As provas por etapas do World Tour estão de regresso à Europa! Como sempre, a “Corrida para o Sol” abre as hostilidades, com um pelotão muito bem composto. Espera-se mais um grande duelo entre Jonas Vingegaard e João Almeida.

Percurso

Etapa 1

Uma primeira jornada plana, com algumas colinas pelo meio, no entanto é quase certo que o primeiro líder do Paris-Nice será um sprinter. Veremos quem está disposto a atacar nos 1200 metros a 6,7% a 20 kms do final e nos 1000 metros a 6,2% à entrada dos 10 quilómetros finais.




Etapa 2

Será um dia ainda mais acessível do que o anterior, mas onde o vento poderá ser um problema. Os ciclistas irão passar uma vez pelo final em Bellegarde antes da meta, os 1000 metros finais são em ligeira subida.

 

Etapa 3

Um contra-relógio colectivo de 28,5 kms, dos maiores do ano nesta especialidade pouco vista. E este é um esforço com alguns truques, o início é muito técnico, num circuito que já teve corridas de F1, e o final é técnico também, no centro de Nevers. O miolo tem rectas longas, mas também uma colina com 900 metros a 5,6%.

 

Etapa 4

Começa a montanha e logo com uma chegada em alto. Apesar dos 2700 metros de acumulado a única contagem de montanha de 1ª categoria coincide com a meta, portanto creio que isto vai ser encarado pelas equipas da geral como uma jornada “Unipuerto”, para além disso não vão estar muitos corredores longe na geral. A subida de La Loge des Gardes tem 6,7 kms a 7,1% e até é bastante regular, se não se fizerem diferenças no miolo da subida os 700 metros finais empinam a 8,3%.

 

Etapa 5

Uma espécie de mini Liege-Bastogne-Liege no meio do Paris-Nice, isto tem tudo para ser bastante interessante e para provocar algumas surpresas. A maior parte da dureza está nos últimos 50 kms, apesar do resto da jornada também ser ondulado. São 7 colinas concentradas em 47 kms, 1,2 kms a 9,1%, 1,1 kms a 8,3%, 1 km a 8,2%, 1,3 kms a 7,9%, 1,1 kms a 5,6%, 400 metros a 7,3% e para terminar, coincidente com a meta, um muro de 1700 metros a 10,9%, um ciclista que tenha um dia mau aqui ou um posicionamento errado corre o risco de perder mais tempo do que numa chegada em alto.

 

Etapa 6

Última oportunidade para os sprinters, no entanto com uma ligação de 210 kms e um final técnico não vai ser fácil de controlar, já para não falar do desgaste acumulado de dias anteriores e pode haver algumas equipas já com baixas.



Etapa 7

Regressa a alta montanha com um dia de quase 4000 metros de acumulado, qualquer puncheur que ainda possa estar próxima na geral vai aqui perder muito tempo. O dia é composto por montanhas longas e duras, principalmente La Colmiane e depois Auron. La Colmiane oficialmente tem 7,4 kms a 7%, na prática são 16,5 kms a 5,5%, e o final tem um perfil semelhante, os corredores vão até Isola, mas em vez de seguirem para o tradicional em Isola 2000 vão para Auron com um final de 7,3 kms a 6,9%, quando na verdade estão a subir durante 32 kms.

 

Etapa 8

A tradicional etapa final em Nice, que costuma fornecer fogo-de-artifício e grande espectáculo. No primeiro terço da jornada o foco das etapas é colocar alguém na fuga para possivelmente servir de apoio aos seus líderes mais tarde. As primeiras movimentações podem surgir no Col de la Porte (7 kms a 6,9%), mas acredito que a corrida vai rebentar no Cote de Peille (6,7 kms a 6,8%), porque depois rapidamente se chega ao Col d’Eze (1,6 kms a 9,1%), há uma descida rápida até Nice e sobe-se o Col des Quatre Chemins (3,6 kms a 9,1%), cujo cume está a 9 kms do final, a meta está na mítica Promenade des Anglais, em Nice.

 

Tácticas

Sou fã do percurso deste ano do Paris-Nice, tem um bocadinho de tudo e obriga a muita atenção e versatilidade, um contra-relógio colectivo, uma pequena Liege-Bastogne-Liege, uma chegada em alto simples, outra etapa de alta montanha mais dura e o habitual carrossel em Nice. Será importante ter uma equipa forte tanto na montanha como no contra-relógio e isso é muito interessante, ver que formações conseguiram alcançar esse equilíbrio. No entanto considero que pequenas perdas de tempo podem ser recuperadas e ultrapassadas na etapa 7.

 

Favoritos

Jonas Vingegaard – Ainda longe do seu melhor, nota-se que está à procura de trabalhar algumas coisas específicas que podem ser úteis para no futuro bater Pogacar. Ainda assim o dinamarquês não brinca em competição e estranho o facto da Visma não dividir Vingegaard e Jorgenson entre Paris-Nice e Tirreno-Adriatico. Este alinhamento promete para o contra-relógio colectivo, mas parece faltar ali mais ciclistas de apoio para a montanha de modo a Jorgenson não entrar ao trabalho cedo demais.

João Almeida – Deu um show no Alto da Fóia, um esforço que viria a ficar curto pelo grande contra-relógio que Vingegaard fez no Malhão. Desta vez não há contra-relógio individual e a última indicação que o ciclista português tem é que foi capaz de bater o dinamarquês na montanha, isso dá muita confiança. A Visma também conhece as fragilidades de João Almeida, podem tentar alguma coisa de diferente nas etapas 5 e 8.



Outsiders

Matteo Jorgenson – Vencedor desta mesma competição no ano passado e desde aí fez um belíssimo Tour e mostrou que melhorou ainda mais no departamento das provas por etapas. Pode ser um trunfo muito importante com as atenções colocadas em Vingegaard. Pode funcionar como alternativa sem nunca ter de trabalhar e depois surpreender, teoricamente está mais próximo da melhor forma do que o seu colega de equipa.

Mattias Skjelmose – Vencedor de uma etapa em 2024, viria a terminar a classificação geral em 4º e começou a temporada com 2 boas exibições em clássicas francesas. O bloco da Lidl-Trek é bastante forte para o contra-relógio colectivo, mas muito frágil para a montanha, até porque também escolheram trazer Mads Pedersen para as etapas ao sprint.

Santiago Buitrago – Outro corredor que andou tremendamente bem na edição transacta e que até começou bem a época, o colombiano é polivalente e pode aproveitar para ganhar algum tempo antes dos últimos 2 dias de competição. Tem Zambanini, Jack Haig e Lenny Martinez, é um alinhamento que pode provocar estragos na alta montanha.

 

Possíveis surpresas

Ben O’Connor – 2º na Vuelta, o australiano é a grande aposta da Jayco para 2025 no que toca às provas por etapas e depois de um começo morno tem mesmo de começar a justificar o investimento e a aquecer os motores. Boa notícia para ele é que não há contra-relógio individual, péssima notícia é que vai estar muito isolado quando a alta montanha começar e isso é um handicap.

Felix Gall – Companheiro de equipa de Ben O’Connor em 2024 na Decathlon-Ag2r, desta vez tem muito mais espaço para liderar a estrutura gaulesa e muito do que disse para Ben O’Connor aplica-se para o ciclista austríaco. A equipa tentou protegê-lo ao levar Armirail, Scotson e Bissegger para o dia do contra-relógio, mas apenas Paret-Peintre e talvez Armirail estarão no último dia com ele.

Aleksandr Vlasov – Podemos considerar o russo um especialista em provas de 1 semana, é extremamente regular nestas corridas. 28 anos de idade numa estrutura que pretende continuar a crescer, tem de começar a apresentar mais do que top-5 ou vai passar para outro estatuto interno.

Florian Lipowitz – A estrela em ascensão dentro da estrutura da Red Bull-Bora, que vem reforçar aquela mentalidade de querer crescer o ciclismo alemão com uma nova coqueluche, para isso acontecer o jovem germânico tem de começar a mostrar serviço desde cedo. É importante começar a dar mais segurança do que Hindley e Vlasov neste campo.

Ivan Romeo – Veremos se continua o conto de fadas do ciclista espanhol da Movistar, se mantiver o momento de forma isto é sinal que é perigoso para o pelotão internacional principalmente a partir do próximo ano. Campeão do Mundo sub-23 de contra-relógio em 2024, vem de uma vitória em etapa na Volta a Comunidade Valenciana e de um 4º lugar no UAE Tour.

Ilan van Wilder – Na Volta ao Algarve não aproveitou a ausência de Remco Evenepoel da melhor maneira, será desta que vai aparecer a sua melhor versão? É um dos ciclistas que até preferia o contra-relógio individual.



Lenny Martinez – O pequeno trepador francês tem aqui um traçado bem a seu gosto, iria perder imenso tempo num esforço individual contra o cronometro. Ainda tem somente 21 anos, está em evolução, nas outras corridas esteve sempre ao serviço de Buitrago, mas a estrada é que mande, se tiver pernas vai ter liberdade.

Brandon McNulty – É sempre uma incógnita o talentoso norte-americano. Tenho aquela sensação que ou faz um grande resultado ou passa despercebido numa corrida, nunca há um intermédio que transmita muita segurança.

Michael Storer – Aí vem a Tudor mais uma vez à procura de pontos e o australiano é capaz de grandes resultados nos seus dias e Storer deu recentemente boas indicações no Trofeo Laigueglia.

Neilson Powless – Não estava à espera da resistência que deu no Trofeo Laigueglia, é sinal que está a melhorar a sua forma, no entanto tem tendência para ter mais dificuldades na alta montanha.

Guillaume Martin e Steff Cras – Os típicos sólidos candidatos ao top 10 subindo vários lugares nos últimos dias.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são Pablo Castrillo e Clement Champoussin.

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