Depois das clássicas da Flandres é hora para os voltistas entrarem de novo em acção na Volta ao País Basco, com um excelente elenco e um percurso repleto de subidas curtas e inclinadas.
Percurso
Etapa 1
Não é propriamente o início de Volta ao País Basco a que estamos habituados, em Hondarribia haverá um contra-relógio individual de 7,5 kms bastante ondulado em que metade dele será a subir ou a descer, incluindo 2 rampas de 9% bem inclinadas, a primeira com 500 metros e a segunda com 200 metros, em empedrado.
Etapa 2
Apesar dos mais de 200 kms e de uma orografia ondulada, esta será uma rara oportunidade para os sprinters, na chegada a Viana. Ainda assim os homens rápidos terão de superar 12,6 kms a 3,1% e algumas pequenas colinas já dentro dos 10 kms finais.
Etapa 3
Uma típica jornada basca que tenta promover o ciclismo de ataque ao colocar as principais dificuldades ainda longe da meta. Haverá 2 passagens pelas complicadas subidas de Opellora (1,1 kms a 13%) e Ozeka (3,6 kms a 7,4%), a última delas já dentro dos 30 kms finais. Há espaço para haver diferenças, mas terá de haver continuidade no ritmo e nos ataques. Apesar de não constar do perfil oficial, há uma rampa de 500 metros a 10% a cerca de 5 kms da meta, que pode ser uma importante rampa de lançamento para os atacantes visto que depois é quase sempre a descer até Amurrio.
Etapa 4
Mais uma complicada etapa de média montanha, onde a subida de Urruztimendi (1900 metros a 11%) pode abrir as hostilidades, a 40 kms do final. Ainda resta a ascensão a Vivero (6 kms a 6,3%), uma subida com uma fase inicial terrível e com rampas de 3 e 4% mais para o final. Segue-se uma rápida descida e os últimos 10 kms até Zamudio são planos.
Etapa 5
Bem vindos ao típico carrossel basco, com cerca de 3400 metros de acumulado compactados em 164 kms, este é um dia realmente duro. Na segunda metade da jornada há 4 subidas em rápida sucessão, sem espaço para respirar entre eles e apenas 2 delas são categorizadas, em relação às 2 cujos dados não constam do gráfico são 3 kms a 5,6% e 5,2 kms a 4,9%, importantes para acumular muito esforço, antes da Karabieta. Localizada a apenas 13 kms do final, a média engana muito e o início é duríssimo, com 3100 metros a 8,6%, dá para fazer diferenças muito grandes. A chegada em Mallabia tem cerca de 6% de inclinação no último quilómetro.
Etapa 6
Não que os dias anteriores tenham sido fáceis, mas este rebenta a escala, com cerca de 3500 metros de acumulado em 135 kms. A organização espera que a corrida mexa como em Endoia, uma subida que tem uma fase inicial com 2800 metros a 10,5%, uma pequena descida depois estraga completamente a média. Ainda com Azurki e Gorla por ultrapassar, é possível que pela dureza de Krabelin a corrida fique um pouco bloqueada até lá, com medo de possíveis quebras. O problema é que são 4100 metros a 10,5%, é simplesmente uma das subidas mais duras do ano e vamos ver muitos ciclistas parados na estrada, o miolo tem 1000 metros a 14%.
Os ciclistas vão passar pela meta aqui, a 40 kms da meta, é a vertente mais dura de Arrate e entre esta subida e o final ainda há Urkaregi (5 kms a 4,8%). O final, pela vertente de Usartza, tem 4500 metros a 8,8%), com a parte final a ser mais suave antes do final alucinante em Arrate, a descer. O quilómetro mais duro é logo o 2º, com 10,6% de inclinação média.
Táticas
A Volta ao País Basco costuma ser, sempre, uma corrida bastante animada. O terreno é muito complicado para uma equipa controlar, não havendo um único dia tranquilo. Este ano, a decisão começará a ser feita logo ao primeiro dia, com um curto contra-relógio onde se farão diferenças. A partir daí, será preciso estar atento todos os dias, apesar de só existir uma chegada em alto (Alto de Arrate, e mesmo assim terminar em descida), todos os dias podem ser feitas diferenças, nem que seja com as importantes bonificações à chegada.
Dentro de todas as equipas presentes, há um bloco a destacar: a INEOS Grenadiers. Praticamente todos os ciclistas presentes podem vencer (Adam Yates, Daniel Martinez, Tao Hart, Carlos Rodriguez, Geraint Thomas), o que por um lado torna a equipa muito perigosa mas, por outro, pode fazer, com que alguns ciclistas se retraiam em trabalhar. Se não vencerem podem decidir quem vence. Jumbo-Visma e Bora-Hansgrohe são outras equipas com várias opções.
Favoritos
Após a vitória no Paris-Nice, Primoz Roglic parte em defesa do País Basco, título conquistado em 2021. Logo ao primeiro dia deverá fazer diferenças, mesmo que curtas e, a partir daqui, poderá tentar controlar. As subidas bascas são ideais para o esloveno, curtas e explosivas, se os rivais o levarem até ao final já sabem o seu destino. O seu bloco é sólido, com Jonas Vingegaard e os fiéis Sepp Kuss e Chris Harper.
Na armada da INEOS Grenadiers, acreditamos que Daniel Martinez é quem mais pode fazer frente a Roglic. O colombiano está a aproveitar as oportunidades, foi 3º tanto no Algarve como no Paris-Nice e nesta última prova, foi quem mais perto esteve de derrotar Roglic na única chegada em alto. É, também, um corredor muito explosivo, sendo bastante combativo. A já referida superioridade numérica da INEOS poderá ser fundamental.
Outsiders
Primoz Roglic poderá não ir a todos os ataques e isso poderá abrir espaço a Jonas Vingegaard perseguir o seu resultado pessoal, numa prova que também é ao seu jeito. Já no ano passado os dois Jumbo-Visma fizeram parceria no País Basco e … ambos terminaram no pódio. Vem de ser 2º no Tirreno-Adriático e já venceu este ano.
Sergio Higuita mantém-se por Espanha e na tentativa da conquista de nova prova World Tour. O colombiano tem aqui um traçado ideal para si (retirando o curto contra-relógio onde terá que se defender), pois nas curtas subidas é sempre um perigo. Nos finais inclinados e mais planos será dos pouco capazes de ombrear ao sprint com Roglic e na luta pelas bonificações.
Sem a verdadeira alta montanha presente, Remco Evenepoel pode ter uma palavra a dizer. É certo que o belga gostaria de um contra-relógio mais longo mas mesmo assim é bastante provável ganhar tempo aos rivais. Os dias que se seguem serão importantes, se sentir a oportunidade para atacar não irá desperdiçar, o dia mais crítico deverá sero último. Evenepoel vem de um estágio onde os treinos mostram que está em forma, veremos se isso passa para a realidade e para a competição. Julian Alaphilippe e Mauri Vansevenant serão fundamentais.
Possíveis surpresas
A INEOS conta com um bloco fortíssimo e, como já referimos, Adam Yates, Tao Geoghegan Hart, Geraint Thomas e Carlos Rodriguez podem, muito bem triunfar. Numa corrida tática, a superioridade numérica será importante, e um ataque no momento certo será fundamental. Dentro destes 4 nomes, destacamos Yates que já aqui foi 4º e 5º em edições anteriores. Foi com bastante agrado que vimos Aleksandr Vlasov na luta pelo GP Miguel Indurain, parece que o ciclista russo reencontrou as boas sensações, após algumas provas abaixo do esperado. Em forma é um perigo, numa Bora-Hansgrohe também com várias opções. Enric Mas esteve ao serviço da equipa no GP Miguel Indurain, antes de voltar à liderança no País Basco. Totalmente recuperado da queda no Tirreno-Adriático, o espanhol preferiria uma corrida com subidas mais longas, no entanto nunca pode ser descartado. A correr em casa, Pello Bilbao é um perigo autêntico, poucos devem conhecer tão bem as subidas como o basco da Bahrain-Victorious que é um corredor muito ofensivo e, que sabe ler muito bem a corrida. Duas incógnitas são David Gaudu e Michael Woods, o primeiro vem de lesão, ao passo que o segundo abandonou na Catalunha devido a doença. Caso estejam recuperados, são candidatos aos primeiros lugares. Por fim, atenção a Ion Izagirre, Pierre Latour, Davide Formolo e Marc Soler.
Super-jokers
Os nossos super-jokers são Clement Champoussin e Mark Padun.