Depois das clássicas da Flandres é hora para os voltistas entrarem de novo em acção na Volta ao País Basco, com um excelente elenco e um percurso repleto de subidas curtas e inclinadas.

 

Percurso

Etapa 1

A competição abre com uma etapa acessível, o terreno no País Basco é tudo menos fácil, daí os 2500 metros de desnível acumulado positivo em 165 quilómetros, no entanto as subidas são bastante curtas e em Vitoria os poucos sprinters presentes devem discutir a primeira camisola amarela da prova.




Etapa 2

O terreno começa a complicar-se ao segundo dia, 5 subidas no menu, 2 delas nos derradeiros 50 quilómetros. A sequência que aparece no miolo da etapa pode ser importante para desgastar os corredores mas será em Arkiskil (11,1 kms a 3,1%) que tudo se vai decidir.

Esta é uma subida longa mas nada complicada de se fazer, apenas um quilómetro é acima dos 5% e os últimos dois são em ligeira descida. A subida termina a 4900 metros da chegada, seguindo-se 4500 metros em descida, até ao final plano em Leitza.

 

Etapa 3

Finalmente os muros bascos! Dia curto mas muito complicado com subidas para todos os gostos. Até aos 25 quilómetros finais há 5 contagens de montanha no entanto é no que resta que estão as grandes dificuldades do dia, todas elas não categorizadas.

A apenas 15 quilómetros surge a subida de Azibar (1500 metros a 9,7%), com Zizurkil (1000 metros a 10%) e Aduna (700 metros a 8,8% – sprint intermédio), a seguir-se num espaço de 10 quilómetros. Ultrapassadas estas colinas restam menos de 5 quilómetros até ao muro final. A chegada a Amasa-Villabona são 1100 metros a 9,4% com rampas máximas de 26%!

 

Etapa 4

Santurtzi acolhe a partida e a chegada da etapa, num dia bastante complicado de se controlar. Mais uma etapa com muito sobe e desce e que tem uma grande dificuldade nos últimos 25 quilómetros. Falamos da escalada de La Asturiana (7,4 kms a 6,3%, os primeiros 3,8 kms são a 8,8%). Esta subida termina a 14 quilómetros do fim, que serão feitos a alta velocidade, já que 10 deles são em descida.

 

Etapa 5

Novo dia no carrossel do País Basco, a olho nu contamos 13 subidas e apenas 4 delas são categorizadas. Focando nos derradeiros 40 quilómetros, onde a ação deverá ser maior, existe uma subida longa dividida em duas fases, uma primeira com 2,6 kms a 4,8% e outra com 3,9 kms a 4,7%.

Belarinaga (2,1 kms a 6,6%) é a última contagem de montanha do dia e antecede 600 metros a 10% e o sprint intermédio. Restam apenas 18 quilómetros e depois é necessário esperar pelos últimos 9 para as últimas 3 colinas: 900 metros a 9,1%, 600 metros a 9,6% e 1000 metros a 7%. Esta última fica a 3 quilómetros da chegada a Amorebieta.




Etapa 6

O grande dia de montanha da Volta ao País Basco! 138 quilómetros com praticamente 3400 metros de desnível acumulado positivo e 7 longas subidas, 3 delas de primeira categoria. Os últimos 50 quilómetros são uma verdadeira tormenta, primeiro com Trabakua (3,3 kms a 6,9%), seguindo-se três pequenos topos (700 metros a 11,2%, 1000 metros a 6,4% e 500 metros a 9,6%), antes de Izua (4,1 kms a 9%).

Esta é a última grande dificuldade do dia, fica a 27 quilómetros do fim no entanto ainda falta a subida de Urkaregi (5 kms a 4,6%), que termina a 13 quilómetros da chegada. Segue-se uma descida de 7 quilómetros até aos últimos 6000 metros planos na chegada a Eibar.

 

Tácticas

Em teoria tudo se irá decidir na última etapa, talvez nas últimas 2 etapas, no entanto todos os cortes e bonificações têm potencial para ter a sua importância visto que no último dia em as principais dificuldades ainda estão longe da meta. Em termos de blocos Groupama-FDJ, Movistar e Jumbo-Visma são aqueles que me parecem mais bem formados ou com mais opções para esta corrida. Na teoria a EF Education também tem essas opções, resta saber é o estado de forma de Carapaz, Uran e Chaves porque o nível desta corrida vai ser muito elevado. Existe o potencial nas etapas 4 e 5 de um grupo com algumas figuras mais secundárias sair e por isso ganhar algum terreno, não é impossível o vencedor sair daí.

 

Favoritos

David Gaudu – Fiquei muito impressionado com a exibição do francês no Paris-Nice, esteve mesmo a um nível muito elevado. Isso certamente deu-lhe muita confiança, bater-se (de certo modo) taco a taco com Pogacar e Vingegaard. A ausência de contra-relógio é perfeita para ele e o gaulês adapta-se perfeitamente a subidas curtas e inclinadas, aliás esta corrida servirá também de preparação para a Liege-Bastogne-Liege. A equipa é muito boa, principalmente com Storer e o super talentoso Romain Gregoire com ele e Gaudu já provou que tem ponta final para somar algumas bonificações.

Pello Bilbao – Sim, também existe Mikel Landa, mas vai mesmo a Bahrain apostar num ciclista que perde para quase todo o pelotão num sprint e que em finais mais explosivos de forma recorrente perde segundos em cortes?  Creio que não e creio que este traçado é perfeito para Pello Bilbao, é preciso recordar que temos também 2 finais em descida, outro aspecto em que o basco é bom. Estar a jogar em casa, num dos objectivos do ano, e com um excelente percurso para ele fazem-me pender para Bilbao.

 

Outsiders

Jonas Vingegaard – Por um lado é o vencedor do último Tour e quer mostrar depois do que aconteceu no Paris-Nice que está aqui para valer e que é preciso contar com ele. Por outro lado, não considero que este traçado seja bom para Vingegaard, sem contra-relógio, finais em descida ou em que a colocação é muito importante onde o dinamarquês não vai querer arriscar a preparação para a Volta a França, a necessidade de somar bonificações não sendo ele super explosivo. Para além disso estas colinas não são o território de Dennis, Kruijswijk ou Oomen, não vai ser fácil controlar a corrida. É dado como favorito nas casas de apostas, não acho que seja assim tão linear.

Enric Mas – Mostrou no final do ano passado uma outra faceta em subidas mais curtas e inclinadas, capaz de ombrear com os melhores, falta-lhe apenas explosão em terreno mais plano para somar bonificações. A Movistar vem com um bloco muito forte, Ruben Guerreiro e Nelson Oliveira são muito bons neste tipo de terreno, Gorka Izagirre e Gonzalo Serrano conhecem muito bem as estradas e Alex Aranburu pode funcionar como alternativo. Vejo Enric Mas a sacar um pódio dentro de uma Movistar extremamente motivada e eficaz neste início de temporada.



Ion Izagirre – 2º no ano passado, mostrou este Sábado no Gran Premio Miguel Indurain que tem de se contar com ele. É daqueles ciclistas que não se importaria de ter um contra-relógio, mas que este traçado também é incrível para ele, com 2 finais em descida. Tem a grande vantagem que para o basco este é um dos grandes objectivos da época, está mais disposto a arriscar do que alguns dos seus rivais e também não sprinta mal. Ganhar vai ser muito difícil, mas o pódio está perfeitamente ao alcance.

 

Possíveis surpresas

Simon Yates – Depois dos corredores que já mencionei é aquele que acho que tem maior probabilidade de ganhar, mas não maior probabilidade de fazer top 5 ou top 10. Este tipo de terreno é perfeito para Yates, que começou a época a voar no Tour Down Under e depois no Paris-Nice fez uma semana muito sóbria, terminando em 4º. A Jayco vem com uma equipa de apoio interessante, Craddock, Dunbar e Sobrero são todos ciclistas que se fossem líderes poderiam fazer top 20 e o facto de terem somente um líder pode ajudar.

Sergio Higuita – Para mim uma das grandes incógnitas desta prova, será que regressou ao nível que o fez ganhar a Volta a Catalunha no ano passado? Começou 2023 muito mal e não competiu em Março praticamente, agora de repente surgiu muito bem este Sábado. No papel, adapta-se muito bem a esta orografia, é explosivo e soma regularmente bonificações.

EF Education-Easy Post – Se não jogarem tacticamente e forem “para o risco” com os restantes favoritos tem tudo para dar mau resultado, Chaves, Uran e Carapaz não são os mais explosivos e estão a preparar outros objectivos. Têm de arriscar para serem protagonistas, senão correm o risco de serem irrelevantes para a geral.

Daniel Martinez – Capaz do 8 ou 80, como se viu bem na Volta ao Algarve, desiludiu nas subidas para deslumbrar no contra-relógio. Só que desta vez não há esforço individual e a Ineos-Grenadiers não vem com um bloco assim tão sólido. Apesar de ser um corredor capaz de ganhar a sprintar num grupo de 10/20, não inspira confiança.

Rui Costa – É daqueles ciclistas que começou o ano a voar e que está à espera que as últimas 2 etapas sejam muito abertas e muito tácticas, um bocadinho como a Volta a Comunidade Valenciana, o problema é que a menos que Calmejane e Taaramae estejam ao melhor nível das suas carreiras, num grupo de 20 poderá estar sozinho.

Romain Gregoire – Enorme, enorme talento, foi 8º na Strade Bianche aos 20 anos. No papel está ao serviço de David Gaudu, só que no ciclismo tudo pode acontecer.



Mikel Landa – Com a falta de explosão do basco não estou a ver nenhum cenário em que possa ganhar, sendo que o top 10 é bem possível e provável.

Alex Aranburu – Vamos entrar na secção dos improváveis, mas que vão testar os seus limites nas últimas 2 etapas. O espanhol tem melhorado na montanha e tem um excelente sprint, pode perfeitamente até ganhar 1 etapa. Depois nas últimas 2 jornadas é tentar aguentar-se com os melhores, e esperar que não sejam feitas a full gas.

Mattias Skjelmose – Está a confirmar as indicações dadas no ano passado, vejo a situação do dinamarquês parecida à de Aranburu, entre os ciclistas que sobem bem é dos mais rápidos num sprint e considero que a última etapa é no seu limite, já mostrou que tem debilidades nas subidas mais longas, mas não há assim muitos esforços longos aqui.

Remi Cavagna – Trabalhou muito na montanha e melhorou consideravelmente, apesar de ser daqueles que estará a rogar pragas à organização por não haver contra-relógio, ainda tem as suas chances. Diria que o francês terá 1/2 balas para gastar ao longo da corrida, vai ter de arriscar e atacar de longe quando existir um grupo já relativamente reduzido e em que os líderes não tenham muitos colegas de equipa.

UAE Team Emirates – Acho que ninguém sabe bem quem vai ser o líder, tendo em conta as últimas corridas acredito que Marc Soler e Brandon McNulty tenham as pernas e tenham a liberdade para isso, ainda que este terreno também se adapte a Grossschartner. Para ganharem precisam de usar a força dos números como equipa.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Quinten Hermans e Mauro Schmid.

By admin