Depois da passagem pela Figueira da Foz, o ciclismo vira-se para o sul de Portugal para mais uma edição da Volta ao Algarve! Com um percurso diferente e um pelotão recheado de grandes estrelas, teremos novamente um português a triunfar?

 

Percurso

Etapa 1

Tal como nas últimas edições, a primeira etapa da “Algarvia” liga as cidades de Portimão e Lagos, numa distância de praticamente 200 kms. O traçado é relativamente acessível, com apenas uma contagem de montanha em Nave, uma belíssima oportunidade das equipas portuguesas subirem ao pódio no final da etapa. A aproximação à meta é perigosa, com uma zona técnica antes do quilómetro final e depois uma longa reta da meta.



Etapa 2

Chegada ao Alto da Fóia, só que aqui surge uma das inovações, com uma vertente diferente a ser colocada em prova. A aproximação à subida final faz-se por Marmelete (2,3 kms a 7,4%) e, principalmente, Pomba (3,8 kms a 7,4%), uma escalada muito complicada que fica a cerca de 10 quilómetros do fim.

Curta descida para o início da Fóia, este ano com 8500 metros de extensão a 5%. Só os últimos 2,5 quilómetros são relativamente duros, até lá o ritmo será de desgaste e muito cuidado com os derradeiros 1500 metros a uma média de 9%!

 

Etapa 3

Vila Real de Santo António e Tavira são 2 cidades muito próximas, a organização consegue esta quilometragem toda com uma incursão não muito dura pela Serra Algarvia, com 2 contagens de 3ª categoria em Mercador e Faz Fato. O final em Tavira é bastante técnico, têm acontecido algumas quedas nas últimas temporadas e é preciso entrar bem posicionado na reta da meta que é em ligeira subida.

 

Etapa 4

Desde 2022 que Faro não estava no menu da Volta ao Algarve como final de tirada, algo que acontece este ano, numa etapa que tem partida em Albufeira. Apesar da orografia bastante ondulante, que até incluiu uma passagem pelo Alto do Malhão, o final deve decidir-se ao sprint. Resta saber com que tamanho do pelotão, já que Santa Bárbara e Bordeira foram colocadas de forma encadeada a cerca de 20 quilómetros do fim. A chegada será feita a alta velocidade, num falso plano em direção à meta.

 

Etapa 5

Para terminar a segunda grande novidade! O Malhão não podia faltar como final de etapa e aí está ele … num contra-relógio individual. Saída de Salir, cerca de 17 500 metros planos até ao sopé da subida algarvia. A partir daqui todos já sabem o que têm pela frente, 2100 metros de grande dureza, com uma inclinação média de 9,3%!

 

Tácticas

Isto é quase o cenário perfeito para a organização, temos tudo para assistir ao primeiro grande duelo do ano entre UAE, Visma e Red Bull numa prova por etapas, com alguns convidados mistérios à mistura. Percurso novo, vai mudar algumas dinâmicas, mas globalmente acho que vai tirar alguma espectacularidade à etapa do Malhão. Falta ali no meio uma etapa que promova alguma incerteza, porque este final tem claros candidatos e fecha a porta a surpresas.



Estou muito curioso sobre a táctica da Visma, obviamente que neste fase da época Vingegaard ainda não estará a 100%, particularmente na parte da explosão e a subida do Malhão é explosiva, se tivermos sprint reduzido na Fóia, Roglic é o maior candidato, portanto eu vejo a Visma a tentar alguma coisa na Pomba porque têm claramente a melhor equipa para a montanha, com Van Aert, Tulett, Benoot, Kuss e Kelderman, fazer um primeiro teste. Não diria Vingegaard atacar logo aí, mas deixar um grupo de 10/15 elementos para tentar isolar Roglic e João Almeida e depois sim tentar isolar o dinamarquês na Fóia.

 

Favoritos

Jonas Vingegaard – Considero o dinamarquês um pouco um corredor à antiga, que tem um foco muito grande nas Grandes Voltas, no entanto 90% da sua capacidade pode ser suficiente para triunfar aqui, relembrando que no passado ele já dominou no Gran Camiño, apesar de outra concorrência. Gostaria de ter outra dureza, ainda que a sua capacidade explosiva seja subestimada. Esta época é muito importante para Vingegaard, de modo a responder ao domínio demonstrado por Pogacar em 2024.

Primoz Roglic – Regresso do esloveno às estradas algarvias, 8 anos depois de ter ganho a edição de 2017 e para um percurso que parece desenhado para ele. É alguém que costuma carburar logo de início, não se importa nada com a extensão do contra-relógio e com o perfil do mesmo e o foco vai estar em resistir às investidas da Visma na Fóia, onde Oier Lazkano pode ser peça chave.

 

Outsiders

João Almeida – Já esteve a aquecer os motores em Valência onde apenas perdeu para Santiago Buitrago, é um ciclista que gosta muito de correr em Portugal e já disse que esta prova é um dos objectivos nesta parte inicial do ano. Creio que preferia o traçado antigo com 2 chegadas em alto e 1 contra-relógio plano, assim tem menos oportunidade de fazer diferenças.

Antonio Tiberi – 2024 foi uma temporada de consolidação na elite para o jovem italiano e aparece aqui com outro estatuto. A Bahrain começou muito bem a época, ganhou em Valência e creio que Tiberi tem aquela aceleração necessária para ser bem sucedido num traçado deste género.



Ilan van Wilder – Tem aqui uma das poucas oportunidade de liderar a Soudal-Quick Step ao longo do ano tendo em conta a presença de Evenepoel e Landa e a contratação recente de Paret-Peintre. Foi 3º em 2023 a apenas 15 segundos da vitória, é alguém que tradicionalmente sobe bem a Fóia e que anda bem no contra-relógio.

 

Possíveis surpresas

Tao Hart – Deixou algumas boas indicações na Figueira, terminou no grupo da frente e deixou tudo na estrada em prol de Mathias Vacek, creio que este traçado é duro demais para o checo e o britânico estando em boa condição física é um corredor a ter em conta.

António Morgado – Está a voar neste momento e a estrada é que por vezes decide lideranças. O que fez na Figueira é muito complicado, principalmente resistir a uma perseguição ainda forte, quando os ciclistas estão num bom momento é complicado pará-los.

Julian Alaphilippe – Vimos fogachos de um Alaphilippe ofensivo na Figueira, mas claramente ainda muito longe do seu auge e para ter hipóteses de disputar o triunfo precisaria de estar a 100%.

Rui Costa – Incrível como ano após ano o ex-campeão do Mundo permanece competitivo neste pelotão fero. Conseguiu mais um bom resultado na Figueira e acredito que um top 10 aqui seja possível.

Neilson Powless – No papel, este é um percurso até bastante bom para o norte-americano, que é um bom contra-relogista e passa bem a montanha. Já obteve vários resultados de qualidade em corridas de 1 semana.

Romain Gregoire – Muito curioso para ver a evolução do jovem francês de 22 anos que tem brilhado nas colinas, mas tem mostrado algumas debilidades nas subidas mais longas. É alguém que está a preparar um pico grande de forma já para as Ardenas.

Afonso Eulálio – Iniciou a época com um resultado até acima das expectativas no Tour Down Under, falando de alguém que se estava a estrear no World Tour. Aqui terá ainda mais motivação a correr em casa e acredito que a Bahrain não o vai colocar a trabalhar para Tiberi, ainda tem Caruso.



Filippo Ganna – Já fez 2º na classificação geral da Volta ao Algarve e esteve bastante ofensivo na Figueira. Ainda assim acredito que a Visma o vai tentar eliminar completamente da equação na etapa da Fóia.

Thymen Arensman – Na teoria até pode ser a melhor cartada da Ineos aqui, mas não acredito em mais do que um top 5 ou mesmo top 10. É um ciclista que não é explosivo e faltam subidas longas.

Geraint Thomas – Seria uma enorme surpresa para mim vê-lo junto dos melhores, ganhou em 2015 e 2016, fez 2º em 2017 e a partir daí cada vez que vem ao Algarve é para ganhar ritmo competitivo, acredito que este ano será a mesma coisa.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Sepp Kuss e Oier Lazkano.

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