo, recentemente deu mostras de ter perdido alguma explosão nas subidas, talvez devido aos métodos de treino usados na UAE Team Emirates. As entradas na Fóia e no Malhão são muito importantes para não se gastar muita energia e essa é uma área a melhorar por João Almeida, que é bastante competente no contra-relógio.



Filippo Ganna – Sim, pode parecer uma maluquice e provavelmente até é. Vários factores convenceram-me a colocar Ganna nesta categoria, primeiro acredito que pode ganhar 30 segundos à concorrência no contra-relógio, segundo se sobreviver ao quilómetro inicial da Fóia dificilmente perde mais de 15 segundos e terceiro, é talvez o ciclista com a preparação mais adiantada pelo que mostrou em San Juan e também devido aos Europeus de Pista. Não está focada em nenhuma Grande Volta.

 

Outsiders

Tobias Foss – Daqueles ciclistas que sinto que ou faz pódio ou fica fora do top 10. Depois do surpreendente título de campeão mundial de contra-relógio sentirá a necessidade de mostrar que não foi um mero acaso aquilo que conquistou na Austrália. Está motivado para se mostrar nem que seja para sair para uma grande potência no final da temporada e conhece muito bem este traçado, já fez top 10.

Sergio Higuita – Podia perfeitamente ter feito a dobradinha Fóia/Malhão em 2022, um toque de bicicleta tramou-o à grande na Fóia. É daqueles que precisa de atacar com alguma urgência, poderá perder entre 30 segundos a 1 minuto para o vencedor do contra-relógio. O colombiano não esteve nada mal em San Juan, chega com algum ritmo e Hindley poderá ser uma importante ajuda.

Ilan van Wilder – O jovem belga destacou-se pelo trabalho que fez em prol de Remco Evenepoel durante a época passada, tem aqui uma boa oportunidade para se mostrar ao Mundo nunca percurso que lhe assenta muito bem, é relativamente explosivo e bom especialista no contra-relógio, conta com Cavagna e Asgreen ao seu lado.

Possíveis surpresas

Rui Costa – Está indubitavelmente em grande forma e num grande momento, simplesmente não o vejo a ganhar esta Volta ao Algarve. É uma prova com uma vertente táctica muito simples e aos 36 anos o ciclista português já não é muito explosivo em subidas, que diga-se nunca foi a sua especialidade e no contra-relógio dificilmente fará top 5. Com isto, se tivesse de apostar seria um dos nomes mais certos para o top 5/top 10 final, mas não estou a ver um cenário em que consiga ganhar.



Thymen Arensman – Quem leu as nossas previsões anuais sabe que meti Arensman a ganhar o Giro, é esse o seu grande objectivo. Portanto, acredito no seu potencial, mas acho que o neerlandês, apesar de ter um perfil que até se adequa à Volta ao Algarve, não está ainda na plenitude das suas capacidades.

Dani Martinez – Não é propriamente o ciclista mais fiável do Mundo, esteve mal em San Juan, depois foi 2º nos Nacionais, acho que poderá vir como gregário de alguém não obstante ter feito 3º na edição de 2022.

Stefan Kung – Deverá andar novamente a lutar entre os melhores e um top 10 na geral é bem possível, mais do que isso deverá ser muito complicado por todo o tempo perdido na montanha, nomeadamente no Malhão. No ano passado foi 7º com mais quilómetros de contra-relógio do que este ano.

Bauke Mollema – Encontrou uma nova vocação na arte de correr contra o cronómetro, está a fazer os melhores “cronos” da carreira já acima dos 30 anos. Se estiver em forma não vai ser fácil descolá-lo na Fóia e no Malhão, é uma hipóteses para o top 5.

Valentin Madouas – Gregário de luxo para David Gaudu no Tour, tem aqui um importante teste para o que se segue na época. Gosta de pendentes inclinadas e defende-se contra o cronómetro, não seria uma surpresa completa vê-lo numa tentativa de ataque de longe.

Kobe Goossens – Grande início de época, não tem o contra-relógio para ganhar a Volta ao Algarve, longe disso e o foco aqui está em Rui Costa.

Jai Hindley – Forte candidato ao Malhão, mais do que isso não, tem debilidades para a última etapa.

Tobias Johannessen – O grande joker desta corrida. Top 10 na Volta a Catalunha e no Dauphine em 2022, é explosivo quanto baste, o que será necessário nas subidas da Volta ao Algarve. A Uno-X sabe muito bem o que está a fazer e o norueguês tem tudo para se defender bem no último dia.



Rune Herregodts – Outro grande joker, dentro da Intermarche-Circus foi aquele que recentemente mais aptidão mostrou para o contra-relógio, na altura ainda dentro da Topsport Vlaanderen, veremos agora com melhor material. Na Figueira da Foz mostrou estar a subir muito bem, este corredor é uma caixinha de surpresas.

Odd Eiking, Thibault Guernalec, Kevin Vermaerke e Sam Oomen – Top 10 plausível, mais do que isso não.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Thomas Pidcock e Natnael Tesfatsion.

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