A menos de um mês do Tour de France, o World Tour regressa a França para uma das últimas provas antes da 2ª Grande Volta do ano! Com Primoz Roglic de regresso à competição, teremos o esloveno a querer marcar posição?
Percurso
Etapa 1
O Criterium du Dauphiné abre com uma maratona de praticamente 200 quilómetros, um dia tudo menos fácil para os ciclistas. Logo a abrir, surgem 2 contagens de montanha em apenas 40 quilómetros, duas subidas longas mas não muito duras mas que, se forem feitas a um ritmo elevado, podem fracionar o pelotão.
Rapidamente os ciclistas se dirigem para o circuito final, onde voltam a ter pela frente duas subidas: o Côte du Chambon du Bavas (4,9 kms a 5%) imediatamente seguido do Col du Moulin à Vent (3.4 kms a 4,8%). Na segunda passagem por aqui, os ciclistas terminam a derradeira subida a apenas 31 quilómetros da chegada, antes de um final muito rápido na cidade de Beauchastel.
Etapa 2
Nova etapa de alguma dificuldade na prova francesa, onde as muitas subidas podem afastar os sprinters da luta. Os primeiros 90 quilómetros terão duas ascensões mais acessíveis, antecedendo o Col de Mezilhac (11.6 kms a 4,1%). O final da contagem de montanha não significa o fim da subida, esta ainda continua por mais meia dezena de quilómetros, antes de uma longa fase de planalto.
O terreno torna-se fácil até aos últimos 13 quilómetros, onde aparecem dois pequenos topos em sequência que podem levar a ataque. Primeiro 1000 metros a 5,2%, 1200 metros a 4,9%. A última subida termina a 9 quilómetros da chegada, um final plano.
Etapa 3
Primeira chegada em alto do Dauphiné, mas mais que isso primeiro dia para se fazerem diferenças na classificação geral. Tudo se deve resumir aos derradeiros 50 quilómetros, a maioria deles em subida, apesar de não muito íngreme começará a desgastar as pernas dos ciclistas. Mesmo assim, os ataques devem ficar guardados para Chastreix-SAncy (6,2 kms a 5,6%), uma subida bastante irregular. O quilómetro final é praticamente plano no entanto, para trás há um quilómetro a 8%, onde podem existir ataques.
Etapa 4
Ao 4º dia surge o esforço individual da competição. 32 quilómetros entre Montbrison e La Batie d’Urfé, um percurso praticamente plano e com longas retas, perfeitas para os puros especialistas.
Etapa 5
Chaintré deverá acolher mais uma chegada ao sprint da competição francesa, no entanto a ASO decidiu voltar a colocar diversas armadilhas para tentar dificultar a vida dos homens rápidos. Depois de um início bastante ondulante, o mesmo se podem dizer dos últimos 25 quilómetros com dois pequenos topos: Col du Bois Clair (2,6 kms a 4,2%) e Cote de Mont-Brison (1,8 kms a 5,6%). Até ao final restam apenas 14 quilómetros, que serão feitos a grande velocidade.
Etapa 6
A média montanha está de regresso, num dia com quase 200 quilómetros e onde a fuga pode sair a sorrir. Com um miolo de etapa consideravelmente duro, entre o quilómetro 41 e o quilómetro 139 existem 4 contagens de montanha, as 3 primeiras em sequência, as decisões da etapa ficarão guardadas para os últimos 7 quilómetros, onde surge uma colina com 3200 metros a 3% com os últimos 600 metros a 5,2%. A chegada a Gap é em ligeira descida.
Etapa 7
A entrada no fim-de-semana faz-se com a alta montanha e com um dia com várias subidas míticas. A abrir surge o Col du Galibier (23,1 kms a 5,1%) e já no último terço o Col de la Croix Fer (29 kms a 5,2%, com os últimos 6,7 kms a 8,2%).O topo da subida é ultrapassado a 31 quilómetros do fim, seguindo-se um longa descida (interceptada apenas por dois pequenos topos), até ao sopé da última ascensão do dia.
Vaujany serão 5,8 kms a 7,2% mas com o último quilómetro plano, o que vem estragar, e muito a média! Os primeiros 4800 metros são a 8,9%, tendo 1000 metros a 14%, mesmo antes do quilómetro final plano.
Etapa 8
O grande dia de alta montanha, com praticamente 3800 metros de desnível acumulado positivo! Os primeiros 30 quilómetros têm duas difíceis montanhas mas o menu principal será servido nos derradeiros 50. O Col de la Colombiare (11,9 kms a 5,7%) poderá ver um endurecimento sério da corrida, antes de todas as decisões serem feitas no Plateau de Solaison. Uma categoria especial para terminar a competição, um total de 11400 metros a 8,9% de uma subida bastante íngreme e com vários quilómetros acima dos 10% de inclinação média.
Tácticas
O Dauphiné tem vindo a perder alguma importância ao longo dos últimos anos em relação à preparação para o Tour. Há umas épocas parecia que o caminho preferencial da maioria dos ciclistas passava pela prova francesa, mas em parte Tadej Pogacar veio alterar esse paradigma e a preparação do esloveno vai novamente passar pela Volta a Eslovénia.
Este ano a prova francesa não tem propriamente etapas fáceis, que se diga de caras que é para puros sprinters e o contra-relógio constitui um bom teste para o Tour. Para além da UAE Team Emirates resguardar parte da equipa, também a Ineos Grenadiers não tem aqui algumas cartas importantes e dos blocos mais poderosos é a Jumbo-Visma que se apresenta aqui praticamente na máxima força e pode fazer grandes estragos, tal como no Paris-Nice.
Uma grande curiosidade prende-se com 2 ciclistas que vieram do Giro, saber se vão estar prejudicados pelo desgaste ou beneficiados pelo ritmo competitivo que trazem, falamos de Jan Hirt e Wilco Kelderman. Muita atenção a segundas linhas em corridas destas, os grandes líderes para o Tour não vão querer gastar cartuchos aqui, o problema desses nomes mais discretos é que a maioria deles vai perder muito tempo no contra-relógio.
Favoritos
A Jumbo-Visma tem o alinhamento mais forte do Dauphiné, ainda assim existem questões sobre a liderança da formação holandesa e se eles querem mostrar já o jogo todo à concorrência. Se a temporada tivesse ocorrido sem sobressaltos poderia ser diferente, mas com todos os contratempos à mistura é a ocasião perfeita para fazer com que Primoz Roglic ganhe confiança antes de batalhar com Pogacar no Tour. Com as diferenças feitas no contra-relógio poderá bastar controlar as operações a partir daí, colocando a bom uso Tiesj Benoot e Steven Kruijswijk, ainda a lutar pelos seus lugares no Tour.
A Bahrain-Victorious continua a ser uma das equipas do momento, esteve relativamente perto da vitória no Tour de Romandie e a lutar pelo Giro, ou pelo menos pelo pódio do Giro. Atendendo aos objectivos e ao perfil desta corrida Jack Haig deverá ser o líder de uma equipa que também tem Damiano Caruso e Dylan Teuns, um trio bastante perigoso na alta montanha e que também pode jogar com isso. Se é para dar o salto, esta é uma altura perfeita para Jack Haig, antes que seja antecipado por outros talentos como Gino Mader ou Santiago Buitrago.
Outsiders
Não seria totalmente surpreendente se a Jumbo-Visma acabasse com 1º e 2º, mas tudo depende da dificuldade ou facilidade em controlar as etapas. Entre os candidatos à geral, Jonas Vingegaard e Primoz Roglic são dos melhores contra-relogistas e a grande aposta até pode mesmo passar por Vingegaard, caso a intenção seja resguardar mais Roglic e proteger o esloveno de momentos de pressão.
Ben O’Connor começa a ser dos ciclistas com mais responsabilidade neste tipo de corridas. 4º no Tour do ano passado, este ano foi 6º na Volta a Catalunha e 5º no Tour de Romandie, continua a ser muito regular na alta montanha e a atitude destemida de atacar de longe pode colher frutos numa prova destas. Precisa de umas pernas incríveis para bater a armada da Jumbo.
Vemos em Enric Mas um nome para o pódio, mas muito dificilmente para vitória, até porque vai perder muito tempo no contra-relógio. Geralmente é muito conservador e até nem anda muito bem antes das grandes provas, a questão é que a Movistar precisa mesmo dos pontos para as contas WT e nestas 2 semanas é a única prova em que vai participar.
Possíveis surpresas
A Ineos-Grenadiers vem sem nenhum dos grandes líderes, Dani Martinez e Adam Yates escolheram outro caminho, a esperança está que Tao Hart faça como Jai Hindley e confirme aqui o que mostrou no Giro 2020, só com essas pernas é que vai conseguir voltar aos lugares cimeiros. A UAE Team Emirates também chega sem Tadej Pogacar, mas tem Juan Ayuso e Brandon McNulty como alternativas. O norte-americano poderá até ser dos poucos que fique relativamente perto dos corredores da Jumbo após o contra-relógio e depois pode adoptar uma atitude mais defensiva. O espanhol continua a sua evolução, foi 5º na Volta a Catalunha e 4º no Tour de Romandie, muito cuidado com ele porque até se defende no contra-relógio e tem nesta prova o seu grande objectivo desta fase da época. A Bahrain-Victorious tem Damiano Caruso para além de Jack Haig, o último resultado do italiano engana porque sofreu uma avaria no Tour de Romandie na chegada em alto, e mesmo assim fez 6º na geral. David Gaudu mostrou boas pernas na recente clássica francesa e tem com ele dos blocos mais fortes na alta montanha, com Molard, Madouas e Storer, bem vão precisar de atacar porque todos vão perder muito tempo para outros candidatos na 4ª etapa. Temos muita curiosidade em ver se Wilco Kelderman e Jan Hirt conseguem manter a forma do Giro e não acusam o cansaço, caso logrem manter os valores da Volta a Itália são claros candidatos ao pódio, sendo que a Intermarche-Wanty também tem um Louis Meintjes em excelente forma. Muito cuidado com Tobias Johannessen, o jovem norueguês é muito explosivo e na sua estreia do World Tour foi 7º na Volta a Catalunha, não é um puro trepador, mas é um ciclista muito completo. Mark Padun vai tentar repetir o brilharete do ano passado.
Super-Jokers
Os nossos Super-Jokers são: Antonio Tiberi e Simon Geschke.