Chegou o Inferno do Norte! Após semanas e semanas a correr em estradas belgas, o ponto alto e o culminar da fase das Clássicas do Norte ocorre em França, com o icónico final no velódromo de Roubaix! Teremos a dobradinha de Mathieu van der Poel?

Percurso

Um verdadeiro mar de empedrado, que começa após quase 100 kms de asfalto plano, onde se vai definir a fuga do dia, um momento muitas vezes mais importante do que parece. Os primeiros sectores serão de muito nervosismo, uma batalha de posicionamento onde o importante é evitar problemas e a primeira grande selecção deverá fazer-se na Floresta de Arenberg, este ano antecedida de uma polémica chicane. Esse selecção tem mais 2 pontos fundamentais, Mons-en-Pevele e Carrefour de L’Arbre, pelo posicionamento no traçado e pelo grau de dificuldade dos mesmos. Aqui fica a lista dos 29 sectores de empedrado, os quilómetros e o grau de dificuldade correspondente, onde 1 estrela é o mais acessível e 5 estrelas o mais complicado.



29: Troisvilles to Inchy (km 96 – 2,2 km) ***
28: Viesly to Quiévy (km 102,5 – 1,8 km) ***
27: Quiévy to Saint-Python (km 105,1 – 3,7 km) ****
26: Viesly to Briasthe (km 111,3 – 3 km) ***
25: Vertain to Saint-Martin-sur-Écaillon (km 122,6 – 2,3 km) ***
24: Capelle to Ruesnes (km 129,3 – 1,7 km) ***
23: Artres to Quérénaing (km 138,3 – 1,3 km) **
22: Quérénaing to Maing (km 140,1 – 2,5 km) ***
21: Maing to Monchaux-sur-Ecaillon (km 143,2 – 1,6 km) ***
20: Haveluy to Wallers (km 156,2 – 2,5 km) ****
19: Trouée d’Arenberg (km 164,4 – 2,3 km) *****
18: Wallers to Hélesmes (km 170,4 – 1,6 km) ***
17: Hornaing to Wandignies (km 177,2 – 3,7 km) ****
16: Warlaing to Brillon (km 184,7 – 2,4 km) ***
15: Tilloy to Sars-et-Rosières (km 188,2 – 2,4 km) ****
14: Beuvry-la-Forêt to Orchies (km 194,5– 1,4 km) ***
13: Orchies (km 199,5 – 1,7 km) ***
12: Auchy-lez-Orchies to Bersée (km 205,6 – 2,7 km) ****
11: Mons-en-Pévèle (km 211,1 – 3 km) *****
10: Mérignies to Avelin (km 217,1 – 0,7 km) **
9: Pont-Thibault to Ennevelin (km 220,5 – 1,4 km) ***
8: Templeuve – L’Epinette (km 225,9 – 0,2 km) *
8: Templeuve – Moulin-de-Vertain (km 226,4 – 0,5 km) **
7: Cysoing to Bourghelles (km 232,8 – 1,3 km) ***
6: Bourghelles to Wannehain (km 235,3 – 1,1 km) ***
5: Camphin-en-Pévèle (km 239,8 – 1,8 km) ****
4: Carrefour de l’Arbre (km 242,5 – 2,1 km) *****
3: Gruson (km 244,8 – 1,1 km) **
2: Willems to Hem (km 251,5 – 1,4 km) **
1: Roubaix – Espace Charles Crupelandt (km 258,3 – 0,3 km) *

 

Tácticas

A Alpecin-Deceuninck entra neste Monumento como a clara favorita à conquista do mesmo. Basta recorrer às evidências, estão na máxima força e contam com o vencedor da Milano-SanRemo 2024 (Jasper Philipsen) e com o vencedor do Tour des Flandres 2024 (Mathieu van der Poel), que foram 2º e 1º, respectivamente no Paris-Roubaix 2023. Não bastasse isto a Visma-Lease a Bike está extremamente enfraquecida (Wout van Aert caiu e vai ficar parado algum tempo, Jorgenson está fora devido a problemas de saúde, Laporte e van Baarle não têm estado no seu melhor também devido a outras condicionantes) e a Lidl-Trek perdeu ciclistas importantes recentemente (Kirsch e Stuyven) e Pedersen também ficou envolvido na queda onde esteve Wout van Aert. Estamos a falar do 3º e 4º do ano passado, e se pegarmos nesse top 10, Degenkolb caiu hoje no reconhecimento e está em dúvida, Kung caiu no Tour des Flandres, veremos como está e Ganna não tem mostrado as pernas de 2023.

O mais perigoso é que a Alpecin-Deceuninck tem roçado a perfeição táctica, no Tour des Flandres levaram a corrida controlada mesmo até quando Mathieu van der Poel precisava e aqui o objectivo será esse, “sabotar” os movimentos perigosos de equipas rivais e levar nas melhores condições possíveis os seus líderes, sabendo que ambos são exímios no posicionamento e conhecem muito bem esta corrida. Na Bélgica vimos bem que quem arrisca o pódio para tentar derrotar o actual campeão do Mundo pode perfeitamente acabar “a pé”, veja-se Pedersen e Jorgenson, saíram beneficiados quem correu de uma forma mais conservadora, e isso pode inibir alguns ciclistas com uma propensão mais ofensiva aqui, tal é o favoritismo da Alpecin.

A corrida vai abrir bastante na Floresta de Arenberg, com chicane ou sem chicane, é importante a Alpecin colocar bem os seus líderes para esse troço e manter pelo menos mais 1 ciclista perto deles após esse troço. Na perspectiva das outras equipas, a corrida abre se tiverem superioridade numérica perante a Alpecin, mas é preciso depois ter pernas para fazer diferenças também.



 

Favoritos

Mathieu van der Poel – Vencedor de 2023, ganhou o Tour des Flandres com uma autoridade flagrante, também perante a ausência ou debilidade de alguns rivais importantes. Wout van Aert continua de fora e tipicamente o ciclista da Visma-Lease a Bike é aquele que mais bloqueia os movimentos de Mathieu van der Poel, que gostará certamente desta liberdade extra. Julgo que mesmo assim o domínio tende a ser maior no Tour des Flandres com as colinas, pela sua capacidade explosiva do ciclo-crosse, ainda assim continua a sentir-se em casa e vai querer revalidar o título.

Jasper Philipsen – O melhor sprinter de 2023 está longe de ser um puro sprinter, no ano passado viu-se isso e este ano parece que Philipsen continuou a aposta de se tornar mais completo para conseguir disputar mais corridas, ser mais polivalente. Não foi fácil superar o Poggio com os melhores, foi feito a um ritmo diabólico, e Philipsen conseguiu. No ano passado foi 2º enquanto o seu colega de equipa festejava já no velódromo, pode ser utilizado como uma opção mais para marcação de rivais enquanto Mathieu van der Poel arrisca mais e ataca mais.

 

Outsiders

Mads Pedersen – Creio que o Tour des Flandres lhe assenta melhor, mas ainda estava algo combalido da queda sofrida a meio da semana,  notava-se que não estava a 100% e fez uma corrida de desespero, com alguns erros tácticos. Isso não se pode repetir aqui e estou a confiar que já estará mais recuperado das mazelas. Foi dos poucos que no último ano bateu Mathieu van der Poel no mano a mano quando a corrida abre de longe.

Nils Politt – Considero que a UAE Team Emirates é um bloco sólido, com algumas opções ainda que a mais fiável seja claramente o alemão Nils Politt, que tem um perfil muito melhor para este Monumento face ao Tour des Flandres. O germânico tem um motor enorme, conhece muito bem estas estradas e sabe o que é preciso fazer para estar na frente nos momentos cruciais, essa diferença pode ser chave para ser a principal aposta em detrimento de António Morgado ou Mikkel Bjerg, e poupar muita energia.



Tim Merlier – Última chance para a Soudal-Quick Step salvar esta campanha de clássicas do empedrado e o seu ciclista mais em forma é o sprinter belga que já bateu algumas vezes em 2024 Jasper Philipsen. Merlier já sabe o que é correr o Paris-Roubaix e tem mostrado boa capacidade de ultrapassar as dificuldades, apesar de aqui não haver colinas. Foi 40º em 2022 e 23º em 2023, parece estar em melhor forma agora e a Alpecin sabe que tem de se livrar dele antes do velódromo.

 

Possíveis surpresas

Stefan Kung – Teve a preparação algo perturbada devido a uma queda, creio que recuperou bem e que ia para um bom resultado no Tour de Flandres não fosse uma queda numa altura preponderante. Isso não deixou propriamente ver o nível de Kung, mas parece-me estar bem e o pódio é possível.

Jonathan Milan – O possante italiano é um dos melhores sprinters da actualidade e todos vão querer deixá-lo para trás antes do velódromo, tendo a consciência que ele melhorou muito nestas provas mais longas em 2024. Julgo que deverá ficar mais na expectativa, talvez a marcar Philipsen, apesar que não costuma correr clássicas dessa forma.

Christophe Laporte – Tem sido incrivelmente azarado nesta corrida, sempre com quedas ou furos em alturas cruciais. Este ano não tem sido diferente até agora, problemas físicos não o deixaram fazer uma preparação perfeita, julgo que é a melhor carta que a Visma tem para jogar na ausência de Wout van Aert.

Dylan van Baarle – Vai ter um papel muito complicado nesta corrida. Será dos corredores mais marcados pela Alpecin e por outro lado sabe que tem de chegar sozinho pela sua débil ponta final, devemos esperar uma Visma mais “resultadista” tendo em conta todos os problemas que tem tido com quedas.



Yves Lampaert – Muito mais capacitado para o Paris-Roubaix do que para o Tour de Flandres pela sua fisionomia. Yves Lampaert já esteve por algumas vezes na discussão directa desta prova, muitas vezes não teve a sorte do seu lado. Esta é a última chance para a Soudal-Quick Step ganhar um Monumento na Primavera.

Oliver Naesen – Quase renascido das cinzas, a entrada da Decathlon deu outro impulso à Ag2r e Naesen aproveitou isso da melhor maneira para recuperar um nível condizente com o seu estatuto. Tem estado constantemente na frente das maiores clássicas até agora e já ficou por 3 vezes no top 15 no Paris-Roubaix.

Luca Mozzato – Tendo em conta os últimos resultados até deverá receber mais protecção e atenção do que Florian Senechal, que seria o teórico líder para esta corrida pelas suas características. Mozzato evoluiu bastante nos últimos 12 anos, tem sido tremendamente inteligente a correr e o pódio no Tour des Flandres é prova disso.

Max Walscheid – Um ciclista muito possante, muito pesado e que claramente se sente em casa no empedrado. Sem Michael Matthews terá mais liberdade e mais protecção da equipa, que tem mais alguns bons roladores.

Laurenz Rex – Top 10 em 2023, 21º no Tour de Flandres, 6º na Omloop, vencedor da Le Samyn, tem sido dos ciclistas mais consistentes nas clássicas e é um sério candidato a outro top 10.

Mike Teunissen – É um feeling que eu tenho, e sempre achei que o neerlandês ia ser brilhante neste tipo de corridas, tem feito uma Primavera bastante agradável, sem grandes problemas. Já venceu esta corrida enquanto sub-23, pode ser a grande surpresa do dia

Mikkel Bjerg – Creio que vai ser protagonista, é um corredor que não tem medo de aparecer, que gosta quando as provas são bastante duras e que se evidenciou pela capacidade de trabalho em partes planas. Tem tudo o que é preciso para andar bem aqui.

Joshua Tarling – Sim, tem apenas 20 anos, é da geração de António Morgado, mas tem um motor imenso e ainda a semana passada fez top 20 no Tour des Flandres e parece-me que tem um perfil mais adaptado ao Paris-Roubaix.

Ivan Garcia Cortina – Um peso pesado, é um nome a ter em conta para o top 5, arriscou e não petiscou no Tour des Flandres, aqui tem outra oportunidade para acertar na táctica e maximizar o resultado.



Jordi Meeus – É verdade que a Bora-Hansgrohe não tem obtido grandes resultados neste tipo de Monumentos, mas o belga é um ciclista ainda subvalorizado nestas provas, é alguém que já ganhou nos Campos Elíseos, fez pódio na Gent-Wevelgem e top 15 no Paris-Roubaix, gosta de corridas duras.

 

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são António Morgado e Ben Turner.

 

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