Iván García Cortina. 2023 men's Paris-Roubaix. Compiègne - Roubaix, 9.4.2023.

Chegou o Inferno do Norte! Após semanas e semanas a correr em estradas belgas, o ponto alto e o culminar da fase das Clássicas do Norte ocorre em França, com o icónico final no velódromo de Roubaix! Teremos Mathieu van der Poel a vencer pela 3ª vez consecutiva?

Percurso

Um verdadeiro mar de empedrado, que começa após quase 100 kms de asfalto plano, onde se vai definir a fuga do dia, um momento muitas vezes mais importante do que parece. Os primeiros sectores serão de muito nervosismo, uma batalha de posicionamento onde o importante é evitar problemas e a primeira grande selecção deverá fazer-se na Floresta de Arenberg, este ano antecedida de uma polémica chicane. Esse selecção tem mais 2 pontos fundamentais, Mons-en-Pevele e Carrefour de L’Arbre, pelo posicionamento no traçado e pelo grau de dificuldade dos mesmos. Aqui fica a lista dos 30 sectores de empedrado, os quilómetros e o grau de dificuldade correspondente, onde 1 estrela é o mais acessível e 5 estrelas o mais complicado.

  • 30: Troisville à Inchy (+++, 2200 m, Km 98.1) 
  • 29: Viesly à Quiévy (+++, 1800 m, Km 104.2) 
  • 28: Quiévy à Saint-Python (++++, 3700 m, Km 108.7) 
  • 27: Saint-Python (++, 1500 m, Km 111.2) 
  • 26: Vertain à Saint-Martin-sur-Écaillon (+++, 2300 m, Km 119.2) 
  • 25: Verchain-Maugré à Querenaing (+++, 2000 m, Km 129.8) 
  • 24: Querenaing à Artres (++, 1200 m, Km 132.3) 
  • 23: Artres à Famars (+++, 1200 m, Km 135.1) 
  • 23: Quérénaing à Maing (+++, 2500 m, Km 141.1) 
  • 22: Maing à Monchaux-sur-Écaillon (+++, 1600 m, Km 143.4) 
  • 20: Haveluy à Wallers (++++, 2500 m, Km 157.3) 
  • 19: Trouée d’Arenberg (+++++, 2300 m, Km 166.4) 
  • 18: Wallers à Helesmes (+++, 1600 m, Km 171.8) 
  • 17: Hornaing à Wandignies (++++, 3700 m, Km 180.7) 
  • 15: Warlaing à Brillon (+++, 2500 m, Km 186.9) 
  • 15: Tilloy à Sars-et-Rosières (++++, 2300 m, Km 190.3) 
  • 14: Beuvry-la-Forêt à Orchies (+++, 1400 m, Km 195.7) 
  • 13: Orchies (+++, 1800 m, Km 201.1) 
  • 12: Auchy-lez-Orchies à Bersée (++++, 2700 m, Km 208.1) 
  • 11: Mons-en-Pévèle (+++++, 3000 m, Km 213.8) 
  • 10: Mérignies à Avelin (++, 600 m, Km 217.5) 
  • 9: Pont-Thibault à Ennevelin (+++, 1400 m, Km 221.6) 
  • 8: Templeuve (L’Épinette) (+, 300 m, Km 225.9) 
  • 8: Templeuve (Moulin-de-Vertain) (++, 700 m, Km 226.7) 
  • 7: Cysoing à Bourghelles (+++, 1300 m, Km 233.9) 
  • 6: Bourghelles à Wannehain (+++, 1100 m, Km 236.2) 
  • 5: Camphin-en-Pévèle (++++, 1800 m, Km 241.4) 
  • 4: Carrefour de l’Arbre (+++++, 2100 m, Km 244.4) 
  • 3: Gruson (++, 1100 m, Km 245.7) 
  • 2: Willems à Hem (++, 1400 m, Km 252.7) 
  • 1: Roubaix (Espace Crupelandt) (+, 300 m, Km 258.3) 

 

Tácticas

Este é um dos exercícios mais complicados do ano, tentar prever como vai ser um Paris-Roubaix. Primeiro há alguns factos a referir, nomeadamente o clima. Está prevista alguma chuva para esta noite, mas os troços poderão já estar secos quando os ciclistas por lá passarem, ou seja, não vai ser uma festa na lama, nem uma poeirada. Depois o vento, vai estar maioritariamente de costas/lateral, poderemos estar perante o Paris-Roubaix mais rápido da história ou muito perto disso, o vento vai aumentar com o passar das horas, veremos se não há tentativas de cortes mesmo antes dos sectores de empedrado.




Se todos os Monumentos esta é a corrida em que o factor sorte ou azar, como queiramos chamar, está mais presente, é preciso não furar na altura errada, estar sempre no sítio certo à hora certa. Também é uma prova em que não é tão fácil fazer a diferença e a equipa tem mais influência do que no Tour des Flandres, não há subidas para Pogacar puxar os seus watts monstruosos, o movimento vencedor por vezes sai mesmo fora do empedrado. Para mim o bloco mais forte é o da Lidl-Trek, em experiência e variedade de ciclistas, depois temos a UAE Team Emirates e de outro modo a Ineos e a Alpecin.

Ao contrário do Kwaremont ou do Paterberg, aqui é mais fácil aproveitar uma possível superioridade numérica perante Pogacar e Mathieu van der Poel, não é tão fácil fechar espaços, colocar adversários no vermelho e alguém na roda poupa muito mais energia, é isso que Lidl-Trek, Ineos e até a Visma vão tentar explorar. Em condições normais a Floresta de Arenberg vai abrir muito a corrida e restringir o lote de possíveis vencedores, aqui acho que mesmo antes a prova pode já estar muito partida e vai ser crucial colocar ciclistas em todos os movimentos perigosos.

Favoritos

Mathieu van der Poel – Campeão nas últimas 2 edições, sucumbiu perante os violentos ataques de Tadej Pogacar a subir nas colinas de Flandres, vai tentar evitar que não se repita aqui. Ele sente que tem vantagem a ir para um sprint e sente que em terreno plano é quase impossível o esloveno quebrar a sua resistência, no entanto terá de fazer uma gestão da prova com pinças e é aqui que entra um factor importante, a menos que melhore muito o nível, não terá um Philipsen tão forte como em temporadas passadas, Gianni Vermeesch vai ter de fazer uma exibição memorável.

Mads Pedersen – Campeão do Mundo, vencedor de clássicas importantes como a Gent-Wevelgem este ano, pódio em Monumentos, será esta a vez de Mads Pedersen finalmente cumprir um objectivo de carreira e de vida e levar para casa um Monumento? 4º em 2023, 3º em 2024, está a ficar mais perto do sucesso e o dinamarquês tem um grande factor a seu favor, a equipa. Este alinhamento da Lidl-Trek, no papel, é um dos melhores de sempre para um Paris-Roubaix, com Hoole e DeClercq para controlar, Vacek e Theuns como peões em movimentos perigosos, Milan como alternativa para o sprint e Stuyven como co-líder, era complicado arranjar melhor. Pedersen continua a ter dos melhores sprints do Mundo depois de uma corrida dura e longa.

Outsiders

Tadej Pogacar – O último ciclista que ganhou o Paris-Roubaix na sua estreia foi o italiano Sonny Colbrelli, numa edição épica em que Mathieu van der Poel perde ao sprint, o astro esloveno vai tentar repetir a façanha. Bom, as circunstâncias são bem diferentes, Pogacar parte até como uma relativo favorito, mas terá dificuldades em fazer a diferença comparativamente ao último fim-de-semana, na minha opinião. Em termos de equipa creio que Vermeesch, Politt e Bjerg serão fundamentais, Wellens e Morgado são corredores talhados para terreno mais montanhoso. O problema que vejo é que num sprint Pogacar é inferior a MVDP, Pedersen e talvez Van Aert, e precisa de chegar sozinho ao velódromo.

Wout van Aert – Se recuarmos alguns anos parece impensável dizer isto, mas o 4º lugar no Tour des Flandres deu-lhe bastante confiança, principalmente pela maneira como foi obtido, a sofrer bastante e a fazer jogo igual no final da corrida com Mathieu van der Poel. Tem tido bastante azar nesta corrida nos últimos anos, mesmo assim com bons resultados e creio que é o Monumento que neste momento tem mais chances de ganhar, em esforços curtos e explosivos MVDP está uns patamares acima. Tem a equipa com ele e apesar de algumas ausências a Visma tem um bloco forte, Affini será muito mais útil aqui e van Baarle está a ganhar ritmo.

Filippo Ganna – O italiano está em grande forma, será que ainda tem gasolina no tanque para a corrida que talvez lhe assenta melhor em todo o calendário de clássicas? É que fez 2º na Milano-SanRemo e top 10 no Tour des Flandres carregando os mais de 80 kgs colinas acima, lembrando que em 2023, quando faz 2º em SanRemo, faz 6º aqui, e sem a preparação de estrada que fez neste defeso, acho mesmo que Ganna é um grande perigo.

Possíveis surpresas

Stefan Kung – Este é claramente o melhor Monumento para as suas características e parece que o momento de forma está muito próximo do melhor possível, depois de vários top 10 e boas exibições em corridas importantes. Tem a vantagem de ser líder único com alguns gregários decentes como Askey, Bystrom ou Jacobs e de ter feito top 5 nos últimos 3 anos, com um pódio à mistura. Só não está mais acima porque não tem grande ponta final.




Tim Merlier – Estou muito curioso para ver o que o belga consegue fazer aqui, primeiro porque nunca teve um início de temporada assim, já leva 7 triunfos e reina a confiança certamente, segundo porque já tem alguma experiência nesta prova e terceiro porque a Soudal sabe que o veloz sprinter é a grande hipótese de vitória, não obstante haver ainda Lampaert, Merlier vai para a 5ª participação em Roubaix, foi 23º em 2023.

Jasper Stuyven – Não tenho dúvidas que o belga seria líder em 90% das equipas aqui presentes, felizmente ou infelizmente, depende da perspectiva, está na Lidl-Trek. Os grandes favoritos mais cedo vão responder a Pedersen do que a Stuyven e o belga tem de se aproveitar disso da melhor forma, um pouco como fez na Milano-SanRemo que ganhou. 4º em 2017, 5º em 2018, 7º em 2022, o grande resultado está aí à porta, esteve melhor do que esperava em Flandres.

Jonathan Milan – O monstro italiano é um ciclista muito perigoso e está cada vez mais polivalente numa Lidl-Trek que tem um bloco fortíssimo. A sua presença aqui liberta, de certo modo, Mads Pedersen e Stuyven para fazerem uma corrida mais ofensiva sabendo que têm sempre este backup para um sprint final

Jasper Philipsen – Já fez grandes exibições nesta corrida, mas simplesmente este ano não parece estar com as pernas e a confiança de outras épocas, vai tentar aguentar com os melhores, o mais provável é partir o motor mais tarde ou mais cedo.

Florian Vermeesch – Nunca se sabe o que pode acontecer neste tipo de provas, Vermeesch é alguém que já fez pódio no Paris-Roubaix e que fez um belo Tour des Flandres não obstante uma grande recuperação após ficar numa queda. É a alternativa a Pogacar e o esloveno pode cair ou furar, ou mesmo a UAE enviar Vermeesch para cobrir um ataque de Ganna ou Stuyven e de repente fica o belga com boas condições de ganhar.

Stefan Bissegger – Um ciclista que ainda pouco se viu este ano, mas destaco 2 resultados, 2º no contra-relógio do UAE Tour e agora top 20 no Tour des Flandres, uma prova que nem é boa para ele devido à quantidade de colinas e ele fez um dos melhores tempos de subida na última passagem pelo Oude Kwaremont. Estamos a falar de um excelente contra-relogista que já tem top 30 aqui por 2 vezes, pode ser daqueles nomes discretos que vai na fuga do dia e surpreende.

Soren Waerenksjold – Considero Kristoff, Tiller ou Abrahamsen apostas até mais seguras dentro da Uno-x, mas falando de potencial temos de mencionar Waerenksjold, que é um verdadeiro tanque e que ganhou a Omloop este ano quando poucos esperavam e fez 9º em 2024, também quando poucos previam.

Max Walscheid – Esta é a clássica favorita do poderoso alemão, que já foi 8º em 2023 e 12º em 2021, tem uma boa ponta final em grupos reduzidos e tem aqui uma boa chance de liderar a Jayco.

Marco Haller – Foi uma das surpresas positivas do Tour des Flandres e atenção que uma corrida deste género é muito melhor para ele, é um poderoso rolador que tem uma ponta final decente, creio que é a melhor aposta da Tudor.

Cees Bol – Tinha estado discreto, no entanto apresentou uma boa condição física tanto na Dwars, como em Flandres, sinal que a forma está a melhorar e com a sua componente física tem tudo para andar bem aqui.

Mike Teunissen – Gostei muito globalmente da temporada de clássicas do holandês de 32 anos, fez top 15 em Flandres, SanRemo e na E3, tem sido muito consistente. Foi 11º em 2018, 7º em 2019, top 20 em 2022 e 2023, tem tudo para fechar no top 10, na minha opinião.

Joshua Tarling – Um corredor que tem algumas parecenças a Ganna e que a Ineos pode querer colocar na fuga para ter um ciclista satélite. Apesar dos 21 anos de idade é um dos melhores contra-relogistas da actualidade e esta é a sua 3ª participação, sendo que no ano passado fez 17º em Flandres. Atenção ainda a Ben Turner na Ineos.

Laurenz Rex – Fez top 10 na Classic Brugge e na Gent-Wevelgem, está num bom momento de forma, até aparentemente melhor do que quando fez 9º em 2023 aqui em Roubaix.

Jordi Meeus – Pithie não convenceu e o belga, conhecido por ser algo agressivo na abordagem às curvas, pode ter aqui uma boa oportunidade, 8º em 2024, 14º em 2022, tem um bom histórico nesta corrida.

Super-Jokers

Os nossos Super-Jokers são: Madis Mihkels e Matthew Brennan

By admin