As provas por etapas do World Tour estão de regresso à Europa! Como sempre, a “Corrida para o Sol” abre as hostilidades, com um pelotão muito bem composto. Espera-se o primeiro grande duelo entre Primoz Roglic e Remco Evenepoel, com João Almeida à espreita.

 

Percurso

Etapa 1

A edição deste ano do Paris-Nice arranca com uma etapa bastante traiçoeira. Os últimos 40 quilómetros são complicados e perfeitos para ataques de longa distância. A 18 quilómetros do fim, o sprint intermédio fica num topo com 700 metros a 8,1%, seguindo-se o Côte d’Herbeville (2,6 kms a 5%). Atingido o topo restam apenas 13,5 quilómetros, em plano ou descida. O final é em ligeira subida.



Etapa 2

O segundo dia traz uma etapa bastante acessível, pouco desnível acumulado, apenas duas contagens de montanha de 3ª categoria e um mais que previsível final ao sprint em Montargis.

 

Etapa 3

A classificação geral começa-se a decidir na terceira etapa, com um contra-relógio coletivo. 27 quilómetros com duas colinas ainda na primeira metade do percurso, 2200 metros a 4,3% e 2300 metros a 4,5%. A segunda metade é bastante rápida com o final em Auxerre a ser em ligeira subida.

 

Etapa 4

Um verdadeiro carrossel! Nada mais, nada menos que 11 subidas no menu, sendo apenas 7 categorizadas. Etapa diabólica do início ao fim com subidas curtas mas muito íngremes a estarem presentes. Falando dos derradeiros 60 quilómetros há a destacar 5 subidas. Primeiro aparece o Col de Durbize (2,3 kms a 8,3%) e, muito rapidamente, os ciclistas chegam, pela primeira vez, ao Mont Brouilly (3 kms a 7,7% com 500 metros a 10,5% à entrada do quilómetro final). O sobe e desce não para, aparecendo um sprint intermédio no topo de uma colina com 1300 metros a 4,9%, antes do Col du Fut d’Avenas (5,2 kms a 7,2%). O topo desta subida fica a 22 quilómetros do fim e, num ápice, o pelotão vai estar no sopé do Mont Brouilly para nova escalada.

 

Etapa 5

Dia rompe-pernas, a clássica média montanha do território francês com mais de 2200 metros de desnível acumulado. Apenas subidas de 3ª categoria, todas elas localizadas no miolo da etapa. O final é bastante rápido e, depois da primeira passagem pela meta, a 11 quilómetros do fim, há uma colina com 1100 metros a 5,9% (única dificuldade nos últimos 50 quilómetros). Sisteron apresenta um final plano, numa chegada com vários desfechos possíveis.

 

Etapa 6

Mais uma etapa de média montanha, com o nível de dificuldade a subir em relação ao dia anterior. Praticamente 200 quilómetros, com as decisões a ficarem guardadas para os últimos 30. Mal os ciclistas passem na meta pela primeira vez surge o Côte de la Colle-sur-Loup (1800 metros a 10,3%) e, alguns quilómetros depois, o sprint intermédio (800 metros a 8,3%). Cerca de 20 quilómetros até ao final, praticamente sempre em descida.




Etapa 7

O fim-de-semana chega e traz, novamente, a alta montanha e as chegadas em alto! Final em Auron, numa etapa onde se sobe bem mais do que aquilo que as subidas indicam. La Colmiane (7,5 kms a 6,9%) aparece a 53 quilómetros do fim, faz-se uma rápida descida e podemos dizer que os últimos 30 quilómetros são em subida. Primeiro pouco pronunciada, a inclinação vai aumentando até se chegar ao sopé da subida final com 7400 metros a 6,9%. Subida bastante regular, com o 4º quilómetro a ser o mais duro, a uma média de 9,4%.

 

Etapa 8

Final “showdown” em Nice, que habitualmente é uma das melhores jornadas de ciclismo do ano. Um carrossel constante com 110 kms e 5 contagens de montanha, 3 de 2ª categoria e 2 de 1ª categoria. As primeiras subidas deverão servir para alguns ataques de ciclistas que estão fora do top 10 e queres subir na geral e colegas que as principais figuras querem colocar na frente, falamos do Cote de Levens (6,1 kms a 5,9%), Cote de Chateauneuf (5,5 kms a 4,5%) e o Cote de Berre-les-Alpes (6,5 kms a 5,8%).

O Cote de Peille é onde deverão começar a aparecer as movimentações mais interessante e decisivas, com os seus 6,5 kms a 6,9% e segue-se uma curta descida até uma incursão no Col d’Eze (1600 metros a 9,1%). Passado este sprint intermédio, longa descida até ao Col des Quatre Chemins (3,8 kms a 8,1%), com o cume a ficar a 9 quilómetros do fim. Final muito rápido com a chegada ao Passeio dos Ingleses.

 

Clima

Bom tempo para os primeiros 2 dias, a chuva deverá fazer a sua aparição ao 3º dia, no contra-relógio colectivo, um dia com temperaturas também muito baixas. Muito frio novamente nas etapas seguintes e apesar do grau de certeza da previsão ainda ser baixo devido ao facto de ser a médio prazo, os modelos apontam para muita, muita chuva no fim-de-semana final ao redor de Nice.

 

Tácticas

Creio que não haverá grande acção nos primeiros dias da prova, a jornada inaugural pode provocar alguma surpresa em relação a ciclistas a perder tempo, depois no contra-relógio colectivo haverá certamente algumas diferenças e acho que tanto Evenepoel como Roglic entram na corrida um pouco com os olhos postos no Mont Brouilly, uma subida que no papel se adapta bastante bem aos 2, bem como o perfil da etapa 5, esse talvez um bocadinho mais propício a Evenepoel. Acho que as equipas estarão muito atentas ao aspecto acima mencionado, o estado do tempo, porque se as previsões estiverem correctas, no fim-de-semana final em Nice irá chover imenso, com a possibilidade das etapas serem neutralizadas, ninguém vai querer guardar cartuchos para aí.



Em termos de blocos acho incrível como algumas equipas parece que se esqueceram que esta corrida tem montanha e que levam um ciclista que até pode lutar pelo pódio, casos da Lidl-Trek ou da Decathlon-Ag2r, a Bahrain tem algumas opções interessante, a UAE tem muitos potenciais candidatos, mas parece ter pouco rumo e entre Bora e Soudal o bloco da formação germânica com Vlasov, Sobrero e Jungels parece-me um pouco superior a van Wilder, Cattaneo e Vervaeke.

 

Favoritos

Remco Evenepoel – Dos grandes candidatos ao triunfo é aquele que mais e melhores indicadores mostrou ao ganhar a Figueira Champions Classic e a Volta ao Algarve. Este é o primeiro grande objectivo da temporada e para isso a Soudal vem com um bloco que deverá ser parecido ao que vai apresentar na Volta a França, algo que dará muita confiança ao belga. Acho que o traçado lhe assenta bem, ainda que um contra-relógio individual seria um mimo.

Primoz Roglic – Diria que é o início da temporada mais importante da carreira até agora. O esloveno joga muito nesta mudança de estrutura e este é um primeiro teste para mostrar que continua entre a elite no que toca a estas corridas. O facto de chegar sem grande ritmo não é muito prejudicial porque os primeiros dias até são acessíveis e vai estar motivado para ganhar tudo o que lhe aparecer à frente, conta também com uma boa equipa. Roglic é um corredor que até gosta de condições adversas, a parte do clima é boa para ele.

 

Outsiders

Matteo Jorgenson – É incrível como mesmo tendo tantos ciclistas de qualidade a Visma consegue ter um calendário mais ou menos justo com oportunidades de liderança para quase todos. Jorgenson saiu de uma estrutura onde era protagonista para outra onde é essencialmente gregário e a sua evolução já se viu no primeiro fim-de-semana de clássicas belgas, ele nunca tinha estado naquele nível neste tipo de corridas. Chega aqui em boa forma, é um ciclista que pode passar um pouco despercebido entre os tubarões, tem uma boa equipa para o contra-relógio colectivo e preparou muito bem esta corrida, cuidado com ele.





Mattias Skjelmose – Vencedor da Volta a Suíça em 2023, estava a lutar pelos primeiros lugares noutras provas de 1 semana até circunstâncias o afastarem disso, é alguém que ainda parece querer tornar-se um voltista. É dinamarquês, está mais do que habituado a correr à chuva, é explosivo e tem um bom sprint, mas parece que a Lidl-Trek se esqueceu que há montanha nesta prova.

Pello Bilbao – Dos corredores mais consistentes do pelotão internacional, ainda mais quando temos em conta somente as provas de 1 semana e ele vem precisamente de fazer 3º no UAE Tour. Chega com muito ritmo competitivo, gostará certamente deste traçado variado, já ganhou corridas com mau tempo e não tem medo de atacar.

 

Possíveis surpresas

João Almeida – De todos os participantes diria que é o terceiro da hierarquia se pensarmos nesta corrida como se fosse uma Grande Volta. No entanto, acho que há alguns aspectos que podem levar a que desça um pouco face à concorrência. É a primeira corrida dele do ano e está a fazer um calendário completamente diferente, não pode entrar a todo o gás para fazer Ardenas, Tour e Vuelta, tem de ser um pouco conservador nesse aspecto. Depois esta corrida tem algumas subidas explosivas, o que não é muito a sua praia, o contrário se pode dizer de Evenepoel e Roglic. Por fim, no passado já teve alguns problemas de colocação e confiança com condições climatéricas chuvosas, algo que provavelmente vai acontecer aqui.

Felix Gall – É talvez o melhor puro trepador aqui presente, a falta de subidas bastante longas prejudica-o e vai perder algum tempo no contra-relógio colectivo. É preciso lembrar o início de época que a Decathlon-Ag2r está a fazer, isso é galvanizador internamente. Há 2 problemas para Gall, primeiro não tem grande apoio na montanha para um “raid” nos últimos 2 dias, apenas Paret-Peintre e Armirail, segundo é um corredor que nas descidas ainda tem espaço para melhorar e a juntar isso a chuva…pode dar problemas.

David Gaudu – É daqueles ciclistas que tenho o feeling que vai andar muito bem, a lutar pelo pódio, ou muito mal, fora do top 15. No passado já se apresentou muito bem aqui, a um nível até superior a Vingegaard, um nível que não viria a mostrar mais nesse ano, só que em 2024 chega aqui sem grandes indicações e sejamos francos, sem grande equipa para o ajudar na montanha.

Aleksandr Vlasov – Pode acontecer alguma coisa a Primoz Roglic e o russo é uma excelente alternativa, para além de não parecer muito colaborante quando toca a trabalhar para outros. Pode também atacar para obrigar a uma perseguição da Soudal.



Brandon McNulty – Começou o ano a voar em Espanha, as últimas indicações no UAE Tour não foram as melhores, quebrando em grande estilo quando tinha a liderança no último dia da corrida, veremos como se apresenta aqui.

Carlos Rodriguez – O espanhol, 5º no Tour em 2023, parece ser um ciclista que precisa de algumas corridas para carburar da melhor maneira e alguém que não gosta propriamente de subidas explosivas, creio que vem também para melhorar a condição física.

Egan Bernal – Tem melhorado a olhos vistos nos últimos meses e o próximo passo é lutar pelo pódio numa corrida destas. O colombiano não se pode entusiasmar em demasia e seguir a um ritmo diabólico porque depois pode rebentar completamente.

Santiago Buitrago – Corredor muito completo e com uma evolução algo inconstante, geralmente anda muito bem no início de época e deixou essa indicação novamente em Valência. Com o apoio de Jack Haig a Bahrain é uma ameaça na montanha.

Michael Storer – Começou bem esta sua campanha pela Tudor e assim de fininho é um bom bastante sólido para o top 10, é daqueles que beneficia imenso pelo facto de não haver contra-relógio individual, foi agora um excelente 6º classificado no UAE Tour.

Steff Cras – Esta equipa bem precisa de um bom resultado, um top 10 já seria positivo para uma das surpresas positivas no Tour de 2023, infelizmente forçado a abandonar por queda.

Ruben Guerreiro – Encaixa um bocadinho na mesma categoria de Storer e Cras, um corredor que não deve arriscar muito e que vem à procura de um lugar entre os 10 melhores, geralmente até se dá bem com a chuva.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Luke Plapp e Ion Izagirre.

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