Depois das clássicas da Flandres é hora para os voltistas entrarem de novo em acção na Volta ao País Basco. Num percurso muito variado e repleto de subidas curtas e inclinadas. João Almeida procura conquistar mais uma prova no World Tour!
Percurso
Etapa 1
A Volta ao País Basco inicia-se com um curto contra-relógio individual de 16500 metros, em Vitoria. Este é um percurso que fica marcado por uma subida de 900 metros a 2,4% ainda nos primeiros 4 quilómetros, com algum sobe e desce, característico desta região, mas sem grandes dificuldades de maior.
Etapa 2
Partida de Pamplona, uma etapa de quase 200 quilómetros e com apenas 1700 metros de desnível acumulado positivo. As principais dificuldades estão na fase inicial e a aproximação a Lodosa tem diversas colinas que serviram para desgastar as pernas dos poucos sprinters presentes. A subida de Cárcar (2400 metros a 4,1%) a 17 quilómetros do fim é a derradeira oportunidade para os ataques e evitar uma chegada em pelotão compacto.
Etapa 3
Dia com 7 subidas categorizadas, o verdadeiro terreno do País Basco, um rompe pernas brutal. As subidas mais longas surgem na primeira metade mas as mais íngremes estão na parte final, primeiro com Gainza (2,3 kms a 11,5%), a 37 quilómetros do fim, e Lazkaomendi (1400 metros a 9,6%) a 6 quilómetros do fim. O final é muito rápido, após a descida da derradeira colina restam apenas 2 quilómetros.
Etapa 4
170 quilómetros entre Beasain e Markina-Xemein, novamente com uma fase inicial bastante dura, o pelotão poderá ficar muito reduzido ainda na primeira metade da corrida. O palco de todas as decisões será a subida de Izua (3,5 kms a 9,6%), onde os 2 primeiros quilómetros são a 14,6% e 12,6%, incluindo rampas a 20%! No topo, restam 11 quilómetros para a chegada, mais um final bastante rápido, com os últimos quilómetros a serem planos.
Etapa 5
Uma tirada com apenas 4 contagens de montanha de 3ª categoria mas longe de ser uma etapa acessível. Todas as subidas categorizadas ficam longe da meta mas não significa que os derradeiros 20 quilómetros serão tranquilos, já que logo a seguir ao sprint intermédio de Forua surge a subida de Zalobante (4,9 kms a 6,4%, com os primeiros 2,2 kms a 9,4%). Topo a 14 quilómetros do fim, rápida descida e uma colina com 700 metros a 6,7% a apenas 3 quilómetros da chegada a Gernika-Lumo.
Etapa 6
A Volta ao País Basco termina com uma etapa em torno de Eibar, um cenário já habitual na competição espanhola mas não termina no Santuário de Arrate. Um dos dias mais duros da prova, mais de 3600 metros de desnível acumulado positivo, uma etapa que pode ser atacada de muito longe. A subida de Izua (4,1 kms a 8,9%) a 38 quilómetros servirá para uma grande seleção no pelotão e, possivelmente, para ataques, antes de Trabakua (3,3 kms a 6,8%), que termina a 18 quilómetros do fim. Até ao final, algumas colinas, a última das quais já dentro de Eibar, a 5 quilómetros do fim, com 460 metros a 10,4%.
Tácticas
Este é um traçado bem mais diversificado do que o normal no País Basco, é verdade que temos 4 etapas de montanha que prometem fazer diferenças, mas há um contra-relógio individual plano e até uma possível chegada ao sprint, isto é sinal de uma organização que de certa forma amadureceu um pouco e sabe da importância de um percurso variado. Assim à primeira vista diria que ataques importantes de longe só mesmo na última etapa, na 3ª jornada pode já haver algum terreno para isso, mas aí as diferenças na geral ainda são muito curtas.
Não há um único final em alto e as subidas têm em comum o facto de serem muito inclinadas e relativamente curtas, o que torna o posicionamento ainda mais importante, é crucial ter um bloco coeso e ter boa capacidade de descida, para além de se defender no contra-relógio individual. Parece-me ser uma prova potencialmente muito aberta, não vejo um nome a ser o dominador absoluto e pode haver surpresas, claramente os blocos mais fortes são da Red Bull-Bora, Bahrain, Lidl-Trek e UAE.
Favoritos
Florian Lipowitz – Quando 2025 começou achei que era dos ciclistas que mais poderia surpreender nas Grandes Voltas e gostei muito do Paris-Nice que fez porque demonstrou uma grande consistência nas etapas de montanha, mesmo naquelas com esforços mais curtos e explosivos, algo que sempre me pareceu um calcanhar de Aquiles nele. Debeladas essas potenciais dificuldades, é alguém que se defender bem no contra-relógio e com uma excelente equipa, nomeadamente Dani Martinez, para o colocar no início das subidas.
Mattias Skjelmose – Creio que no papel não poderia haver um percurso melhor para o dinamarquês, um contra-relógio plano para poder ganhar uns segundos aos puros trepadores, depois várias subidas curtas e explosivas, eventualmente alguns finais em sprint reduzido onde também é forte. É dado como o principal candidato pelas casas de apostas e realmente tem uma boa equipa com ele (Bagioli, Nys, Konrad, Mollema, Simmons), mas sou um eterno desconfiado no que toca à capacidade de Skjelmose corresponder às expectativas quando é favorito.
Outsiders
João Almeida – Começou a temporada a voar nas rampas da Volta ao Algarve, depois tudo parecia encaminhado para um bom Paris-Nice até adoecer e isso baixar o rendimento. Acho que aqui já se vai apresentar melhor e recuperado, mas o percurso não é propriamente adequado às suas características, não há chegada em alto, finais em descida e a colocação nas subidas é crucial.
Pello Bilbao – Conhece a estrada como poucos, 8º em 2018, 6º em 2021, 5º em 2022 e 6º em 2024, é de uma consistência impressionante e pode aproveitar o facto das atenções estarem dispersas em Buitrago. Uma prova mais aberta beneficia o combativo basco que não tem medo de atacar e arriscar, é dos melhores do pelotão a descer.
Enric Mas – A Movistar tem estado bastante bem em 2025, o espanhol está em preparação para participar no Tour e já deve estar com uma condição física melhor, foi 6º em 2018, 11º em 2019, 9º em 2022 e 5º em 2023. Estas subidas mais curtas e explosivas são muito boas para Enric Mas, um pouco ao estilo Lombardia, Mas costuma andar entre os melhores neste tipo de terreno.
Possíveis surpresas
Santiago Buitrago – A espaços é dos melhores corredores do pelotão internacional neste tipo de terreno, mas também é relativamente inconsistente e parece que tudo lhe acontece. Na teoria está perto da melhor forma porque as clássicas das Ardenas estão próximas, está a ultimar detalhes. Vejo-o mais perto de ganhar uma etapa do que ganhar a geral.
Isaac del Toro – Passo a passo está a afirmar-se no pelotão internacional, foi importante para Juan Ayuso no Tirreno-Adriatico e depois brilhou na Milano-Torino, num terreno parecido a este. O problema do mexicano será também o posicionamento no pelotão, na Milano-SanRemo foi isso que lhe custou não ajudar Pogacar na Cipressa. É bom no contra-relógio, um ciclista enigmático.
Brandon McNulty – Este ano ainda não deu grandes indicações, mas é um ciclista que no ano passado obteve 9 vitórias neste tipo de corridas, tem sempre de ser tido em conta, principalmente quando há um contra-relógio à mistura.
Thibau Nys – Vitória impressionante no Gran Premio Miguel Indurain, vai ser um factor importante nas clássicas das Ardenas e claramente está em grande forma. Não tenho dúvidas que vai andar a lutar por etapas, mas ainda sou reticente na sua capacidade de lutar pela geral nas etapas com mais acumulado, principalmente a ligação de Eibar.
Romain Gregoire – Fez uma boa Volta ao Algarve, a sua prestação no contra-relógio foi impressionante e acredito que se defenda bem novamente aqui. Depois mostrou ambição na Milano-SanRemo ao tentar seguir os melhores, partiu o motor por causa disso. Guillaume Martin não é propriamente um gregário, acho que vai estar um pouco isolado depois das subidas.
Maxim van Gils – Nunca mais conseguiu repetir a prestação da Vuelta a Andaluzia, no entanto teoricamente está perto de um pico de forma, é a principal aposta da Red Bull-Bora para as clássicas das Ardenas. As subidas mais duras desta prova acho que estão no limite para o belga.
Ben Tulett – Perante um Sepp Kuss algo inerte o britânico pode aproveitar para se destacar novamente dentro da Visma. Neste momento reina a confiança, obteve a primeira vitória como profissional recentemente e é uma Visma que com Kuss, Kelderman, Zingle e Valter pode dar algum apoio na montanha.
Eddie Dunbar – O irlandês é sempre uma incógnita, pelo padrão obtém melhores resultados em Grandes Voltas do que em corridas de 1 semana, indica que tem uma excelente recuperação entre esforços.
Harold Tejada – O colombiano é um nome bastante sólido para o top 10, foi 9º no UAE Tour e 8º no Paris-Nice, tem ganho outra consistência recentemente e a Astana globalmente está em sobrerendimento.
Ben Healy – Não acredito propriamente no irlandês para a classificação geral, mas é um forte candidato a ganhar uma etapa no meio da anarquia após as subidas, é alguém muito ofensivo, que não é encarado como um perigo para a geral e que está a ultimar os detalhes para brilhar nas clássicas.
Oscar Onley – Um excelente ciclista em corridas de 1 semana, está constantemente no top 5 ou no top 10, 4º no Tour Down Under nos últimos 2 anos, top 10 na Volta a Polónia e na Volta a Suíça e este ano até foi 5º no UAE Tour. Sempre achei mais proveitoso em subidas mais curtas do que em esforços mais longos.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Finn Fisher-Black e Clement Champoussin